Escola Superior de Administração, Direito e Economia ESADE Curso Superior de Administração Gestão do Comércio Internacional AS IDEIAS E OS IDEAIS NA ECONOMIA: OS REFLEXOS DOS CONFLITOS IDEOLÓGICOS NA ECONOMIA MUNDIAL Aluna: Bianca de Oliveira Corrêa Prof.: Alex Caiel Os avanços sociais e econômicos resultantes do processo de globalização mundial verificado neste início de século proporcionam eventos sociológicos interessantes em relação às posições ideológicas de determinadas sociedades quando confrontadas às suas relações comerciais internacionais. Teriam os países as mesmas posições no cenário econômico mundial se transferissem para a economia suas ideologias políticosociais? Para entender a amplitude dessas convergências de interesses ideológicos e econômicos é necessário antes compreender alguns conceitos relevantes relacionados à organização política e econômica adotada por alguns países: capitalismo, comunismo e socialismo. O capitalismo é um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos. O Estado é um ator regulador neste sistema, embora ainda hoje haja controvérsia sobre os limites desta atuação em um cenário de relações globalizadas e, principalmente, em sociedades democráticas. O Comunismo é uma ideologia política e econômica que preconiza uma sociedade sem classes, sem Estado, livre, onde o processo decisório político e econômico estaria sob responsabilidade de todo e qualquer membro da sociedade. O Socialismo, por sua vez, é uma teoria de organização econômica em que a sociedade é caracterizada pela igualdade de oportunidades e de acesso aos meios de produção para todos os indivíduos, priorizando o público sobre o privado. Para Karl Marx, o socialismo seria uma fase intermediária entre o capitalismo e o comunismo. Atualmente, em um cenário globalizado, algumas sociedades ainda cultivam o modo de vida socialista: Coreia do Norte, Vietnã, Cuba, Líbia, Laos, Bielorrússia, Venezuela e China. Nesses países, o Estado possui controle sobre quase todos os
setores cultura, comunicação, economia, política limitando a atuação da sociedade civil sobre questões menos relevantes e, ainda assim, sob supervisão e controle. Entretanto é notável que nas relações comerciais alguns países minimizam essas diferenças ideológicas em favor dos interesses econômicos. Os dois maiores exemplos destas posturas de preservação e abertura são Cuba e China. Cuba, país hoje presidido por Raul Castro, irmão de Fidel Castro, que se manteve no poder à frente daquele país por cerca de meia década, sob um regime ditatorial militar, sofre hoje com as sanções econômicas de países como Estados Unidos, com quem trava longa disputa por divergências históricas datadas de 1959, data da Revolução Cubana. As relações comerciais com outros países afetaram Cuba, principalmente em razão do embargo comercial à ilha imposto pelos EUA e seus aliados (na Assembleia Geral da ONU em 2007, apenas 4 dos 188 membros não condenaram as sanções). Hoje Cuba tem seu parque industrial obsoleto em razão dos embargos e da posição socialista radical em evitar negociações com países de ideologia política voltada ao capitalismo, abominado pelo governo ditatorial militar, principalmente pela abertura democrática que incentiva e pela perda do poder de controle do Estado que este tipo de sociedade prevê em seu escopo. De toda forma, não se pode deixar de admitir que a postura de Raul seja bastante mais flexível que a de seu irmão e antecessor, Fidel. Hoje Cuba inicia relações comerciais com outras nações e mesmo importações triviais como a de CD s, antes proibidas hoje já são permitidas no país. Em contraposição tem-se a China, vista hoje como grande propulsora das relações internacionais sobretudo pelo destaque no cenário econômico atual em que os países capitalistas sofrem com o revés da economia globalizada. Embora do ponto de vista politico e cultural a China hoje seja considerada uma das mais repressoras sociedades, comercialmente é inegável que a tendência à negociação já manifesta desde a época do mercantilismo é natural daquele povo. O governo da China socialista reprime manifestações públicas de oposição ou mesmo que façam menção a eventos em que a supremacia do governo chinês possa ser questionada, como recentemente aconteceu com as iniciativas de lembrança do famoso episódio do massacre da Praça Celestial ocorrido há 23 anos naquele país. Páginas de internet são bloqueadas ou monitoradas com o objetivo de identificar e punir opositores ou ainda aqueles que incentivem a democracia em seu sentido amplo (interferência dos cidadãos no modo de vida social). Ainda assim, a China vinha superando com ampla vantagem o crescimento anual de países ditos de primeiro mundo, desenvolvidos, poderosos e democráticos, como EUA,
França e Alemanha. Somente no último anos essas surpreendentes taxas de crescimento foram comprometidas, graças a um dos principais reflexos da economia globalizada em que uma economia (ou um bloco econômico) em crise afeta toda uma cadeia de fornecedores e compradores. Por falar em fornecimento, grande parte dessa alavancagem do crescimento da China foi impulsionada pelas suas relações comerciais internacionais. Embora socialista em sua ideologia, a China exerce magistralmente as premissas do capitalismo: o cumprimento da lei da oferta e da demanda com objetivo de otimização do lucro. Embora a idéia de blocos econômicos tenha equivocadamente sido associada a proximidade geográficas, a China expande parcerias por todo o globo e, mais recentemente, negocia com o Mercosul para oficializar a sua significativa participação na balança comercial dos países latinos, entre eles o Brasil. É de se perguntar realmente que socialismo é esse que em função dos interesses econômicos e da busca por mais investimentos (que evidentemente se traduzem em investimentos populares, mas que não têm aparentemente esse cunho na sociedade chinesa), se rende à lógica capitalista da negociação, por vezes selvagem, em busca do maior lucro possível, atropelando inclusive a sustentabilidade do sistema econômico e social de outros países. Encontramos explicações na literatura de comercio internacional, como a de Faro (2010) ao elencar alguns fatores constitutivos do processo de aproximação econômica global observada na transição do século XX para o século XXI. O autor menciona que o afloramento dos ideais neoliberais impulsionou o processo de desregulamentação da economia em nível global. Pode-se entender que este movimento tenha feito com que, na fuga do isolamento comercial que poderia levar à obsolescência e falta de competitividade, muitos países socialistas tenham se rendido à lógica do capital, pelo menos em parte, para não terminar como Cuba, por exemplo: falida e fadada ao sucateamento de sua indústria. O autor também comenta a necessidade de expansão dos mercados com o objetivo de minimizar dependências econômicas. Já imaginaram um país ou setor cuja dependência fosse o mercado grego neste biênio 2011-2012? Era de se esperar que enfrentasse terríveis dificuldades. Talvez até insuperáveis. Outra relação verificada na literatura é levantada pelo Banco Mundial (2003) ao contrapor os efeitos da globalização dos mercados e a incidência de guerras internacionais. Embora fosse defendida como fator de diminuição das probabilidades de guerras internacionais ao diminuir a tendência de confronto entre países parceiros, a globalização não neutraliza a incidência de guerras civis, essas, sim, grande causadora
de conflitos violentos e, em grande parte, relacionadas a conflitos ideológicos. Embora esses sejam dois enfoques importantes para a compreensão da importância dos movimentos ideológicos nas relações comerciais internacionais, um terceiro talvez seja ainda mais significativo neste sentido: o enfoque sobre o desenvolvimento. Na organização de Barret-Ducrocq (2004), fica evidente que a sobreposição dos interesses econômicos em relação aos sociais causam distorções capazes de por em xeque a validade do desenvolvimento capitalista e reacender a chama comunista presente no socialismo. No entanto, quando presenciamos posições socialistas que se rendem ao poder do capital, podemos temer uma homogeneização nociva dos padrões de busca pela liderança comercial advinda do poder competitivo que subjuga sociedades mais pobres ou que tenham menos recursos a oferecer na construção da riqueza dos demais. É preciso repensar as ideologias e os ideais econômicos sob um prisma de sustentabilidade que permite, não a um ou dois blocos econômicos, mas a uma maioria de sociedades o seu desenvolvimento político, cultural, econômico e social.
BIBLIOGRAFIA BANCO MUNDIAL. Globalização, crescimento e pobreza: A visão do Banco Mundial sobre os efeitos da globalização. Tradução de Melissa Kassner. São Paulo: Futura, 2003. 223 p. BARRET-DUCROCQ, Françoise(Org.). Globalização para quem?: uma discussão sobre os rumos da globalização. Tradução de Joana Angeliza D'Avila Melo. São Paulo: Futura, 2004. 352 p. DIAS, Reinaldo (Org.) et al. Comércio exterior: teoria e gestão. São Paulo: Atlas, 2007. 404 p. FARO, Ricardo; FARO, Fátima. Competitividade no comércio internacional: acesso das empresas brasileiras aos mercados globais. São Paulo: Atlas, 2010. 250 p. NAISBITT, John. Paradoxo global: quanto maior a economia mundial, mais poderosos são so seus protagonistas menores: nações, empresas e indivíduos. Tradução Ivo Korytovski. Rio de Janeiro: Campus, 1994. 331 p. SABA,Sérgio. Comércio Internacional e Política Externa Brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. 240 p. SALVATORE, Dominick. Introdução à economia internacional. Rio de Janeiro: LTC, 2007. 338 p.