Processo nº XXX Classe 126 Mandado de Segurança Impetrante: YYY Impetrado: UNIÃO FEDERAL (Advocacia-Geral da União) Autoridade Coatora:



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Transcrição:

PODER JUDICIÁRIO Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE 1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo A Fundamentação Individualizado Processo nº XXX Classe 126 Mandado de Segurança Impetrante: YYY Impetrado: UNIÃO FEDERAL (Advocacia-Geral da União) Autoridade Coatora: SUPERINTENDENTE DO DEPARTAMENTO POLÍCIA FEDERAL EM SERGIPE DA S E N T E N Ç A 1. RELATÓRIO YYY impetrou Mandado de Segurança, com requerimento de medida liminar, contra suposto ato coator praticado pelo SUPERINTENDENTE DO DEPARTAMENTO DA POLÍCIA FEDERAL EM SERGIPE, que teria indeferido o pedido de renovação do porte de arma do impetrante. Alegou, em síntese, que: 1) se encontrava impedido de renovar o seu porte de arma de fogo apesar de ter apresentado todos os documentos necessários exigidos pela Polícia Federal; 2) ao formular o seu requerimento, instruído com os documentos necessários, foi informado de que a renovação estaria suspensa, tendo solicitado, mediante correspondência, que o seu pleito fosse analisado; 3) tomou conhecimento do parecer do DPF (...) no Processo nº (...), no qual o motivo do indeferimento foi a falta de comprovação da aptidão psicológica e técnica para o manuseio da arma de fogo, do Certificado de Registro de Arma (CRAF) e do formulário padrão da Polícia Federal; 4) em relação aos documentos acima referidos todos se encontram no setor competente, todavia, por motivo desconhecido, não foram juntados aos autos do processo (f. 05); 5) é funcionário público aposentado, médico da Penitenciária do Estado de Sergipe por aproximadamente 25 anos e do Conselho Penitenciário por muito tempo Sustentou que: 1) o indeferimento do pleito violou o princípio da legalidade, uma vez que preenche todos os requisitos necessários para possuir porte de arma de fogo previsto na legislação competente e ato normativo infralegal não poderia obstar o seu direito previsto no Estatuto do Desarmamento; 2) o ato administrativo impugnado carece de razoabilidade e proporcionalidade, já que o impetrante tem direito de possuir arma de fogo diante da sua condição de funcionário público aposentado e do exercício da atividade de empresário e

executivo, viajando freqüentemente para suas propriedades correndo o risco de assaltos, seqüestros. Juntou procuração (f. 15), demais documentos (f. 16-22) e guia de arrecadação de custas (f. 23). A liminar foi indeferida (f. 25), sendo determinada a notificação da autoridade coatora e a intimação do representante judicial, mediante o envio de cópia da petição inicial. Notificada (f. 29), a autoridade coatora prestou informações (f. 30/60), aduzindo, em suma, que: 1) o impetrante foi autorizado a portar a arma de fogo tipo pistola, marca Taurus, calibre.38, série KUD43463, entre 24/01/2005 e 24/01/2008; 2) findo tal prazo não apresentou qualquer pedido de renovação, sendo que o impetrante formulou pedido de renovação em 30/12/2009, ou seja, 23 meses após o vencimento do prazo; 3) a alegação [do impetrante] de que a renovação estaria suspensa não prospera, tendo em vista que todos os pedidos apresentados a este Departamento sempre foram submetidos à devida apreciação, nos termos da legislação vigente (f. 30); 4) o pedido de renovação veio eivado de vício formais, eis que não foi instruído com o formulário padrão disponível no site do Departamento da Polícia Federal (art. 18, inciso I, alínea a, da IN n. 023/2005-DG/DPF ), tampouco foi apresentado o Certificado de Registro Federal de Arma de Fogo CRAF a fim de comprovar a regularidade perante o SINARM (existência de registro, prazo de validade, inexistência de ocorrência de furto/roubo;extravio, etc); 5) mesmo existindo os vícios formais, analisou o requerimento, abordando os aspectos formais e de mérito, para indeferi-lo sob o fundamento de que: 5.1) o impetrante não se enquadra em nenhuma das exceções previstas no art. 6º, nem nas situações especiais previstas no art. 10º da Lei 10.826/2003, isto é, o exercício de atividade profissional de risco ou ameaça à sua integridade física; 5.2) não ficou demonstrada a efetiva necessidade; 6) os comprovantes de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo foram apresentados a esta Regional em data diversa do protocolo do pedido (f. 32); 7) após a decisão de indeferimento, o impetrante apresentou pedido de reconsideração sem lograr êxito, uma vez que não apresentou o formulário com as informações exigidas e cópia do certificado de Registro Federal de Arma de Fogo CRAF, bem assim não demonstrou quaisquer fatos que pudessem alterar o teor da decisão; 7) o impetrante não apresentou recurso hierárquico ao Senhor Diretor- Geral da DPF; 8) o porte de arma tem natureza jurídica de autorização e, nos termos do art. 10 da Lei 10.826/03, o seu pedido deve ser pontual e aferir os elementos apresentados no caso concreto, no âmbito de discricionariedade da autoridade concedente. Juntou documentos (f. 34/60), dentre eles cópia integral do processo administrativo. II

Em parecer (f. 66-69-v), o MPF requereu a denegação da segurança, sob os seguintes fundamentos: 1) não existe prova pré-constituída de que o impetrante entregou todos os documentos; 2) não demonstrou que sofre ameaças ou exerce profissão que apresente riscos extraordinários a sua integridade física, sendo que as atividade desenvolvidas pelo autor, médico, empresário e proprietário rural, não apresentam, de per si, característica de risco especial à integridade física por agressão alheia, havendo somente eventuais situações de risco não muito distintas daquelas que estão submetidos todos os membros da sociedade (f. 68). Intimada o representante judicial da impetrada (f. 62), a União Federal, por intermédio da Advocacia-Geral da União, apresentou defesa (f. 72/76), aduzindo a natureza discricionária da autorização para porte de arma de fogo e encampando os fundamentos do parecer exarado nos autos do processo administrativo nº 08520.020039/2009-22. Convertido o feito em diligência para que o MPF reiterasse o seu parecer. É o relatório. Passo a decidir. 2. FUNDAMENTAÇÃO Cumpre relembrar, para fins de eventuais embargos de declaração, que incumbe ao órgão julgador decidir o litígio segundo o seu livre convencimento motivado, utilizando-se das provas, legislação, doutrina e jurisprudência que entender pertinentes à espécie. Assim, o julgador não se encontra obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Isto porque a decisão judicial não constitui um questionário de perguntas e respostas, nem se equipara a um laudo pericial a guisa de quesitos. Neste sentido, colacionam-se os seguintes precedentes: O não acatamento das argumentações contidas no recurso não implica cerceamento de defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com o que ele entender atinente à lide. Não está obrigado o magistrado a julgar a questão posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131, do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. 1 (destaquei) Processo civil. Sentença. Função prática. A função judicial é prática, só lhe importando as teses discutidas no processo enquanto necessárias ao julgamento da causa. Nessa linha, o juiz não precisa, ao julgar procedente a ação, examinar-lhe todos os fundamentos. Se um deles e 1 - STJ. T1. AgRg no Ag 512437/RJ. Rel. Ministro JOSÉ DELGADO. DJ 15.12.2003, p. 210. III

suficiente para esse resultado, não esta obrigado ao exame dos demais. Embargos de declaração rejeitados. 2 (destaquei) (...) A função teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é peça acadêmica ou doutrinária, tampouco se destina a responder a argumentos, à guisa de quesitos, como se laudo pericial fosse. Contenta-se o sistema com a solução da controvérsia, observada a res in judicium deducta, o que se deu no caso ora em exame. 3 (destaquei) mérito. Não havendo preliminares argüidas ou a serem sanadas, examino o 2. Mérito Através da presente demanda o autor pretende obter a renovação do seu Porte de Arma, sob a alegação de que o indeferimento pela autoridade coatora foi ilegal e carece de razoabilidade. Não se confunde a propriedade com o porte de uma arma de fogo. Na primeira situação, o proprietário, obrigatoriamente, deve registrá-la no Sistema Nacional de Armas SINARM ou SIGMA, sendo autorizado que o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa (art. 16 do Decreto n.º 5.123/04). Não pode transportá-la, salvo se obtiver uma autorização legal. Decreto n.º 5.123/04, Art. 28. O proprietário de arma de fogo de uso permitido registrada, em caso de mudança de domicílio ou outra situação que implique o transporte da arma, deverá solicitar guia de trânsito à Polícia Federal para as armas de fogo cadastradas no SINARM, na forma estabelecida pelo Departamento de Polícia Federal. (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). Já o porte constitui uma autorização excepcional, pessoal e intransferível para que uma pessoa possa carregar uma arma consigo, transportando para os mais diversos lugares, ressalvada algumas situações. Decreto n.º 5.123/04, Art. 24. O Porte de Arma de Fogo é pessoal, intransferível e revogável a qualquer tempo, sendo válido apenas com relação à arma nele especificada e com a apresentação do documento de identificação do portador. (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). 2 - STJ. T2. EDcl no REsp 15450/SP. Rel. Ministro ARI PARGENDLER. DJ 06.05.1996, p. 14399. No mesmo sentido: REsp 172329/SP. S1. Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS; REsp 611518/MA. T2. Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO; REsp 905959/RJ. T3. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI; REsp 807690/SP. T2. Rel. Ministro CASTRO MEIRA. 3 - STJ. T2. EDcl no REsp 675.570/SC. Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO. DJ 28.03.2006, p. 206 IV

Art. 26. O titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal concedido nos termos do art. 10 da Lei n o 10.826, de 2003, não poderá conduzi-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em virtude de eventos de qualquer natureza. (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). 1 o A inobservância do disposto neste artigo implicará na cassação do Porte de Arma de Fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que adotará as medidas legais pertinentes. 2 o Aplica-se o disposto no 1 o deste artigo, quando o titular do Porte de Arma de Fogo esteja portando o armamento em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas ou medicamentos que provoquem alteração do desempenho intelectual ou motor. No caso em exame, não há qualquer irregularidade a ser amparada na via do mandado de segurança. A Lei n.º 10.826/03, no seu artigo 6º, estabelece os requisitos mínimos para a obtenção do porte de arma, carecendo a edição de regulamento do Poder Executivo a fim de dar-lhe concretude, o que ocorreu com a expedição do Decreto n.º 5.123, de 1º.07.2004. Por sua vez, o Decreto expressamente delegou ao Departamento da Polícia Federal que estabelecesse os procedimentos Decreto n. 5.123/04, Art. 29-A. Caberá ao Departamento de Polícia Federal estabelecer os procedimentos relativos à concessão e renovação do Porte de Arma de Fogo. (Incluído pelo Decreto nº 6.715, de 2008). Neste passo, editou-se a Instrução Normativa nº 023/2005-DG/DPF, de 1º.09.2005, que assim dispôs: Art. 17 O Porte de Arma de Fogo deverá ser solicitado em uma Delegacia de Defesa Institucional DELINST centralizada em Superintendência Regional, ou a uma Delegacia de Polícia Federal, ou, em casos especiais, ao SENARM/DASP/CGDI. Art. 18 Para a obtenção do Porte de Arma de Fogo: I o interessado deverá cumprir as seguintes formalidades: a) Porte de Arma Categoria Defesa Pessoal: 1. exigências constantes das alíneas a e b do inciso I do art. 6º. desta IN; Art. 6º. Para o requerimento e expedição da Autorização para Aquisição de Arma de Fogo de uso Permitido por Pessoa Física, deverão ocorrer os seguintes procedimentos: I o interessado deverá comparecer a uma Delegacia de Defesa Institucional DELINST centralizada em Superintendência Regional, ou a uma Delegacia de Polícia Federal, ou, em casos excepcionais, ao SENARM/DASP/CGDI, e cumprir as seguintes formalidades: a) ter idade mínima de vinte e cinco anos; b) apresentar o formulário padrão Anexo I, devidamente preenchido e assinado, com duas fotos recentes no tamanho 3X4, além dos seguintes documentos: 1. cópia autenticada de documento de identidade; 2. declaração de efetiva necessidade de arma de fogo, expondo os fatos e as circunstâncias justificadoras; V

3. certidões de antecedentes criminais, fornecidas pelas Justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral; 4. declaração de que não responde a inquérito policial ou a processo criminal; 5. comprovantes de ocupação lícita e de residência certa, exceto para os servidores públicos da ativa; e 6. comprovantes de capacidade técnica e de aptidão psicológica, ambos para manuseio de arma de fogo; 2. declaração de efetiva necessidade de arma de fogo por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física, anexando documentos comprobatórios; 3. cópia autenticada do registro da arma de fogo de sua propriedade; e 4. o interessado deverá ser submetido a uma entrevista com o policial designado, na qual serão expostos os motivos da pretensão e verificada, em caráter preliminar e não vinculante, a efetiva necessidade, por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça a sua integridade física; Analisando as disposições da Instrução, não houve qualquer transbordamento da reserva legal, uma vez visou conferir efeito concreto a Lei e o Regulamento, imprimindo um caráter uniforme na análise da matéria perante a Administração. As exigências já estão contidas na Lei n.º 10.826/03 e no Decreto n.º 5.123/04, não se vislumbrando a criação de uma obrigação nova. Neste passo, impende transcrever a lição de Celso Antônio acerca da relação entre a Lei e o regulamento e demais atos normativos: 24. Esta longa mas oportuna citação calha à fiveleta para indicar que ao regulamento desassiste incluir no sistema positivo qualquer regra geradora de direito ou obrigação novos. Nem favor nem restrição que já não se contenham previamente na lei regulamentada podem ser agregados pelo regulamento. Há inovação proibida sempre que seja impossível afirmar que aquele específico direito, dever, obrigação, limitação ou restrição já estavam estatuídos e identificado na lei regulamentada. Ou reversamente: há inovação proibida quando se possa afirmar que aquele específico direito, dever, obrigação, limitação ou restrição incidentes sobre alguém não estavam já estatuídos e identificados na lei regulamentada. A identificação não necessita ser absoluta, mas deve ser suficiente para que se reconheçam as condições básicas de sua existência em vista de seus pressupostos, estabelecidos na lei e nas finalidades que ela protege. É, pois, à lei, e não ao regulamento, que compete indicar as condições de aquisição ou restrição de direito. Ao regulamento só pode assistir, à vista das condições preestabelecidas, a especificação delas. E esta especificação tem que se conter no interior do conteúdo significativo das palavras legais enunciadoras do teor do direito ou restrição e do teor das condições a serem preenchidas. (...) 31. Visto e de modo abundante que, entre nós, os regulamentos se destinam à execução de uma lei e que não podem extravasar os termos do que nela se dispõe sobre direito e obrigações dos administrados, cumpre indagar: o que justificará a edição de um regulamento, se este nada pode acrescentar na esfera de direitos e obrigações dos administrados? Qual poderá, então, ser seu conteúdo, isto é, que espécie de disposições são admissíveis. (...) VI

32. O regulamento tem cabida quando a lei pressupõe, para sua execução, a instauração de relações entre a Administração e os administrados cuja disciplina comporta uma certa discricionariedade administrativa. Isto ocorre nos seguintes dois casos: a) Um deles tem lugar sempre que necessário um regramento procedimental para regência da conduta que órgãos e agentes administrativos deverão observar e fazer observar, para cumprimento da lei, na efetivação das sobreditas relações. Certamente foi a este tipo de disposições que Geraldo Ataliba aludiu ao dizer que o regulamento cumpre uma função de acomodar o aparelho administrativo para a fiel observância das leis. Mais clara ainda é a lição de Oswaldo Bandeira de Mello, em sua aprofundada análise do regulamento, dizendo que com os regulamentos executivos a Administração establece as regras orgânicas e processuais para boa execução da lei. São desta espécie, exempli gratia, as providências constantes dos Regulamentos do Imposto nas quais se dispõe em que formulário serão feitos as declarações, de que modo e sob que disposição se apresentarão os lançamentos, onde em que prazo e até que horário será aceita a entrega das declarações etc. Note-se que, se inexistissem tais disposições concernentes ao modus procedendi, a multiplicidade de maneiras pelas quais se poderiam efetua ensejaria que órgãos e agentes públicos, por desfrutarem de certa discrição perante tais questões dada a ausência de pormenores legais quanto a isto, adotassem soluções díspares entre si, incompatíveis com a boa ordem administrativa e com igualdade de tratamento a que os administrados fazem jus. 4 Em suas informações (f. 30/33), devidamente corroborado pelo processo administrativo anexado aos autos (f. 38/60), a autoridade coatora informou que o impetrante não instrui o requerimento com o formulário padrão em que deveriam constar seus dados pessoais e os dados da arma de fogo que pretendia portar (item 4), bem assim deixou de apresentar cópia do Certificado de Registro de Arma de Fogo CRAF, documento necessário para comprovar a regularidade da arma de fogo perante o SINARM (item 5). Ora, a necessidade de registro no SINARM encontra expressa previsão no art. 10, III da Lei 10.826/03. Não há qualquer ilegalidade na obrigação de preencher formulário, cujos requisitos se reportam aos termos da lei sem extravasar-lhe o seu conteúdo, uma vez que não se está criando qualquer obrigação nova, bem assim visa racionalizar os serviços administrativos resumo das informações necessárias e facilitar a conferência de dados. Tal obrigação pode ser estabelecida na via do regulamento e demais atos normativos, sem que configure ofensa ao princípio da reserva legal. No caso em exame, o impetrante não demonstrou que cumpriu tais requisitos, uma vez que não constam no processo administrativo, nem juntou com a inicial qualquer documento de que os apresentou na seara administrativa. Assim, o não atendimento destas formalidades já seria suficiente para o indeferimento sob o aspecto formal. 4 Curso de Direito Administrativo. 15.ed. São Paulo : Malheiros, 2003. p.323/329. VII

Ainda que superasse esta questão, o impetrante não demonstrou a efetiva necessidade. A Lei n.º 10.826/03 proibiu o porte de arma de fogo em todo o País, ressalvando os casos previstos em legislação própria (Judiciário ou Ministério Público) e determinadas funções. Lei 10.826/03, Art. 6 o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: I os integrantes das Forças Armadas; II os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal; III os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei; IV os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 250.000 (duzentos e cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004) V os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; VI os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; VII os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias; VIII as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei; IX para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental. X os integrantes da Carreira Auditoria da Receita Federal, Auditores-Fiscais e Técnicos da Receita Federal. (Incluído pela Lei nº 11.118, de 2005) X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007) Afora as situações acima, o legislador previu que, excepcionalmente, a Polícia Federal poderia autorizar o porte de arma de fogo fora das exceções previstas no art. 6º da Lei 10.826/03 quando, dentre outros requisitos, ficasse demonstrado a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física. Para tanto, a legislação exige: 1) a demonstração da efetiva necessidade, seja pelo exercício da atividade profissional, seja pelo risco ou de ameaça à sua integridade física; 2) comprovada idoneidade, mediante a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, VIII

Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; 3) documento comprobatório de ocupação lícita e residência certa; 4) comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo; 5) apresentar documentação de propriedade de arma de fogo; 6) não possuir idade inferior a 25 (vinte e cinco) anos. Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. 1 o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II atender às exigências previstas no art. 4 o desta Lei; Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) II apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. III apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6 o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) O porte de arma de fogo tem natureza típica de autorização, assim entendimento como ato administrativo unilateral, discricionário e precário pela qual a Administração faculta ao particular o uso privativo de bem público, ou o desempenho de atividade material, ou a prática de ato que, sem esse consentimento, seria ilegalmente proibidos 5. Assim, a apresentação de todos os documentos não assegura o direito a renovação, uma vez que a matéria está submetida ao juízo discricionário da Administração Público. julgados: Acerca da natureza discricionária do ato, colacionam-se os seguintes ADMINISTRATIVO. PORTE DE ARMA DE FOGO. PROIBIÇÃO COMO REGRA. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE JUSTIFICAM A 5 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 219. IX

AUTORIZAÇÃO DO PORTE. AVALIAÇÃO DISCRICIONÁRIA. CONTROLE JUDICIAL LIMITADO. 1. O porte de arma pretendido pelo impetrante foi indeferido em virtude de não demonstrar efetivamente o exercício de atividade profissional de risco ou ameaça concreta a sua segurança física, conforme previsto no art. 10, II, da Lei n. 10.826/03. 2. Dentro de uma escala de mínimo a máximo de discricionariedade, a autorização para portar arma de fogo é colocada no extremo superior, em face da proibição, como regra, contida no art. 6º da Lei n. 10.826/2003, constituindo crime grave o porte ilegal. 3. O controle judicial da discricionariedade se limita à verificação da razoabilidade do ato, devendo ser maior a cautela do juiz na apreciação dos atos tipicamente discricionários. 4. Cabia ao impetrante a demonstração de situação enquadrada no art. 10, 1º, I, da Lei n. 10.826/2003 - "efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física". Mas, em primeiro lugar, é frágil a demonstração por meio de simples declarações particulares, perante a Administração e principalmente nesta esfera judicial, diante da exigência de direito líquido e certo para efeito de apreciação em mandado de segurança; em segundo, não é desprovida de razoabilidade a avaliação feita pela autoridade quanto a não constituir a gerência de fazendas atividade profissional de risco suscetível de justificar exceção à proibição do porte de arma de fogo. 5. Apelação a que se nega provimento. 6 ADMINISTRATIVO. PORTE DE ARMA. CONCESSÃO ANTERIOR A VIGÊNCIA DA LEI N. 10.826/2003. PROFISSIONAL EXERCENTE DA ADVOCACIA. PEDIDO DE RENOVAÇÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE NECESSIDADE. REQUERIMENTO EXTEMPORÂNEO. SEGURANÇA. DENEGAÇÃO. APELAÇÃO. IMPROVIMENTO. 1. Irreparável a sentença que denegou o mandamus em virtude de haver o apelante ultrapassado o prazo limite para a obtenção de autorização de renovação do porte de arma, com fundamento no art. 29, da Lei n. 10.826/2003 c/c art. 1º, da Lei n. 10.884/2004; além disto, o caput do art. 6º, da Lei n. 10.826/2003 não ressalvou a concessão de porte de armas pelo exercício da advocacia. 2. Ausência de direito adquirido ou ato jurídico perfeito a serem violados, tendo em vista a natureza precária do ato de autorização de renovação de porte de arma, o qual reflete o execício da discricionariedade administrativa. Precedente Jurisprudencial: TRF - Primeira Região, AG - 435878/GO, Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Quinta Turma, j. 29/11/2004, DJ 9/12/2004, p. 40. 3. Apelação improvida. 7 A efetiva necessidade não se confunde com situação de risco potencial. 6 TRF 1ª Reg, AMS 2004.36.00.004661-8/MT, 5ª Turma, Rel. Des. Federal João Batista Moreira, Quinta Turma,DJ p.92 de 01/03/2007 7 TRF 5ª Reg., AMS 200584000002320, 3ª Turma, Rel. Des. Federal Paulo Gadelha, TRF5, julgado em 22/11/2005 X

Qualquer pessoa está sujeito de ser alvo de investida criminosa de terceiro, quando passei na rua, vai ao shopping/supermercado, está num estabelecimento. Efetiva necessidade não está dependente da avaliação subjetiva de cada um, mas a partir de dados concretos. É claro que, para fins de demonstração, não se exigirá uma prova cabal e insofismável (uma gravação/filmagem ou mesmo um atentado), visto que muitas vezes as ameaças são realizadas de maneira velada. Contudo, necessário um quadro probatório mínimo que demonstre a situação de risco razoável. No caso em exame, o impetrante aduziu que tem o direito de possuir porte de arma em face de sua condição de funcionário público aposentado, médico da Penitenciária do Estado de Sergipe por aproximadamente 25 anos e membro do Conselho Penitenciário por muito tempo, além de exercer a atividade de empresário e executivo, viajando freqüentemente para suas propriedades, correndo o risco de assaltos, seqüestro, conforme demonstra o POR Registro Policial de Ocorrência 2010/06503.0-007202 (f. 10). Conforme trecho acima, o impetrante não demonstrou uma situação de efetiva necessidade, enquadrando a situação no caso de risco potencial. Ademais, o impetrante não se enquadra em nenhuma das hipóteses de profissionais que exercem atividade de risco, pois como ele próprio declarou é médico aposentado da Penitenciária do Estado de Sergipe, ou seja, não está mais no exercício da profissão considerada de risco. Do contrário, se se admitisse esta situação, estaria se contornando a finalidade legal da Lei 10.826/03 que foi restringir ao máximo o acesso da população às armas de fogo. No mais, transcreve-se excerto do parecer ministerial, cujos fundamentos adoto como razões de decidir: As atividade desenvolvidas pelo autor, médico, empresário e proprietário rural, não apresentam, de per si, característica de risco especial à integridade física por agressão alheia, havendo somente eventuais situações de risco não muito distintas daqueles que estão submetidos todos os membros da sociedade, o que não configura, portanto, situação especial que lhe garanta poder de arma. Assim, para concessão de autorização de porte de arma de fogo seria necessária a comprovação de que o impetrante vem sofrendo ameaças (atuais e permanentes) de terceiros. Destaque-se, ademais, que o requerente somente solicitou a renovação de seu porte 23 (vinte e três) meses após o vencimento de sua licença anterior, circunstância que descaracteriza, claramente, a alegação de risco ou ameaça à sua integridade física. (f. 68/68-v) XI

Se o impetrante está preocupado em ser assaltado em [uma] de suas propriedades, nada impede que adquira uma arma, pelos trâmites legais, para deixar também lá, não sendo necessário o porte de arma de fogo. No caso em tela, o delegado da Polícia Federal, investido do poder discricionário, indeferiu o pedido de renovação do porte de arma de fogo, sem praticar ato ilegal. 3. DISPOSITIVO Diante do exposto, denego a segurança com resolução de mérito (art. 269, inciso I, do CPC c/c art. 14 da Lei 12.016/09). Sem condenação em honorários, nos termos do art. 25 da Lei 12.016/09 e das Súmulas 105, do STJ e 512, do STF. Deixo de condeno a impetrante no pagamento de custas remanescentes, uma vez que a Fazenda Nacional, órgão responsável por cobrá-las, porque está dispensada de executar dívida inscrita em dívida ativa da União DAU no valor inferior a R$ 10.000,00, bem como não inscreve em igual valor (Art. 20 da Lei 10.522/02 8 c/c a Portaria MF nº 049, de 1 de abril de 2004 9 ). Contudo, caso o mesmo recorra, determino que recolha com base no valor da causa ora fixado, ficando advertido de que o seu não recolhimento importará em deserção. Sentença não sujeita ao reexame necessário. Após o trânsito em julgado, arquivar os autos com baixa na distribuição. Publicar. Registrar. Intimar. Aracaju, 29 de março de 2011. WWW Juiz Federal Substituto da 1ª Vara/SE 8 Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.033, de 2004) 9 Portaria MF nº 049, de 1 de abril de 2004, Art. 1º Autorizar: I - a não inscrição, como Dívida Ativa da União, de débitos com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais); e II - o não ajuizamento das execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). XII