OS ASPECTOS EMOCIONAIS E SUA RELAÇÃO COM O SABER



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Este caderno é parte integrante da Revista APM Edição n 561 -Outubro de 2005

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Transcrição:

OS ASPECTOS EMOCIONAIS E SUA RELAÇÃO COM O SABER Artigo cedido pelo autor para publicação no website da Somática Educar Liria Helena Moreira Gomes Littig Especialista em Planejamento Educacional pela Faculdade Salgado de Oliveira RJ Especialista em Teoria Psicanalítica e Práticas Educacionais pela Universidade de Nova Iguaçu (UNIG) RJ Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB) ES Graduada em Matemática pela Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC) RJ E-mail: lhlittig@gmail.com

OS ASPECTOS EMOCIONAIS E SUA RELAÇÃO COM O SABER RESUMO Procurou-se neste artigo, obter entendimentos sobre a relação entre os aspectos emocionais do ser humano e a forma como ele busca o saber, utilizando como parâmetro o olhar psicanalítico sobre o desenvolvimento emocional infantil. A teoria Psicanalítica trouxe a importância das vivências emocionais precoces para a formação da personalidade do sujeito. Percorrendo as fases do desenvolvimento psicossexual da criança, será mostrada a importância dessa relação tão singular do bebê com seus pais para a formação de sua personalidade. Abordar-se-á o resultado das investigações infantis como geradora do desejo pelo saber, marcando para sempre a busca do ser humano por conhecimento. Os pensamentos de autores contemporâneos serão também analisados, uma vez que, para eles a forma como a criança lidará com a aprendizagem, dependerá de resolver questões decisivas para ela relativas ao desenvolvimento de sua organização psíquica. O vínculo de um sujeito com o saber, além de se correlacionar com o conhecimento formal dado pela escola e o informal incorporado pela sociedade e cultura, supõem também aspectos subjetivos, marcados pela incidência do inconsciente, porque existe em jogo um desejo que busca satisfação. A forma como a criança aprende e os caminhos que pode seguir o seu desejo por conhecimento, serão abordados neste artigo. Palavras-chave: criança, vivências emocionais, saber, desejo. INTRODUÇÃO Segundo Anne Alvarez [...] para seu desenvolvimento emocional e cognitivo, o bebê necessita ter a experiência de interagir com um cuidador humano consistente, um objeto animado ou uma companhia viva [...]. (1994, p.88) A revista Nova Escola e o Ibope realizaram em 2007 uma pesquisa relacionada aos problemas de aprendizagem dos alunos, em que se constatou que os professores atribuíram 77% à ausência dos pais. A escola responsabiliza à família e a família culpa a escola. Neste jogo de atribuições de responsabilidades, toda uma sociedade se encontra prejudicada por um processo que, na verdade, é de todos.

Afirma Renato Mezan (apud Dupas, 2008), professor e psicanalista da PUC SP: [...] que as dificuldades na aprendizagem constituem sintomas das dificuldades emocionais da criança é uma antiga descoberta da Psicanálise [...]. Nesse contexto, baseado numa visão psicanalítica, este artigo gira em torno do processo de aprendizagem do sujeito e a relação com o aspecto emocional de seu desenvolvimento. Qual a relação entre as vivências emocionais precoces e o saber? Desde a mais tenra idade que a emoção, a afetividade estão presentes na vida do ser humano, encontrando na relação singular com a mãe ou quem esteja nesta função, não só o alimento, mas também toda plenitude destes aspectos, sobretudo, as marcas deixadas por este forte vínculo. Anne Alvarez lembra que [...] a privação materna em uma idade muito inicial pode trazer conseqüências graves para o bem-estar emocional e intelectual da criança [...] (1994, p.93). Além do mais, para a criança suportar o processo de aprendizagem, é preciso que ela tenha atingido um nível de organização em seu desenvolvimento emocional, que permita adquirir sua individuação, para assim poder lidar com o outro; precisa entender sua incompletude, suportando que há outros (o professor) que sabem coisas que ela não sabe; submeter-se a regras estabelecidas pela cultura (escola). Sentimentos como: inveja, hostilidade, competição, culpa, submissão, surgem, caso estas questões não tenham sido resolvidas para ela (BARONE, 2000, p.80). Desta forma, segundo a autora acima citada, a forma como a criança lidará com a aprendizagem, dependerá do desenvolvimento de sua organização psíquica, uma vez que o aprender se relaciona com questões cruciais de seu desenvolvimento emocional. A criança que não construiu ainda uma imagem mais estável de si, mesmo já tendo acesso à linguagem - pois a fala muitas vezes não é simbólica - terá dificuldades em aprender a ler e escrever (BARONE, 2000, p. 80). Freud (1907) associou o desejo de saber às curiosidades infantis, tais como: procriação, diferenças sexuais, origem dos bebês e, sobretudo, o papel que a criança representa para o outro.

No momento da entrada da criança na linguagem, em que é confrontada com a questão crucial sobre sua origem, surge, paralelamente, uma insaciável sede de saber que é exacerbada pelo adulto ao tentar dar uma explicação científica ou quando se embaraça, por também desconhecer sua própria sexualidade. O adulto cria então mitos e fantasias que, no lugar da resposta, o levariam ao conhecimento sobre sua origem, causando uma falta que ele vai buscar preencher pela via do saber social e cultural (LACAN, 1985) O objetivo deste trabalho de pesquisa teórica é refletir sobre o pensamento de autores como Maria Cristina Kupfer, Margarida Azevedo Dupas, Ana Lygia Santiago, Freud, Lacan, Melanie Klein e psicanalistas contemporâneos como Piera Aulagnier, Winnicot, Bion, Zimerman, que estudaram o referido assunto. Buscar-se-á entender como os aspectos emocionais podem afetar o desejo pelo conhecimento, gerando, muitas vezes, inúmeros sintomas, reconhecidos como causas de dificuldades de aprendizagem, tais como: inquietação, falta de concentração, desinteresse, falta de motivação, hiperatividade, agressividade, gagueira, enurese e muitos outros. O ASPECTO EMOCIONAL NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O aspecto emocional no desenvolvimento da criança durante a infância é algo tão relevante, necessário e influente que assusta quando, através de estudos, se conhece, e quando no dia a dia se vivencia sua importância para o adulto em terapia. A falta ou o excesso de afetividade, carinho, cuidado e atenção dos pais influencia, sobremaneira, a personalidade do ser humano em formação. As precoces experiências infantis, juntamente com a genética e o meio ambiente são fatores que influem na formação da personalidade (ZIMERMAN, 1999). Desde que nasce o bebê, precisa de outro ser humano para com ele interagir e, mais ainda, para ajudá-lo a viver, já que é o único ser vivo que nasce numa situação de total desamparo e dependência. Existe somente um ser humano em potencial com uma disposição inata para se desenvolver e que necessita de um ambiente facilitador que o favoreça. De acordo com Margarida Dupas (2008), sua estrutura psíquica se forma a partir da relação

que se estabelece entre ele e seus pais, sendo a mãe a primeira a interpretar suas manifestações. Mesmo antes de nascer ele já está inscrito no desejo da mãe, talvez desde menina. Na fantasia criada por ela, ele já tem um nome, um rosto, um sexo, um objetivo para sua vida, de acordo com toda herança psíquica que traz de seus antepassados e de suas vivências da mais tenra infância. A mãe revive seu nascimento nessa criança, com toda a carga de emoções experimentadas. Se for uma mãe sadia, permitirá o desenvolvimento saudável de seu filho. Porém, se a mãe for portadora de uma estrutura neurótica, psicótica ou perversa, não lhe possibilitará um desenvolvimento psíquico adequado e saudável. Todo esse desejo é concretizado com os cuidados após o nascimento que ela dedica a essa criança: o contato com o corpo, a fala, a atenção, o olhar e, principalmente, o ato da amamentação. Com a amamentação ela transfere para a criança não apenas um leite, mas o leite bordeado de afeto, de emoção. É esse afeto, esse desejo que o torna sujeito, que o torna humano. Essa ligação é vivenciada com toda intensidade neste momento. O seio representa para a criança uma extensão sua. Da mesma forma, a imagem que terá de si mesma se formará pelo espelho representado por ela: seu olhar, seu discurso, seu corpo, seu desejo. De acordo com Zimerman (1999), forte vínculo os une e muitas patologias relativas à identidade advêm deste olhar que pode estar ausente, distorcido ou opaco, causando, conforme se viu acima, perturbações na formação da personalidade da criança. Zimerman diz que: Manifestações como choros, diarreias, vômitos, esperneios são algumas das armas usadas pelo bebê com objetivo de mobilizar as pessoas a sua volta para que aliviem, processem e devolvam decodificadas suas necessidades e tensões. (ZIMERMAN, 1999, p. 88) Por volta do oitavo mês, a criança já percebe a mãe como alguém fora dela. A criança agora a percebe e identifica, tornando a ligação ainda mais forte. Observa com surpresa que não tem mais a exclusividade de seu carinho, de sua atenção, de sua presença; que não é sua única fonte de interesse e prazer; sente sua falta, sofre e se angustia com sua ausência. O bebê vivencia suas primeiras frustrações. Saber acolher e frustrar adequadamente é

fundamental neste momento, já que estão em jogo a formação do seu desenvolvimento emocional e a estruturação do eu. Quando o ambiente em que vive esta criança é satisfatório às suas necessidades, respeitando o Princípio do Prazer, de acordo com Freud (1905), o interesse da criança a partir do segundo ano passa a ser as coisas e não mais as pessoas. Nesta fase, a criança é narcisista, egocêntrica e os prazeres são auto-eróticos. Predomina de forma total o princípio do prazer. Zimerman (1999) cita a presença do fenômeno da ambivalência, trazendo a simultaneidade de sentimentos contraditórios, sensações de poder, rivalidades, competições, características desta fase. Atividade e passividade, reter e dar, possuir e produzir e as confrontações com as exigências do meio, levam a grandes implicações emocionais para a criança. Atos como engatinhar, andar, comer sozinha e a aquisição da linguagem possibilitam à criança a exploração do mundo. A passagem por esta fase de forma natural, sem tensões, se condiciona à forma como os pais vão lidar com este novo ser, agora em busca de sua individuação. Por volta dos três anos de idade, outra fase se avizinha mudando outra vez o foco da energia libidinal que até então, se encontrava na boca e no ânus: os órgãos sexuais, masculino e feminino. Os meninos sentem prazer na manipulação de seu membro e na observação da ausência do mesmo nas meninas. Relacionada a esta observação, uma característica desta fase que se evidencia e é considerada de suma importância, é a curiosidade infantil. Os famosos porquês se originam nas manifestações de seu corpo, na observação dos pares de opostos, nas diferenças que angustiam a criança e geram tantos rodeios, tornando-a incapaz de uma abordagem direta (ZIMERMAN, 1999). De acordo com Kupfer (2005), a importância da curiosidade infantil por conhecer a si mesma e às coisas do mundo são precursoras do desejo por conhecimento, aprendizagem em geral. Caso seja percebida pela criança com desinteresse e pouco caso pelos adultos, ou como algo feio e pecaminoso, poderá dar origem, da mesma forma, a um desinteresse da criança, gerando um bloqueio pela aquisição de conhecimentos. J.D.Nasio (2007) argumenta que a definição como homem ou mulher, ocorre também nesta etapa, de acordo com as experiências vivenciadas com

os pais que permitem este processo identificatório, primordial para a estruturação de sua personalidade e orientação do desejo humano. Toda carga de sentimentos e emoções experimentados, servirão de modelo para a experiência sexual da vida adulta. Como se pode perceber, o desenvolvimento psicossexual e a formação da personalidade se dão, em quase sua totalidade, por volta dos sete anos de idade. A maneira como a criança elaborou as fases anteriores de seu desenvolvimento, será primordial na formação de seu caráter e também na formação de sua capacidade intelectual. Por esta razão, a estruturação psíquica e o desenvolvimento da personalidade do ser humano, estão enraizados em seu desenvolvimento emocional. FREUD E O DESEJO DE SABER Para Freud, a motivação para o desenvolvimento intelectual é sexual. O trabalho investigativo da criança utiliza como matéria, conteúdos sexuais. Ao buscar entender os fatores que determinavam os sintomas na análise dos adultos, Freud (1905) se dedicou a conhecer as características de sua infância. Compreendeu o porquê da importância dessa fase na vida adulta. A sexualidade infantil deixa marcas decisivas para a sexualidade adulta, uma vez que a fragilidade e imaturidade do eu da criança, não a deixam entender e elaborar as manifestações internas e externas que percebe, deixando todas essas vivências como traumas. Tais turbulências emocionais são reprimidas na infância, levando a distúrbios funcionais ou mesmo doenças neuróticas posteriores. Por esta razão, o referido autor reconhece que a criança durante seu desenvolvimento infantil, vive um período neurótico e que medidas terapêuticas, muitas vezes, devem ser adotadas. A partir dessa percepção, as crianças se tornaram da maior importância para a pesquisa psicanalítica, por se concluir que a criança continua a viver no adulto neurótico, sem que ele tenha a menor noção deste fato. O ser humano se desenvolve a partir de forças impulsionadoras que são de origem infantil. Freud (1905) entende que para se tornar sujeito do seu desejo, o ser humano precisa atravessar por etapas fundamentais de seu desenvolvimento,

a saber: o narcisismo, que é a etapa em que ele tem a ilusão de sua onipotência, que possui a mãe, que ela é completa e que ocupa o lugar de sua falta, do seu desejo. O Complexo Edípico, quando a confiança e a completude da mãe ficam abaladas ao descobrir que não é seu objeto de desejo, havendo um corte na fusionalidade mãe-filho, gerando nele a falta e possibilitando a expressão do desejo. Assim sendo, as investigações infantis se fazem presentes, após a criança ter atravessado as fases auto-eróticas (oral e anal). É na fase fálica de seu desenvolvimento que ocorre uma investigação em torno do órgão fálico: presença e ausência. A diferença entre os sexos, a busca de uma solução para o enigma da reprodução, que sempre coincide com o nascimento ou o desejo dos pais por outro filho. Vê-se que o desenvolvimento cognitivo e a atividade intelectual da criança têm origem na curiosidade sexual (SANTIAGO, 2005) Quando se vê diante da falta do outro, começa a entender que também é faltoso e surge a motivação para questionamentos, curiosidades, o desejo por constituir seu saber próprio, o conhecimento sobre sua existência, o seu lugar no mundo que, antes de tudo, é um lugar sexual. Tem início um longo trabalho de pesquisa, de investigação, de interpelações sobre as questões do mundo e suas descobertas sexuais. (KUPFER, 2005). Quem sou? O que represento no desejo de meus pais? O que querem de mim? Quais as expectativas deles por mim? Este momento para a criança representa a passagem do ter para o ser. Em seu livro, O Futuro de uma Ilusão (1927), Freud descreve o papel simbólico da cegonha, utilizado pelas figuras parentais, ao serem questionadas pelos filhos sobre o nascimento dos bebês. Uma verdade está sendo contada, porém com uma roupagem simbólica. A criança, porém, não sabe ainda simbolizar e escuta apenas a parte deformada do que se diz. Sente que foi enganada e a conseqüência é a desconfiança. A rebeldia começa nestas primeiras vivências. Tornamo-nos convencidos de que é melhor evitar estes disfarces simbólicos da verdade do que contamos às crianças e não afastar delas um conhecimento do verdadeiro estado de coisas, comensurado a seu nível intelectual. (FREUD, 1927, p.53).

Não se pode deixar de observar ainda, que os esclarecimentos do adulto evitam as mais grotescas teorias, criadas ao mesclar o que observam com as informações que trocam entre si, acarretando uma percepção do sexo como algo [...] horrível e nauseante ocasionado pelo sentimento de culpa que causa [...] (FREUD, 1968). Posteriormente, em outra fase de seu desenvolvimento psicossexual, essa curiosidade infantil tenderá a desaparecer, ficando uma parte delas recalcada no inconsciente e a outra esquecida. A parte recalcada passa a constituir seu saber inconsciente, sua subjetividade que determinará os aspectos de sua vida sexual adulta. Vê-se que sexualidade e saber estão intimamente ligados desde seus primórdios. A curiosidade ao saber, de acordo com Freud, tem três destinos: inibição, compulsão e sublimação (FREUD, 1910). Na inibição, existe um recalcamento total da curiosidade sexual, inibindo também sua vontade de saber, de conhecer, e a atividade da inteligência ficará limitada. Numa segunda opção, a curiosidade de saber escapa ao recalque e se transforma em compulsão de pensar, permanecendo ligada aos resultados das teorias sexuais que criou na infância. Toda atividade intelectual terá sempre o mesmo destino frustrado das investigações infantis: estará fadado ao insucesso. Na terceira opção, o desejo de saber juntamente com as pulsões sexuais escapa ao recalcamento, e a sublimação desvia a atividade intelectual de seu fim sexual para o social. OS AUTORES CONTEMPORÂNEOS E O SABER Bion (1991), psiquiatra e psicanalista contemporâneo, nos diz que a criança necessita de uma mãe continente com capacidade de rêverie e não uma mãe conteúdo. A mãe continente é aquela que sabe acolher as manifestações do bebê de forma afetuosa e paciente, entendendo o significado que cada uma representa, sobretudo, para que as experiências afetivas boas ou más nela projetadas, sejam devolvidas de tal forma, que ele possa compreender que podem ser suportadas.

Sendo assim, gradativamente, ele construirá a capacidade de conter suas emoções, criará uma independência psíquica e será capaz de realizar seus próprios desejos, ocupando um lugar de ser. A mãe conteúdo é aquela que é somente depósito dessas manifestações. A elas responde com ausência, irritação, nervosismo, projetando ainda no bebê suas próprias emoções. Tal fato o faz sentir-se só, rejeitado, ou ainda, inseguro com as experiências que capta de um meio que lhe é totalmente estranho, ocasionando uma destruição do vínculo mãe-bebê, além de grave desordem do impulso em ser curioso, do qual depende toda a aprendizagem. A origem dos distúrbios pode estar na disposição inata da criança para a destrutividade, ódio ou inveja em excesso, como no ambiente - em princípio a mãe que lhe nega acolhimento, entendimento de seus sentimentos. Há então uma grave inibição no desenvolvimento. Portanto, para o autor mencionado acima, o pensar se caracteriza como uma ligação humana que é vivida emocionalmente num esforço para tentar conhecer a si mesmo e o outro e que será decisiva para a constituição da qualidade de sua capacidade intelectual. O pensar tem que ser criado para dar conta dos pensamentos, isto é, a pressão dos pensamentos impõe à psique o pensar. Bion (1991) viu o pensamento como forma de conviver com a tensão, já Freud considerava o pensamento como forma de reduzir a tensão, embora no entender de ambos, o desenvolvimento do aparelho psíquico surgiu da necessidade de lidar com uma grande quantidade de estímulos mentais, que fossem capazes de elaborar os que não podiam ser descarregados. O pediatra e psicanalista D. Winnicot (1993), aborda que a mãe suficientemente boa, é aquela que, longe de ser perfeita, cuida do bebê de acordo com suas possibilidades, isto é, atendendo às suas necessidades, sabendo do que e como cuidar. David Zimerman, psiquiatra e psicanalista, lembra que a contribuição mais importante de Freud sobre a teoria do pensar foi a descrição do processo primário e do processo secundário. O primeiro está ligado ao princípio do prazer, às experiências de satisfação imediata de necessidades básicas. Já o segundo está ligado ao princípio da realidade, isto é, o que se apresentava à mente não era mais o que era agradável, mas o que era real, mesmo que fosse

desagradável, sendo este princípio o que determina a formação do pensamento. Melanie Klein (1930), psicanalista infantil, afirma haver um estágio inicial do desenvolvimento psíquico em que existe um sadismo a todas as fontes de prazer. O sadismo é gerado por duas grandes frustrações da infância: o desmame e a aprendizagem do controle dos esfíncteres. Esses traumas infantis trazem um grande sentimento de ódio, que despertam desejos sádicos, oral e anal. Os ataques são dirigidos aos pais, na fantasia, e originam uma ansiedade de que ela seja punida por eles, isto é, que ocorra uma represália na mesma intensidade do sadismo. Quanto maior o sadismo, maior o temor da retaliação e maior a angústia provocada por esse conflito fantasioso. O excesso de sadismo se torna perigoso, uma vez que ela teme ser também atacada, surgindo os objetos persecutórios. Nesse momento, as defesas mais primitivas do eu em desenvolvimento, se sentem incapazes de dominar a mais forte ansiedade. A identificação projetiva é colocada, então, em ação pela ansiedade provocada em decorrência do pavor do objeto que a criança deseja destruir. Simultaneamente, ela também iguala esse objeto a outros que também se tornam objetos de ansiedade, criando dessa forma, contínuas equiparações, base da formação simbólica e de seu interesse por novos objetos. É importante ressalvar que, pode não ocorrer nenhum deslocamento para o mundo exterior, caso a ansiedade seja excessiva em decorrência dos ataques na fantasia, ocasionando uma paralisação da capacidade em simbolizar. Melanie Klein assim esclarece quanto ao simbolismo: È através da igualdade simbólica que as coisas, as atividades e os interesses se tornam o conteúdo de fantasias libidinais...as fantasias sádicas dirigidas contra o interior do corpo da mãe, constituem a primeira e mais básica relação com o mundo externo e a realidade. O grau de sucesso com que o indivíduo consegue passar por essa fase vai determinar até que ponto ele poderá ter acesso a um mundo externo que corresponde à realidade (1996, p.252). Pode-se concluir que, o desenvolvimento do ego e sua relação com o mundo externo, estarão condicionados a sua capacidade de tolerância e

elaboração às primeiras vivências de ansiedade, em uma idade bastante precoce. Melanie Klein fez atendimentos variados a crianças, nos quais pôde observar efetivamente a inadaptação ao meio, o não estabelecimento de relações emocionais com pessoas de seu ambiente, a não demonstração de afetos, grau baixo de ansiedade, nenhum interesse, vocabulário pobre e incorreto, apenas alguns sons. A vida de fantasia dessas crianças ficou paralisada. Elas não se interessavam pelo mundo porque não atribuía nenhum significado simbólico a ele. A autora usava o brincar, o desenho, como instrumento de trabalho psicanalítico com crianças, e era através das brincadeiras que ela podia escutá-las. Para Piera Aulagnier (1991), psiquiatra e psicanalista, a estrutura do ser humano se configura antes mesmo de ele nascer. A criança nasce como objeto de desejo de seus pais, confirmando desta forma a conformação edípica e estruturando sua história subjetiva, até mesmo pelo nome que lhe é dado, além dos desejos e expectativas de seus pais, como se viu anteriormente. Para a autora, a relação mãe-bebê não ocorre sobre um feto em desenvolvimento, mas sobre um ser completo, para o qual se dirige o amor da mãe que urge por reconhecê-lo como independente de sua própria existência. Se a mãe for psiquicamente saudável, lhe permitirá se desenvolver; caso contrário falhas em sua estrutura certamente ocorrerão. A autora acima citada apresenta uma nova função que é anunciada previamente pelo discurso materno: a atividade de pensar. A aquisição do pensamento constitui-se como um momento muito delicado da relação mãebebê, na medida em que a capacidade intelectual da criança atesta para a mãe o seu desempenho na maternidade. As primeiras palavras de seu filho são a prova de que ele aprendeu a pensar. Por outro lado, esta atividade possui uma característica interessante: ao mesmo tempo em que ela é a primeira atividade cujas produções podem permanecer desconhecidas para a mãe, ela permite à criança descobrir as mentiras maternas e compreender o que a mãe não gostaria que ela soubesse: Vemos instalar-se uma estranha luta na qual, do lado da mãe, ela tentará saber o que o outro pensa, tentará ensiná-lo a pensar o bem ou o bem pensar, definidos por ela, enquanto que, do lado da criança, aparece o primeiro instrumento de autonomia, de uma recusa, que

não coloca diretamente em perigo a sua sobrevivência (Aulagnier, 1975,p.154) Quando a atividade de pensar é violada pelo poder abusivo da mãe, a criança é despojada de seu direito de pensar por si mesma, sem modelo préestabelecido; é despojada de ser. A autora diz que, a descoberta da criança a respeito da mentira dos pais sobre sua origem se configura no primeiro golpe quanto à onipotência parental, sendo, por esta razão, de fundamental importância. Ela descobre que aquilo que os pais dizem, pode ser verdadeiro ou falso e, mais ainda, ela também pode mentir, pode pensar, pode ocultar coisas, pode pensar no que não deveria. Descobrir a mentira sobre sua origem tem, para a criança, a mesma importância de descobrir as diferenças sexuais, a mortalidade, os limites do desejo. Com a ocorrência deste fato numa idade muito precoce, em que a criança ainda depende dos outros, conseqüências inevitáveis ocorrerão. Assim sendo, como manter esta sua produção, os pensamentos tão necessários à sua participação no campo social, na cultura, exercendo seu direito de cidadania? Dando-se o direito de ter seus próprios pensamentos, independente do discurso do outro e não abrindo mão deste prazer. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da alta complexidade de tal fenômeno, o não aprender, caberia a abertura de uma discussão interdisciplinar, sempre tão rica para o alargamento de fronteiras. No entanto, entende-se que a psicanálise tem uma contribuição importante, uma vez que lança luz sobre essa questão ao considerar o aspecto emocional do ser humano desde a mais tenra idade, levando em conta a dimensão relacional familiar de sua construção ao considerar o processo dinâmico no qual convergem aspectos intra e inter-psíquicos. É consenso entre os psicanalistas, que as primeiras experiências e contatos do bebê com o outro, são capazes de formar uma estrutura mental saudável. Um desenvolvimento psíquico sadio se inicia dentro de determinado ambiente que, posteriormente, leva o indivíduo a uma independência parcial.

Os autores pesquisados, cada um a sua maneira, foram categóricos em assegurar aquela relação, sendo unânimes em afirmar que, o grau de tolerância e elaboração às primeiras vivências de ansiedade numa idade bem primitiva, garante a passagem do princípio do prazer ao princípio da realidade de forma tranquila, se configurando na mola mestra para um desenvolvimento benéfico em todos os aspectos. Um emocional bem desenvolvido capacita o ser humano a ter autoconfiança, segurança, amor e respeito a si mesmo e ao outro e, consequentemente, uma capacidade de pensar o seu pensar e olhar o mundo com o seu olhar. A instituição familiar, tão desestruturada nos últimos tempos, tem influência e importância capital nesse desenvolvimento, pelo fato de se constituir a primeira entidade da qual a criança faz parte. A falta de acolhimento, carinho, atenção desde a fase mais precoce pode trazer graves falhas na formação da estrutura psíquica, inibindo a motivação para pensar, afetando o processo de aprendizagem. Na pesquisa que iniciou este artigo, observou-se que os professores atribuem à ausência da família o fracasso escolar de seus filhos. Na atualidade, o que se vê são pais assoberbados com o trabalho, preocupados em prover a casa e sua família para que nada lhes falte. Porém, ausentes de sua vida pessoal, não encontram tempo para saber o que pensam, o que sentem, o que querem, o que sofrem. Mal sabem eles que não importa a quantidade do tempo, mas a qualidade. Mal sabem que os filhos precisam sentir-se amados, queridos, desejados e para isso é preciso fazer-se presente, conversando, questionando, colocando limites, mostrando o que representam para os pais. Sabe-se que, na atualidade, pais e mães precisam trabalhar, não podendo dedicar 100% de seu tempo aos filhos, porém o estar presente pode ser marcado de outra forma. Numa reunião de pais, numa festa na escola, ao olhar e cobrar atividades escolares e resultados de seus estudos, os pais estão também marcando suas presenças junto aos filhos, mostrando a importância que têm para eles. A revista Época de 05/2012 destaca uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, a pedido da Sociedade Brasileira de pediatria em que foram ouvidas 1525 crianças de 4 a 10 anos, de 131 municípios brasileiros. O objetivo da

pesquisa era, pela primeira vez, mostrar o que sentem as crianças brasileiras. Até então, não existia no Brasil uma investigação sobre estes sentimentos. De acordo com a revista, não era possível afirmar se a diferença cultural ou a classe econômica poderia contribuir para o grau de felicidade na infância. Para surpresa dos pesquisadores, nenhum desses fatores foi significativo. Tanto em Recife, como São Paulo ou Porto Alegre, as respostas foram muito parecidas. De acordo com Eduardo Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria os sentimentos se mostraram universais. O estudo contemplou os estados emocionais das crianças em relação à família, ao futuro, às brincadeiras e à escola. Houve uma surpresa: para 87% das crianças, o que as deixa mais feliz são coisas simples, como estar com pais, com os avós, brincar com os amigos e praticar esportes. Outro fator importante a se observar é que os pais se encontram perdidos na questão colocação de leis e limites para seus filhos. Ou exageram, sendo por demais rigorosos, ou se perdem com excesso de afetividade e cuidados, impedindo que seus filhos se desenvolvam e se expressem como sujeitos de seu desejo, dessa forma, continuando a cumprir um mandato como se crianças ainda fossem. Estes cuidados não podem nem devem sofrer descontinuidade. São as lembranças de afetividade, acolhimento, presença, amor, que ficam como registros inconscientes, marcando definitivamente o sujeito. Durante esta pesquisa bibliográfica, ficou patente a importância dos pais ou quem esteja nesta função, formando a configuração pai-mãe-bebê, porém deve-se pensar que os pais não nascem pais, vão se tornando pais a partir dos filhos. Na relação que, gradativamente, vai se instituindo com a mãe e no discurso no qual ela insere o pai, como representante da lei e simultaneamente de amor, dando suporte à dupla, é que a estrutura mental da criança se desenvolverá e se estabelecerá. Não se pode esquecer que, a estrutura interna da mãe e o ambiente em que vive se configuram em fatores que poderão favorecer ou prejudicar essa relação e a estruturação desta personalidade em desenvolvimento. Para isso a mãe precisa ser cuidada, necessitando do marido e da família na fase inicial, favorecendo desta forma as experiências do bebê, a construção de seu eu, o domínio de suas pulsões; aprendendo a lidar com o princípio do prazer e da

realidade, irá se constituindo como sujeito, capaz de lidar com as dificuldades da vida. REFERÊNCIAS 1- AULAGNIER, Piera. Psicose, uma leitura psicanalítica. São Paulo: Ed.Escuta, 1991. 2 - ALVAREZ, A. Companhia viva. Porto Alegre: Artes Médicas,1994. 3- BARONE, L.M.C. Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Ed. Vozes, 2000. 4 DUPAS, Margarida A. Psicanálise e Educação Construção do vínculo e desenvolvimento do pensar. São Paulo: Ed. UNESP, 2008. 5 - FREUD, Sigmund. Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, v.xi, 1968. 6 - Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, v. XIV, 1968. 7 - Esclarecimento Sexual das Crianças. Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, v.xxii, 1968. 8 Sobre as Teorias Sexuais das Crianças. Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, v. IX, 1968. 9 KLEIN, M. Amor, culpa e reparação. Rio de Janeiro: Imago, 1996 10 KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação O Mestre do Impossível. São Paulo: Scipione, 2005. 11 LACAN, J. Seminário 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1985. 12- PAOLA, Gentile. A educação vista pelos olhos do professor. Nova Escola, São Paulo, ano XXII, Nov. 2007, n. 207, p. 32-39. 13 SANTIAGO, Ana L. A inibição Intelectual na Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2005. 14 ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999.