ANÁLISE DO CUSTO DOS ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: A CO- PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE E DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.



Documentos relacionados
Análise da relação entre custo e consumo dos antipsicóticos típicos e atípicos: implicações para a saúde pública

RESOLUÇÃO SS nº 295, de 04 de setembro de 2007

Medicação de alto custo para portador de sofrimento psíquico: um estudo preliminar dos custos

TÍTULO: PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE ESQUIZOFRENIA E POLÍTICAS PÚBLICAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

Folha 01/07 DATA: 27/10/2011 DATA:27/10/2011 REVISÕES DATA RESPONSÁVEL 1ª REVISÃO 2ª REVISÃO 3ª REVISÃO 3ª REVISÃO 5ª REVISÃO

PCDT/ CID 10: F20.0; F20.1; F20.2; F20.3; F20.4; F20.5; F20.6; F20.8 NT/ CID 10: F20.0; F20.1, F20.2; F20.3

EVOLUÇÃO & PROGNÓSTICOS

Modelo de Prevenção. Atenção Adequada. Workshop Saúde Mental, PFDC, 9/10/2008

PORTARIA MS N. 702 DE 12 DE ABRIL DE 2002

Boletim Econômico Edição nº 30 maio de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO REGISTRADA NOS PLUVIÔMETROS VILLE DE PARIS E MODELO DNAEE. Alice Silva de Castilho 1

ESTUDO DA PREVALÊNCIA DO CÂNCER BUCAL NO HC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ATRAVÉS DO CID 10

INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS A ATENÇÃO PRIMÁRIA EM DOIS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA DE MARINGÁ-PR

Como as empresas financiam investimentos em meio à crise financeira internacional

Pagamento por Desempenho. Stephen Stefani Praga, 2010

Ciclo de Debates SUS: Política Nacional de Saúde Mental

Gastos com medicamentos para tratamento da Doença de Alzheimer pelo Ministério da Saúde,

O QUE É A LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE?

IV Seminário de Promoçã e Prevençã. ção à Saúde. ção o de Riscos e Doenças na Saúde Suplementar. I Seminário de Atençã. Suplementar.

TERMO DE REFERÊNCIA PARA ESPECIALIZADOS CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS TÉCNICOS

MUNICIPALIZAÇÃO. Prof. Rodolfo Joaquim Pinto da Luz Secretário Municipal de Educação de Florianópolis e Presidente da UNDIME/SC

A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS

ANEXO II - Diagnóstico Situacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS

NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA A REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE TRABALHO DE GRADUAÇÃO

Projeto de indução da qualidade e segurança dos serviços de saúde no setor suplementar Jacqueline Alves Torres

SONDAGEM INDUSTRIAL JULHO 2015

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR TERMO DE REFERÊNCIA 002/2016

Sobre o tromboembolismo venoso (TVE)

Índice. 1. Os preços dos planos de saúde são controlados? 2. Como funcionam as regras de reajuste. 3. Quais as regras de reajuste dos planos

TRANSTORNOS PSICÓTICOS

Terminologias Introdutórias de Custo: Uma Pesquisa Exploratória Na Universidade Federal de Pernambuco Nos Cursos de Ciências Contábeis e Administração

RESPOSTA RÁPIDA 315/2014 Informações sobre Mirtazapina e Quetiapina no tratamento da depressão

Residência Médica no Brasil Medical Residency in Brazil

Circular 641/2014 São Paulo, 12 de Dezembro de 2014.

projeto. DIRETORIA DO INSTITUTO ONCOGUIA de 3 de junho de 1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde,

Como fazer um Parecer

REGULAMENTO DO PROGRAMA PROFESSOR VISITANTE DA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ (PPV-UTFPR)

Ministério da Saúde Consultoria Jurídica/Advocacia Geral da União

ANÁLISE DOS INDICADORES DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO

RESPOSTA RÁPIDA 448/2014

ÁREA PARA ASSUNTOS FISCAIS E DE EMPREGO - AFE nº 45 julho 2002 POUPANÇA PÚBLICA VALE EM AÇÃO : PERFIL DOS COMPRADORES COM RECURSOS DO FGTS

07/08/2007 ECONOMIA: A CIÊNCIA DA ESCASSEZ NEM SEMPRE MAIS É MELHOR MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E FARMACOECONOMIA

Luiz de Jesus Peres Soares

INDICADORES SOCIAIS E CLÍNICOS DE IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO

Disfunção Ocupacional no Transtorno Bipolar

RELAÇÃO ENTRE OS DESVIOS DE CRESCIMENTO FETAL/NEONATAL E ALTERAÇÕES MACROSCÓPICAS PLACENTÁRIAS NA GESTAÇÃO DE ALTO RISCO

PLANO PARA OUTORGA DE OPÇÕES DE AÇÕES (aprovado pela Assembleia Geral Extraordinária de )

Data: 07/04/2014 NTRR 67/2014. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

4 - GESTÃO FINANCEIRA

Programa Institucional de Pesquisa e Iniciação Científica

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO SECRETARIA FEDERAL DE CONTROLE INTERNO

Introdução à Farmacoeconomia. Técnicas de análises farmacoeconômicas

RESPOSTA RÁPID 316/2014 Informações sobre Topiramato e Risperidona na Deficiencia mental e Transtorno hipercinético

Energia Elétrica como Proxy do Desenvolvimento. Econômico do Estado de Goiás. PIBIC/

ANÁLISE DE ASPECTOS NUTRICIONAIS EM IDOSOS ADMITIDOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

ANÁLISE DE TENDÊNCIAS DE TEMPERATURA MÍNIMA DO BRASIL

P4-MPS.BR - Prova de Conhecimento do Processo de Aquisição do MPS.BR

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO. PROJETO DE LEI N o 5.218, DE 2013 I - RELATÓRIO

CONTRIBUIÇÃO DO GRUPO CMS (CPEE, CSPE, CJE E CLFM) PARA A AUDIÊNCIA PÚBLICA ANEEL No 019/2005

O CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA REALIZAÇÃO DO EXAME CLÍNICO DAS MAMAS

Curitiba, 25 de agosto de SUBSÍDIOS À CAMPANHA SALARIAL COPEL 2010 DATA BASE OUTUBRO 2010

Unidade: Decisão de Investimento de Longo Prazo. Unidade I:

Custo de medicamentos antipsicóticos sob a perspectiva do Sistema Único de Saúde

Extensão Universitária: Mapeamento das Instituições que Fomentam Recursos para Extensão Universitária RESUMO

Tema: Boceprevir para tratamento da hepatite viral crônica C associada a cirrose hepática

NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA A REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE TRABALHO DE GRADUAÇÃO

Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) no Tratamento do. Câncer de Cabeça e Pescoço. Contexto da Medicina Baseada em Evidências

O USO DE MEDICAÇÃO ANTI-HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO

Resolução Prova de RACIOCINIO LOGICO MATEMATICO (PARTE MATEMÁTICA) PROF RICARDO ALVES

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE?

Graduada em Nutrição pela UFPE Especializanda em Saúde Coletiva e Sociedade do IBPEX/FACINTER walmafra@oi.com.br

IMPACTO DO PROGRAMA HIPERDIA NO ACESSO A MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO EM IDOSOS DO SUL E NORDESTE DO BRASIL

Políticas de recursos humanos no sistema de saúde brasileiro: estudo avaliativo

Análise da qualidade de imagens Landsat-1-MSS entre os anos de 1972 e 1975 para o bioma Cerrado

TEMA: CINACALCETE SEVELAMER NO TRATAMENTO DO DISTÚRBIO DO METABOLISMO ÓSSEO E MINERAL DA DOENÇA RENAL CRÔNICA

Manual do Revisor Oficial de Contas IAS 7 (1) NORMA INTERNACIONAL DE CONTABILIDADE IAS 7 (REVISTA EM 1992) Demonstrações de Fluxos de Caixa

Levantamento Nacional do Transporte Escolar Dados por Região: NORTE

ANÁLISE DO VOLUME DE VENDAS DO COMÉRCIO VAREJISTA FEV/2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO MEDICINA SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

SEFAZ-PE DESENVOLVE NOVO PROCESSO DE GERÊNCIA DE PROJETOS E FORTALECE OS PLANOS DA TI. Case de Sucesso

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO RESULTADO DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL

Programa Estágio de Curta Duração CAPES/Fundação Carolina

FINANCIAMENTO DE UNIDADES DE I&D ( )

A INSTITUIÇÃO TESOURO ESTADUAL EM TEMPO DE AMEAÇAS ÀS FINANÇAS CAPIXABAS*

Caracterização da Variabilidade do Vento no Aeroporto Internacional de Fortaleza, Ceará. Parte 2: Análise da Velocidade

Combustíveis BOLETIM CEPER. Ribeirão Preto/SP. Prof. Dr. Luciano Nakabashi André Ribeiro Cardoso e Simone Prado Araujo

ANEXO II: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROPOSTA TÉCNICA E ECONÔMICA ÁREA DE PLANEJAMENTO 3.1

NCE/15/00099 Relatório preliminar da CAE - Novo ciclo de estudos

ECT: Aplicação na esquizofrenia

Eficiência na Atenção à Saúde

EDITAL Nº. 41/2015. Programa Institucional de Iniciação Científica para o Ensino Médio - IC/EM. Bolsas de Iniciação Científica Ensino Médio

FORMULÁRIO DE APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS

BOLETIM DO EMPREGO EM UBERLÂNDIA. Ano 3 Nº 7 Maio/2014

Regina Parizi Diretora Executiva MAIO/2009

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO N.º Despacho

Tópicos Especiais de Análise de Balanços

Assistência Farmacêutica na Depressão

Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Sub-E I X O 4-4ª C N S T

Transcrição:

1 ANÁLISE DO CUSTO DOS ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: A CO- PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE E DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Katarina Melo Chaves 1, Aurigena Antunes de Araújo Ferreira 2, Gerlane Coelho Guerra 3, Francisco das Chagas Rodrigues 4, Magneide Diniz Pinto Cavalcante 5, George Antunes de Oliveira 6. 1. Aluna de graduação do curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. 2. Professora Adjunta da disciplina de Farmacologia da UFRN. 3. Professora Adjunta da disciplina de Farmacologia da UFRN. 4. Professor Adjunto da disciplina de Medicina Clínica da UFRN. 5. Farmacêutica do Hospital Psiquiátrico Dr João Machado, responsável pelo setor do Alto Custo 6. Diretor geral da UNICAT/RN. Endereço: Katarina_chaves@yahoo.com.br Apoio Financeiro: DECIT/SCTIE/MS e MCT por intermédio do CNPq RESUMO Objetivo: Verificar a relação entre custo dos antipsicóticos atípicos no Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte e Ministério da Saúde. Método: A coleta de dados foi realizada no Hospital Psiquiátrico Dr João Machado, Natal, Rio Grande do Norte/ RN, Brasil, nos anos de 2006 e 2007 no período de janeiro a agosto. Foram investigados os seguintes medicamentos: olanzapina 10mg, risperidona 2mg, ziprazidona 40mg/80mg, através do seu preço unitário, avaliando a participação do Estado no Programa de Alto Custo. Foi realizada uma correlação do consumo dos antipsicóticos, bem como do custo para o Estado, utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson com nível de significância de 5%. Resultados: Os resultados mostraram uma diferença estatisticamente significante entre o consumo do antipsicótico, olanzapina 10mg de 2006 para 2007 (r² = 0,5792, p 0,02). O Ministério da Saúde repassou o valor de R$ 6,51 para compra da olanzapina até outubro de 2006, a partir de novembro de 2006 e no ano de 2007 o valor aumentou, sendo repassado R$ 10,00. O preço unitário do comprimido de 10mg de olanzapina foi reduzido de R$17,04 para R$15,62 a partir de julho de 2007 A correlação entre o consumo da olanzapina e o custo desembolsado para a compra deste medicamento pelo Estado do Rio Grande do Norte no ano de 2006 foi estatisticamente significante (r² = 1, p 0,0001), no entanto em 2007 não foi verificada diferença significante (r² = 0,29, p 0,16).

2 Conclusão: O consumo dos antipsicóticos aumentou de 2006 para 2007. O Programa de Alto Custo exige uma co-participação de Estado, União e iniciativa privada. Através deste estudo pode-se vê a importância do incremento deste repasse de recursos da União, bem como a capacidade do Estado do RN em negociar com a indústria farmacêutica para redução do preço do medicamento de forma a incrementar o acesso aos pacientes assistidos na terapia dos antipsicóticos atípicos. PALAVRAS-CHAVES: Agentes antipsicóticos. Economia da saúde. Estado do Rio Grande do Norte. ABSTRACT Background: The purpose of this study is to examine the relation cost of antipsychotics atypical in State Rio Grande do Norte. Methods: The data is collected in the psychiatric hospital Doctor João Machado in the city of Natal, Rio Grande do Norte state/ Brazil from 2006 to 2007. The cost/consume between the antipsychotics is analyzed using the Pearson Correlation (p<0,05). Results: The difference of cost is significant between the olanzapina antipsychotic (p<0,0001). The Correlation Coefficient in the cost/consume analysis is significant at atypical antipsycothic (p<0,02). Conclusions: Our study corroborates an public health trend in Rio Grande do Norte State/Brazil that start supporting atypical psychotic therapeutics. Key-words: Antipsycotics medicaments; Health economics; State Rio Grande do Norte. INTRODUÇÃO A esquizofrenia é um importante problema de saúde pública e, corresponde a um terço de todas as admissões psiquiátricas, representando cerca de 3 % do total de gastos com hospitalização pelo Serviço Nacional de Saúde Brasileiro 1. Os dados epidemiológicos sobre psicoses no Brasil são escassos, mas estudos mostram que são da ordem de 0,2 a 2,0 % da população adulta 2. Os medicamentos antipsicóticos representam a base do tratamento farmacológico para pacientes com esquizofrenia 3. Estudos duplo-cegos e meta-análises demonstraram a

3 eficácia dos antipsicóticos típicos como a primeira alternativa para sintomas positivos da esquizofrenia 4. No entanto, a intolerância aos efeitos adversos, principalmente, extrapiramidais, pode justificar a substituição para os antipsicóticos atípicos 5. Atualmente, estudos na área da farmacoeconomia mostram que os antipsicóticos atípicos e típicos apresentam eficácia semelhante 4,5. Com relação à efetividade, os fármacos atípicos são superiores aos antipsicóticos convencionais 6. Quanto à disponibilidade, os antipsicóticos de nova geração são menos acessíveis à população, por se tratarem de medicamentos de alto custo 7. Assim o objetivo desse estudo é verificar a relação entre custo dos antipsicóticos atípicos no Sistema Único de Saúde no Estado do Rio Grande do Norte e Ministério da Saúde. MATERIAIS E MÉTODOS Esse estudo foi desenvolvido pela Disciplina de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. A instituição investigada, Hospital Estadual Dr. João Machado, na cidade do Natal, Estado do Rio Grande do Norte/RN, nordeste brasileiro. Coleta de dados Foi realizado um levantamento dos antipsicóticos atípicos dispensados nos meses de janeiro a agosto dos anos de 2006 e 2007, no Hospital Dr. João Machado. As planilhas do demonstrativo mensal de consumo foram consultadas, obtendo-se os valores totais de cada antipsicótico nos diferentes anos. Os dados referentes ao custo unitário de cada medicamento foram fornecidos pela UNICAT/RN.

4 Análise dos dados A partir do consumo e valores unitários de cada antipsicótico foram verificados os custos de cada medicamento para a SESAP e Ministério da Saúde, sendo verificada a diferença de custo de financiamento do medicamento pelo Estado do RN. Foram investigados os seguintes medicamentos: olanzapina 10mg, risperidona 2mg, ziprazidona 40mg/80mg no ano de 2006, bem como estes, mais olanzapina, 5mg, quetiapina 100/200mg e clozapina 100mg no ano de 2007. Foi realizada uma correlação do consumo dos antipsicóticos, bem como do custo para o Estado, utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson com nível de significância de 5%. RESULTADOS Nos quadros (tabela 1 e tabela 2) foi possível verificar os antipsicóticos dispensados nos anos de 2006 e 2007, o preço unitário do comprimido, o consumo, e os valores de compra da SESAP e Ministério da Saúde, assim como as diferenças desembolsadas pelo Estado para a compra dos medicamentos consumidos. TABELA 1: TABELA DE CONSUMO E CUSTO DOS ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO ANO DE 2006, NATAL, RN, 2007. 2006 MEDICAMENTOS Valor de Compra por comp. Valor de compra ATÍPICOS SESAP MS Consumo em cp SESAP MS Desembolso/ RN RISPERIDONA 2 MG 0,09 0,66 5.236 4.712,40 34.357,60 29845,2 1 CLOZAPINA 100MG * * * * * * OLANZAPINA 5 MG * * * * * * OLANZAPINA 10 MG 17,04 6,51 20.048 341.617,92 1.110.189,30 1.790.165,10 ZIPRAZIDONA 40 MG 5,91 4,46 23.100 136.521,00 103.026,00 33.495,00 ZIPRAZIDONA 80 MG 9,83 7,43 48.384 482.851,32 1.247.572,90 1.823.660,10 QUETIAPINA 100MG * * * * * * QUETIAPINA 200MG * * * * * * 1. Lucro

5 SESAP - Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte M.S - Ministério da Saúde ( Valor de Reembolso ao Estado do RN ) TABELA 2: TABELA DE CONSUMO E CUSTO DOS ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO ANO DE 2007, NATAL, RN, 2007. 2007 MEDICAMENTOS Valor de Compra por comp. Valor de compra ATÍPICOS SESAP MS Consumo em cp SESAP MS Desembolso/ RN RISPERIDONA 2 MG 0,09 0,09 71.800 6.462,00 6.462,00 0,00 CLOZAPINA 100MG 3,89 1,55 4.020 15.637,80 6.231,00 9.406,80 OLANZAPINA 5 MG 8,53 5,05 756 6.448,68 3.817,80 2.630,88 OLANZAPINA 10 MG 2 17,04 10,00 204.652 3.410.334,48 2.046.520,00 1.363.814,48 ZIPRAZIDONA 40 MG 5,91 4,55 14.490 85.635,90 65.929,50 19.706,40 ZIPRAZIDONA 80 MG 9,83 7,58 27.030 265.704,90 204.887,40 60.817,50 QUETIAPINA 100MG 6,00 4,47 6.440 38.640,00 28.786,80 9.853,20 QUETIAPINA 200MG 10,8 8,56 4.284 46.267,20 36.671,04 9.596,16 2. Nos meses de julho e agosto houve um reajuste no valor, onde este passou para R$ 15.62. SESAP - Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte M.S - Ministério da Saúde ( Valor de Reembolso ao Estado do RN ) Os resultados mostraram uma diferença estatisticamente significante entre o consumo do antipsicótico, olanzapina 10mg de 2006 para 2007 (r² = 0,5792, p 0,02)., vistos na figura 1. 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto 2006 2007 Figura 1: Consumo da olanzapina de 10mg de jan a agosto de 2006 e 2007, Natal, RN. (p 0,02).

Custo 6 O Ministério da Saúde repassou o valor de R$ 6,51 para compra da olanzapina 10mg até outubro de 2006, a partir de novembro de 2006 e no ano de 2007 o valor aumentou, sendo repassado R$ 10,00. O preço unitário do comprimido de 10mg de olanzapina foi reduzido de R$17,04 para R$15,62 a partir de julho de 2007. A correlação entre o consumo da olanzapina e o custo desembolsado para a compra deste medicamento pelo Estado do Rio Grande do Norte no ano de 2006 foi estatisticamente significante (r² = 1, p 0,0001), visto na figura 2. 400000 300000 R 2 = 1 200000 100000 0 0 10000 20000 30000 40000 Consumo Figura 2: Correlação entre custo/consumo da olanzapina de 10mg de jan a agosto de 2006, Natal, RN. (p 0,0001). No ano de 2007 não foi verificada diferença significante entre o custo e o consumo da olanzapina de 10mg (r² = 0,29, p 0,16). Figura 3.

custo 7 250000 200000 150000 100000 50000 0 R 2 = 0,2948 0 10000 20000 30000 40000 consumo RN. (p 0,16). Figura 3: Correlação entre custo/consumo da olanzapina de 10mg de jan a agosto de 2007, Natal, Discussão Em outubro de 1998 foi aprovado no Brasil a Política Nacional de Medicamentos nº3916 que estabelece em suas diretrizes a reorientação da assistência farmacêutica, incluindo a garantia de acesso da população aos medicamentos de custos elevados para doenças de caráter individual 7. O Ministério da Saúde definiu os medicamentos a serem contemplados pelo programa, abrangendo os medicamentos de elevado valor unitários, ou aqueles que se tornaram excessivamente caros pela duração do tratamento. Os medicamentos de alto custo são denominados excepcionais, entre eles, estão os antipsicóticos atípicos que tem seu uso regulamentado pela Portaria nº 846 de 06 de novembro de 2002 8. A Portaria nº 846 estabelece o Protocolo Clínico e as Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da esquizofrenia refratária com antipsicóticos atípicos no Brasil. Observou-se nessa investigação uma variabilidade quanto aos novos antipsicóticos utilizados no tratamento da esquizofrenia. Em 2006 eram utilizados a olanzapina 10mg, risperidona de 2mg, ziprasidona de 40mg e 80mg. No ano de 2007, além desses

8 antipsicóticos foram inseridos na lista de padronização do hospital a olanzapina, 5mg, quetiapina 100/200mg e clozapina 100mg. Estas modificações, em relação aos antipsicóticos dispensados, demonstram que existe uma preocupação e compromisso do Estado Brasileiro em atender à Política Nacional de Medicamentos (PNM), que busca a contínua atualização e padronização de protocolos de intervenção terapêutica e dos respectivos esquemas de tratamento 9. O compromisso de ampliar o acesso do paciente na terapia aos antipsicóticos atípicos pode ser observado quando se verificam diferenças significantes do consumo da olanzapina de 10mg no ano de 2007, quando comparado com o ano de 2006. Existem vários fatores relacionados com a crescente migração do paciente da terapia dos antipsicóticos típicos para os atípicos, segundo Meltzer (10) e Hofer et al (11) demonstraram a maior efetividade e melhor tolerância dos medicamentos de nova geração, quando comparados aos antipsicóticos convencionais. O estudo de Gama (12) demonstrou que os pacientes tratados com medicamentos típicos ficam hospitalizados e a reintegração social é comprometida. Meltzer et al (13) e Aronson (14), mostraram que ocorre uma diminuição nos custos totais de pacientes com esquizofrenia, quando tratados com fármacos de nova geração, primariamente por reduzir as rehospitalizações. Embora o consumo da olanzapina tenha aumentado no ano de 2007, o custo do tratamento não apresentou uma correlação significante. Entre os fatores que podem estar relacionados destacam-se: a capacidade de negociação do Estado do RN, dentro de um contexto de políticas públicas de incrementar a lista de medicamentos atípicos, bem como pela intervenção do Estado ao procurar negociar com a indústria farmacêutica de forma a reduzir o preço e, conseqüentemente, aumentar o acesso aos medicamentos.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Alves, DSN. et al. Elementos para uma análise da assistência em saúde mental no Brasil. J Bras. Psiquiatr 1992; 41: 423-426. 2. Almeida FN. et al. Estudo multicêntrico de morbidade psiquiátrica em áreas urbanas brasileiras (Brasília, São Paulo, Porto Alegre). Rev ABP-APAL 1992; 14:93-104. 3. Davies, LM; Drummond, MF. The economic burden of schizophrenia. Psychiatr. Bull. 1990; 14:522-595. 4. Kane J, Honigfeld G, Singer J, et al. Clozapine for the treatment-resistent schizophrenia: a double-bind comparison with chlorpromazine. Arch Gen Psychiatry 1988; 45:789-796. 5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Protocolo Clnico e Diretrizes Terapêuticas Esquizofrenia Refratária. Portaria núm 846 de 06/11/02. 6. Conley RR, Love RC, Kelly DL, Bartke JJ. Rehospitalization Rates of Patients Recently Discharged on a Regimen of Risperidone or Clozapine. Am J Psychiatry 1999;156 (6): 863-868. 7. Patel, A. The promises and pitfalls of pharmacoeconomics in schizophrenia. European Psychiatry 2003; 18 Supl 2: 62-67. 8. Keks N.A. Clinical Therapeutics. Elsevier Science. 1997;(1): 148-158. 9. Brasil, Conselho Nacional de Secretaria de Saúde. Para entender a gestão do Programa de Medicamentos de Dispensação em caráter excepcional/conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2004.

10 10. Meltzer, HY. New insights into schizophrenia through atipics antipsychotic drugs. Neuropsichopharmacology 1988;(3):193-196. 11. Hofer A, Hummer M, Kemmeler G, Kurz M, Kurzthaler I, Fleishhacker W. W. The safety of clozapine in the treatment of first and multiple episode patients with treatment-resistent schizophrenia. Int J Neuropsycholpharmacol 2003; 6:201-206. 12.Gama CS, Souza CM, Lobato MI, Abreu PS. Relato do uso da clozapina em 56 pacientes atendidos pelo Programa de Atenção à Esquizofrenia Refratária da Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul. Rev. Psiquiatr. 2004; 26: 21-28. 13.Meltzer HY, Cola P Way L, Thompson PA, Bastani B, Davies MA, et al. Cost effectiveness in neuroleptic-resistent schizophrenic patients. Am J Psychiatric 1993; 150:1630-1638. 14.Aronson SM: Cost-effectiveness and quality of life in psychosis: the pharmacoeconomics of risperidone. Clin Ther 1997;19: 139-147.

11