Comunidades tradicionais caiçaras. Resumo



Documentos relacionados
Eu sou feliz, tu és feliz CD Liturgia II (Caderno de partituras) Coordenação: Ir. Miria T. Kolling

# D - D - D - - -


Fabiano Gontijo. Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

+ fotos e ilustrações técnicas de outras usinas

Quem falou foi Henrieta, toda arrumada com a camisa de goleira. E tinha mais um monte de gente: Alice, Cecília, Martinha, Edilene, Luciana, Valdete,

NESS-A TOUCH SCREEN 7" C/ MODEM

CASA DE DAVI CD VOLTARÁ PARA REINAR 1. DEUS, TU ÉS MEU DEUS. E B C#m A DEUS, TU ÉS MEU DEUS E SENHOR DA TERRA

1 3Centrs e PP esq is II DD C n MM n Astr l i Astri C h i n Re. C h e H n g K n g F i n l n i I n i F rn 0 4 C n I n n si Al e m n h E st s U n i s I

Lista 3 - Resolução. 1. Verifique se os produtos abaixo estão bem definidos e, em caso afirmativo, calcule-os.

Taxi: Opção mais rápida e cara. Deve ser evitada, a não ser que você privilegie o conforte

RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES POR MEIO DE DETERMINANTES

IFC Câmpus Santa Rosa do Sul capacita 18 profissionais locais para elaboração do Cadastro Ambiental Rural CAR

Módulo 03. Determinantes. [Poole 262 a 282]

Código PE-ACSH-2. Título:

P R E G Ã O P R E S E N C I A L N 145/2010

II L ATA N. 19/XIV. Conselheiro Fernando da Costa Soares.

Borboletas da vida. Direção de Vagner de Almeida. Rio de Janeiro: Abia, 2004, 38 min.

O MAIOR HUB DE ESQUETES DE HUMOR SOCIAL E COLABORATIVO DA INTERNET IDENTIFICAÇÃO E REFLEXÃO ATRAVÉS DO HUMOR

Lista de Exercícios 9 Grafos

= 1, independente do valor de x, logo seria uma função afim e não exponencial.

UTL Faculdade de Motricidade Humana. Mestrado em Reabilitação Psicomotora. Estágio CERCI Lisboa

Uma publicação que é referência no setor

A VARIAÇÃO ENTRE PERDA & PERCA: UM CASO DE MUDANÇA LINGUÍSTICA EM CURSO?

RESULTADOS DA PESQUISA DE SATISFAÇÃO DO USUÁRIO EXTERNO COM A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO

A atual relevância do ensino do inglês jurídico nos cursos de graduação em Direito

3 Proposição de fórmula

======================== Œ œ»» Œ C7 ˆ_ ««G 7

NPQV Variável Educação Prof. Responsáv el : Ra ph a el B i c u d o

O P a pel da M ídia no C o ntro le da s P o lític a s de S a úde

9. MODELAGEM DE CONVERSORES: MODELO DA CHAVE PWM

CD CORAÇÃO DA NOIVA - 1. O SENHOR É BOM INTR:E D A/C# C7+ B E D A/C# O SENHOR É BOM C7+ B E SEU AMOR DURA PARA SEMPRE ELE É BOM...

SALMO 103/104-ENVIAI O VOSSO ESPÍRITO - BANDA

Alteração da seqüência de execução de instruções

tr EU H."i Ed <Ft En ,-t;dt.'j oa 5 F.> ?-.ES >.= ii EN -</9Fl _FU ca pla a- c)-e a-t- .Pi ce* ir. F. FT* te l^' ooo\ Q.a tr o^q Et C) slb Ca rr vti

CAPÍTULO 9 COORDENADAS POLARES

E v o lu ç ã o d o c o n c e i t o d e c i d a d a n i a. A n t o n i o P a i m

Adição dos antecedentes com os consequentes das duas razões

Eu só quero um xodó. Música na escola: exercício 14

Hymnarium von Mestre Irineu. O Cruzeirinho

Expressão Semi-Empírica da Energia de Ligação

Grafos. Luís Antunes. Grafos dirigidos. Grafos não dirigidos. Definição: Um grafo em que os ramos não são direccionados.

(22) Data do Depósito: 11/02/2015. (43) Data da Publicação: 24/01/2017

Semelhança e áreas 1,5

MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA INFORMÁTICA E COMPUTAÇÃO EIC0011 MATEMÁTICA DISCRETA

Apenas 5% dos Brasileiros sabem falar Inglês

1 Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL) 2 Instituto Superior de Agronomia Universidade de Lisboa

6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo

MONITORAMENTO DE INFORMAÇÃO

CD CIA DE JOÃO BATISTA - 1. PREPARAI O CAMINHO INTR: C9 SOMOS UM POVO CLAMANDO POR JESUS QUE VENHA O SEU REINO SOBRE NÓS

Escrito por {ga=aderito-caldeira} Quarta, 12 Dezembro :21 - Actualizado em Quarta, 12 Dezembro :58

Problema do Caixeiro Viajante. Solução força bruta. Problema do Caixeiro Viajante. Projeto e Análise de Algoritmos. Problema do Caixeiro Viajante

======================== ˆ_ ˆ«

TEMA 5 2º/3º ciclo. A LIndo de perguntas. saudável? Luísa, 15 anos

FOI DEUS QUEM FEZ VOCÊ

Projeto de extensão Judô Escolar certifica alunos da Escola de Ensino Básico Professor Mota Pires

BALIZA. Cor central.da PLAYMOBIL podes fazer passes. verde-claro curtos, passes longos e, até, rematar para com a nova função de rotação.

A caminho com Jesus Missa do Tempo Comum com crianças (Caderno de partituras) Coordenação: Ir. Miria T. Kolling

TOTAL PONTOS Nome: Data: / Hora: h m às h m Resolva os problemas e assinale a alternativa correspondente:

soluções sustentáveis soluções sustentáveis

Material Teórico - Módulo Triângulo Retângulo, Lei dos Senos e Cossenos, Poĺıgonos Regulares. Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo.

ESTADO DO MARANHÃO MINISTÉRIO PÚBLICO PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA a CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE MEIO AMBIENTE, URBANISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL

P L A N I F I C A Ç Ã O A M É D I O P R A Z O

Normalmente TI. padarias. Além. dormitórios. Assistência. Temos. Por. Nos. região. Nas

Teoria dos Grafos Aula 11

Associação de Resistores e Resistência Equivalente

ORION 6. Segunda Porta USB. Henry Equipamentos Eletrônicos e Sistemas Ltda.

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O P A R A N Á L E T Í C I A M A R I A G R O B É R I O

TOTAL PONTOS Nome: Data: / Hora: h m às h m Resolva os problemas e assinale a alternativa correspondente:

OLETIM COOPERATIVISTA

DIAGRAMA DE INTERLIGAÇÃO DE AUTOMAÇÃO EXXA -SL

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MORTÁGUA Geometria Ficha de Trabalho Nº 02 10º Ano

Primeira Prova de CTC-20 Estruturas Discretas 24/09/2009 Prof. Carlos Henrique Q. Forster

LEI n De 29 de abril de 2002.

+12V. 0.1uF/ 100V RL4 :A ULN2003A C3 3 U1:D LIGA/ DESLIGA CARREGADOR. 10uF/ 16V C2 4 1N4148 D1 1 1N K GND 10K BC337 R2 5 CRISTAL DE 2 0 MHZ

œ. bœ j œ œ œ œ œ œ œ œ nœ J œ œ bb œ Ó œ œ # œ œ œ œ œó œ œ œ

Questionário sobre o Ensino de Leitura

c.c. É a função que associa a cada x X(S) um número f(x) que deve satisfazer as seguintes propriedades:

UFS - DComp Adaptados a partir do material da Profa. Kenia Kodel Cox

FACULDADES UNIFICADAS DA. Curso de Direito Escritório de Assistência Jurídica Registro OAB 6614 DA F UNDAÇ Ã O EDUCACIONAL DE B ARRETOS

EM NOME DO PAI ====================== j ˆ«. ˆ««=======================

Transporte de solvente através de membranas: estado estacionário

Sinais e Sistemas Mecatrónicos

DIAGRAMA DE INTERLIGAÇÃO DE AUTOMAÇÃO NESS LRC MULTILINHAS C/ IHM

TOTAL PONTOS Nome: Data: / Hora: h m às h m Resolva os problemas e assinale a alternativa correspondente:

TOTAL PONTOS Nome: Data: / Hora: h m às h m Resolva os problemas e assinale a alternativa correspondente:

MATEMÁTICA A - 12o Ano Funções - Teorema de Bolzano Propostas de resolução

PSI-2432: Projeto e Implementação de Filtros Digitais Projeto Proposto: Conversor de taxas de amostragem

Ac esse o sit e w w w. d e ca c lu b.c om.br / es t u dos e f a ç a s u a insc riçã o cl ica nd o e m Pa r t i c i p e :

A DERIVADA DE UM INTEGRAL

1 Sm ª 13. Então, se dispôs Davi com os seus homens, uns seiscentos, saíram de Queila e se foram sem rumo certo. Ziclague

bl O\ o G o b< oppbo I do cto>- pc+> c x g o P. P P o F S G t r O P ' O P l t C t > B o t ' l o i d P g F l P P c f F E ", e, o B o ' r F o 0 P. t r P

AQUECEDORES & PRESSURIZADORES. AF114 Catalogo Aquecedores 2014 AB 400x200mm.indd 1 04/06/14 10:32

TERMO ADITIVO A CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2012/2013

Desse modo, podemos dizer que as forças que atuam sobre a partícula que forma o pêndulo simples são P 1, P 2 e T.

Fernando Nogueira Dualidade 1

& Q ^` % Q ^`. & Q.# .! 8 .! 10 % Q... .! 15 .! 12 % Q. .! 17 & Q -# .! 23 .! 27 .! 30. Ó Noite Santa

Classificação Periódica dos Elementos

R E DE MA IS VIDA R e de de A te nç ã o à S a úde do Ido s o

Aulas práticas: Introdução à álgebra geométrica

Transcrição:

Rvist Gogrfi (2013) R R vviist ist st st G o ogr grfi fi - vv.. 2, nnºº 2 ((2 200113) 3) POPULAÇÕES P OPULAÇÕES TRADICIONAIS TRADICIONAIS LITORÂNEAS: LITORÂNEAS: OM ODO D EV IDA CAIÇARA CA I ÇA R A MODO DE VIDA Vlsc V V l lsc sc Cmrgos C m C m rg rgos rg os s os s Sntos Sn ntto os Gógrf, G G óg ógr rf f, Espcilist f Es E sp pci ci c llis ist t m m Gogrfi Gog G gr fi G Gstão st s ão ão ot T Trritório rrrititór ório io (UFJF), (U UF FJJF F), ) M Mstr sstr tr m mg G Gogrfi og o grrfi fi ((Unicmp), Un U niccm mp p)), Profssor Prof Pr ofs ssso orr or Est Est Es o Mins M n Mi s Gris. G G rr iiss. E-mil: E--m E milil: il: vlscrvists@gmil.com. vv l l lsc sc rrv vvis ist is stt s@ s@gm s@ mi ll..co com. m. Rsumo R R su umo o Há H á grus gru ru up os tricionis tr tr iiccion io on n is is no no litorl lilitto or rl São São ão Pulo, P u ulo lo, Prná P P r rná ná n á Rio Rio o Jniro, Jn J n ir irro, o, os os ciçrs, ciç c iç rr ss, qu qu q u sirm ssu rgir iirrm m há há crc cc rc rc c 500 5 50 0 nos n noss prtir p pr rttiiirr r rti miscignção misscciig gn n çã çã ção ntr ntr n ttrr o uropu, u uro uro op pu, u, o inígn in níg ígn n o ngro. ng n ngr grro o.. Esss Ess sss sss s grus gru us s stblcrm stt s bl b b l lc lc crr rm um um um m fort ffo ort r lligção ig gçã ão com com o mio co m m io io m io m qu qu vivm qu vviivv m orgnizrm-s org or gn niiz izz rr r m m--ss socil, soc oci l, l, conômic co onô nôm miic ic c culturlmnt ccul ullttu u ult urlm r lm lmn n nt t m t m torno torno to torn rno rn fmíli fm mílíli s s tivis ttiv t ivi iv s s grícol, gr grícol ííc col ol, psquir, p ssqu qu iir r,, m m mnor mn no orr gru, gr ru u,, cç. cç c ç. Esss Es E sss s comunis co omu muni muni ni ni s stão sstã tão iminuin tão im i miinu nuiin n n form form fo rm progrssiv pr p rog ogrss rsssiv r iv,, r orr consquênci, con ons ons s qu quên ênci ênc ci, i,, os os sus ss us us us sbrs sb br r ss tricionis tr r iicciion io on ni is tmbém. t t mb mb m b bém ém. O prsnt ém pr pr prs ssn t trblho trr b blh ho xpõ xpõ x põ históri põ histó hi ssttór óri i simnto ssu gim imn nto to ss sss pulção, op p pul ullçção u o, su ssu u orgnizção org or gn niiz iz zçã çã ão socil sso soci oci cil l spcil sp sp ccci il os i os principis pri rinc ncipi ip pi is ftors ff to orr s qu qu cusm qu cc us us us usm m m su su u trnstr n nssformção ffo orm rmçção ão iminuição. im imiin nuiç uiççã ui ão. o. Prtn-s Prt r tt n n --s s qui qu qui contribuir cont co ntri ribu rib buiirr pr p rr ifusão iifu fusã são mo mo o vi vi i ciçr, cc iç içr r r,, qu qu u é tão tão ão rico ricco, o o msmo m m sm mo tm, tmp t tmp m, o, in iin n n uco u uco co conhci. con onh hci ci. Plvrs-chv: Ciçr, P P l ll v vrrs-c s s-c ch h v v : C Ciç iiçç rr,, mo mo o vi vi tricionl, tr tr ic icio icio on n l, ocupção ocu cup p çã ção litorân. liitto orâ rân ân n.. Abstrct Thr r tritionl groups on th cost of São Pulo, Prná n Rio Jniro, ciçrs, which ppr bout 500 yrs from th blning of Europn, inignous n blck. Ths groups hv stblish strong connction with th nvironmnt thy liv in n orgniz thmslvs socilly, conomiclly n culturlly roun fmily n griculturl ctivitis, fishing n, to lssr xtnt hunting. Ths communitis r crsing grully n thrfor lso thir tritionl knowlg. This ppr prsnts th story of th mrgnc of this pultion, thir socil orgniztion n spc n th min fctors tht cus clin n its trnsformtion. Th intntion hr is to contribut to th iffusion of ciçr wy of lif, which is so rich n t th sm tim, still littl known. Kywors: Ciçr, tritionl wy of lif, costl occuption Comunis tricionis ciçrs A humni pssou, s os sus primórios, r trnsformçõs qu lvrm o homm novs ptçõs usos spço, como no prío simnto gricultur, s primirs cis, Rvolução Inustril, rvolução cibrnétic outros. Ao longo sss vários procssos ptção homm o mio, s ifrnts crctrístics físics culturis fizrm com qu sss usos tivssm cont- www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013 ci forms istints m tms tmbém istintos. Pr Sntos (1997, p. 67), Em c momnto histórico os mos fzr são ifrnts, o trblho humno vi tornns c vz mis complxo xigin munçs corrsnnts às inovçõs. Atrvés s novs técnics vmos substituição um form trblho r outr, um configurção trritoril r outr. 1

Sntos, V. C. Um s momntos trnsformção vivis pl humni é globlizção qu, como s sb, é um fnômno munil, ms qu não ocorr n msm prorção m tos s prts plnt há vários lugrs on l nm chgou, o qu mostr qu rlção homm com o mio homm com o homm não contc com msm intnsi, hvn in pssos qu mntêm, msmo qu prcilmnt, os sus mos vi tricionis bss n psc rtsnl, n cç n gricultur r vzs subsistênci, n obsrvção s fnômnos nturz pr sbr o mlhor momnto pr plntr ou colhr, n utilizção s plnts rgião pr curr nçs, n crnç nos spíritos n su fort influênci n vi gru outros. Ao longo prt litorl brsiliro, há lgums pulçõs tricionis nomins ciçrs, qu in prsrvm prt su mo vi prticn psc rtsnl, gricultur subsistênci, o xtrtivismo vgtl, mnos frquntmnt, cç. Esss grus sociis, urnt su históri ocupção, stblcrm um profun rlção pnênci com os mbints à su volt isso fz com qu ls conquistssm tmbém um grn conhcimnto sobr sss msmos mbints, qu foi pss os mis novos in é prsrv m lguns ucos lugrs. Alguns grus humnos consguirm mntr ss rlção outros murm muito uco té os is tuis, como lgums comunis tricionis ciçrs. O trmo ciçr s originou tupi-gurni (cáiçr) qu, sgun Smpio, cit r Ams (2000, p. 103), signifi c homm litorl. Pr os grus inígns s quis scnm os ciçrs, ss trmo (cá, mto; içr, rmilh) r utiliz pr nominr s stcs colocs no ntorno s lis tmbém pr signr s rmilhs prouzis com glhos árvors pr pgr pixs nos rios ou crc pu--piqu construí o rr roç pr protgê-l nimis. Silv (2004, p. 49) complmnt xplicn qu o trmo ciçr rprsnt o pscr rgião cntro-sul brsilir, m prticulr qul qu hbit o litorl pulist. Com o tm, plvr ciçr pssou signifi cr cs plh construí pr brigr s cnos os instrumntos psc n bir rio ou no combro (trmo ciçr), qu são s uns qu mrcm o limit ntr pri trr fi rm. Os ciçrs trnsmitm os sus ivrsos sbrs um grção pr outr lém mntrm um fort ligção com Mt Atlântic, biom on ocorr prsnç sss comunis. Muits ls s mntivrm ssim m função um crto isolmnto m rlção o snvolvimnto urbno inustril isso grntiu qu su cultur foss uco ltr. Sgun Digus (2004, p. 22), A trição ciçr é ntni como um conjunto vlors, visão mun simbologis, tcnologis ptrimoniis, rlçõs sociis mrcs pl rciproci, sbrs ssocis o tm nturz, músic nçs ssocis à prioici s tivis trr mr, ligçõs ftivs forts o sítio à pri. Ess trição, hr s ntpsss, é constntmnt r-tuliz trnsmiti às novs grçõs pl orli. É r mio trição qu são uss s ctgoris tm spço é mint sss últims qu são intrprts os fnômnos nturis. S sss comunis form vlorizs su históri for prsrv, srão prsrvs com ls muitos sbrs ncssários pr comprnr mis profunmnt os cossistms mnguzis, rstings, pris, uns, stuários, foz rios, mrs intriors, mbints qu ocorrm ssocis à Mt Atlântic. D cor com Mnsno, cit r Digus (2005, p. 277), -s fi rmr qu, Visn comprnr como s constitui visão mun o mo vi s ciçrs, torn-s ncssário ir lém comprnsão s spctos gográfi cos étnicos trmo ir ncontro o cm simbólico mtril gr n rlção s ciçrs ntr si, nqunto gru socil, ls com o mio on vivm. Torn-s ncssário, ntão, ntrr nos spctos culturis lbors vivncis plos ciçrs. Atulmnt, xistm ucs árs no litorl brsiliro on ocorr prsnç pulçõs tricionis ou pulçõs qu gurm in prt s sus triçõs, como os ciçrs. À mi m qu s árs urbns s proximm s árs ocups plos ciçrs, ls cbm sofrn um grn influênci outros mos vi, o qu nm smpr é bnéfico, is ss infl uênci provocr um spéci gnocíio cultur tricionl, com mort m uco tm vlors sculrs connção sss pssos à flt lugr, is ls ixm prtncr o su lugr originl tmbém não consgum s ptr compltmnt o novo mo vi urbn. Sgun Sntos (2008, p. 328), 2 www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013

Populçõs Tricionis Litorâns: o mo Vi Ciçr Vir pr ci grn é, crtmnt, ixr trás um cultur hr pr s ncontrr com um outr. Qun o homm s front com um spço qu não juu crir, cuj históri sconhc, cuj mmóri lh é strnh, ss lugr é s um vigoros linção. Isso signific qu munç no mo vi imst r um trnsformção qu vm for fz com qu grus tricionis tnhm, o longo tm, qu bnnr os sus sbrs m troc sbrs um nov form vi ou ptá-los ls, o qu provocr um linção sobr si msmo, sobr qum é o gru no quê l s trnsformou. Os ciçrs vm su cultur, qu foi construí urnt tntos séculos, sucumbir mnir clr m nom um mo vi cpitlist qu não foi scolhi r ls, ms qu stão sn í insris grssivmnt. Sus trrs iminum, luição s águs prjuic psc, s lis mbintis qu são fits r quls qu sconhcm rli sss pulçõs lvm limitção trblho fom os mis jovns, qu não qurm lvr vi s pis, migrm pr s cis m busc mprgo stu. Em uco tm, os ciçrs frão prt mmóri históric o su conhcimnto não mis xistirá, ssim, srão pris sbrs prciosos sobr o mio on vivm. Históri simnto pulção ciçr A históri pulção ciçr tm origm no início Prío Colonil (século XVI XIX), mis prcismnt qun os bnirnts form m irção o intrior colôni prtir litorl sul tul Est São Pulo. Ess ntrmnto ocorru no século XVII s cis Cnnéi Igup s stcrm como imrtnts cntros pntrção trritório colôni trvés rio Ribir Igup prorcionou o ncontro, nqul rgião, brnco colonizr com o ínio. D cor com Quiroz, cit r Snchs (2004, p. 56), D mo grl, o vomnto Bix Ribir, spcilmnt o s árs mis istnts mis fsts s tuis cntros urbnos é rsultnt pntrção s colonos uropus trvés s vis fl uviis. O Ciclo Ouro (século XVIII) foi um prío histórico com intns minção s trritórios intriors r prt s colonizrs, is hvi ncssi xplorr ss rcurso minrl in grntir minção colôni. Os rtos Cnnéi Igup s sobrssim no scomnto ouro outros rcursos igulmnt imrtnts n éc, como rroz, cn--çúcr cfé. As primirs vils núclos ciçrs sirm n rgião litorl sul São Pulo ss pulção s formou pl mstiçgm brnco ínio, striormnt, pl prsnç ngro, splhn-s is r outrs árs litorâns São Pulo in tmbém pr o litorl Prná Rio Jniro. Silv, cit r Souz Brrll (2004, p. 117), luci qu o prío comprni ntr o século XVIII o início século XX foi mrc pl formção comunis tricionis litorâns pulists qu stblcrm tivi psquir como prt su conomi. Mrcílio (2005, p. 208) iz qu os inígns qu consguirm sobrvivr os msscrs ocorris no século XVI qu não fugirm pr o intrior trritório cbrm r ssimilr os novos mos vi trzis plos conquistrs, qu vinhm r mr, inicirm ns árs litorâns s sus primirs ocupçõs. Isso lvou o simnto ciçr, qu is tv o ngro insri nss miscignção. Em conformi com Snchs (2004, p. 56), Há cinco séculos, rtnto, como corrênci procsso colonizção no litorl sul pulist, formrm-s núclos pulcionis isols ou pquns vils n rgião Igup Cnnéi; os ciçrs s primirs céluls fmilirs nscrm ss contto ntr o uropu, o ínio o ngro. Ess contto s snvolvu no contxto um rlção irt profun com Florst Atlântic, ft plos ciclos conômicos rgionis. As comunis ciçrs ocorrm m três sts brsiliros: Rio Jniro, São Pulo Prná. No Rio Jniro, ls s ncontrm no litorl sul, n ár município Prty su ntorno. No st São Pulo, prsnç ciçr s á m to o su litorl, xctun-s hoj lguns ntos Bix Sntist m função vnç intnso procsso urbnizção qu contc í qu fz com qu muitos ciçrs fossm morr ns cis ou migrssm pr outros lugrs. No Prná, os ciçrs ocupm um pqun rção litorl nort mntêm um strit rlção com os ciçrs litorl sul pulist. O litorl sul São Pulo, stcn-s os municípios Cnnéi, Ilh Compri Igup, é rgião qu ssui mior númro ciçrs tulmnt, msmo sn um númro muito pquno pssos. Sgun Mnol Olivir Lisbo, mis conhci r Su Nzinho vic-prfito Ilh Compri n gstão 2008 2012, st município cont hoj com crc 200 ciçrs. www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013 3

Sntos, V. C. O qu xplic o splhmnto sss comunis litorl São Pulo pr o litorl Prná Rio Jniro são s tivis xrcis r ls. A psc, gricultur colt frutos os fi zrm mplir su ár infl uênci m função ncssi tr bons lugrs pr o plntio bos árs pr psc. Mrcílio (2005, p. 208) mostr qu ss ocupção foi sn os ucos splh, ms os grus mntivrm como uni lmntr básic o gru méstico. Em lguns trchos ss litorl, hvi lgums concntrçõs miors o rto, r on sím os pscrs, igrj sí trrstr rm lugrs ligção ntr sss comunis. Ess isprsão cbou s tornn um crctrístic spcil mrcnt s ciçrs. É imrtnt rssltr qu ss splhmnto não foi fito form contínu, ou sj, ocupção trritório litorâno plos grus ciçrs não é inintrrupto, hvn núclos pulçõs sprss qu têm o msmo mo vi, rém com prticulris rgionis. A orgnizção socil spcil ciçr Pr os ciçrs, trr não tm vlor propri nto vist mo proução cpitlist. Pr ls, trr é consir um lugr mori, proução pr sobrvivênci rproução s sus mnifstçõs culturis. A ii no trr pr o ciçr signific qul qu primiro briu ár cultivou o lugr, quirin o irito o su uso trnsmitin-o às grçõs sguints. Snchs (2004, p. 95) sclrc qu O concito propri trr inxist no univrso cultur ciçr, tl como fi ni n soci cpitlist. A trr smpr foi um lugr mori, proução rproução socioculturl não um bm ou rsrv vlor comrcil, ou sj, trr trblho não spculção. Entr s fmílis ciçrs, não há limit ntr s trrs qu trmin on comç o trrno um on trmin o trrno outr fmíli, como muros ou crcs. A trr é ss um fmíli, qu hru r cont xistênci s lços prntsco, cs prtnc à fmíli nuclr. Alguns lugrs ns trrs ciçrs são sgrs pssr r li só é prmiti pr pssos outrs fmílis qun o chf cs conc prmissão. Portnto, o snti ssuir um trmin trr smpr stv lig o vlor histórico, mmoril, ftivo sobrvivênci xistnt no cotiino s ciçrs. Conform xplic Stti, cit r Silv (2004, p. 58), Em grl, o ciçr não cumul bns. Até 1954, qun s iniciou m Ubtub corri trrs, qu nts ss éc não prsntvm nnhum vlor spcil, viv trnquilo m su trrno ou ss; ninguém isputv su trr l não s v cont vlor qu st ri vir tr. Pscv plntv o sufi cint pr comr. A uni trritoril ciçr é nomin sítio, ou birro m lguns lugrs, é on o inivíuo viv com su fmíli, fz su roç, stblc o su rto mntém comunicção com s mis fmílis r trilhs ou r vi quátic, com sus cnos. A uni mior é vil, on stão loclizs vn, igrj scol. Ess rlção ntr s comunis smpr foi xprss pl soliri os mutirõs s fzm prsnts ns ivrss tivis, como n construção css, brtur roç n istribuição xcnt grícol psc. Conform xprss Digus (2005, p. 296), Ess soliri não tinh somnt função proutiv, ms fcilitv o contto ntr os vizinhos, stritv os lços sociis, prmiti troc informçõs msmo, às vzs, nmoros csmntos. Isso mostr qu s rlçõs sociis form construís prtir lços íntimos prntsco vizinhnç qu, r su vz, promovrm grnti subsistênci sss pulçõs. Pr qu sss los fossm stblcis, concpção trr não sr trt como ss priv foi funmntl imrtânci. Isso propiciou sss pssos utonomi scolhr os mlhors lugrs pr plntrm consolirm sus fmílis. À mi qu fmíli umntv ou outrs vinhm s firmr li, s rlçõs vizinhnç s mplivm s fortlcim, n r origm vils ciçrs. No momnto fi nir um ár pr plntr vivr, o ciçr prcisv sbr s li não tinh outr fmíli stblci. A trr, n cultur ciçr, prtnc à fmíli qu primiro chgou briu roç o irito l smpr foi clro ntr os ciçrs, msmo int propri nto vist juríico tuli. Entr s css mis próxims, smpr form rspits s árs circulção, qu funcionvm como corrrs pr qu s pssos pussm trnsitr sm obstáculos. Um ár cntrl grn, n frnt s 4 www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013

Populçõs Tricionis Litorâns: o mo Vi Ciçr css, r mnti pr qu os ciçrs s runissm m momntos pr convrsr, comprtilhr s lgris tristzs, fi nir csmntos flr sobr psc. Erm instnts rlxmnto, lzr socilizção. Entr s muits forms rlção socil, stcm-s, lém vizinhnç, prtilh, cmrgm o mutirão, tmbém conhci como puxirão. A prtilh r fit prtir ivisão xcnt grícol, psquiro, r vzs, cç. A cmrgm contci ntr pssos mis próxims, n sr msm fmíli ou não, r fit com o objtivo uxilir m um tivi, como cç. O mutirão contci in contc n hor colhit construção rpro hbitçõs prticipvm homns, mulhrs crinçs. O no roç ou cs fi cv rsnsávl r forncr o limnto às pssos prsnts tmbém r orgnizr fst no fi nl i, fst ss conhci como fnngo, qu não tinh hor pr cbr. Um form mnor mutirão r o jutório, qun pns ucos vizinhos prticipvm. Tnto no mutirão qunto no jutório, o pgmnto plo trblho r o fnngo. Snchs (2004, p. 102) coloc qu, grlmnt, os mutirõs rm orgnizs um ou us vzs r no m c vo, com o pssr s tms, o jutório s tornou mis frqunt o mutirão fi cou mis rro r cus su custo iminuição s prátics grícols. Por consquênci, o fnngo tmbém s tornou mis rro, fi cn tulmnt prticmnt rstrito às prsntçõs pr turists m lgums ucs comunis, como m Cnnéi, on há xibiçõs os mingos à noit m um prç cntrl ci. O mo vi tricionl ciçr vm s trnsformn são muitos os ftors qu contribum pr isso. A xpnsão urbn spculção imobiliári infl uncim crim um nov orm spcil, luição torn psc mis ifícil fz com qu hj ncssi ncontrr outrs forms obtr limnto crição unis consrvção troux lis mbintis qu tornrm lgums prátics proibis, como rrub trchos Mt Atlântic pr fzr roç ou pr usr mir n construção s css, mbrcçõs, rmos instrumntos musicis ciçrs. Esss munçs fzm com qu muitos s sbrs construís o longo séculos sjm substituís r outros qu vêm for. Muitos jovns não qurm mis pscr prfrm stur ou trblhr com outrs tivis, como csiros. As css, nts fits mir, pssrm sr construís lvnri os mutirõs, típicos no lvntmnto s css, qus não contcm mis, is ss trblho pssou sr fito r priros o fnngo, nts tão imrtnt, foi troc plo pgmnto m mo corrnt. As árs comuns ntr s hbitçõs ciçrs vêm sn mrcs crcs. Os brcos mir gor são fitos outros mtriis, como lumínio ou fi br viro, usm o motor no lugr s rmos. Dint isso, sss conhcimntos, nts funmntis pr sobrvivênci gru, prrm rlvânci os ciçrs mis vlhos rst hoj o susismo s bons tms psc, s fsts fmíli como cntro sus vis. Consirçõs Finis As comunis ciçrs construírm su conhcimnto su mo vi o longo séculos trvés um intns ligção com o mio m qu vivm. Sus rlçõs sociis são, o msmo tm, complxs simpls fmíli smpr foi o cntro orgnizção socil, conômic culturl sss pssos. A pnênci com o mio smpr foi xtrm, r isso, os ciçrs cbrm quirin um vsto sbr crc funcionmnto s cossistms m qu stão insris. Conhcê-los smpr foi funmntl pr grntir sobrvivênci sss pulçõs. Esss sbrs não são uss somnt pr slvgurr o limntos s mmbros gru, ms tmbém s mnifstm culturlmnt m fsts m momntos lzr. Prt sss grus bsorvrm outros mos vi bnnrm muits s sus prátics cotiins, ixn pr trás tmbém o conhcimnto sobr o mbint à su volt. O rgim s mrés, irção intnsi s vntos, s fss Lu, o comrtmnto vs, migrção pixs crustácos, os mitos s crnçs rligioss, tulmnt, qus não são trnsmitis os inivíuos mis novos rqu não há mis ncssi tmbém rqu os jovns não s intrssm r ss conhcimnto. À vist isso, é prciso conhcr mlhor o mo vi ciçr pr qu, ssim, ss hvr um mior vlorizção su cultur não só pls pssos qu não fzm prt sss grus, ms tmbém r sus próprios mmbros pr qu inti ciçr, o sntir-s sr ciçr não s prcm fi nitivmnt. Por consguint, s sss sbrs form mlhor ntnis, rão jur tmbém comprnr in mis os ifrnts cossistms qu stão ssocis à Mt Atlântic, como mnguzis, pris, rstings outros, própri históri ocupção trritório formção pulção brsilir s utilizs m conjunção com o conhcimnto cintífi co cêmico. www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013 5

Sntos, V. C. Rfrêncis Bibliográfics ADAMS, Cristin. Ciçrs n mt Atlântic, psquis cintífic vrsus plnjmnto gstão mbintl. São Pulo: Annblum, Fpsp, 2000. 336 p. DIEGUES, Crlos Antônio. A munç como molo culturl: o cso cultur ciçr urbnizção. In: DIEGUES, Crlos Antônio. Enciclopéi Ciçr. São Pulo: Hucitc, v. 1, 2004. p. 21 48.. Esboço históri cológic socil ciçr. In: DIEGUES, Antônio Crlos. Enciclopéi Ciçr. São Pulo: Hucitc, v. 4, 2005. p. 273 319. MARCÍLIO, Mri Luiz. Ciçr: trr pulção, stu mogrfi históric históri socil Ubtub. In: DIEGUES, Antônio Crlos. Enciclopéi Ciçr. São Pulo: Hucitc, v. 4, 2005. p. 199 220. SANCHES, Rosly Alvim. Ciçrs stção cológic Juréi-Ittins, litorl sul São Pulo. São Pulo: Annblum, Fpsp, 2004. 207 p. SANTOS, Milton. Mtmorfoss spço hbit. São Pulo: Hucitc, 1997. 124 p.. A nturz spço hbit: técnic tm, rzão moção. São Pulo: Eusp, 2008. 384 p. SILVA, Luiz Grl. D trr o mr: r um tnogrfi históric mun ciçr. In: DIEGUES, Antônio Crlos (Org.). Enciclopéi Ciçr. São Pulo: Hucitc, v. 1, 2004. p. 49 70. SOUZA, Miln Rmirs; BARELLA, Wltr. Etnoictiologi pscrs rtsnis Estção Ecológic Juréi- Ittins (São Pulo, Brsil). In: DIEGUES, Antônio Crlos (Org.). Enciclopéi Ciçr. São Pulo: Hucitc, v. 1, 2004. p. 117 131. 6 www.ufjf.br/rvistgogrfi - v.2, n.2, p.1-6, 2013