PROGRAMA: FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE TÉCNICA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE REGULAÇÃO Convênio ATN/ME-10541-BR (BR-M1035) Diagnóstico das necessidades e competências técnicas e institucionais das organizações civis de defesa do consumidor Resumo executivo Novembro de 2008 Renata Farias Consultora Técnica
SUMARIO SUMARIO... 2 Introdução... 3 O universo da pesquisa o Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor. 4 Desenvolvimento institucional interno... 4 Relevância social da missão e da estratégia de intervenção institucional... 4 Áreas de atuação... 5 Atuação nos setores regulados... 5 Grau de burocratização e parâmetros para a gestão estratégica... 6 Estrutura e recursos materiais... 7 Instâncias de definição das políticas... 7 Instrumentos e recursos de controle financeiro... 7 Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação... 7 Grau de desenvolvimento e qualidade dos mecanismos de responsabilização pública e demonstração de resultados... 8 Realização de Auditoria... 8 Recursos Humanos: regime de trabalho e qualificação técnica... 8 Fontes de apoio... 9 Proporção de receitas não vinculadas em relação às receitas vinculadas... 9 Grau de dependência em relação a recursos de origem internacional... 10 Capacidade de geração e captação de recursos em relação às necessidades... 11 Desenvolvimento institucional ampliado... 11 Capacidade para estabelecer diálogo, parcerias e trabalho conjunto com outros atores... 12 Credibilidade e visibilidade... 13 Capacidade para iniciar processo de mobilização social e impactar a agenda pública. 13 Dificuldades encontradas e necessidade de capacitação... 14 2
Diagnóstico: COMPETÊNCIAS TÉCNICAS E INSTITUCIONAIS DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR INTRODUÇÃO O presente texto apresenta alguns resultados da pesquisa conduzida com as entidades integrantes do Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor entre julho e outubro de 2008. Os objetivos da pesquisa, conduzida em parceria com a Secretaria-Executiva do Fórum, eram traçar o perfil das entidades que o integram, identificando aspectos institucionais e de sua atuação temática, e diagnosticar eventuais necessidades de capacitação. Dada a quantidade de informações obtidas, apenas serão destacados os aspectos relevantes para a discussão sobre a participação nos processos de regulação, sejam pertinentes ao desenvolvimento institucional interno das organizações, seja de aspectos de sua intervenção. Os dados foram coletados através de questionário contendo questões abertas e fechadas, respondidos pelas entidades, de forma identificada. Em alguns casos, solicitou-se complemento de informação. O presente relato traz a síntese dos principais resultados obtidos e conclusões à luz de indicadores de sustentabilidade. 3
O UNIVERSO DA PESQUISA O FÓRUM NACIONAL DE ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR O Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor- FNECDC- é uma instância de articulação das organizações do movimento de consumidores que congrega atualmente 20 entidades que atuam, de forma exclusiva ou não, na proteção e defesa do consumidor, em 12 estados do país. O objetivo do Fórum é fortalecer o movimento de defesa do consumidor, promovendo a ampliação da capacidade de representação das entidades; articulação das entidades para potencializar uma ação conjunta, além de propugnar pela aplicação de princípios éticos, tais a independência, a transparência democrática e a solidariedade pelas organizações que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. Longe de reunir todas as entidades civis que clamam hoje defender os direitos do consumidor, o Fórum procura destacar-se pela adesão de suas filiadas aos princípios que defende. As entidades do Fórum encontram-se distribuídas nas cinco regiões do país. Encontramos uma concentração maior de entidades nas regiões Sul e Nordeste, cada uma com sete entidades. As demais regiões contam com apenas duas entidades cada. A grande maioria está localizada em capitais, apenas duas entidades têm sua sede em municípios do interior. A metade das entidades atua no âmbito de seus estados, enquanto que um quarto tem abrangência nacional. Um quarto das entidades iniciou suas atividades antes da promulgação do Código de Defesa do Consumidor e mais da metade antes da institucionalização do Fórum. O pequeno número de entidades criadas antes dos anos 1980 ilustra também a dificuldade de manutenção e permanência das entidades. DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL INTERNO RELEVÂNCIA SOCIAL DA MISSÃO E DA ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL O formato jurídico idêntico - são todas sem exceção constituídas na forma de associação 1 - pouco diz sobre o perfil institucional, a identidade e papel sociopolítico das organizações integrantes do Fórum. É interessante observar, contudo, que a convergência de interesses e objetivos, a proteção e a defesa do consumidor, esconde a heterogeneidade dessas organizações. Embora possam ser genericamente classificadas como organizações de desenvolvimento e defesa de direitos, encontramos ali reunidas entidades com finalidades específicas diversas, tais como associação de profissionais, entidade de defesa do meio ambiente e entidades que atuam com outras 1 As associações, de acordo com o art. 53 do novo Código Civil regido pela Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, constituem-se pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. 4
formas de desenvolvimento, além de um universo variado de missões, visões e objetivos estatutários. Informação e orientação são as estratégias de intervenção desenvolvidas pelo maior número de entidades para o conjunto de temas trabalhados. Essas estratégias somente são superadas pelas campanhas, que conjugam informação e mobilização, em alguns temas específicos: meio ambiente, alimentos, segurança de produtos e serviços e telecomunicações. Mobilização social, representação e formação e capacitação também são estratégias freqüentes em boa parte das instituições. Poucas entidades, por outro lado, trabalham com ações judiciais. Entretanto, três quartos das entidades que informam atuar no setor das telecomunicações desenvolvem essa estratégia. A maioria das entidades produz e distribui material de informação e / educação sobre temas relativos à defesa do consumidor. Quando não produzem, distribuem material de outras organizações ou do Ministério da Justiça. Embora a maioria seja generalista, algumas entidades têm foco de atuação específico. Nesses casos, destacam-se os temas saúde e meio ambiente e consumo sustentável. Áreas de atuação Dentre os temas ou áreas de atuação prioritária das entidades, figuram os serviços regulados, em especial telecomunicações, água, energia elétrica, saúde, alimentos e segurança alimentar, meio ambiente e consumo sustentável. Uma outra informação igualmente relevante para a caracterização das entidades é a indicação de outras áreas de atuação, além do foco na proteção e defesa do consumidor. Mais da metade das organizações indicou o meio ambiente como outra área de intervenção. Segurança alimentar e geração de emprego e renda também são temas apontados. Atuação nos setores regulados Nos setores regulados, os dados da pesquisa apontam um maior número de entidades atuantes nas questões de meio ambiente e consumo sustentável, seguido de saúde pública e alimentos. Metade das organizações também pauta sua intervenção nos temas: segurança de produtos e serviços, energia elétrica, telecomunicações e medicamentos. 5
Atuação nos setores regulados Nº Entidades atuantes 20 15 10 5 0 Setores Fonte: Diagnóstico das Entidades Civis de Defesa do Consumidor. Idec: 2008 GRAU DE BUROCRATIZAÇÃO E PARÂMETROS PARA A GESTÃO ESTRATÉGICA A pesquisa aponta baixo grau de burocratização e fragilidade dos sistemas de controle utilizados pelas entidades e a necessidade de esforços a serem feitos para garantir a eficácia da gestão, por meio de informações úteis ao processo de tomada de decisão dos gestores. Poucas entidades demonstram capacidade e parâmetros para a gestão estratégica. Contudo, destacam-se elementos positivos, como a posse de registros legais obrigatórios e existência de estruturas e modos de governança institucionais. No que diz respeito às possíveis qualificações enquanto pessoas jurídicas, deparamo-nos com situações distintas. É pouco significativo o número de entidades que possuem os registros que franqueiam o acesso aos restritos benefícios acordados às organizações sociais. Apenas quatro são registradas junto ao Conselho Municipal de Assistência Social CMAS, dentre essas, duas também possuem o registro no Conselho Estadual de Assistência Social. Todas elas pertencentes ao Movimento de Donas de Casa. Nenhuma entidade indicou possuir registro no Conselho Nacional da Assistência Social. Todavia, uma indicou possuir o Certificado de Entidade Beneficente da Assistência Social 2. Por outro lado, número um pouco mais expressivo de organizações possui qualificações derivadas da visibilidade de suas ações e credibilidade junto à opinião pública. Seis entidades possuem Título de Utilidade Pública Municipal, e oito o Título Estadual. O Título de Utilidade Pública Federal 3 foi atribuído a duas entidades com atuação nacional. 2 Antigo Certificado de Fins Filantrópicos. 3 O título de Utilidade Pública Federal é outorgado pelo Ministério da Justiça na forma da Lei nº 91 de 28 de agosto de 1935, regulamentada pelo Decreto nº 50.517, de 2 de abril de 1961. 6
Estrutura e recursos materiais A estrutura das entidades de defesa do consumidor revela uma realidade precarizada. Muitas trabalham com menos do que o equipamento mínimo essencial. Apenas uma entidade possui sede própria. Mais da metade funciona em local emprestado, incluído espaço nas dependências de outra organização ou na residência de um dos membros. Quase um terço das entidades não dispõe de linha telefônica própria. Em geral são entidades que funcionam em locais emprestados, e têm acesso à linha da organização ou pessoa que as hospeda. O computador é o equipamento mais presente nas entidades, mas em mais da metade, há apenas uma máquina. Por outro lado, a quase totalidade das organizações tem acesso à internet banda larga. Quanto a outros equipamentos, filmadora e leitor VHS são praticamente inexistentes no patrimônio das organizações, enquanto que leitor DVD, televisor, projetor multimídia e fotocopiadora também são pouco freqüentes. Instâncias de definição das políticas Assembléia Geral e Conselho Diretor (ou Diretoria) são as instâncias mais comuns de definição das políticas e estratégias das entidades. Em todas há previsão de mecanismo de renovação desses espaços, normalmente por meio do voto. A duração do mandato varia entre dois e quatro anos, assegurando estabilidade às estruturas de governança institucional. Instrumentos e recursos de controle financeiro A contabilidade é, na metade das vezes, realizada por contador externo ou empresa que presta serviços. Em um quinto das entidades, essa tarefa recai sobre um membro, normalmente o tesoureiro. A utilização de ferramentas informatizada para controle financeiro está restrita a um terço das entidades. Dentre essas, a metade apenas utiliza programas construídos para o gerenciamento, a outra metade limita-se ao uso de planilhas informatizadas. O orçamento anual é utilizado pela metade das entidades, o que explica em parte a ausência de instrumentos de controle orçamentário em cerca de dois terços das entidades. O fato de algumas explicarem a não utilização de orçamentos por não terem receitas previsíveis pode indicar que o orçamento não é utilizado como instrumento de planejamento. Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação Quase a metade das entidades informou realizar ou já ter realizado planejamento estratégico. Entretanto, a análise das respostas aponta, por elementos como a periodicidade de realização, que o processo mencionado deve ser de espécie mais simples, assemelhando-se a um planejamento operacional. 7
Um número significativo de entidades - três quartos - indicou monitorar o avanço de suas ações. Os instrumentos e mecanismos mais freqüentemente citados são pesquisas, relatórios e reuniões, em boa parte dos casos pontuais, realizadas para avaliação de atividades. Nos casos em que se observa a utilização de mecanismos mais sofisticados de monitoramento sistemático trata-se de entidades que recebem apoios e desenvolvem projetos. O mesmo ocorre em relação à avaliação de resultados e impactos. A maioria indica avaliar de maneira sistemática, contudo, em boa parte dos casos trata-se de processos isolados de avaliações de atividades realizadas. Relatos isolados indicam a utilização das avaliações na revisão de estratégias de objetivos e envolvimento de parceiros e público das ações nesses processos. Algumas entidades também relatam a utilização da repercussão na mídia como instrumento de avaliação. Grau de desenvolvimento e qualidade dos mecanismos de responsabilização pública e demonstração de resultados Três quartos das entidades produzem relatórios financeiros e/ou de atividades regularmente, com periodicidade variando do mensal ao anual. Na quase totalidade dos casos, esses relatórios destinam-se à prestação de contas junto aos associados. Eles são apresentados durante as Assembléia-Geral da instituição e, não raro, enviados aos membros e eventuais parceiros. A metade dos que produzem relatórios faz também divulgação dos dados para a população em geral, seja através da publicação na própria página da entidade, ou em boletim informativo, seja através de envio à imprensa. Realização de Auditoria Apenas um quarto das entidades informou realizar auditoria, seja interna ou externa. Destaque-se que as entidades que realizam auditoria interna são aquelas que recebem financiamentos de órgãos públicos e de agências de cooperação internacional. Dentre as utilizações de relatórios de auditorias informadas, podemos citar o aprendizado para melhoria das práticas gerencias e contábeis e, prestação de contas e divulgação para a sociedade civil. O conjunto das informações nos leva a inferir que há um início de adoção de práticas de transparência, accountability (responsabilidade pública) e de demonstração de resultado das organizações. RECURSOS HUMANOS: REGIME DE TRABALHO E QUALIFICAÇÃO TÉCNICA A força de trabalho dessas instituições concentra-se no trabalho voluntário, militante e precarizado. As entidades do FNECDC empregam oitenta trabalhadores assalariados e menos de 40 prestadores de serviço. 97,5% dos assalariados estão concentrados em apenas quatro entidades. A absoluta maioria não possui sequer um trabalhador assalariado ou prestador de serviços. 8
Apesar de a grande maioria das entidades ser movida pelo trabalho voluntário, apenas um quinto indica ter um plano de voluntariado e assinar contrato de adesão ao serviço voluntário. Os dados fornecidos revelam que uma parte dos colaboradores declarados como voluntários é membro da entidade, sejam membros de conselho diretor ou fiscal, ou associados. No restante dos casos, a regra geral é o voluntariado informal. É interessante destacar que mais da metade das organizações conta com operadores do direito, membros da associação ou da equipe executiva (remunerados ou não). Quase a metade também conta com administradores, enquanto que os profissionais de comunicação estão presentes em mais de um terço. Por outro lado, apenas três instituições contam com pessoal especializado em elaboração de projetos. FONTES DE APOIO É necessário lançar um olhar atento sobre a situação de precariedade das entidades de defesa do consumidor e considerar as parcas e frágeis formas de financiamento da sua atuação. Ao observarmos as entidades do FNECDC, deparamo-nos com o modelo de dependência dos associados e pouca diversificação de fontes de recursos. Proporção de receitas não vinculadas em relação às receitas vinculadas 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Origem das fontes de Recursos 2007 Venda produtos Entidades religiosas Empresas As fontes de recursos para a manutenção das entidades provêm, na sua maioria, de contribuições de associados, doações da comunidade ou de redes de apoiadores. Essas fontes próprias concentram 70% das receitas das organizações. Para algumas entidades, a contribuição dos associados representa a única fonte de receita. Fonte: Diagnóstico das Entidades Civis de Defesa do Consumidor. Idec: 2008 9
Grau de dependência em relação a recursos de origem internacional Mais raramente, as entidades contam com recursos de transferências voluntárias 4 de órgãos ou de fundos públicos nacionais ou de doações de agências de cooperação internacional. Estima-se que as organizações são tanto mais sustentáveis quanto maior for a proporção de recursos acessados no próprio país. Percebe-se, no entanto, que a tendência de aumento da dependência das organizações brasileiras em relação a fontes nacionais públicas de recursos por enquanto ainda não se refletiu no cotidiano das organizações de defesa do consumidor, malgrado a previsão legal de fomento à criação e apoio ao desenvolvimento de entidades de defesa do consumidor e criação de fundos específicos de proteção e defesa do consumidor. Constata-se que, na prática, a previsão legal não se concretiza e que as organizações encontram-se excluídas do acesso aos fundos pelas exigências nas áreas de gestão administrativa e financeira e prestação de contas pouco compatíveis com suas estruturas e volume de recursos mobilizados. A adesão à carta de princípios éticos do Fórum veda o recebimento de financiamento por parte de empresas. Em conformidade com esses princípios, nenhuma entidade indicou receber recursos de empresas. É fundamental observar como as entidades aplicam os recursos. O item que mais pesa nos seus orçamentos é constituído pelas despesas operacionais ou de custeio. A aplicação de quase um terço dos recursos na estrutura, nesse caso, apenas demonstra o quão distante as receitas estão da sua real necessidade, pois, regra geral, as estruturas são mínimas. 8% 6% 8% 27% Distribuição das despesas por grupo (2007) 6% 22% 23% Projetos e ações (excluído pessoal) Pessoal e encargos Despesas operacionais Im postos e taxas Despesas financeiras Despesas de capital Outros Fonte: Diagnóstico das Entidades Civis de Defesa do Consumidor. Idec: 2008 Em segundo lugar, aparecem as despesas com pessoal (salário +benefícios + 4 Não há informação sobre transferências derivadas de lei orçamentária, como subvenções, contribuições e auxílios, com previsão de cobertura de despesas com manutenção, custeio e capital. As transferências voluntárias observam o disposto na Instrução Normativa nº1 da Secretaria do Tesouro Nacional, que veda a utilização dos recursos para despesas de capital, pagamento de pessoal já contratado e despesas de custeio que não sejam exclusivas da ação apoiada (vedado o apoio institucional). 10
encargos), em grande parte devido ao peso desse grupo de despesas no orçamento das entidades mais profissionalizadas (54% em média). Logo em seguida vêm as despesas exclusivas com as ações e projetos desenvolvidos pelas entidades, apontando um razoável equilíbrio orçamentário entre as atividades meio e fim. Despesas 2007 por grupos % do orçamento executado 120 100 80 60 40 20 0 Pessoal e encargos Despesas operacionais Impostos e taxas Despesas financeiras Despesas de capital ABCCON/MS ACOPA/PR ACV/RO ADECON/PE ADOCON-Tubarão/SC IDEC/SP ADUSEPS/PE MDC/MG FEDC/RS VIDA Brasil /CE ÍCONES/PA Outros Fonte: Diagnóstico das Entidades Civis de Defesa do Consumidor. Idec:2008 Capacidade de geração e captação de recursos em relação às necessidades Por fim, talvez o ponto mais importante a destacar seja a distância entre a capacidade demonstrada para captação de recursos hoje em relação às necessidades das instituições. A busca da sustentação financeira permanece um desafio cotidiano das entidades de defesa do consumidor. DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL AMPLIADO Outros aspectos nos levam a avaliar de maneira positiva o nível de desenvolvimento institucional ampliado das entidades, em particular a credibilidade e grau de conhecimento das organizações por outros atores, a capacidade para estabelecer dialogo, parcerias e trabalho em conjunto com outras instituições. 11
Capacidade para estabelecer diálogo, parcerias e trabalho conjunto com outros atores As entidades têm como característica a participação em redes e articulação, sejam elas institucionalizadas ou não, quer em temas específicos pertinentes à defesa do consumidor quer em questões mais amplas, como o movimento de direitos humanos. Também é relevante sua participação em Conselhos, Comitês e Fóruns, em particular em Conselhos de Direitos ou de Políticas Pública, decorrentes de previsão constitucional ou legal para participação social na gestão pública e na formulação das políticas, como os Conselhos de Saúde, da Criança e do Adolescente, de Segurança Alimentar e Nutricional, de Assistência Social, do Meio Ambiente e da Mulher. Convém destacar a participação das entidades nos Conselhos Estaduais ou Municipais de Defesa do Consumidor (gestores dos fundos de defesa dos direitos difusos e ou do consumidor - onde estes foram criados) e nos Fóruns de Defesa do Consumidor. Outros espaços de participação das entidades são os conselhos de usuários instituídos no âmbito das concessionárias de telefonia, fixa e móvel, e de energia elétrica. De forma bem restrita, algumas entidades também participam em conselhos e câmaras setoriais ligadas a entes reguladores. Um quinto das entidades informa não se articular com o Procon local. Trata-se, em geral de entidades que desenvolvem sua intervenção em torno de temas mais específicos, como meio ambiente e consumo sustentável e segurança alimentar. As mesmas entidades tampouco se relacionam com o Ministério Público do Consumidor em seus estados. Quase todas as entidades articulam-se com outros atores da defesa do consumidor em sua área geográfica de atuação. Além do Procon e do Ministério Público, são citadas as Defensorias Públicas e Delegacias do Consumidor, os Institutos de Pesos e Medidas e as Comissões de Defesa do Consumidor da OAB, das Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas. Em muitos casos, o espaço de articulação é um Fórum local ou estadual de defesa do consumidor. Para o desenvolvimento de suas atividades, em especial campanhas, eventos, estudos, testes e pesquisas, as entidades articulam-se com universidades e institutos de pesquisa, sindicato e órgãos públicos (em especial secretarias de governo), movimentos sociais e com outras organizações da sociedade civil, além dos demais atores das defesa do consumidor. Ressaltamos que na maioria dos casos as parcerias são eventuais e informais. 12
Credibilidade e visibilidade Embora não seja possível afirmar a existência de plano de comunicação construído nas entidades, e a presença de profissionais de comunicação ainda não seja tão difundida (duas entidades informaram contar com assessoria de imprensa), a intensidade e o tipo de relacionamento estabelecido com a mídia evidencia que a comunicação é vista como estratégia para alcance de resultados na maioria das organizações. A presença sistemática das organizações na mídia, em especial a mídia local, denota não somente a postura pró-ativa, evidenciada pela prática de envio de artigos e releases aos meios de comunicação, mas é uma resposta que legitima a posição de credibilidade. Verifica-se que as entidades são constantemente solicitadas a conceder entrevistas e manifestar-se nos meios de comunicação. Chama a atenção o fato de um quinto das entidades, em virtude de sua visibilidade, credibilidade e capacidade para mobilizar a sociedade em torno de temas de relevância, ter conseguido espaços fixos na mídia, na forma de programas de rádio, de televisão ou coluna em mídia escrita. Capacidade para iniciar processo de mobilização social e impactar a agenda pública As entidades do Fórum demonstram capacidade e potencial para efetivamente deflagrar ou influenciar processos de mobilização social em temas relevantes para o consumidor. Ressalva-se que a diversidade das entidades que compõem o movimento de consumidores e ausência de especialização técnica específica, dificultando o domínio de aspectos técnicos pertinentes aos serviços regulados, são fatores que contribuem para o quadro de fraca incidência das organizações civis em alguns setores da regulação. Quanto aos espaços e mecanismos de participação social institucionalizados nos processos regulatórios, apenas uma entidade informou não participar de audiências e consultas públicas referentes aos setores regulados. Os temas que concentram a participação das entidades são energia elétrica (revisão tarifária), telecomunicações (ponto extra de tv a cabo e postos de atendimento) e alimentos (inclusive alimentos orgânicos e transgênicos). Não é possível, contudo, medir a capacidade real das entidades em pautar e impactar a agenda pública e as políticas públicas nos setores regulados. É relevante destacar que, pelos dados fornecidos, pode-se inferir que muitas audiências das quais as entidades participam não são realizadas pelos entes reguladores, mas por órgãos do poder legislativo municipal ou estadual. 13
DIFICULDADES ENCONTRADAS E NECESSIDADE DE CAPACITAÇÃO As entidades são unânimes em apontar a falta de recursos, humanos, materiais e financeiros, como a maior dificuldade que enfrentam no desenvolvimento de suas ações. É interessante observar que aspectos externos que poderiam ter sido destacados por sua efetiva importância ou por se configurarem como barreiras à atuação não foram valorizados nas respostas das entidades. A predominância de fatores de ordem mais interna reflete dificuldades mais prementes por elas enfrentadas, por vezes esquecendo que essa vulnerabilidade das organizações decorre, pelo menos em parte, do modelo de financiamento existente, e da restrição de acesso a recursos públicos e não somente de sua fragilidade administrativa. A complexidade dos temas e as dificuldades relacionadas a barreiras políticas ou impostas pelos setores não são valorizados em suas análises. Apenas uma entidade apontou entraves de ordem política à sua atuação. Foram identificadas necessidades de capacitação institucional para a qualificação dos mecanismos de gestão, dos instrumentos de prestação de contas e demonstração de resultados e captação de recursos. As entidades também apontam a necessidade de capacitação em temas técnicos, em especial naqueles que tratam de novas tecnologias. 14