Painel 1: "Reforma Tributária e justiça fiscal Prof. JOÃO MÁRIO DE FRANÇA Coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP/CAEN/UFC)

Documentos relacionados
Carga Tributária e seus Efeitos na Economia

JUSTIÇA FISCAL: ESTADO PARA TODOS

O futuro da tributação sobre o consumo no Brasil: melhorar o ICMS ou criar um IVA amplo? Perspectivas para uma Reforma Tributária

Finanças Públicas. Aula 1

Tributos em espécie. Impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições especiais

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR

Pedro Onofre Fernandes Diretor de Estudos Técnicos

Formação em Protecção Social

TEMAS FEDERATIVOS. Seminário AMCHAM: O ICMS que Interessa a Todos. Andrea Calabi Secretário da Fazenda 17/05/2013

Atividade Financeira do Estado

AGENDA PROPOSITIVA DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

Financiamento da Saúde

SEGURIDADE SOCIAL DIREITO PREVIDENCIÁRIO SEGURIDADE SOCIAL SEGURIDADE SOCIAL SEGURIDADE SOCIAL PREVIDÊNCIA SOCIAL. Prof. Eduardo Tanaka CONCEITUAÇÃO

PASSO A PASSO DA SIMPLIFICAÇÃO TRIBUTÁRIA NO BRASIL

Nº 56 Março Desequilíbrios Regionais no Brasil e a Distribuição Desigual de Recursos Entre os Estados

o país precisa arrecadar mais?

A nova visão da. Contabilidade Aplicada ao Setor Público

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Eficiência Tributária

Estrutura para a avaliação de estratégias fiscais para Certificação Empresas B

Ministério da Fazenda. Reforma Tributária. Seminário Internacional sobre o Projeto de Reforma Tributária. Brasília Março de 2009

O SEGURO DE VIDA COM COBERTURA POR SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO SEGURADOR BRASILEIRO UMA ANÁLISE TRIBUTÁRIA

Correção 9)As operações de mercado aberto envolvem variações nos encaixes compulsórios que os bancos. Conceito de Déficit e Dívida Pública

ROTEIRO PARA A CONFERÊNCIA DO PPS SOBRE CIDADES E GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA. A cidade é a pauta: o século XIX foi dos

Reforma Tributária e Competitividade

Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro

DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE) Bom-dia, Excelentíssimo. Senhor Ministro-Presidente, bom-dia aos demais integrantes

PROJETO DE LEI Nº DE (Do Sr. DARCÍSIO PERONDI)

EDUCAÇÃO FISCAL PARA A CIDADANIA. Superintendência da Receita Federal em Minas Gerais

Uma agenda tributária para o Brasil. Fóruns Estadão Brasil Competitivo Bernard Appy Maio de 2014


Grupo de trabalho Tributação sobre Consumo no Brasil Brasília de novembro de 2007 PAGE

PNAFE E A MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA. I Introdução. O PNAFE e o Ajuste Fiscal dos Estados brasileiros, instituído em 1997.

Regulação em Projetos Transnacionais de Infraestrutura Aspectos Econômicos. Arthur Barrionuevo FGV - Escolas de Administração e Direito

A Seguridade Social em Risco: Desafios à Consolidação dos Direitos e à Implantação do SUAS

EIXO 4 PLANEJAMENTO E GESTÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL XVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Diretrizes para os Serviços Públicos de Saneamento Básico

Guerra Fiscal e Desenvolvimento Regional. Audiência Pública Senado Federal 18 de outubro de 2011

Planejamento Tributário. Estruturação, Pressupostos e Possibilidades. Gilberto Luiz do Amaral

COMPETÊNCIAS E DESAFIOS DO SECRETÁRIO DE FINANÇAS. Fernando Carlos Almeida

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO

PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL NO SISTEMA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO - SNDU

O Imposto da Sonegação E Você Quem Paga! SINPROFAZ SINDICATO NACIONAL DOS PROCURADORES DA FAZENDA NACIONAL

Planejamento Tributário: O desafio da Logística

Direito Tributário Profª Doutora Ideli Raimundo Di Tizio p 1

Aula 8. Política Fiscal: déficit e dívida pública

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E SUAS 20 METAS. Palestra: Campo Grande MS

ELEMENTOS BÁSICOS NA ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO DE CAPITAL

OAB 1ª FASE RETA FINAL CESPE DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO Prof.: Alexandre Mazza Material de Apoio

PROPOSTA PARA DEBATE. Reforma Tributária com Transparência das Contas Públicas: a sociedade e o Estado Brasileiro merecem essa conquista

CONTABILIDADE E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

CAPACIDADE INSTITUCIONAL DE ATENDIMENTO PROTEGIDO

Sucessão e Equação de Carga Tributária

Incentivos Fiscais: Competitividade ou gerra fiscal? Adriano Paranaiba, MSc.

Título ICMS: a origem do problema e o destino da solução Veículo Valor Econômico Data 05 Junho 2013 Autor Claudio J. D. Sales

O SUAS e rede privada na oferta de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais

OBSTÁCULOS TRIBUTÁRIOS AO CRESCIMENTO

TELECOMUNICAÇÕES DO BRASIL

A agenda que está na mesa: A agenda do ICMS e do PIS-Cofins

Parte I INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA: CONCEITOS, PRINCÍPIOS E NORMAS BÁSICAS, 3

ISONOMIA ENTRE AS RENDAS, UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA FISCAL!

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Prefácio à 21a edição, xxvii Prefácio à 20a edição, xxix Prefácio à 19a edição, xxxi Prefácio à 1a edição, xxxiii PARTE I - DIREITO FINANCEIRO, 1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

O BID E A AGRICULTURA NA ALC - Financiando oportunidades para o desenvolvimento do setor cafeeiro

PROJETO FORÇA PARA O RIO GRANDE DO SUL

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº, DE 2015

O custo financeiro do Estado brasileiro

A APLICAÇÃO DO REGIME DE CAIXA NA APURAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE AS VERBAS PAGAS A DESTEMPO, ACUMULADAMENTE, POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL

Armazém. Distribuição dos alunos matriculados no município de Armazém em Pré-Escola % Pré-Escola Fundamental % Fundamental Médio % Médio

MINHA CASA, MINHA VIDA 2 Novas metas, maiores desafios

Lei Federal de Incentivo ao Esporte. 1. Introdução

Despesas com a Educação

Análise de Conjuntura

IV SEMINÁRIO CATARINENSE SOBRE ATUALIDADES JURÍDICO-CONTÁBEIS IMPOSTO DE RENDA LIMITES DOS CONCEITOS CONTÁBEIS NA DEFINIÇÃO DO FATO GERADOR

Gestão social da valorização fundiária urbana

CONCEITO DE RECEITA E A SUA PIS COFINS

OPERACIONALIZAÇÃO FISCAL DAS DOAÇÕES HENRIQUE RICARDO BATISTA

Desafios dos Novos Gestores Eleitos 2013/2016

CARTILHA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR GUIA FÁCIL DE TRIBUTAÇÃO

III Assembléia Plenária Valparaíso, Chile 1 a 3 de abril de 2004

Sistema Tributário e a Federação Brasileira

GOVERNO. Orçamento Cidadão 2015

A IMPORTÂNCIA DA CADEIA DE SERVIÇOS DO FUNDAP NA ECONOMIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: SÍNTESE

Teoria do bem estar social. Aula 1. Conceito de ponto Ótimo de Pareto. As Falhas de mercado. Finanças Públicas. Finanças Públicas.

1ª GESTÃO DILMA. Menor rigor fiscal. Metas de inflação em prazo mais longo (menor velocidade de ajuste), maior expansão de crédito

PROJETO DE LEI Nº 433/2015 CAPÍTULO I DOS CONCEITOS

Como avançar na melhoria do sistema tributário brasileiro: uma agenda para o curto e o médio prazo

ISS TRANSPORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR

Da gestão, da aplicação, do controle e da fiscalização dos Fundos... 5

ELEIÇÃO 2014 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA BRASIL 27 DO BRASIL QUE TEMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS E PODEMOS DIRETRIZES GERAIS DE GOVERNO

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE CATALÃO LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL L O A EXERCÍCIO DE de 13

Atribuições dos Tecnólogos

LEI Nº 1047/2012. O Prefeito do Município de Pinhalão, Estado do Paraná. Faço saber que a Câmara Municipal decreta, e eu, sanciono a seguinte Lei:

O ORÇAMENTO PÚBLICO AO ALCANCE DO CIDADÃO

Nº 36 de CN (Mensagem nº 365 de 2014, na origem) 1. PROJETO DE LEI

O que é guerra fiscal?

QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS IMPOSTOS MAIS IMPORTANTES - PARTE IIl

Fundo Especiais. Fundos Especiais. Fundos Especiais Lei Federal nº 4.320/64. Fundo Municipal de Educação e FUNDEB

Transcrição:

Painel 1: "Reforma Tributária e justiça fiscal Prof. JOÃO MÁRIO DE FRANÇA Coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP/CAEN/UFC)

- REFORMA TRIBUTÁRIA: Competitividade, equidade e equilíbrio federativo. Organizador: Deputado Cláudio Puty, 2012. Comissão de Finanças e Tributação. - Não Basta Arrecadar: A Tributação Como Instrumento do Desenvolvimento, 2013. Livro do BID que indica necessidade de reformas tributárias na América Latina e no Caribe para estimular o desenvolvimento da região

Competência tributária ativa dos estados: ICMS, IPVA e ITCMD O ICMS, imposto não cumulativo, é o principal financiador de políticas públicas e garante sua autonomia, mas vem perdendo espaço em alguns estados Nova regulamentação do ICMS proposta pelo Governo Federal prevê que as alíquotas interestaduais sejam homogeneizadas em 4%. Segundo alguns estados, essa alíquota inviabilizaria as políticas estaduais de desenvolvimento local. O poder de tributar e realizar políticas fiscais continua demasiadamente concentrados no governo central.

ASSESSORIA ESPECIAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Boletim Econômico APE Fevereiro/2013- publicação 01

Do quadro anterior pode-se inferir que: Os dados referentes à razão entre Transferências Correntes e Receitas Correntes (4ª coluna) revelam a forte dependência, por alguns estados, de repasse de recursos da União; Em conformidade com os dados sobre Percentagem de Participação do FPE (6ª coluna), tem-se presente a necessidade de revisão da política de divisão dos recursos na Federação.

As questões de equidade no Brasil vão além da má distribuição de renda. O número de pobres no Brasil ainda é muito elevado, apesar da redução recente devido às políticas de transferência às famílias de baixa renda. A aplicação prática do princípio da capacidade contributiva, especialmente no que diz respeito aos impostos diretos incidentes sobre a renda do contribuinte implica em aceitar os seguintes preceitos: os tributos devem ser graduados em função da renda de cada contribuinte: quem ganha mais deve pagar mais; ƒquanto maior for a base de cálculo de um tributo, maior deve ser a sua alíquota; ƒa renda mínima consagrada à sobrevivência deve ser minimamente tributada ou, em última instância, deve ser livre de tributação. A tributação deve ser preferencialmente direta, de caráter pessoal e progressivo.

O escalonamento da tributação atende melhor ao princípio da justiça tributária, o qual exige que se observe não apenas a isonomia como também: => o tratamento desigual aos desiguais, não discriminando a tributação segundo a origem do rendimento; => a aplicação de alíquotas mais condizentes com a realidade distributiva brasileira. Tributos progressivos e diretos são preferíveis aos regressivos e indiretos por razões de neutralidade, eficiência e equidade. Contudo, ao tributar mais quem ganha mais, promovendo maior justiça tributária, as decisões de alocação de recursos serão afetadas provocando algum grau de ineficiência no sistema. Tributo eficiente é aquele que não gera distorções no comportamento dos agentes econômicos quanto à alocação de recursos. Um tributo que incida sobre todos os bens e serviços à mesma alíquota não altera os preços relativos é um tributo neutro e, portanto, eficiente.

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social levantou no seu Observatório da Equidade os seguintes dados: No Brasil, quem ganha até dois salários-mínimos paga 48,8% da sua renda em tributos. Quem ganha acima de 30 salários mínimos, paga 26,3% da sua renda em tributos. A alíquota máxima do imposto de renda nos países da OCDE, na média, é 42,5%. No Brasil, 27,5%. A média de EUA, Grã-Bretanha e Alemanha para o imposto sobre herança é de 41% sobre o patrimônio. No Brasil é 4%. De uma carga tributária de 34,9% sobre o PIB, apenas 10,4% retornam para a sociedade. Para educação pública: 4,7%. Para saúde: 3,75%. Saneamento e habitação: 0,6% (sem considerar os investimentos recentes no Programa Minha Casa, Minha Vida).

O sistema tributário nacional é: ƒcomplexo, oneroso e causa de insegurança jurídica. Tem excesso de tributos e obrigações acessórias. É cumulativo e pouco transparente; ƒinimigo da produção, das exportações e dos investimentos. Afeta negativamente a competitividade;

concentrador de múltiplas incidências sobre uma mesma base (faturamento) e uma mesma função (consumo), pelos três níveis de governo (IPI+ICMS+PIS+COFINS+CIDE+ISS); agente de estímulo de uma competição federativa suicida; Tem estrutura obsoleta. Prejudica a competitividade. Induz à sonegação. Não é propício à harmonização com outros sistemas.

Primeiro, as reformas devem incluir impostos que favoreçam os pobres. Os sistemas tributários existentes devem se tornar mais progressivos e reduzir o número de isenções. Segundo, os sistemas tributários devem ser mais simples, com bases tributárias mais amplas. Isso ajudará a criar um ambiente propício para a inovação e novas empresas, promovendo a produtividade.

Terceiro, a gestão tributária deve ser fortalecida, para que todos os cidadãos e empresas cumpram suas obrigações fiscais. Quarto, as reformas devem assegurar que os governos locais possam gerar seus próprios recursos de receita, para cumprir suas responsabilidades cada vez maiores como agentes do desenvolvimento.

Quinto, dada a extraordinária, porém finita, riqueza de recursos naturais da região, os sistemas tributários devem criar incentivos para seu uso mais eficiente, levando em conta as necessidades de desenvolvimento de gerações futuras.

Combate às medidas ilegítimas de guerra fiscal Concessão de benefícios sem afetar a receita de outros entes federativos Fortalecimento da segurança jurídica, através da reforma do processo administrativo tributário, com a sua versão eletrônica, bem como com a institucionalização, em código, dos direitos e deveres do contribuinte; e Medidas de celeridade e agilização de dados Implementação do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Adoção de progressividade no Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis ou Doação de Bens e Direitos (ITCMD)

Reorientar a tributação para que ela incida prioritariamente sobre o patrimônio e a renda dos contribuintes Submissão universal de todos os rendimentos de pessoas físicas à tabela progressiva do imposto de renda Desoneração do IRPF sobre os rendimentos do trabalho assalariado de baixo e médio poder aquisitivo, com revisão de alíquotas, faixa de isenção e aumento das possibilidades de dedução de despesas. Regulamentação do parágrafo único do artigo 116 do Código Tributário Nacional, alterado pela Lei Complementar n 104/2001, para permitir à autoridade administrativa desconsiderar atos e negócios jurídicos que visem a ocultar a ocorrência do fato gerador.