Palavras chave: Parque. Unidades de Conservação. Brasil. SNUC.



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Transcrição:

EVOLUÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO NACIONAL * Ana Paula Archanjo Batarce UEMS UFGD FINAV aparchanjo@terra.com.br O presente artigo é parte do resultado das pesquisas realizadas para elaboração da dissertação de mestrado intitulada Unidades de Conservação e Produção do Espaço O Parque Nacional da Serra da Bodoquena e tem o objetivo de evidenciar o processo de sistematização das Unidades de Conservação no Brasil, onde através de dados históricos adquiridos em diferentes obras, conjuntamente com dados fornecidos pelo IBAMA pode-se elaborar o levantamento histórico da implementação das Unidades de Conservação no contexto nacional. Veremos que no Brasil as primeiras manifestações de defesa das áreas naturais com belezas cênicas, acontecem na mesma década da criação do primeiro Parque Nacional, Yellowstone nos Estados Unidos da América no final do século XIX. É de conhecimento corrente a importância do meio ambiente para a sobrevivência da humanidade. Neste sentido o homem busca o retorno a natureza e é nesta perspectiva que surgem os Parques Nacionais. Mas as Unidades de Conservação sistematizadas em um projeto de lei no Brasil surgirão em um contexto histórico posterior. O processo de expansão das Unidades de Conservação brasileira foi demorado. Apenas na década de 1950, o processo de criação das Unidades de Conservação é retomado novamente, no entanto é com a instauração da LEI Nº 9.985, de 18 de JULHO DE 2000, o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza) que as Unidades de Conservação passam a ter regras de organização e com isso tornam-se relevantes. Palavras chave: Parque. Unidades de Conservação. Brasil. SNUC. No Brasil, o primeiro Parque Nacional fundado foi o do Itatiaia no Rio de Janeiro, em 1937, com o propósito de incentivar a pesquisa científica e oferecer lazer às populações urbanas. Alberto Löfgren foi o botânico que fez essa proposta inicial, em 1913. Esse Parque foi criado pelo 9º artigo do Código Florestal, aprovado em 1934, que definiu Parques 1

Nacionais como monumentos públicos naturais que perpetuam, em sua composição florística primitiva, trechos do país que por circunstâncias peculiares o mereçam (apud Diegues, 2001, p.114). Posteriormente, surgiram outros Parques com o objetivo de preservar o meio ambiente. Os Parques Nacionais e categorias similares no Brasil são áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas de atributos naturais excepcionais, devendo possuir atrações significativas para o público, oferecendo oportunidade de recreação e educação ambiental. Em setembro de 1944, pelo decreto n º 16.677, atribuiu-se à competência do Serviço Florestal, criado em 1921, o encargo de orientar, fiscalizar, coordenar e elaborar programas de trabalho para os Parques Nacionais, da mesma forma como se estabeleceram nos objetivos dos Parques Nacionais: conservar para fins científicos, educativos, estéticos e recreativos as áreas sob sua jurisdição; promover estudos da flora, fauna e geologia das respectivas regiões; organizar museus e herbários regionais. O processo de expansão dos Parques Nacionais brasileiros foi demorado. Na década de 1930, foram criados os três primeiros Parques: o do Itatiaia no Rio de Janeiro, o da Serra dos Órgãos também no Rio de Janeiro e o do Iguaçu no Sul do país. E, somente na década de 1950, o processo de criação de Unidades de Conservação é retomado novamente. Até o final da década de cinqüenta, as regiões sudeste e sul, as mais populosas e urbanizadas do país, receberam a maioria dos Parques Nacionais. Apenas a partir da década de sessenta, com a expansão da fronteira agrícola e a destruição da floresta, é que os outros Estados passaram a criar Parques. De 1959 a 1961, foram criados doze Parques Nacionais, três deles no Estado de Goiás e um no Distrito Federal.(ver gráfico I). 2

Fonte: Guia do Chefe - IBAMA Organização Ana Paula A. Batarce O ano de 1965 merece destaque, pois em apenas um ano foram criados quinze Parques Nacionais e quatro Reservas Biológicas. A definição de Parques proposta pelo novo Código Florestal é: os Parques Nacionais são áreas criadas com a finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais com utilização para objetivos educacionais, recreativos e científicos. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF - é criado em 28 de fevereiro de 1967, com o decreto nº 289, conferindo-lhe a responsabilidade da administração das Unidades de Conservação. Em 1973, a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente Federal) também passa a fazer parte deste processo de implantação e administração das Unidades de Conservação. Esse órgão federal era comprometido com o desmatamento de grandes áreas de florestas naturais para implantação de projetos de reflorestamento para fins industriais. Com a expansão da fronteira agrícola na Amazônia, surge a preocupação científica e ambiental com o desmatamento acelerado da floresta amazônica, assim surgem Unidades de Conservação de grande importância para esta região. Tanto que o Programa de Integração Nacional (PIN) propôs, em 1970, quinze pólos de desenvolvimento na região e a criação de 3

Unidades de Conservação. Em 1974, foi criado o Parque Nacional da Amazônia, em Itaituba, com 1.000.000 hectares. Em 1979, criou-se O PARNA do Pico da Neblina (AM), o PARNA dos Pacaás Novos (RO) e o PARNA da Serra da Capivara (PI). Ao mesmo tempo, no ano de 1979, instituiu-se o regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros, seguindo as recomendações da reunião realizada em Nova Déli, em 1969. Sendo assim, os Parques Nacionais surgiram com o decreto 84.017 de 21/09/1979 que diz: São reconhecidos como Parques Nacionais, áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação permanente, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilidade no seu todo. Os Parques Nacionais destinam-se a fins científicos, culturais, educativos e recreativos; criados e administrados pelo Governo Federal, constituem bens da União destinados ao uso comum do povo, cabendo às autoridades, motivadas pelas razões de sua criação, preservá-los e mantê-los intocáveis. O objetivo principal do reconhecimento de um Parque Nacional reside na preservação dos ecossistemas naturais englobados contra quaisquer alterações que os desvirtuem. Os Parques Nacionais pertencem ao grupo de Unidades de Conservação de proteção integral, com o objetivo de preservar integralmente áreas naturais que possuem importantes características ecológicas, culturais, educativas e recreativas, que possuem beleza cênica, já que são fundamentais para o estudo científico. Nas Unidades de Conservação de Proteção Integral não é permitido promover alterações no meio ambiente nem interferência humana direta. Nessas Unidades são executadas medidas de recuperação de seus sistemas alterados e ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos naturais, segundo o que estiver estabelecido em seu plano de manejo. Veja o mapa 1 a seguir. O IBDF, também em 1979, elaborou o Plano de Sistema de Unidades de Conservação no Brasil, que tem como objetivo principal o estudo detalhado das regiões propostas como prioritárias para a implantação de novas unidades, assim como rever as categorias de manejo até então existentes, no caso os Parques Nacionais e Reservas 4

Biológicas, pois estas eram consideradas insuficientes para cobrir os vários objetivos propostos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBAMA - foi criado em 1989. A este órgão federal concedeu-se a responsabilidade do estabelecimento e administração das Unidades de Conservação. No mesmo ano de sua criação, o IBAMA requisitou a Funatura, organização não governamental (ONG), que fizesse uma reavaliação do Plano de Sistema de Unidades de Conservação estabelecido em 1979. A proposta elaborada partiu dos mesmos princípios que nortearam o estabelecimento de Unidades de Conservação nos países industrializados, sem dar importância para a especificidade existente em países pobres e tropicais como o Brasil. O IBDF, também em 1979, elaborou o Plano de Sistema de Unidades de Conservação no Brasil, que tem como objetivo principal o estudo detalhado das regiões propostas como prioritárias para a implantação de novas unidades, assim como rever as categorias de manejo até então existentes, no caso os Parques Nacionais e Reservas Biológicas, pois estas eram consideradas insuficientes para cobrir os vários objetivos propostos. Em 1992, foi enviada ao Congresso Nacional uma nova proposta do SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO SNUC que em seu plano refletia a visão conservadora da questão da conservação ambiental no Brasil. Segundo Diegues (2001, p.118), o SNUC é um sistema fechado isolado da realidade do espaço total brasileiro, que tem sido amplamente degradado e mal desenvolvido há décadas. Pois as Unidades de Conservação ainda são olhadas como ilhas de isolamento que não mantêm contato com as populações locais, não têm contato com o seu entorno. Não são considerados os aspectos sociais na implantação de qualquer Unidade e o processo de fiscalização de áreas que normalmente abrangem milhares de hectares não é uma tarefa fácil, por isso é um sistema fechado isolado da realidade do espaço. Portanto, conservado porque não rompe com a idéia de natureza separada da sociedade e isola áreas ditas naturais. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, instaura-se como LEI Nº 9.985, de 18 de JULHO DE 2000. A legislação regulamenta o artigo 225, 1º, incisos I, II, III e VI da Constituição Federal e define Unidade de Conservação como: 5

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regimes especiais de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. A partir dessa Lei, as Unidades de Conservação passam a ter regras de organização. A sociedade pode participar em todos os níveis, inclusive na elaboração do plano de manejo. A proposta reduz de 40 para apenas 12 tipos de Unidades de Conservação, que são separadas em duas categorias: as de proteção integral e as de uso sustentável. As Unidades de Conservação de proteção Integral definem-se, segundo a Lei, com objetivos de manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferências humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. Entende-se por uso indireto aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais. Classificam-se como: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. As Unidades de Conservação de uso sustentável caracterizam-se pela exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos de forma socialmente justa e economicamente viável, classificam-se como: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; Reserva Particular do Patrimônio Natural. Observe na figura abaixo(fig. I) a evolução do aparecimento das Unidades de Conservação no Brasil. Figura1 Evolução das Unidades de Conservação no Brasil 6

7

Fonte www.ibama.br site visitado em Janeiro de 2004. Aliando essas informações (Fig. I) com os dados do Gráfico I, verifica-se que a década de oitenta merece destaque pelo número de PARNAS criados até então. No entanto, não é uma realidade apenas brasileira, é uma realidade mundial, veja a tabela a seguir. Tabela I - Número de Áreas Protegidas Criadas por Década no Brasil e no Mundo No Mundo No Brasil Antes de 1900 37 0 1930 a 1939 251 3 1940 a 1949 119 0 1950 a 1959 319 3 1960 a 1969 573 8 1970 a 1979 1317 11 1980 a 1989 781 58 Fonte: Reid e Miller, 1989. Ibama, 1989 (estão incluídos Parque Nacionais, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, em nível federal somente). Nota-se, na tabela I, que as décadas de 1970 e 1980 são marcadas pelo aumento das Unidades de Conservação, o qual ocorre pela crescente idéia do desenvolvimento sustentável, que nada mais é que uma nova forma do sistema produtivo se manter vigente. O próprio sistema percebe que a natureza é um fator limitante para o seu desenvolvimento e que, para ultrapassar esse limite, é necessário um desenvolvimento equilibrado que garanta a continuidade das formas de vida, pregando o desenvolvimento econômico, a equidade social e a preservação ambiental. Mas, como se pode desenvolver economicamente de maneira equilibrada? A equidade social existe? Será que a preservação ambiental através das Unidades de Conservação realmente funciona? Atinge os seus objetivos de preservar para as futuras gerações? E as contradições em relação a ideologia do desenvolvimento sustentável, pois, é possível o desenvolvimento e a conservação ao mesmo tempo? Como isso é possível, se para um país desenvolver economicamente precisa dos elementos da natureza, da matéria prima? E a conservação onde fica, se o mais importante para o sistema capitalista de produção é o lucro? As séries de questionamentos não tem respostas definitivas, mas o esforço em tentar responde-lás, certamente um esforço coletivo é provavelmente a única forma de confrontar o que esta colocado. 8

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