DOCUMENTOS DO DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 1º semeste de 1962: o que nos contam os Registros de avaliação RESUMO



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Transcrição:

DOCUMENTOS DO DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 1º semeste de 1962: o que nos contam os Registros de avaliação Mônica Menezes de Souza 1 Maria Terezinha Jesus Gaspar 2 Carmyra Oliveira Batista 3 Edilene Simões Costa 4 Rosália Policarpo Fagundes de Carvalho 5 RESUMO Este trabalho descritivo analisa alguns registros de avaliação da disciplina Matemática para o curso de Arquitetura Supletivo oferecida pelo atual Departamento de Matemática da Universidade de Brasília UnB, no primeiro semestre de 1962, quando a universidade começou a funcionar. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada e da análise de documentos. Os registros de avaliação, nesse trabalho, são os documentos institucionais nos quais estão assentadas notas, menções e observações sobre um grupo de estudantes, ou documentos institucionais em que estão assinaladas notas, menções e observações sobre os estudantes, de forma individual, e que expressam o desempenho desses em um período específico de um ano letivo mensal, bimestral, semestral ou anual. O acesso a tais documentos possibilitou um contato com indícios de práticas docentes que ocorreram no ensino de matemática, nos primeiros anos de uma universidade, que se constituiu com a missão de modernizar a educação superior do Brasil. Utilizou-se como pressupostos teóricometodológicos Julia (2001), Silva (2004), Bacellar (2006) e Garnica (2008). Introdução Esse trabalho tem por objetivo descrever e analisar alguns registros de avaliação, referentes ao primeiro semestre de 1962 do atual Departamento de Matemática da Universidade de Brasília UnB. O Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática COMPASSODF, pela aproximação de interesses de pesquisa, desde o início de 2014, está envolvido na pesquisa A constituição do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília UnB, coordenado pela professora Dra. Maria Terezinha Jesus Gaspar. 1 Doutoranda da Universidade Anhanguera de São Paulo UNIAN; Docente da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal SEEDF. profmonicams@yahoo.com.br. 2 Docente da Universidade de Brasília UnB. Mtjg.gaspar@gmail.com 3 Doutora em Educação pela Universidade de Brasília UnB; Docente da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal SEEDF. Carmyra.batista@gmail.com 4 Doutora em Educação pela Universidade de Brasília UnB; Consultora em educação da FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. edilenesc@gmail.com 5 Doutoranda da Universidade Anhanguera de São Paulo UNIAN; Docente da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal SEEDF. rosaliapolicarpo@yahoo.com.br.

Consideramos necessário contextualizar historicamente a criação de Brasília e da UnB antes de apresentarmos os documentos que foram analisados. Com o intuito de tornar urbano um número maior de cidadãos, tendo em vista que, no decênio 1950, 60% da população brasileira ainda era rural conforme Sochaczewski (1993), a mudança da capital saída da Região Sudeste para a Região Centro-Oeste do Brasil se deu no momento político em que o presidente Juscelino Kubitscheck, com seu plano de metas, 50 anos de progresso em 5 de realizações, favoreceu o desenvolvimento da indústria de base visando à ampliação da malha rodoviária brasileira e ao aumento do número de hidroelétricas. Essa interiorização do país serviu de incentivo a muitos brasileiros que procuravam uma situação de vida promissora para si e para seus familiares virem aos borbotões para o Planalto Central participarem da construção da nova capital. Esse conjunto de circunstâncias fez com que fosse planejada a educação básica pública em Brasília e a constituição de uma universidade inovadora que tinha como função dar assistência intelectual, científica e cultural a todos os órgãos do poder público (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1962). A universidade já estava incluída no plano piloto de Brasília, criado pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e sua concretude, em consonância com as ideias educacionais inovadoras de expoentes como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. A UnB foi inaugurada no dia do segundo aniversário da nova capital, isto é, 21 de abril de 1962, como um desfecho para o trabalho árduo e dedicado de Darcy Ribeiro e seus colaboradores, todos muito envolvidos na busca de uma universidade moderna e bem estruturada, pois o país vivia um momento de efervescência educacional, em meio ao ideário liberal do "Manifesto dos Pioneiros Mais uma vez convocados", de 1 de julho de 1959, e ao nascedouro da primeira lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024/61. A estrutura da universidade era composta por institutos centrais, faculdades profissionais, órgãos complementares (biblioteca, museu, centro de teledifusão educacional, editora e estádio universitário) e deveria dispor de alimentação e a moradia para alunos, professores e funcionários (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1962). Além disso, foi criada sob um regime de fundação, o que lhe conferiu maior autonomia administrativa. Essa nova estrutura foi seguida pelas universidades federais brasileiras criadas desde então.

O modelo universitário anterior, era composto por escolas autossuficientes e independentes, porém agregadas em uma única reitoria. O primeiro vestibular da UnB ocorreu em fevereiro de 1962 e as aulas começaram no início de abril, em salas do Ministério da Saúde, antes da inauguração do campus, que só aconteceu no dia 21 de abril. (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2014). Entrar em contato com o surgimento do Departamento de Matemática da UnB, deu-nos a oportunidade de interagirmos com ideias educacionais que estavam em plena constituição em uma universidade que se tornava símbolo de inovação e modernidade: O antropólogo Darcy Ribeiro, idealizador, fundador e primeiro reitor da UnB, sonhava com uma instituição voltada para as transformações diferente do modelo tradicional criado na década de 1930. No Brasil, foi a primeira a ser dividida em institutos centrais e faculdades. E, nessa perspectiva, foram criados os cursos-tronco, nos quais os alunos tinham a formação básica e, depois de dois anos, seguiam para os institutos e faculdades [...]. (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2014). [Grifos nossos] O atual Departamento de Matemática da UnB, fundado em 1962, denominava-se Instituto Central de Matemática e seu coordenador geral era o professor Leopoldo Nachbim. Sua estrutura foi criada pelos professores Geraldo Ávila e Djairo Figueiredo, atendia às disciplinas de Matemática dos cursos de Administração, Economia, Arquitetura, e buscava formar matemáticos por meio da pós-graduação. (AZEVEDO, 2005). Os cargos, no instituto, estavam assim definidos, os professores eram doutores contratados em tempo integral e dedicação exclusiva, os instrutores eram alunos do mestrado, contratados para atender a graduação, e os auxiliares eram contratados semestralmente, quando necessário, e também atendiam a graduação. (SALMERON, 1999). Aporte teórico-metodológico Do modelo pedagógico constituído e adotado pelo Instituto Central de Matemática da UnB quase nada sabemos ainda, mas os registros de avaliação encontrados nos trazem indícios de algumas práticas e, é por isso, que descrevemos e analisamos alguns desses registros produzidos no 1 semestre de 1962.

Embora Silva (2004, p. 69) defina O registro da avaliação [...] a documentação não somente do processo avaliativo, mas, sobretudo, da dinâmica do trabalho pedagógico, chamamos, nesta análise, registros de avaliação os documentos institucionais nos quais estão assentadas notas, menções e observações sobre um grupo de estudantes ou documentos institucionais em que estão assinaladas notas, menções e observações sobre os estudantes de forma individual e que expressam o desempenho desses em um período específico de um ano letivo mensal, bimestral, semestral ou anual. Inicialmente, utilizamos somente a análise de documentos, buscando contextualizá-los a partir de três questões básicas: Sob quais condições aquele documento foi redigido? Com que propósito? Por quem? (BACELLAR, 2006, p. 63). Porém, julgamos necessário entrevistar o professor responsável pelos registros de avaliação analisados. Como o professor nos recebeu com prontidão, pudemos esclarecer informações que eram, a princípio, apenas indícios. Entrevistamos o professor Kleber Farias Pinto, em julho de 2014, com o intuito de ampliar as informações sobre os registros de avaliação. Consideramos que as memórias, tanto pessoais como coletivas, podem auxiliar na compreensão da pesquisa (GARNICA, 2008). Após a entrevista, realizamos a degravação, a transcrição, a textualização e a devolvemos ao entrevistado que autorizou a utilização do texto para fins acadêmicos. Durante a análise dos registros de avaliação, aproximamo-nos de Julia (2001) que considera que as disciplinas escolares estão relacionadas a sua finalidade educativa, pois, segundo Pinto (2014), a disciplina em estudo foi criada para dar um embasamento matemático aos novos universitários. Os registros de avaliação Os documentos analisados foram encontrados em um armário de metal recolhido num depósito no Departamento de Matemática da UnB, em maio de 2014. Estavam guardados em uma caixa arquivo contendo envelopes brancos com o símbolo da UnB (num formato mais atual), apontando que foram manipulados recentemente. Cada envelope indica a qual semestre faz referência (1º/1962, 2º/1962 etc.) desde o primeiro semestre de 1962 até o segundo de 1968, num total de 16 envelopes. Ao abrirmos o envelope 1º/1962, constatamos que havia material referente às disciplinas Matemática para o curso de Arquitetura, Matemática para os cursos de

Administração e Economia, Matemática para o curso de Economia, Matemática para o curso de Arquitetura Supletivo e Matemática para o curso de Administração e Economia Supletivo. Nossa análise deteve-se, no momento, a um bloco com vinte e cinco folhas de registros de avaliação individual, sendo cada folha referente a um estudante que cursou a disciplina Matemática para o curso de Arquitetura Supletivo, no primeiro semestre de funcionamento da UnB. Conforme Pinto (2014), essa disciplina era necessária devido aos conhecimentos matemáticos limitados daqueles que prestaram vestibular no primeiro semestre de funcionamento da universidade. Pessoas que estavam comprometidas com a construção da capital nos mais variados níveis de envolvimento. A disciplina tinha, portanto, a função de habilitar os estudantes a prosseguirem seus estudos na educação superior. Dos vinte e cinco registros, dezoito têm observações no campo dedicado a isso e estão assinados pelo professor Djairo Figueiredo. O campo instrutor, está assinado por Kleber Farias Pinto que ocupava o cargo de auxiliar de ensino. O professor Djairo Guedes Figueiredo é natural do Ceará e, atualmente, é docente do Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação da Universidade de Campinas IMECC/UNICAMP (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2014). Veio para Brasília em 1962 com o objetivo de criar o atual Departamento de Matemática da UnB. (AZEVEDO, 2005). O professor Kleber Farias Pinto nasceu em Sergipe, foi para Ouro Preto/MG; cursou contabilidade e foi cátedra da Escola Normal de Ouro Preto. Concluiu o curso de Engenharia em 1959. Veio para Brasília como engenheiro civil para fazer a parte da equipe que instalou a rede elétrica subterrânea da cidade. Em 1959, participou e foi aprovado do concurso, em nível nacional, para a constituição do núcleo educacional de Brasília, que era a Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília CASEB, para o ensino médio. Posteriormente, atuou como auxiliar de ensino de Matemática na UnB. (PINTO, 2012). Os registros de avaliação analisados apresentam as seguintes informações do estudante: nome, tronco, matéria, sexo, data de nascimento, estado civil, profissão, local de trabalho, remuneração, uma coluna com as notas conquistadas no exame vestibular e quadros de rendimento acadêmico mensal (de abril a agosto), com horas, rendimento, exame, menção e, a seguir, um quadro síntese com os mesmos dados. No final da folha

há um espaço para observações e assinaturas dos docentes, que nem sempre eram preenchidas. Constavam em cada registro de avaliação as notas do vestibular, que já vinham preenchidas pela secretaria para o docente e, ao longo do semestre, o mesmo dava continuidade ao preenchimento dessa ficha, registrando nela o desempenho mensal de cada estudante. FOTO 1 Registro de Avaliação individual Arquitetura, 1º/1962. As informações presentes no cabeçalho de cada registro de avaliação nos dão indícios de que o docente tinha um certo conhecimento de quem era o estudante, de seu desempenho matemático no vestibular e de seu desenvolvimento ao longo do semestre, dando-lhe competência para fazer as anotações relativas às possibilidades de aprendizagens dos estudantes e ao êxito na continuidade dos estudos, no campo reservado para as observações. Quanto a isso, Pinto (2014) confirmou que os estudantes tinham interesse em aprender e, por isso, procuravam-no para conversar e tirar dúvidas. O professor esclareceu que ficou responsável por essa disciplina porque já tinha trabalhado no ensino secundário de Brasília e tinha muita didática; considerava-se o rei da didática, apesar de utilizar o quadro negro, giz e discussões. Minha didática era transformar tudo isso em arroz com feijão. [...] quando eu ia dar aula de coordenadas cartesianas ortogonais estava motivado pela história de Brasília. [...] As superquadras de Brasília, segundo Lúcio Costa, estão no eixo vertical e o eixo monumental onde estão os poderes públicos é o eixo horizontal. Onde os eixos se cruzam fica a parte comercial. (PINTO, 2014).

No campo do registro de avaliação, destinado às observações realizadas pelo docente, verificamos que o professor Kleber foi muito cuidadoso e respeitoso em suas anotações. Para ilustrar esse cuidado, expomos algumas delas: Este estudante parece-nos recuperável. Uma nova chance deve ser dada para que ele ratifique sua matrícula. O estudante demonstrou boa capacidade de entendimento e grande interesse pela cadeira. Esforçou-se ao máximo e obteve bons resultados apesar de sua deficiência inicial. Apesar da menção MM é bom estudante, com possibilidades de um bom Curso de Complementos. Interessado e dedicado. Aluno excepcional. Baixíssimos conhecimentos iniciais, obteve menção S pela integral absorção dos ensinamentos. O fato de o docente fazer observações procurando ressaltar a capacidade dos estudantes está relacionado com sua trajetória docente. Kleber foi um dos sessenta professores atuantes no ensino secundário do Distrito Federal fazendo parte da efervescência educacional que dominou a implantação do sistema de ensino de Brasília. Esse cuidado, ao anotar suas percepções respeitosas e que ressaltam qualidades no registro de avaliação de cada estudante, vem desse contato intenso com estudantes em formação. Considerações finais Esse trabalho descritivo teve por objetivo apresentar e analisar alguns registros de avaliação referentes ao primeiro semestre de 1962 do atual Departamento de Matemática da Universidade de Brasília UnB. O acesso a esses documentos colocou-nos em contato com indícios de práticas docentes que ocorreram no ensino de matemática nos primeiros anos de Brasília. Encontramos, entre as disciplinas ministradas no 1º semestre de 1962, uma dedicada a fundamentar os conhecimentos matemáticos dos universitários do curso de Arquitetura, trabalhadores e fundadores de Brasília. Supomos que os responsáveis pela estruturação do Instituto de Matemática viram a necessidade de criar disciplinas que atendessem às dificuldades dos estudantes, observadas a partir das notas de matemática alcançadas no vestibular e que estavam relacionadas no registro de avaliação.

Ao término da primeira aproximação com esses documentos, ressaltamos a importância de entrar em contato e de poder tornar público o acesso a esse material que possibilita uma leitura do fazer pedagógico dos primórdios da Universidade que se constituiu com a missão de modernizar a educação superior do Brasil. Referências AZEVEDO, Alberto; ÁVILA, Geraldo Severo; FIGUEIREDO, Djairo Guedes; TENEMBLAT, Keti. A história do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília. In: VI SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, 2005, Brasília. Anais... Brasília: Sociedade Brasileira de História da Matemática, 2005. p. 39 57. BACELLAR, C. Fontes documentais: Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla B. (Org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO. Disponível em: < http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=k4787702h5 >. Acesso em: 10 jul. 2014. GARNICA, Antonio Vicente Marafioti. A experiência do labirinto: metodologia, história oral e educação matemática. São Paulo: UNESP, 2008. JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista brasileira de História da Educação, n. 1. Campinas: Autores Associados, jan./jun. 2001, p. 9 43. PINTO, Kleber Farias. Entrevista concedida ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática COMPASSODF. 10 dez. 2012. PINTO, Kleber Farias. Entrevista concedida ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática COMPASSODF. 29 jul. 2014. SALMERON, Roberto A. A universidade interrompida: Brasília 1964-1965. Brasília: Universidade de Brasília, 1999. 484 p. SILVA, Janssen Felipe da. Avaliação na perspectiva formativa-reguladora: pressupostos teóricos e práticos. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2004. SOCHACZEWSKI, Antônio Cláudio. Desenvolvimento econômico e financeiro do Brasil: 1952-1968. São Paulo: Trajetória Cultural, 1993.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Plano Orientador da Universidade de Brasília. Brasília: UnB, 1962.. Linha do tempo. Disponível em: <http://www.unb.br/unb/historia/linha_do_tempo/60/index.php>. Acesso em: 10 jul. 2014.