64 A INFLUÊNCIA DOCENTE NA (RE)CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO DE LUGAR POR ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FEIRA DE SANTANA-BA 1 Edson da Silva Santos e-mail: edsonsporte@hotmail.com Bolsista FAPESB, Bacharelando em Geografia, Universidade Estadual de Feira de Santana Célia Regina Batista dos Santos e-mail: celia_regina2006@hotmail.com Orientador, Departamento de Educação, Universidade Estadual de Feira de Santana Palavras-Chave: Lugar, Feira de Santana, Mediação Pedagógica. Introdução: Estudar o lugar na atual configuração sócio-espacial se faz necessário, pois o meio técnico-cientifico-informacional impulsionado pelo processo de globalização tende a promover alterações que almejam homogeneizar gostos e costumes, nas mais variadas escalas desde a mundial até a local. Todavia, tais alterações são sentidas de forma mais contundentes no lugar de vivência, uma vez que as transformações ocorrem a uma velocidade e intensidade tão desmedida que causam estranheza aos indivíduos, a ponto de não se sentirem pertencentes à realidade local. Compreender essas alterações é relevante, pois vários estudos apontam ser na escala do lugar que os sujeitos vivenciam as contradições sócio-espaciais de forma mais contundente, ao desenvolverem suas práticas interpessoais com e no espaço, as quais contribuem para a formação e/ou (re)afirmação da(s) identidade(s). Desta forma, deve ser também por esta escala que os sujeitos devem começar a desenvolver estratégias para enfrentar as diversas situações. Diante deste contexto conflituoso, o estudo do lugar surge como uma possibilidade de se compreender o local a partir da articulação com o global, buscando identificar e analisar de que maneira acontecem esses rebatimentos e quais as possibilidades de intervenção. Levando em consideração essas proposições, a presente investigação objetivou identificar e analisar como discursos e práticas 1 Trabalho apresentado no XVIII SEMIC - Seminário de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS, na modalidade Oral em 2014.
docentes influenciam na formação da(s) identidade(s) dos alunos para com Feira de Santana, bem como identificar ideias, identidades e afetividades dos professores e alunos em relação a este lugar. Por lugar entendemos uma porção do espaço geográfico dotada de significados, contida num todo, de onde mantêm relações através das mais variadas articulações com outras escalas. Por ser um fragmento, o lugar é visto por Carlos (2007) como uma porção do espaço apropriável para a vida, passível de ser significado, refletido e apropriado através do corpo e dos sentidos ao passo que as pessoas exploram e vivenciam a cidade, o bairro, a rua, a praça, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade vivida/ conhecida/ reconhecida em todos os cantos (CARLOS, 2007, pp. 17-18). O lugar nesta pesquisa é tido como uma construção social, estabelecida a partir das relações interpessoais historicamente construídas no espaço vivido, sendo estas relações responsáveis pela construção e reafirmação da identidade das pessoas com o lugar. Quanto a essa forma de estudar e analisar o lugar a partir das relações tecidas socialmente ao vivenciá-lo, Carlos (2007) aponta que tais relações se dão no plano do vivido o que garante a constituição de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizatória que produz a identidade homem lugar, que no plano do vivido vincula-se ao conhecido reconhecido (CARLOS, 2007, p. 22). A importância de se estudar o lugar na escola, segundo Callai (2000), consiste no fato de que, ao estudá-lo, podemos compreender a história do lugar onde vivemos, assim como nos fornecerá subsídios para que possamos entender as transformações e os rebatimentos que acontecem no lugar onde moramos. Entretanto, no ensino do lugar é importante que o professor, durante o processo de ensino-aprendizagem, realize a sua mediação pedagógica articulando o conteúdo com o espaço vivido dos alunos, explorando suas ideias e falas oriundas do senso comum. Entendemos por mediação pedagógica aspectos relacionados ao comportamento que o professor estabelece ao buscar facilitar, incentivar e motivar os alunos durante a aprendizagem. Nessa perspectiva o professor deve se apresentar como uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem não uma ponte estática, mas uma ponte "rolante", que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos (MASETO, 2000, p. 144-45). Essa forma de mediação deve ocorrer porque, como alerta Cavalcanti (2000), os conceitos que a ciência geográfica utiliza para realizar suas análises e discussões, 65
são os mesmos conceitos presentes no cotidiano das pessoas, porém carregados de senso comum. No entendimento da referida autora, para formar a linguagem e pensamento geográfico, os professores de Geografia devem considerar os seus diferentes significados, efetuando a análise das representações dos conceitos geográficos dos alunos em articulação com o estudo das suas respectivas formulações científicas. 66 Metodologia: Essa investigação engaja-se nos contornos da pesquisa qualitativa (LÜDKE e ANDRÉ 1986). As etapas adotadas para o desenvolvimento desta pesquisa contaram, no primeiro momento, com um levantamento de obras que pudessem contribuir com temática em estudo, bem como, pela participação nos estudos e reflexões realizadas pelo/no Grupo de Estudos Lugar. O segundo momento consistiu na elaboração de questionários utilizados juntamente com a realização de entrevistas semiestruturadas, como instrumentos de pesquisa e procedimento para obtenção de dados primários, produzidos entre os meses de julho a agosto de 2014. Os sujeitos desta investigação foram professoras de geografia e alunos de um colégio público localizado em um bairro periférico da cidade de Feira de Santana (BA), escolhidos aleatoriamente e que participaram de forma espontânea. Os questionários utilizados na investigação possuíam questões abertas e de múltipla escolha. As respostas das questões abertas foram agrupadas de maneira que agregassem as que possuíssem conteúdo semelhante. Com os alunos foram aplicados 36 questionários com 36 alunos destes 16 são alunos do ensino fundamental e 16 do ensino médio. Com as 6 professoras só houve a aplicação do questionário composto por 19 questões, sendo que 12 foram perguntas abertas e 7 de múltipla escolha. A escolha dos professores ocorreu de forma abrangente com o objetivo de abarcar todos os professores de geografia que atuam na escola. A escolha das turmas para aplicação dos questionários e realização de entrevistas semiestruturadas ocorreu através dos seguintes critérios: uma turma do 6º ano do ensino fundamental foi escolhida por ser comumente neste ano que se inicia o estudo do conceito de lugar, e consequentemente, é o momento de contribuir para a construção ou (re)afirmação da(s) identidade(s) dos alunos para com o seu Lugar. Já a escolha de uma turma do 7º ano do ensino fundamental, teve como objetivo identificar o que os alunos trazem sobre o conceito de lugar e de identidade estudados
no 6º ano. Quanto à escolha de uma turma do primeiro 1º ano do ensino médio, teve por finalidade identificar o conceito de lugar e de identidade ao sair do ensino fundamental. E a escolha de uma turma do 3º ano do ensino médio teve como objetivo identificar como, ao longo da escolaridade o conceito de lugar e identidade chega até este ano, em que os alunos estão prestes a completar o ensino médio. No terceiro momento realizamos a organização, tratamento e análise dos dados, à luz da bibliografia consultada, pontuando semelhanças e diferenças entre as respostas fornecidas pelos alunos e professores a respeito da(s) identidade(s) e afetividade, que possuem com o lugar Feira de Santana, bem como identificou em que medida práticas e discursos dos professores interferem na formação e/ou (re)afirmação da(s) identidade(s) dos alunos para com o este lugar. 67 RESULTADOS E/OU DISCUSSÕES: Na pesquisa constatou-se que a alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental possuem laços identitários com o lugar Feira de Santana por terem nascidos na cidade ou estabelecidos na vivência com amigos e familiares. Com podemos resumir nas seguintes frases dos entrevistados: Porque é a cidade onde nasci ; Porque fiz vários amigos aqui ; Por que aqui eu conheço muitos amigos e aqui eu já conheço todo mundo ; O aluno que justificou o motivo de gostar de Feira de Santana por ter feito amigos, não é natural da cidade de Feira de Santana, porém mora na cidade há mais de seis anos. Já os alunos do 1º e 3º ano também possuem laços indentitários com Feira de Santana. Os motivos que os fazem gostar desta cidade possui relação com os laços familiares e de amizade estabelecidos com e na cidade e as oportunidades de emprego que ela oferece. Esses pensamentos são revelados nas seguintes frases: Porque já fiz amigos aqui, gosto de morar aqui; Porque tem muitas oportunidades de curso e empregos; Porque gosto de morar perto de minha família; Já as professoras possuem laços identitários com a cidade de Feira de Santana, devido à existência de familiares que residirem na cidade e por terem estabelecidos laços de amizade com e na cidade, sendo possível identificar na seguinte justificativas: Porque cresci aqui tenho uma história de vida nesta cidade ; É uma cidade que oferece muitas oportunidades de crescimento profissional ;
A professora que justificou porque cresceu na cidade, não é nascida em Feira de Santana, todavia reside nesta cidade há mais de 37 anos. Ao comparar as respostas dos alunos com a as professoras observa-se alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental possuem laços identitários com o lugar Feira de Santana na vivência com amigos e familiares. Já os alunos do 1º e 3º ano também possuem laços identitários com Feira de Santana, todavia nesses anos a influência docente atua reforçando uma imagem de Feira de Santana como uma cidade trabalho, pois duas das professoras responderam que o que lhes prendem em Feira de Santana é o trabalho, assim como, ao utilizarem Feira de Santana para exemplificar o conteúdo duas professoras deram como exemplo o comércio e a indústria, ou seja, reforçam o discurso de que Feira de Santana é uma cidade para o trabalho e desta forma estão interferindo na formação da identidade do aluno para com o lugar Feira de Santanatrabalho. 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa análise geral, os dados indicam que as professoras apresentam uma identidade com o lugar Feira de Santana a qual se dá através de laços de amizade e de trabalho. Já os alunos do 6º e 7ºano apresentam identidade com o lugar Feira de Santana estabelecidos apenas por laços de amizade e de família. Quanto os alunos do 1 e 3º esses se identificam com a cidade com o mesmo olhar das professoras, ou seja, laço de amizade e oportunidades de emprego. Será que essa abordagem realizada pelas professoras contribui para reafirmação de identidades e afetividades de seus alunos em relação à Feira de Santana no sentido de pensar num vir a ser? A sua identidade se reduz a um lugar de trabalho? Ficam aqui essas perguntas. REFERÊNCIAS CALLAI, Copetti Helena. Estudar o Lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.). Ensino de geografia: práticas e contextualizações no cotidiano. 7. ed. Porto Alegre: Mediação, 2009. Cap. 2, pp 83-134. CARLOS, Ana Fani. O lugar no/do mundo. 1. ed. São Paulo: Labur Edições, 2007. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimentos. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MASETTO, Marcos Tarciso. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: Moran, J Manuel; Masetto, Marcos T; Berhrens, M Aparecida (Org.). Novas tecnologias e mediação pedagógica. 13. ed. Campinas: Papirus, 2007. Cap. 3, pp 133-179. 69