Eduardo Bicalho Cota Graduado em Educação Física pelo Unileste-MG



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Transcrição:

COMPARAÇÃO DA POTÊNCIA ANAERÓBICA EM JOGADORES DE FUTEBOL DE MEIO DE CAMPO EM RELAÇÃO A ZAGUEIROS E ATACANTES DA ASSOCIAÇÃO ESPORTIVA E RECREATIVA USIPA NA CIDADE DE IPATINGA - MG ATRAVÉS DO TESTE DE WINGATE Eduardo Bicalho Cota Graduado em Educação Física pelo Unileste-MG Carlos Augusto Porcaro Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília Docente do Unileste-MG cporcaro@hotmail.com RESUMO Este estudo teve com objetivo a comparação da potência anaeróbica em jogadores de futebol de meio de campo em relação à zagueiros e atacantes da Associação Esportiva e Recreativa Usipa na cidade de Ipatinga - MG através do teste de Wingate. Foram coletados dos atletas o peso e a altura para estipulação da carga a ser utilizada no teste, e as medidas das dobras cutâneas da equação de Slaughter (subescapular e triciptal) para obtenção do percentual de gordura corporal. Utilizou-se o teste anaeróbico de Wingate de duração de 30 segundos, no qual o atleta avaliado teria que pedalar o maior número possível de vezes contra uma resistência fixa estipulada em 7% do seu peso corporal, objetivando gerar a maior potência possível nesse período de tempo. Foram avaliadas a potência média que é gerada durante os trinta segundos do teste, a potência absoluta que é a maior potência gerada entre três e cinco segundos e a potência relativa que é expressa em relação à massa corporal, permitindo a comparação entre sujeitos de diferentes massas corporais. O teste proporcionou também a avaliação do índice de fadiga, o qual informou a queda de desempenho durante o teste. Para comparar as médias entre os grupos de atacantes, zagueiros e meio campistas, foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes, quando os pressupostos para sua utilização (normalidade dos dados) foram cumpridos. Para as variáveis que não obedeciam a uma distribuição normal, foi utilizado o teste não-paramétrico Mann-Whitney para amostras independentes. Através do tratamento estatístico, mostrou-se que não houve diferença estatisticamente significativa dos valores médios de watts absolutos e relativos, e do percentual de fadiga apresentados nas comparações feitas entre meio campistas em relação a zagueiros e atacantes devido a não realização de treinamentos especializados para cada posição. A inter-relação dos resultados encontrados pode não ser significativa, pois o desempenho humano é altamente específico para cada tarefa, embora o teste realizado seja indicado para a avaliação da potência anaeróbia. Conclui-se que nos esportes coletivos como o futebol que envolve as três vias 1

metabólicas, é necessário um programa de treinamento sistematizado e padronizado que visa a melhoria da potência em função do rendimento que se deseja alcançar. Com isso, estes resultados do teste podem servir para o estabelecimento de normas para diferentes níveis de jogo e para diferentes posições dos jogadores no campo. Palavras-chave: Potência Anaeróbica, Pico de Potência, Potência Máxima, Potência Relativa, Percentual de Fadiga, Teste de Wingate ABSTRACT This study had with objective the comparison of the anaerobic potency in players of soccer of middle of field in relation to the fullback and attackers of the Sporting Association and Recreational Usipa in the city of Ipatinga - MG through the test of Wingate. They were collected of the athletes the weight and the height for stipulation of the load to be used in the test, and the measures of the cutaneous folds of the equation of Slaughter (subescapular and triciptal) for obtaining of the percentile of corporal fat. The test anaerobic of Wingate of duration of 30 seconds was used, where the appraised athlete would have to pedal the largest possible number of times against a fixed resistance stipulated in 7% of your corporal weight, aiming at to generate the largest possible potency in that period of time. It was evaluated the medium potency that is generated during the thirty seconds of the test, the absolute potency that is the largest potency generated between three five seconds and the relative potency that it is expressed in relation to the corporal mass, allowing the comparison among subject of different corporal masses. The test also provided the evaluation of the index of fatigue, in which informed the acting fall during the test. To compare the averages among the attackers' groups, fullback and half camp, the test was used student t for independent samples, when the presuppositions for your use (normality of the data) they were accomplished. For the variables that didn't obey a normal distribution, the no-parametric test was used Mann-Whitney for independent samples. Through the statistical treatment, it was shown that there was no significant differences between the medium values of absolute and relative watts, and of the percentile of fatigue presented in the comparisons done among half camp in relation to the fullback and attackers due to not accomplishment of specialized trainings for each position. The interrelation of the found results cannot be significant, because the human acting is highly specific for each task, although the accomplished test is indicated for the evaluation of the potency anaerobic. It is ended that, in the collective sports as the soccer that involves the three metabolic roads, it is necessary a program of systematized training and standardized that seeks the improvement of the potency in function of the revenue that wants to be reached. With that, these results of the test can be for the establishment of norms for different game levels and for the players' different positions in the field. Key-words: Anaerobic Potency, Pick of Potency, Maximum Potency, Relative Potency, Percentile of Fatigue, Test of Wingate 2

INTRODUÇÃO Um aspecto fascinante na fisiologia do ser humano em trabalho é que ela fornece informações básicas sobre a natureza e a variação da capacidade funcional de diferentes sistemas orgânicos. Estudos fisiológicos e clínicos em seres humanos não podem restringir-se a condições de repouso ou basais, porque a capacidade funcional de um órgão somente pode ser avaliada quando o órgão é submetido a cargas funcionais. Uma teoria na regulação de uma função deve considerar e explicar a adaptação a várias condições fisiológicas, incluindo a atividade muscular (ASTRAND; RODAHL, 1987). Segundo Franchini (2002), a potência anaeróbica é um dentre tantos componentes da aptidão física que pode ser avaliado. Sabe-se que à medida que uma pessoa aumenta sua aptidão aeróbica, uma atividade previamente classificada como anaeróbica poderia ser reclassificada como aeróbica. Todo movimento requer um suprimento contínuo de energia para que ocorra transferência de energia no corpo. A energia é recolhida e conduzida através de um composto rico em energia denominado trifosfato de adenosina ATP que está presente e armazenado no corpo em toda e qualquer situação, seja em repouso ou em movimento (MCARDLE et al, 1998). Contudo os músculos dispõem de três principais mecanismos de reposição de ATP que são os metabolismos anaeróbicos alático e lático, e o aeróbio. Durante a atividade física, estes sistemas contribuem com ATP, sendo que a participação de cada um se dá em função da sua intensidade e duração (PIOVEZAN, 1985). Esportes coletivos, de uma forma geral, compreendem esforços de alta intensidade realizados por períodos de curtíssima duração, compreendendo movimentos de natureza anaeróbia que podem ser sustentados pelos jogadores durante uma partida (KOKUBON; DANIEL, 1992). O futebol, por exemplo, é um esporte coletivo de ações imediatas e momentâneas, que utiliza as variadas vias metabólicas de transferência de energia, fornecendo a energia para as determinadas intensidades e durações do desporto em questão (KATCH; MCARDLE, 1996). Em tão curta distância somente terá êxito o atleta possuidor de um alto nível de desenvolvimento das capacidades da velocidade e força. A velocidade garante ao jogador ganhar tempo e consequentemente ganhar espaço. Por isso, uma boa preparação da velocidade, também é importante para a qualidade profissional do futebolista. Segundo Leal (2001), os defensores são futebolistas de boa compleição física, fortes, com boa impulsão, de velocidade explosiva e de boa capacidade de recuperação. Já os meio-campistas possuem grande capacidade orgânica, resistência, coordenação e agilidade, sendo capazes de percorrer mais de 11 quilômetros em diferentes ritmos numa partida. E finalmente, os atacantes são fortes, com boa impulsão, de velocidade explosiva, além de capacidade de recuperação, sendo que devido a impulsividade e explosão muscular onde sofrem grande desgaste em cada participação pelo dispêndio de energia da potência exigida para vencer os oponentes, por isso precisam de um maior período de recuperação. Estudos realizados por Reilly et al., citados por Fernandes (1994), para examinar as distâncias percorridas em velocidade máxima, averiguaram que 3

durante as partidas aconteciam muitas repetições que variavam de 3 a 30 metros, sendo mais freqüentes as distâncias de 10 a 15 metros com repetições de 30 a 60 vezes por jogo. Com base nestes resultados, pode-se definir que a distância total percorrida em velocidade é de aproximadamente 800 metros, o que corresponde a 10% do total que se corre em uma partida. Temos assim 10% do total que se corre em uma partida utilizando a velocidade máxima, outros 10% para velocidade submáxima e os 80% restantes para corrida lenta. Através do mesmo autor, estudando o tempo de duração media de corrida, encontrou-se resultados que mostram que os zagueiros correm 21 minutos, os meio-campistas 28 minutos e 27 segundos e os atacantes 23 minutos e 37 segundos. Para Saltin, citado por Fernandes (1994), determinou através dos seus estudos que a distância total feita em corrida durante uma partida chega a 12 quilômetros, concluindo que 49% desse total são feitos em corrida moderada, 20 a 24% em velocidade e os restantes 27% caminhando. Analisando os estudos observados anteriormente, podemos conceber que um progresso nos processos anaeróbios da célula muscular deve ser executado com um trabalho máximo de duração muito curta. É essencial que o treinamento solicite os mesmos grupos musculares que são engajados no evento que se procura aprimorar (ASTRAND; RODAHL, 1987). Com isso, devido às constantes evoluções desportivas que vêm acontecendo ao longo da história, torna-se cada vez mais necessário aos técnicos, preparadores físicos e atletas buscar novos recursos que sejam capazes de aumentar o desempenho desportivo. Como tal, este estudo teve como objetivo a comparação da potência anaérobica com intuito de definir o perfil dos jogadores de futebol de meio-campo em relação a zagueiros e atacantes da Associação Esportiva e Recreativa Usipa da cidade de Ipatinga - MG através do teste de Wingate. METODOLOGIA Para procedimento da pesquisa, inicialmente foi enviada uma carta para Associação Esportiva e Recreativa Usipa solicitando a autorização de seus atletas para realização do teste no Laboratório de Fisiologia do Exercício no Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, situado no bairro Areal da cidade de Ipatinga - MG. Foi enviada antecipadamente ao técnico responsável uma ficha contendo as orientações a serem seguidas para a realização do teste. O estudo realizou-se com a autorização do clube e com o consentimento do treinador responsável pela equipe envolvida, sendo que foram tomados todos os cuidados no sentido de garantir a integridade física e mental de todos os participantes, bem como para garantir o anonimato dos atletas em questão. Para a realização desta pesquisa, foi feito um estudo da potência anaeróbica com a participação de 30 atletas de futebol, sendo 10 atletas de meio-campo, 10 zagueiros e 10 atacantes na faixa etária de 15/16 anos de idade, do sexo masculino, da Associação Esportiva e Recreativa Usipa da cidade de Ipatinga - MG. Para inclusão dos indivíduos, os mesmos deveriam ter uma freqüência de três vezes na semana com duração de uma hora de treinamento, treinando há mais de um ano na modalidade em questão e que participem de competições regulares. Para 4

avaliação da pesquisa, inicialmente foi medido o peso através de uma balança digital da marca Toledo e a estatura através de um estadiômetro acoplado à balança. Foi utilizado um cicloergômetro Biotec 2.100 com carga estipulada de 7% do seu peso corporal, com assentos reguláveis de acordo com a altura e com um dispositivo de contagem de rotações do pedal por minuto. O mesmo possuía um computador acoplado com o software Wingate Test para mensuração da potência. Foi utilizado também um plicômetro Lange para medidas das dobras cutâneas (triciptal e subescapular), um software Fitness School para determinação dos dados das dobras e o Protocolo Slaughter para determinação da composição corporal. Para comparação entre os grupos, foi utilizado o teste estatístico t de Student e o teste não-paramétrico Mann-Whitney para amostras independentes, sendo analisados pelo software SPSS for Windows 10.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO Objetivando uma maior compreensão deste estudo, os resultados serão apresentados e discutidos simultaneamente em relação aos tratamentos empregados. Inicialmente, na tentativa de melhor caracterizar a amostra dos atletas de futebol, foram avaliadas as variáveis de idade, peso, estatura e percentual de gordura corporal e obtendo média, desvio padrão, limite máximo e mínimo, e o diferencial ( ), que são apresentadas na TABELA 1. TABELA 1 Média, desvio padrão, limite máximo e mínimo, e diferencial ( ) das características da amostra com variáveis de idade, peso, estatura e % de gordura dos jogadores. Média sd Máximo Mínimo Idade (anos) 15 0.8 17 14 3 Peso (kg) 61 6.7 80 43 37 Estatura (cm) 172.5 6.4 190 161 29 % de Gordura 14.7 3 21.3 9.9 11.4 A partir da TABELA 1, observou-se que a idade dos atletas apresentou uma média de 15±0.8 anos, com um limite máximo de 17 anos e um mínimo de 14 anos. A média do peso foi de 61±6.7 Kg, com um limite máximo de 80 Kg e um mínimo de 43 Kg. Observou-se que a média da estatura foi de 172.5±6.4 cm, com um limite máximo de 190 cm e um mínimo de 161 cm e o percentual de gordura alcançou uma média de 14.7±3 % G, com um limite máximo de 21.3 % G e um mínimo de 9.9 % G. 5

TABELA 2 - Valores de Watts Absoluto e Relativo (W/Kg) com medições de Máximo, Médio e Mínimo e Percentual de Fadiga com todos contendo média, desvio padrão, máximo, mínimo e diferencial de máximo e mínimo ( ), analisando somente os atacantes. Média sd Máximo Mínimo Watts Máx. Abs 690.7 53.4 829.5 640.8 189 Watts Médio Abs 467.9 30.8 492.1 391.1 101 Watts Mín. Abs 391.7 56.5 447.9 266.3 182 Watts Máx/Kg 11.5 0.8 13 10.6 2.4 Watts Méd/Kg 7.6 0.5 8.1 6.6 1.5 Watts Mín/Kg 6.4 1.4 7.5 2.5 5 % de Fadiga 39.8 4.9 48.4 30 18.4 Na verificação da análise dos atacantes, o Watts Máximo Absoluto obteve uma média de 690.7±53.4 W, um máximo de 829.5 W e um mínimo de 640.8 W. O Watts Médio Absoluto obteve uma média de 467.9±30.8 W, um máximo de 492.1 W e um mínimo de 391.1 W. E o Watts Mínimo Absoluto obteve uma média de 391.7±56.5 W, um máximo de 447.9 W e um mínimo de 266.3 W. Já o Watts Máximo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 11.5±0.8 W/Kg, um máximo de 13 W/Kg e um mínimo de 10.6 W/Kg. O Watts Médio Relativo (W/Kg) obteve uma média de 7.6±0.5 W/Kg, um máximo de 8.1 W/Kg e um mínimo de 6.6 W/Kg. E o Watts Mínimo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 6.4±1.4 W/Kg, um máximo de 7.5 W/Kg e um mínimo de 2.5 W/Kg. E finalmente o percentual de fadiga alcançou uma média de 39.8±4.9 %, um máximo de 48.4 % e um mínimo de 30 %. TABELA 3 - valores de Watts Absoluto e Relativo (W/Kg) com medições de Máximo, Médio e Mínimo e Percentual de Fadiga de todos contendo média, desvio padrão, máximo, mínimo e diferencial de máximo e mínimo ( ), analisando somente os zagueiros. Média sd Máximo Mínimo Watts Máx. Abs 672.9 95.7 883.4 517 366.4 Watts Médio Abs 471.7 53.4 554.9 393.8 161.1 Watts Mín. Abs 410.8 61 497.7 271 226.7 Watts Máx/Kg 11 0.6 11.9 9.7 2.2 Watts Méd/Kg 7.7 0.6 9 6.8 2.2 Watts Mín/Kg 6.8 1.0 8.3 4.2 4.1 % de Fadiga 36.5 8.5 52.2 22 30.8 Quanto à verificação da análise dos zagueiros, o Watts Máximo Absoluto obteve uma média de 672.9±95.7 W, um máximo de 883.4 W e um mínimo de 517 W. O Watts Médio Absoluto obteve uma média de 471.7±53.4 W, um máximo 6

de 554.9 W e um mínimo de 393.8. E o Watts Mínimo Absoluto obteve uma média de 410.8±61 W, um máximo de 497.7 W e um mínimo de 271 W. Já o Watts Máximo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 11±0.6 W/Kg, um máximo de 11.9 W/Kg e um mínimo de 9.7 W/Kg. O Watts Médio Relativo (W/Kg) obteve uma média de 7.7±0.6 W/Kg, um máximo de 9 W/Kg e um mínimo de 6.8 W/Kg. E o Watts Mínimo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 6.8±1.0 W/Kg, um máximo de 8.3 W/Kg e um mínimo de 4.2 W/Kg. E finalmente o percentual de fadiga alcançou uma média de 36.5±8.5 %, um máximo de 52.2 % e um mínimo de 22 %. TABELA 4 - valores de Watts Absoluto e Relativo (W/Kg) com medições de Máximo, Médio e Mínimo e Percentual de Fadiga com todos contendo média, desvio padrão, máximo, mínimo e diferencial de máximo e mínimo ( ), analisando somente os meio campistas. Média sd Máximo Mínimo Watts Máx. Abs 670.2 142.8 848.3 389.3 459 Watts Médio Abs 470.7 96.5 590.5 245.5 345 Watts Mín. Abs 421.7 90.9 517.6 210.1 307.5 Watts Máx/Kg 10.9 1.3 12.3 8.5 3.8 Watts Méd/Kg 7.6 0.9 8.7 5.7 3 Watts Mín/Kg 6.8 0.8 7.7 4.9 2.8 % de Fadiga 36.1 8.2 46.8 21 25.8 Quanto à verificação da análise dos meio campistas, o Watts Máximo Absoluto obteve uma média de 670.2±142.8 W, um máximo de 848.3 W e um mínimo de 389.3 W. O Watts Médio Absoluto obteve uma média de 470.7±96.5 W, um máximo de 590.5 W e um mínimo de 245.5 W. E o Watts Mínimo Absoluto obteve uma média de 421.7±90.9 W, um máximo de 517.6 W e um mínimo de 210.1 W. Já o Watts Máximo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 10.9±1.3 W/Kg, um máximo de 12.3 W/Kg e um mínimo de 8.5 W/Kg. O Watts Médio Relativo (W/Kg) obteve uma média de 7.6±0.9 W/Kg, um máximo de 8.7 W/Kg e um mínimo de 5.7 W/Kg. E o Watts Mínimo Relativo (W/Kg) obteve uma média de 6.8±0.8 W/Kg, um máximo de 7.7 W/Kg e um mínimo de 4.9 W/Kg. E finalmente o % de fadiga alcançou uma média de 36.1±8.2 %, um máximo de 46.8 % e um mínimo de 21 %. TABELA 5 - Comparação dos valores médios de Watts Absoluto com medições de Máximo, Médio e Mínimo e Percentual de Fadiga entre as posições de meio de campo em relação à zagueiros e atacantes. Watts Watts Watts % de Fadiga Máx. Médio Min. Atacante 690.7 467.9 391.7 39.8 7

Zagueiro 672.9 471.7 410.8 36.5 Meio de Campo 670.2 470.7 421.7 36.1 FIGURA 1 - Comparação dos Valores de Watts Absoluto dos Meio Campistas em relação aos Atacantes e Zagueiros Média 800,0 700,0 600,0 500,0 400,0 300,0 200,0 100,0 0,0 670.2 690.7 672.9 470.7 467.9 471.7 421.7 391.7 Máximo Médio Mínimo Watts Absoluto 410.8 Meio-campistas Atacantes Zagueiros Verificando os valores médios de Watts Absolutos, os atacantes obtiveram um Watts Máximo de 690.7 W, um Watts Médio de 467.9 W e um Watts Mínimo de 391.7 W. Os zagueiros obtiveram um Watts Máximo de 672.9 W, um Watts Médio de 471.7 W e um Watts Mínimo de 410.8 W. E por último, os meio campistas obtiveram um Watts Máximo de 670.2 W, um Watts Médio de 470.7 W e um Watts Mínimo de 421.7 W. Através do tratamento estatístico apresentado na tabela e no gráfico, mostrou-se que não há diferença estatisticamente significativa dos valores médios de watts absolutos (máximo, médio e mínimo) apresentados nas comparações feitas entre meio campistas em relação a zagueiros e atacantes devido a realização de treinamentos idênticos nas posições apresentadas no teste. Nesta TABELA 5, observou-se que a comparação dos valores médios de watts absolutos (máximo, médio e mínimo dos jogadores de futebol apresentam características bem homogêneas. Tanto os valores do teste t de Student como os valores do teste de Mann-Whitney indicam que não existiu diferença estatisticamente significativa quando se comparou os grupos de meio campistas em relação a zagueiros e atacantes em todas as variáveis analisadas. TABELA 6 - Comparação dos valores médios de Watts Relativo (W/Kg) com medições de Máximo, Médio e Mínimo e Percentual de Fadiga entre as posições de meio de campo em relação à zagueiros e atacantes. Watts Máx/Kg Watts médio/kg Watts Min/Kg % de Fadiga Atacante 11.5 7.6 6.4 39.8 Zagueiro 11 7.7 6.8 36.5 Meio de Campo 10.9 7.6 6.8 36.1 8

FIGURA 2 - Comparação dos Valores de Watts Relativo (W/Kg) dos Meio Campistas em relação aos Atacantes e Zagueiros Média 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 10.9 11.5 11 7.6 7.6 7.7 6.8 6.4 Máximo/kg Médio/kg Mínimo/kg Watts Relativo 6.8 Meio-campistas Atacantes Zagueiros Examinando os valores médios de Watts Relativos (W/Kg), os atacantes obtiveram um Watts Máximo de 11.5 W/Kg, um Watts Médio de 7.6 W/Kg e um Watts Mínimo de 6.4 W/Kg. Os zagueiros obtiveram um Watts Máximo de 11 W/Kg, um Watts Médio de 7.7 W/Kg e um Watts Mínimo de 6.8 W/Kg. E por último, os meio campistas obtiveram um Watts Máximo de 10.9 W/Kg, um Watts Médio de 7.6 W/Kg e um Watts Mínimo de 6.8 W/Kg. Nesta tabela e gráfico, observou-se que a comparação dos valores médios de watts relativos (máximo, médio e mínimo) dos jogadores de futebol apresentam características bem homogêneas. Tanto os valores do teste t de student como os valores do teste de Mann-Whitney indicam que não existiu diferença estatisticamente significativa quando se comparou os grupos de meio campistas em relação a zagueiros e atacantes em todas as variáveis analisadas. 9

FIGURA 3 - Comparação dos Valores do Percentual de Fadiga dos Meio Campistas em relação aos Atacantes e Zagueiros 42,0 35,0 36.1 39.8 36.5 % de Fadiga 28,0 21,0 14,0 7,0 0,0 Meio-campistas Atacantes Zagueiros Grupo Verificando os valores médios do percentual de fadiga, os meio campistas obtiveram 36.1%, enquanto os atacantes tiveram 39.8% e os zagueiros 36.5%. Neste gráfico, observou-se que a comparação dos valores médios do percentual de fadiga dos jogadores de futebol apresentam características bem homogêneas, indicando que não existiu diferença estatisticamente significativa quando se comparou os grupos. Segundo Mcardle et al (1998), a inter-relação dos resultados encontrados nos testes pode não ser significativa, porque o desempenho humano é altamente específico para cada tarefa, embora o teste realizado seja indicado para a avaliação da potência anaeróbia. O futebol é uma das modalidades esportivas que apresenta a maior dificuldade para a sua caracterização com relação ao esforço físico requerido, pois o mesmo apresenta características particulares em cada movimento. Este estudo comparou a potência anaeróbica de jogadores de futebol através do esforço físico, o qual é analisado no decurso de um cicloergômetro a máxima velocidade possível. De acordo com Martin (2002) apud Cunha (s.d.), o futebol é caracterizado como exercício de alta intensidade intermitente e a relação entre o repouso e períodos de baixa e grande intensidades variam de acordo com o estilo individual de jogar, mas o mais importante é a posição de jogador em campo, já que ele corre aproximadamente 10 km por partida, sendo que entre 8-18% é na maior velocidade individual. De acordo com Ekblom (1986) apud Santos (1999), a diferença fundamental entre equipes de diferente nível não é a distância percorrida pelos seus jogadores durante o jogo, mas a percentagem dessa distância coberta com elevada intensidade. No que se refere à percentagem da distância total coberta em intensidade máxima, os autores não são unânimes: 10% (TALAGA, 1985), 18.8% (Withers et al., 1982), 20% (SALTIN, 1973), 25% (LACOUR; CHATARD, 1984 apud SANTOS, 1999). Entretanto, alguns estudos citados por Yamanaka et al. (1988) apud Gomes e Mantovani (1996) revelam que, em média, e tendo como referência o tempo total de jogo, os futebolistas estão parados ou a caminhar entre 55 e 60% (50 a 55 minutos); correm a ritmo moderado durante 30-35% (25 a 30 minutos); correm a velocidade quase máxima durante 3-6% (3-5 minutos); e 10

correm a velocidade máxima durante 0.5-2% (22 a 170 segundos). Contudo, as posições específicas também apresentam características fisiológicas diferenciadas (BARBANTI, 1996). Por exemplo, os atacantes cobrem uma maior percentagem da distância em sprint, quando comparados com os outros jogadores. É conveniente referir que, embora as atividades desenvolvidas que reclamam a expressão de velocidades máximas ocupem um volume temporal relativamente reduzido, elas revestem-se de uma importância fundamental, na medida em que se constata que a maior percentagem das ações críticas ou decisivas do jogo são executadas de forma explosiva, portanto, com elevada velocidade. É evidente que as demandas fisiológicas do futebol variam com a taxa de trabalho em diferentes posições (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000 apud CUNHA, s.d.). Todavia, a intensidade com que um jogador executa as ações no jogo, depende, por um lado, da forma como ambas as equipes em confronto condicionam o ritmo do jogo, e, por outro, da qualidade das escolhas e das opções tático-técnicas efetuadas pelo jogador no seu decurso. Pesquisas indicam que durante o teste de Wingate, a contribuição do sistema de ATP-PC é aproximadamente 28%, o do sistema glicolítico é de 56%, e a contribuição aeróbia está aproximadamente 16% (SMITH; HILL, 1991 apud ZAJAC et al., 1999). Balsom (1994) apud Sena (1998) cita que os resultados dos testes podem servir para o estabelecimento de normas para diferentes níveis de jogo e para diferentes posições dos jogadores no campo. Num estudo da avaliação da velocidade em jovens futebolistas, Sena (1998) e Kollath (1993) citam que existem diferenças no tempo de realização dos sprints entre os defensores e os atacantes. Estas diferenças também foram encontradas no nosso estudo, no qual os atacantes são de um modo geral mais rápidos do que as demais posições, mas não havendo diferença estatisticamente significativa. Mayhew e Wenger (1985) apud Cunha (s.d.), realizaram um estudo sobre análise de movimentos em futebolistas e constataram que o futebol é uma atividade com pequena percentagem anaeróbica, sendo que somente 12% do tempo de jogo é gasto com atividades que utilizam substratos energéticos anaeróbicos. Estudos realizados por Viitasalo (1980) apud Santos (1999), mostraram que em correspondência com o perfil dos deslocamentos habitualmente desenvolvidos durante o jogo, os meio campistas apresentam valores ligeiramente menores de força explosiva do que os zagueiros e atacantes, resultado de uma adaptação à função, e fundamentalmente de maior quantidade de massa muscular, pois existe uma relação entre a área da seção transversa do músculo e os índices de força. Sabemos que as exigências multivariadas do futebolista tornam-no, em termos de condição física, mais um generalista do que um especialista. No estudo informado por Inbar, Bar-Or e Skinner (1996) apud Kalinski (2002), foi observado que as potências relativas e absolutas dos atletas de futebol eram previamente mais altas que os homens aparentemente saudáveis e destreinados. Neste estudo, os jogadores de futebol alcançaram uma potência relativa de 10.7±0.68 W kg-¹ e uma potência absoluta de 810±79.56 W, mostrando que estes valores são 16.9% e 30.0% mais alto que o "bom" das contagens informadas pelo 11

Inbar et al. (1996). Todavia a predominância aeróbica sobre a anaeróbica parece situar-se apenas no plano quantitativo, na medida em que são as ações curtas e de intensidade máxima que mais claramente se revelam como fatores perturbadores da dinâmica do jogo, induzindo desequilíbrios no balanço ataquedefesa. A validação dos processos anaeróbicos no futebol carece de estudos mais aprofundados, pois se alguns autores não acham importante a capacidade lática e alática (Withers et al., 1982 apud Santos, 1999) a expressão da lactatémia em alguns momentos de jogo é realmente significativa (GERISCH et al., 1988 apud SANTOS, 1999), bem como os níveis de depleção glicogênica no final do jogo (SALTIN; SMAROS, 1980 apud SANTOS, 1999), o que nos deve levar a reequacionar a importância do metabolismo anaeróbio como processo fundamental de apoio energético. Poucos são os estudos realizados envolvendo essa variável fisiológica estudada. Com isso, recomenda-se que novos estudos semelhantes e de desportos diversos sejam realizados nesta, bem como utilizarse dos mais diferentes esquemas de avaliação da potência anaeróbica, mantendo-se o procedimento dentro da estrutura e da realidade desportiva brasileira. CONCLUSÃO O futebol é uma das modalidades esportivas que apresenta a maior dificuldade para a sua caracterização com relação ao esforço físico requerido, pois o mesmo faz utilização das três vias metabólicas durante um jogo. Nos resultados apresentados, os meio campistas apresentam valores ligeiramente menores, mas não mais significativos de potência anaeróbica do que os zagueiros e atacantes, resultado de uma adaptação à função, e fundamentalmente da maior quantidade de massa muscular. Analisando as comparações dos jogadores das três posições, mostrou-se que os mesmos não possuíam um treinamento especializado para cada posição, tornando-os padronizados. Sabe-se que neste tipo de comparação da potência anaeróbica entre atletas de alto nível existe diferença entre as posições observadas, pois o desempenho humano é altamente específico para cada tarefa numa partida de futebol. Outro fator de provável influência sobre a eficiência do teste pode estar relacionado com a especificidade do teste em relação à modalidade esportiva devido à utilização das vias metabólicas e da diferenciação das posições em questão. Conclui-se que, nos esportes coletivos como o futebol que envolve as três vias metabólicas, é necessário um programa de treinamento sistematizado e padronizado que vise a melhoria da potência em função do rendimento que deseja ser alcançado. Com isso, estes resultados do teste podem servir para o estabelecimento de normas para diferentes níveis de jogo e para diferentes posições dos jogadores no campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASTRAND, Per Olof; RODAHL, Kaare. Tratado de Fisiologia do Exercício. 2. ed. Rio de janeiro: Guanabara, 1987. 12

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