AVALIAÇÃO DOS PRINCIBAIS PROGRAMAS DE DOUTORADO EM ENGENHARIA BIOMtDICA DO REINO UNIDO B. WANG



Documentos relacionados
(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

Nota Técnica 113/2007 SRD/SRE/ANEEL Metodologia para Projeção de Investimentos para o Cálculo do Fator X Contribuição da Audiência Publica 052/2007

5 Considerações finais

III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desafios Educacionais

Tema: evasão escolar no ensino superior brasileiro

Todos nossos cursos são preparados por mestres e profissionais reconhecidos no mercado, com larga e comprovada experiência em suas áreas de atuação.

Credenciamento do curso de Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana, a nível de mestrado e Doutorado. Zilma Gomes Parente de Barros

Assine e coloque seu número de inscrição no quadro abaixo. Preencha, com traços firmes, o espaço reservado a cada opção na folha de resposta.

FORMAÇÃO DE EXECUTIVOS NO BRASIL: UMA PROPOSTA

3 Metodologia. 3.1 Tipo de Pesquisa

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

FORMAÇÃO PLENA. Desde a criação do primeiro Programa de NA PÓS-GRADUAÇÃO

Inovação aberta na indústria de software: Avaliação do perfil de inovação de empresas

COMUNICADO n o 003/2012 ÁREA DE GEOGRAFIA ORIENTAÇÕES PARA NOVOS APCNS 2012

PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA INTERNA

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

PADRÕES DE QUALIDADE OUTUBRO 2000

Administração de Pessoas

4 Metodologia da Pesquisa

XI Encontro de Iniciação à Docência

1 INTRODUÇÃO. 1.1 O problema

b) integração de área(s) de concentração, linhas de pesquisa, projetos de pesquisa, produção intelectual e estrutura curricular de modo tal que:

SISTEMA DE GESTÃO DE MANUTENÇÃO APLICADO NO IFRN CAMPUS MOSSORÓ

DEPARTAMENTO DE GENÉTICA

COOPERAÇÃO EMPRESAS-LABORATÓRIOS PARA P&D E INOVAÇÃO

Política de Aquisição de Obras

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

Efeitos das ações educativas do Curso de Qualificação Profissional Formação de Jardineiros na vida dos participantes.

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

PLANO INSTITUCIONAL DE CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

ORIENTAÇÕES AOS DISCENTES E DOCENTES DA PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA/UFJF MESTRADO

PARECER NP 677/93 CÂMARA ou COMISSÃO APROVADO EM: 10/11/93

ACEF/1112/20967 Relatório final da CAE

3 Metodologia Linha epistemológica e estratégia de pesquisa

3 Metodologia 3.1. Tipo de pesquisa

BIOESTATÍSTICA: ARMADILHAS E COMO EVITÁ-LAS

MELHORES PRÁTICAS DA OCDE

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação PIBITI/CNPq/USP. Pró-Reitoria de Pesquisa

POLÍTICAS DE SELEÇÃO, AQUISIÇÃO, ATUALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA COLEÇÃO DA BIBLIOTECA DA FACULDADE CATÓLICA SALESIANA DO ESPÍRITO SANTO

PPGHIS/ICHS/UFOP PROPOSTA DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA NA ÓTICA DE SEUS EGRESSOS DO TRIÊNIO

NCE/15/00099 Relatório preliminar da CAE - Novo ciclo de estudos

Regulamento Projeto interdisciplinar

Processos Administrativos de Compras

Normas específicas do Programa de Pós graduação em Nutrição e Produção Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.

PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO. Prof. Msc Milene Silva

O PIPE I LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA CONSELHO UNIVERSITÁRIO

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

Palavras-chave: Metodologia da pesquisa. Produção Científica. Educação a Distância.

Unidade: Decisão de Investimento de Longo Prazo. Unidade I:

Diagnóstico da escolarização de crianças e adolescentes no Brasil

Escola Bilíngüe. O texto que se segue pretende descrever a escola bilíngüe com base nas

QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL EM CORROSÃO E PROTEÇÃO

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL

SONDAGEM INDUSTRIAL DEZEMBRO 2015

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

Sobre o Sistema FiliaWEB

O QUE É ATIVO INTANGÍVEL?

UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA COMPUTAÇÃO

A ROTATIVIDADE DOS JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO FORMAL BRASILEIRO*

O que é coleta de dados?

Metadados. 1. Introdução. 2. O que são Metadados? 3. O Valor dos Metadados

Modelagem Matemática Aplicada ao Ensino de Cálculo 1

Monitoria como instrumento para a melhoria da qualidade do ensino em Farmacotécnica

CIA. INDUSTRIAL VALE DO PARAÍBA S/A. UM CASO DE SUCESSO?

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

EDITAL Nº 001/2012-PROPPG, de 17 de janeiro de 2012.

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: PERFIL E CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PROFESSORES EM FEIRA DE SANTANA Simone Souza 1 ; Antonia Silva 2

Preparação do Trabalho de Pesquisa

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

MANUAL DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR TI - INTEGRADOR FAN CEUNSP

4 Metodologia e estratégia de abordagem

3 Qualidade de Software

Bolsa Auxílio à Iniciação Científica - Regulamento

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

Normas Específicas da CPG FAUUSP

Reformulação dos Meios de Pagamento - Notas Metodológicas

Questionário de avaliação de Práticas X Resultados de projetos - Carlos Magno Xavier (magno@beware.com.br)

A Prática da Gestão do Conhecimento em uma Empresa Brasileira

MEMÓRIA E RECOMENDAÇÃO DA REUNIÃO SOBRE CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS.

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO

O IMPACTO DO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO NA GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA : RESULTADOS E PERSPECTIVAS.

Aula 17 Projetos de Melhorias

Verificação do Cumprimento e Avaliação dos Indicadores do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da Construção

EDITAL PROGRAD 06/2014 PROGRAMA DE APOIO A PROJETOS ESTRUTURANTES DE LABORATÓRIOS PARA O ENSINO DE GRADUAÇÃO 2015 / 2017.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO DIRETORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PROJETOS EDUCACIONAIS

Questionário de Avaliação de Maturidade Setorial: Modelo de Maturidade Prado-MMGP

Válvulas de Controle-"Case"- Copesul. Nelzo Luiz Neto da Silva 1 Jader Weber Brum 2

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ORLANDO VENÂNCIO DOS SANTOS DO MUNICÍPIO DE CUITÉ-PB

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA / ELETROTÉCNICA

Módulo 9 A Avaliação de Desempenho faz parte do subsistema de aplicação de recursos humanos.

COMO CALCULAR A PERFORMANCE DOS FUNDOS DE INVESTIMENTOS - PARTE I

Fanor - Faculdade Nordeste

ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO POR MEIO DA WEB

Questionário de Avaliação de Maturidade Setorial: Modelo PRADO-MMGP

Boletim de carreiras:

A LEGISLAÇÃO PATENTÁRIA E O FUTURO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL

XLIII PLENÁRIA NACIONAL DO FÓRUM DOS CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO - FNCE

Razões para Investir em Fundos de Fundos de Private Equity

Transcrição:

RBE.VOL 4 N2. 1987 AVALIAÇÃO DOS PRINCIBAIS PROGRAMAS DE DOUTORADO EM ENGENHARIA BIOMtDICA DO REINO UNIDO B. WANG RESUMO -- Os príncipais programas de doutorado em Engenharia Biomédica do Reino Unido foram visitados e avaliados com base na organiza ção do programa, na qualidade do seu corpo docente e da sua infra-es trutura física, na sua experiência em formação de doutores e na sua interação com serviços de saúde. Como resultado, as especialidades julgadas recomendáveis em cada programa foram listadas. Além disse, é feita uma discussão geral das características intrínsecas dos programas britânicos. Espera-se que esta avaliação contribua tanto para a orientação dos alunos interessados, como também para o julgamento, pelas agências de fomento, das solicitações de bolsas. INTRODUÇÃO Compreendendo a importância fundamental da Engenharia Biomédica na melho ria dos serviços de saúde e no progresso da tecnologia nacional, o governo brasileiro e o setor privado vem investindo de forma acentuada nesta area nos tiltimos 15-20 anos. A expansão é especialmente sentida na sub-área de Engenharia Hospitalar, com a criação e expansão das equipes de manutenção, e na sub-área de Engenharia Médica, com o crescimento da indústria de artigos e equipamentos odonto-médico-hospitalares e de laboratório (para uma caracterização detalhada das sub-áreas, vide,wang, 1983). Entretanto, um sério obstáculo está dificultando a evolução da Engenharia Biomédica no Brasil. Trata-se da falta de recursos humanos em todos os ní veis, desde técnicos de segundo grau até pesquisadores com doutorado ou po~: doutorado. A carência é especialmente preocupante nos níveis mais altos, Ja que estes são responsáveis pela liderança das equipes de pesquisa e desenvolvimento e, além disso, pela produção de novos recursos humanos. Atualmente há no Brasil apenas cerca de 20 indivíduos com doutorado, sendo que alguns já abandonaram esta área para atuarem em outras. Para superar este obstáculo, as agências de fomento têm contribuído com a concessão de um significativo número de bolsas para doutoramento no Exterior, uma vez qua ainda falta condições adequadas de se obter este tipo de treinamento no País, com algumas raras exceções. Nos últimos 5 anos, o número total de bolsas concedidas tem sido na faixa de 5-10 cada ano, e há disposi ção de se incrementar substancialmente este número, caso haja candidatos que tenham boa qualificação e bons programas de estudo. Entretanto, a experiência do autor tanto no aconselhamento de candidatos como no julgamento das solicitações apresentadas às agências de fomento o fizeram concluir que ambos ressentem a falta de informações mais precisas e organizadas e de orientações para selecionar o programa que seja mais'apropriado. Frequentemente um bom candidato é prejudicado por ter escolhido um progra ma, uma universidade ou até um país inadequado, por não oferecer a especiali Dept9 de Engenharia Biomédica, DEB/FEE, e Centro de Engenharia Biomédica, CEB, UNICAMP, Campinas - SP - 13081 IllTrabalho recebido em 30106/87 e aceito em 12107/87111 149

dade desejada ou por esta nao ser de bom nível. Aparentemente, muitas vezes a seleção dos cursos, por parte dos cand~datos, é baseada sobretudo em critérios subjetivos, tais como: 1- recomendações de colegas/professores que, embora tenham estudado no Exterior, nem sempre se especializaram em Engenharia Biomédica; 2- prest~g~o genérico da instituição; 3- preferências pessoais (ou familiares) sobre o país (até a região) de desti no; e 4- contatos eventuais com docentes da instituição. Por outro lado, no julgamento das solicitações de bolsas os assessores das agências têm dificuldades para avaliar e comparar os programas oriundos de universidades e países distintos, com alta especialização em alguns campos muito específicos. Isto porque a Engenharia Biomédica é muito vasta e os assessores não têm condições de se manter atualizados em todas as especialida des e sobre as instituições que as oferecem. Considerando o alto custo de cada bolsa para Exterior, as dificuldades criadas pela seleção inadequada de programa/instituição para o bolsista e as agências de fomento e, sobretudo, o futuro aproveitamento social dos conhecimentos a serem adquiridos pelos bolsistas, concluiu-se que seria essencial realizar um levantamento e uma análise crítica dos programas de doutorado em Engenharia Biomédica no Exterior. Este artigo analisa e discute os principais programas do Reino Unido, com base em dados e observações colhidas "in loco". Um esforço similar, porém realizado por correspondência, foi feito em relação aos programas norte-americanos e canadenses e os resultados serão disponí veis brevemente. - METODOLOGIA Inicialmente uma pesquisa foi feita para se definir quais seriam os pr~ gramas a serem visitados e analisados. Para tanto informações foram recolhidas junto a pessoas que concluíram doutorado nessa área no Reino Unido e junto a pesquisadores britânicos de renome; além disso, recomendações foram soli citadas ao Conselho Britânico. Desta pesquisa resultou uma relação prelimi~ nar de 15 instituições, que foram contatadas por correspondência, solicitando informações mais detalhadas e permissão para visitá-las. Com base na análise das respostas recebidas das próprias universidades, revisou-se a relação preliminar, ficando a mesma reduzida para 13 programas. Deste total, 12 foram visitados em maio de 1986 e são analisados neste artigo. Em cada uma das instituições fez-se" primeiro, uma entrevista com o coor denador do programa ou chefe de departamento. Em seguida, visitou-se a infra~ estr.utura física e conversou-se com,alguns alunos de doutorado e/ou pós-douto rado. Dentro das possibilidades, tentou-se recolher as seguintes informações de cada programa: 1- níveis de treinamento: graduação, mestrado, doutorado e/ou pós-doutorado; 2- especialidades da Engenharia Biomédica oferecidas; 3- corpo docente: quantidade total e qualificação de cada um, com a respecti- 150

va produção ticnico-científica;' 4- infra-estrutura: quantidade e qualidade dos laboratórios e oficinas de pes quisa, as bibliotecas existentes, as tecnologias dominadas, os apoios al~ cançáveis em outras unidades e/ou instituições vizinhas atravis de convê nios, etc.; 5- interação com serviços de saúde: tipo e grau de relacionamento com cas e hospitais, sobretudo com relação ao acesso que os estudantes ter ao corpo clínico, aos equipamentos e aos pacientes; clíni podem 6- organização do programa: processo de seleção de candidatos, qualificação mínima, disciplinas obrigatórias e/ou eletivas, exames de qualificação,pra zos mínimos de residência, tempo midio de conclusão, quantidade de alunos já. formados e os respectivos destinos, experiência com estudantes estran geiros, etc.; e 7- estrutura administrativa: existência de um departamento específico ou programa interdepartamental, vinculação com outros departamentos/faculdades, convênios com outras instituições, etc. RESULTADOS A tabela 1 apresenta os principais laboratórios de cada programa visitado. Não foi possível anotar detalhadamente os equipamentos existentes em cada laboratório devido à curta duração da visita. Alim disso, não foram incluídos unidades básicas de apoio, tais como oficina mecânica, almoxarifado, etc. A tabela 2 resume os recursos humanos disponíveis em cada programa, com indicação da quantidade de pessoas portadoras do título de Doutorado e dé docentes orientadores. Esta última categoria i importante destacar, pois apenas estes têm afiliação acadêmica formal com departamentos universitários e, portanto, podem ser orientadores oficiais de Doutorado. Os demais funcionários, mesmo com esta titulação, não podem assumir esta responsabilidade, embora pos sam (,~ normalmente o fazem) ajudar os alunos de Doutorado. - A tabela 3 apresenta, para cada programa, as quantidades de doutores já formados e de alunos de Doutorado existentes em abril de 1986. Deve-se salien tal' que vários números são aproximados e diversos programas nem puderam responder com precisão esta pergunta. Isto se explica pelo fato que estes progra mas n,io são dedicados exclusivamente à Engenharia Biomidica e, assim sendo~ não puderam apresentar dados conforme solicitação. Avaliação Individual dos Programas DISCUSSÕES E CONCLUSÕES Uma tentativa de avaliar e classificar os programas visitados foi com base nos dados quantitativos colhidos e apresentados nas tabelas 1, 3, bem como nas impressões qualitativas obtidas durante as visitas'. feita 2 e Reconhece-se que nesta avaliação há um forte componente subjetivo que po de ser explicado por diversos motivós. Primeiro, os dados quantitativos nao são reflexão fiel da realidade, principalmente em termos da qualidade da pesquisa. Segundo, os dados quantitativos nem sempre retrata a situação atual ou o potencial futuro de cada programa, por serem dados relativos sobretudo ao passado. Finalmente, a precisão dos dados não pôde ser confirmada, embora não haja razões para se acreditar que houvesse erros acidentais ou mesmo intencio 151

nais. Com esses esclarecimentos, passa-se.a apresentar o resultado da avalia ção sobre cada programa visitado. Optou-se por classificar as diversas espe~ cialidades oferecidas por cada departamento em três.categorias: as altamente recomendáveis, as recomendáveis e as não recomendáveis. A tabela 4 apresenta as duas primeiras categorias de cada programa, sendo que a terceira foi omitida para evitar desperdício de espaço. As instituições marcadas com * são aquelas que possuem departamento específico de Engenharia Biomédica (ou nome equivalente). Das universidades visitadas, a única que não apresenta nenhuma especiali dade recomendável, tanto para mestrado como doutorado, é a Cambridge Universl' ty. Embora tenha um dos melhores c~rsos de Engenharia Elétrica e de Engenha = ria Mecânica, além de outras disciplinas, há poucos pesquisadores dedicados à Engenharia Biomédica. Existem apenas alguns docentes e investigadores que o rientam esporadicamente alguns projetos de iniciação científica nesta área. Outro programa não recomendado para doutorado é o oferecido pelo St. Bartholomew's Hospital MedicaI College, situado em Londres. Apesar de ter um bom programa de mestrado em Engenharia Biomédica, possue pouca experiência em treinamentos de mais alto nível. Além disso, o corpo docente é pequeno e não aparenta ter qualificação para orientar boas teses de doutorado. Comentários Gerais De uma forma geral, constatou-se que os cursos de doutorado visitados a presentam um nível bastante elevado quando comparados com os de outros países que se tem informações. Por exemplo, comparados aos oferecidos pelas universi dades norte-americanas e canadenses, os cursos britânicos são competitivos aos bons daqueles países, podendo ser inferiores em alguns casos; por outro lado, se comparados aos franceses e. italianos, são normalmente superiores. Uma diferença importante, contudo, deve ser salientada. Como a maioria dos cursos de doutorado europeus, os britânicos não oferecem nem exigem a par ticipação dos alunos em disciplinas teóricas e/ou práticas, como é o caso da maioria dos programas norte-americanos. Dessa forma, fica mais difícil ao alu no adquirir de forma sistemática uma maior quantidade de informações, fazen= do com que ele fique mais restrito ao projeto específico da sua tese. Além disso, impossibilita ao mesmo retornar ao Brasil com material didático que po deria ser aproveitado.nos cursos nacionais. - Observou-se ainda que o curso de mestrado nem sempre é pré-requisito indispensável para o doutorado. Além disso, o mestrado normalmente não envolve a realização de uma tese, i.e., o título de Mestre é concedido após a aprovação do aluno numa série de disciplinas e a conclusão de um trabalho prático curto (de aproximadamente um semestre). Em suma, é possível de se obter o título de Ph.D. em apenas 3 anos após a conclusão da graduação, que é de 4 a nos. Portanto, um jovem de apenas 24 anos pode se tornar um Doutor se seguir exatamente o currículo escolar. Na prática, no entanto, se observa que nem todos os alunos são tão jovens, o que poderia prejudicar ó curso por apresentarem pouca maturidade. Isto porque cerca da metade (ou até mais) dos alunos de doutorado são funcioná rios empregados pelo próprio departamento/hospital, ou trabalham em institui= 152

ções vizinhas. Além disso, existe ~m contingente considerável de alunos estrangeiros" que normalmente apresentam maior idade. Em termos de organização administrativa, constatou-se que quase sempre existe um departamento universitário específico para a Engenharia Biomédica, principalmente onde há um programa de maior tradição. Aliás, normalmente este é denominado "Departamento de Física Médica e Bioengenharia", porque o envolvimento de físicos em problemas clínicos é mais antigo que a de engenheiros. Além disso, um grande número destes departamentos está associado às faculda des de Medicina e não às de Engenharia, como é comum nos EE.UU. ou mesmo no Brasil. A associação desses departamentos às faculdades de Medicina talvez possa ser explicado pelo envolvimento dos mesmos com a administração/manutenção de equipamentos médico-hospitalares e com a aplicação-clínica rotineira de diver sos métodos de diagnóstico e terapêutica (e.g., ultra-sonografia para diagnós tico de doenças vasculares e hipertermia para tratamento de tumores malignost. Apesar de drenar muita atenção e mão-de-obra desses departamentos, os seus responsáveis explicaram que este envolvimento é benéfico para as pesquisas,já que permite maior entrosamento entre as equipes médicas e os engenheiros/físi coso Além disso, este envolvimento traz significativos benefícios políticos: por serem serviços essenciais ao bom funcionamento dos hospitais. Outro aspecto importante relacionado com essa associação íntima com os serviços de saúde merece destaque. Embora os departamentos normalmente apreséntem um número reduzido de docentes (muitas vezes inferior a 6-10), há uma quantidade considerável de pesquisadores com doutorado (ou, pelo menos,mestra do) contratados como funcionários do hospital. Portanto, na prática, o número real de pesquisadores acessíveis aos alunos é maior que o registrado formalmente como corpo docente. Apesar do bom nível das pesquisas e do bom lastro clínico das mesmas, algumas dificuldades sérias estão afetando os cursos britânicos. A primeira e a mais evidente é a falta de recursos públicos, obrigando os pesquisadores' a restringir os dispêndios e, consequentemente, a amplitude, a profundidade e a velocidade das suas investigações. Outra limitação imposta pela falta de recursos é a impossibilidade de se contratar pessoal de todos os tipos. Em função disso,notou-se uma série de equipamentos e pesquisas paralisadas por falta de assistentes de pesquisa e técnicos de apoio. Por causa das dificuldades econômicas que afetam o Reino Unido e, princ~ palmente, da proibição de novas contratações no setor público, houve redução significativa no número de alunos de doutorado provenient~s da própria Grã Bretanha. Além disso, a política de aumentar substancialmente as taxas escola res para os alunos estrangeiros fez reduzir ainda mais a mão-de-obra indispen sável às pesquisas. Esta carência de alunos de pós-graduação está obrigando as instituições a adotar medidas pouco desejáveis: reduzir as exigências das admissões, prejudicando o nível dos trabalhos realizados, ou reduzir a quanti dade de pesquisas do departamento. A maioria dos programas está tentando en~ contrar um compromisso entre estes dois extremos, Uma peculiaridade dos cursos britânicos merece registro e discussão. Trata-se da ênfase generalizada em pesquisas que envolvem técnicas não-invasi vas e quase inexistência de investigações experimentais em animais. Apesar das justificativas apresentadas (aliás, nem todas aceitáveis), precebeu-se que esta polarização se explica sobretudo pelo fato que existem legislações 153

muito rígidas e restritivas para experimentações "in vivo" e mesmo para diss~ cações, aparentemente devido às pressões das sociedades protetoras de animais. Somente indivíduos especificamente licenciados podem realizar este tipo de trabalho. Por outro lado, notou-se que procedimentos ainda não estabelecidos são frequentemente aplicados em pacientes, mesmo. por engenheiros e físicos, sem tanta preocupação. Em síntese, os programas britânicos são pouco recomendáveis aos interessados em aprender e/ou trabalhar com pesquisas experimentais envolvendo animais, a não ser que se dispõem a realizá-las em departa mentos biológicos e após a obtenção de licença específicá. - AGRADECIMENTOS O autor agradece as críticas e sugestões de Dr. Saide Jorge Calil e Dr. Gurdip Singh Deep, bem como o apoio financeiro do CNPq e do Conselho Britânico. A colaboração dos programas visitados foi obviamente indispensável. BIBLIOGRAFIA WANG, B. (1983), Engenharia Biomédica, in "Avaliações e Perspectivas - 1982", CNPq, Brasília, pp. 85-101. 154

Tabela 1 - Principais laboratórios existentes em cada programa. INSTITUIÇÃO - King's College Univ. London PRINCIPAIS LABORATÓRIOS EXISTENTES - ultra-som para fluxo sanguíneo - desenv. transdutores de ultra-som - marcha humana - polímeros - próteses de membro inferior - MRI (no Churchill Hospital) - univ. of Manchester Inst. Science & Technology - ultra-som de alta resolução - sensores de fibra óptica - instrumentação eletrônica - processamento de imagens - biotecnologia - MRI e espectroscopia (no hospital da escola de Medicin~ - Imperial College Univ. London Aberdeen Strathclyde Sheffield - processamento de S1na1S - processamento de imagens - acesso a laboratórios e clínicas de hospitais conveniados - NMR: imagens e espectroscopia - hipertermia por RF - ultra-som - equipamentos clínicos da Royal Infirmary e MedicaI School: radioterapia, radiodiagnást'ico e medicina nuclear - marcha humana - cultura de tecidos - biocompatibilidade de polímeros - eletrônica para estimulação funcional - laser cirúrgico - CAD para prótese do membro inferior - caracterização e análise de implantes - próteses valvulares - tomografia por impedãncia elétrica - instrumentação eletrônica - marcha humana - hipertermia - equipamentos clínicos no hospital: ultra-som, medicina nuclear, radiodiagnástico e radioterapia 155

Tabela 1 ~ Principais laboratórios existentes em cada programa. (cont.) - Brístol - ultra-som para fluxo sanguíneo General - desenvolvimento de transdutores ultra-sônicos Hospital - equipamentos clínicos no hospital: ultra-som, radiodiagnóstico, radioterapia e medicina nuclear - ultra-som para fluxo sanguíneo Wales - fantomas para ultra-som (CardifO - próteses microcomputadores para deficientes físicos - equipamentos clínicos no hospital: ultra-som, radiodiagnóstico, radioterapia e medicina nuclear - University - sensores para gases sanguíneos College - processamento de imagens tri-dimensionais Univ. London - NMR: imagens e espectroscopia - imagens por luz infra-vermelha - hipertermia por laser - instrumentação eletrônica - ultra-som - vârio 9 equipamentos clínicos no University Hospital - University of - sensores para gases sanguíneos Oxford - instrumentação eletrônica - ultra-som para fluxo sanguíneo - incubadores para recém-nascidos - laser para medidas de 2 - pletismografia por impedância elétrica 156

Tabela 2 - Recursos humanos existentes em cada programa. INSTITUIÇÃO N9 TOTAL DE N9 DE FUNCIO- N9 DE DOCEN- FUNCIONÁRIOS NÁRIOS COM TES ORIENTA- DOUTORADO DORES - King's College Univ. London 38 10 3 Manchester Inst. Science 85 15(8)* 8(4) & Technology - Imperial College 23 10 4 Univ. London - U"iv. of Aberdeen 76 22 8 - U::liv. of Strathclyde 114 26 6 Sheffield 29 12 4 - Bristol General 35 17 4 flospital Wales (CardifO 50 6 3 - University College 120 27 10 Univ. London Oxford 23 6 2 * Os números em parênteses indicam quantidade de pessoas efetivamente envolvidas com instrumentação biomédica. 157

Tabela 3 - Dados relativos à formação de doutores de-cada programa. INSTITUIÇÃO N9 DOUTORES N9 ALUNOS EM JÁ FORMADOS DOUTORADO (abril 86) - King's College Univ. London -12 6 Manchester Inst.? 75(25) Sci. & Technol '!' - Imperial College? 15 Univ. London* Aberdeen -85 10 Strathclyde -80 30 Sheffield 2 3 - Bristol General 5 3 Hospital Wales 2 4 (CardifO - University CoUege? 8 Univ. London* Oxford 1 8 * Não possuem dados precisos sobre o numero de doutores especializados em Engenharia Biomédica. O numero em parênteses indica a quantidade de teses de doutorado em andamento com aplicações biomédicas. 158

Tabela 4 - Especialidades recomendadas de cada programa. ESPECIALIDADES INSTITUIÇÃO ALTAM. RECOMENDADAS RECOMENDADAS - í<ing's College - ultra-som para medidas de flu - marcha humana - Univ. London* xo sanguíneo - polímeros - teoria e aplicações - próteses de membro médicas de ultra-som inferior - imagens por NMR - ultra-som de alta resolução - processamento de ima.- Manchester de fibra óptica - sensores gens Inst. Science - instrumentação eletrônica bio - imagens e espectros- & Technology médica - copia NMR.' - - Imperial - processamento de sinais e ima - modelagem de siste- - College gens mas fisiológicos Univ. London Univ. of - imagens e espectroscopia por - hipertermia por RF Aberdeen* NMR e ultra-som - processamento de sinais e de - localização por imagens radionuclídeos - física médica - Eng. de reabilitação - propr. mecânicas do Strathclyde* - biomateriais tecido - biomecânica - laser cirúrgico - próteses e estimulação funcio - nal próteses valvulares - marcha humana Sheffield* - tomografia por impedâncía -.instrumentação eleelétrica trõnica - física médica - hipertermia - Brístol - ultra-som para medidas de - transdutores ultra- General fluxo sanguíneo sônicos Hospital* - física médica - ultra-som para medidas de - Eng. de reabilitação Wales* fluxo sanguíneo (Cardiff) - fant,omas para ultra-som 159

Tabela 4 - Especialidades recomendadas de cada programa (cont.) - University - sensores para gases sanguineos - ~magens por luz College e transcutâneos infra-vermelho Univ. London* - proc. de imagens tri-dimensio- - hipertermia nais - farmacodinâmica com - imagens e espectroscopia por r adionuc1ídeos NMR em recém-nascidos e prematuros - sensores para gases sanguíneos - pletismografia e ima Oxford* e transcutâneos gens por impedância- - diagnósticos e terapêuticas p~ elétrica ra recém-nascidos - instrumentação eletrônica 160

EVALUATION OF THE MAIN DOCTORAL PROGRAMS IN BIOMEDICAL E~GINEERING IN THE UNITED KINGDOM ABSTRACT -- The main doctoral 'programs in BiomedicaI Erigineering offered in the United Kingdom have been visited and evaluated. The evaluation was based on the programs' organization, the quality of its staff and of its infrastructure, its experience in doctoral training, and its interaction with health services. Thus the research areas judged to be recommended for prospective Brazilian students are listed for each programo Furthermore, a general discussion of the features of British doctoral programs in Biomedical Engineering is made. It is hoped that this evaluation will help both prospective students and scholarship granting institutions. 161