1 A Integral por Partes



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Métodos de Integração Notas de aula relativas aos dias 14 e 16/01/2004 Já conhecemos as regras de derivação e o Teorema Fundamental do Cálculo. Este diz essencialmente que se f for uma função bem comportada, e conhecermos uma função F tal que F = f (ou seja, F é uma anti-derivada de f), então b a f () d = F (b) F (a). (1) O Teorema Fundamental do Cálculo aponta então um bom método para calcular uma integral definida: encontrar uma anti-derivada e determinar sua variação no intervalo de interesse. Por este motivo, buscamos nas propriedades das derivadas alguns dos chamados métodos de integração. Neste teto tratamos dos métodos de integração resultantes das duas principais regras de derivação: a regra do produto (ou regra de Leibniz) e a regra da cadeia. 1 A Integral por Partes Começando pela regra do produto de derivadas, usamos o Teorema Fundamental do Cálculo para chegar a uma epressão a primeira vista ingênua, mas que se mostra de grande utilidade. Sejam f () e g () duas funções bem comportadas. Sabemos que (fg) = f g + fg. (2) Fazendo então a integral indefinida de todas essas epressões, obtemos (fg) d = f g d + fg d, (3) que pode ser reescrita como fg d = (fg) d f g d. (4) Agora usamos o Teorema Fundamental do Cálculo, que nos diz que (fg) d = fg + C, (5) e portanto a epressão (4) pode ser reescrita como fg d = fg f g d, (6) onde a constante C não precisa ser escrita pois a igualdade acima é uma igualdade entre anti-derivadas (dito de outra maneira, em cada membro temos um +C). 1

A epressão (6) é uma maneira de escrever o chamado método de integração por partes, onde de fato, trocamos o trabalho de resolver uma integral por outra. Pode não parecer de grande valia, em uma primeira e apressada opinião, mas os eemplos seguintes tratam de tentar mudar tal opinião. Vamos resolver a integral e d. Para isso, sejam f () = e g () = e. Usando (6) temos e d = e 1 e d = ( 1) e + C. (7) Da mesma forma, resolvemos 2 e d, agora fazendo f () = 2 e g () = e. Assim, 2 e d = 2 e 2 e d, (8) e a última integral é rsolvida usando o eemplo anterior. Assim 2 e d = ( 2 2 + 2 ) e + C. (9) Assim, n e d, com n natural, pode ser resolvida ou fazendo n integrações por partes, ou demonstrando por indução uma fórmula para ela. Também podemos resolver cos d. Para isso, façamos f () = e g () = cos para obter cos d = sen sen d = sen + cos + C. (10) Agora queremos resolver sen 2 d. O primeiro passo será uma integração por partes, usando f () = g () = sen. Assim ( sen 2 d = sen cos cos 2 ) d, (11) onde agora se utiliza a relação fundamental da trigonometria ( sen 2 + cos 2 = 1) para escrever sen 2 d = sen cos + 1 d sen 2 d, (12) que é uma equação para sen 2 d, que uma vez resolvida diz que sen 2 d = 1 ( sen cos ) + C. (13) 2 2

Agora queremos obter a integral e cos d. Para isso fazemos uma integração por partes, usando f () = e e g () = cos. Assim, e cos d = e sen e sen d, (14) e uma nova integração por partes será usada, agora com f () = e e g () = sen : e cos d = e sen + e cos e cos d. (15) Novamente podemos ver esta relação como uma equação que nos permite isolar a integral desejada, obtendo e cos d = e ( sen + cos ) + C. (16) 2 Por fim, queremos calcular a integral ln d. Nesta usaremos a integração por partes com f () = ln e g () = 1: ln d = ln 1 d = (ln 1) + C. (17) Encerramos esse assunto com alguns eercícios: 1. 3 e d; 2. sen d; 3. 2π 0 cos 2 d; 4. ln d; 5. ln d; 6. (ln ) 2 d; 7. 1 0 e d. 2 Integração por Substituição ou Mudança de Variável Agora nosso ponto de partida é a regra da cadeia para a derivação de funções compostas. Recordando, estamos no caso em que y = f () e z = g (y). A composição então é considerar z = g f () (faça uma figura para visualizar melhor). A regra da cadeia diz então que se todas essas funções são diferenciáveis, então (f g) () = f (g ()) g (), (18) 3

que pode ser entendida como a derivada da composição é o produto das derivadas calculadas one fazem sentido. Podemos agora considerar a antiderivada da epressão (18). Assim (f g) () d = f (g ()) g () d, (19) onde o primeiro membro sugere a aplicação do teorema fundamental do cálculo, que diz que (f g) () d = f g () + C. (20) Mas se na relação (20) usamos que y = g () e novamente nos utilizamos do teorema fundamental do cálculo, temos (f g) () d = f (y) + C = f (y) dy. (21) Por fim, as relações (19) e (21) trazem a igualdade f (y) dy = f (g ()) g () d, (22) Onde já podemos reconhecer a essência do chamado método de substituição, ou de mudança de variável. Apenas para tomar sua forma mais habitual, como não fizemos qualquer restrição sobre a função f, podemos chamá-la h e reescrever a epressão anterior como h (y) dy = h (g ()) g () d. (23) Antes de passarmos a eemplos que mostram a utilidade do método cabe justificar seus nomes e entender melhor seu significado: de fato a epressão (23) diz como devemos escrever uma integral equivalente a h (y) dy onde subtituímos y por g (). Isso significa que a nova integral será feita na variável e se lembrarmos que o dy da integral nos lembra do y das somas de Riemann, torna-se claro que precisamos também reescrever o dy da integral em termos da nova variável. Esse é o papel do termo g () d, que pode também ser compreendido lembrando de como usamos derivadas para fazer aproimações lineares: se é pequeno, y g (). Vamos agora passar aos eemplos Vamos começar pela integral cos ( 2) d, (24) onde vamos fazer uso da substituição y = 2 e portanto dy = 2d. Assim cos ( 2) d = cos (y) dy 2 = 1 2 sen (y) + C = sen ( 2) + C, (25) 4

onde na segunda igualdade usamos diretamente o conceito de antiderivada, e na terceira reescrevemos o resultado final em termos da variável original. O leitor deve calcular a derivada da resposta obtida para verificar sua adequação. Do mesmo modo, para resolver a integral e 2 d, (26) fazemos uso da mudança de variável y = 2, dy = 2d e obtemos e 2 d = e y dy 2 = 1 2 ey + C = 1 + C. (27) 2 e2 Para resolver a integral 2 cos ( 3) d, (28) podemos fazer uso da substituição y = 3, dy = 3 2 d, com a qual obtemos 2 cos ( 3) d = cos y dy 3 = 1 3 sen y + C = 1 3 sen ( 3) + C. (29) A integral 2 3 d (30) + 1 pode ser resolvida de várias maneiras. Fica como eercício para o leitor usar a substituição z = 3 para resolvê-la. Aqui vamos usar y = 3 + 1 e portanto dy = 3 2 d. Com ela temos 2 1 3 + 1 d = dy y 3 = 1 3 ln y + C = 1 3 ln ( 3 + 1 ) + C. (31) Completamos esse teto com uma rápida discussão sobre mudança de variáveis em integrais definidas. De certa forma, o leitor j tem todos os igredientes em mãos, pois o teorema fundamental do cálculo diz que basta conhecer uma antiderivada e calcular sua variação no intervalo de interesse para ter o valor de uma integral definida, e o método de substituição pode ser usado para obter tal antiderivada. Porém, basta lembrar-mos que d c f (y) dy (32) 5

significa a integral de f (y) quando y varia de c até d, para concluirmos que a versão do método de mudança de variáveis para integrais definidas pode ser escrito como d c f (y) dy = g 1 (d) g 1 (c) f (g ()) g () d, (33) onde usamos a substituição y = g () e g 1 (c) denota o valor de tal que g () corresponde ao valor c (da mesma forma para d). Outra maneira mais prática de escrever a mesma coisa é: b a f (g ()) g () d = g(b) g(a) f (y) dy. (34) Nesta última os limites de integração devem ficar bem claros: no primeiro membro, varia de a até b, no segundo, correspondentemente, y = g () varia de g (a) a g (b). Assim, usando o eemplo previamente calculado (como integral indefinida, eq. (31)), temos 2 1 2 9 3 + 1 d = 1 dy 2 y 3 = 1 (ln 9 ln 2), (35) 3 o mesmo resultado que seria obtido usando uma antiderivada calculada em (31). Eercícios: 1. 1 0 2 + 1 d; 2. sen 2 cos d; 3. 1 0 3 ( 1 + 4) d; 4. 0 e 2 d; 5. d +5 ; 6. ln 7. (ln ) 3 d; d; 8. π 2 0 sen 10 cos d. 6