Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da...a Vara Cível da Comarca de Recife, Pernambuco



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Transcrição:

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da...a Vara Cível da Comarca de Recife, Pernambuco O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, através do Promotor de Justiça infrafirmado, com 11111- fulcro nos art. 129, III, da Constituição da República, art. 5, caput, da Lei n 7.347/85 e art. 82, I, do Código de Defesa do Consumidor (Lei n 8.078/90), vem à presença de Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face de HSBC Seguros Brasil S.A, pessoa jurídica de direito privado, sediada na Av. Conde da Boa Vista, n 454, 1 andar, Boa Vista, Recife, Pernambuco, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos: _,.,

DOS FATOS. 1. Pessoa jurídica dedicada à realização de contratos de seguros, a empresa Ré celebrou, através do Clube dos Rodoviários, um contrato de seguro médico-hospitalar do tipo empresarial-coletivo com funcionários associados a este Clube, cuja função, ressalte-se, consistia exclusivamente no repasse de verbas de seus associados para a empresa Ré. 2. O contrato celebrado, que abrange um total de 87 (oitenta e sete) beneficiários, conforme fls. 046 a 049 do PIP 014/02-19, traz em seu bojo cláusula contratual que prevê expressamente a possibilidade de rescisão unilateral do Contrato de Seguro, seja através da não renovação do seguro, seja através do seu cancelamento pela Seguradora quando da superveniência de alterações nos riscos segurados, tudo mediante aviso prévio de 30 (trinta) dias, senão vejamos: "22- RENOVAÇÃO/ CANCELAMENTO DO SEGURO: 22.1 A vigência da apólice será anual e com renovação automática no fim de cada aniversário. 22.1.1 A seguradora ou Estipulante, mediante aviso prévio de no mínimo 30 (trinta) dias anteriores ao aniversário, poderá deixar de renovar o seguro. 22.1.2 O seguro poderá ser cancelado pela Seguradora mediante aviso prévio de 30 (trinta) dias, no mínimo, se a natureza dos riscos vir a sofrer alterações que a tornem incompatível com as condições técnico/atuariais mínimas de manutenção." c^n

3. Com fulcro nesta cláusula expressa no contrato de adesão supracitado de natureza incontestavelmente potestativa, a empresa Ré, em 07.02.2002, informou aos beneficiários do Seguro em questão, através de carta ao Clube dos Rodoviários, que não procederia à renovação da apólice do contrato, cujo vencimento se daria em 31.03.2002, acarretando prejuízos para os mesmos, vez que muitos não dispunham de condições para efetivar outro seguro de saúde do mesmo alcance. 4. O Ministério Público, instado por meio de representação de um dos segurados prejudicados, instaurou um procedimento de investigação preliminar, revelando-se inúteis os esforços no sentido de renovação do contrato de Seguro, diante da negativa da empresa Ré de formalização de termo de compromisso 11, de ajustamento de conduta, sob a alegação de existência de previsão contratual da referida rescisão e de falta de interesse da Seguradora na renovação do contrato por decisão administrativa. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS 01. O Código Civil Brasileiro assim dispõe acerca das condições potestativas puras: "Art.115: São lícitas, em geral, todas as condições, que a lei não vedar expressamente. Entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o ato, ou o sujeitarem ao arbítrio de uma das partes." (grifo Ministerial)

02. Caio Mario da Silva Pereira, no livro Instituições de Direito Civil, Vol. I, página 366, ed. Forense, 19a ed., 1999, comenta acerca deste art. 115: "A lei destaca (Código Civil, art.115, segundo membro), de entre as condições que invalidam o ato aquela que o sujeita ao arbítrio exclusivo de uma das partes. É a chamada condição potestativa pura, que põe todo o efeito da declaração de vontade na dependência do exclusivo arbítrio daquele a quem o ato interessa. [...]É uma cláusula que nega o próprio ato. [...] A conditio potestativa pura anula o ato, porque o deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes." 3. No caso sub examine, é incontestável a natureza potestativa da cláusula que prevê a possibilidade de rompimento unilateral do contrato de seguro-saúde, devendo a cláusula, portanto, ser inquinada de nulidade. 4. Este é o entendimento da jurisprudência pátria. Destaque-se o posicionamento do Tribunal de Justiça de Pernambuco, que, por ocasião de agravo de instrumento n 42682-2 (no qual figura, não por coincidência, a empresa Ré), manifestou-se acerca do caso específico de cláusula potestativa: em contrato de seguro-saúde, firmando o seguinte entendimento: (ri

" Agravo de Instrumento n 42682-2 Relator:Márcio Xavier ACÓRDÃO EMENTA. Seguro saúde Contrato Rompimento unilateral Cláusula potestativa Nulidade. É nula a cláusula que, em contrato de seguro saúde, confere à seguradora a faculdade de, a seu talante, rescindir a avença celebrada. Necessidade, em última hipótese, de demonstração, através de cálculos atuariais convincentes, da impossibilidade de manutenção da vigência do contrato. Agravo improvido. Decisão unânime." 05. Observa-se, a contrario sensu, no caso sub examine, que a empresa Ré, quando da negativa de renovação da apólice do contrato supracitado, não ofereceu aos segurados qualquer demonstração acerca da impossibilidade de manutenção da vigência do contrato, alegando apenas a falta de interesse na renovação do contrato de seguro saúde, com fulcro na existência de cláusula que prevê expressamente a possibilidade de rompimento unilateral, e, portanto, cláusula potestativa pura, passível de anulação. 06. Ademais, trata-se de contrato de adesão, em que é latente a hipossuficiência dos consumidores os beneficiários do seguro não renovado, os quais se encontram em situação de evidente desequilíbrio em relação à empresa Ré. 07. As relações de consumo encontram-se disciplinadas pela Lei 8078/90. Neste diploma é latente a intenção de proteção ao consumidor, diante da sua hipossuficiência econômica. Procura-se preservar o equilíbrio negociai entre fornecedor e consumidor, assegurando-lhe a igualdade nas contratações. Tais diretrizes

encontram-se expressas no Código de Defesa do Consumidor, senão vejamos: " Art.4.A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art.170, da Constituição Federal), sempre com base na boa fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; " Art.6 - São direitos básicos do consumidor: IV- a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. 08. José Geraldo Brito Filomeno, no livro Código de Defesa do Consumidor, ed. Forense Universitária, 6a ed., 1999, comenta acerca deste art.6, IV: r-

"Aqui se cuida, em Capítulo especial, de n IV (da Proteção Contratual), e expressamente, de amparar o consumidor frente aos contratos, e ainda mais particularmente aos chamados "contratos de adesão", reproduzidos aos milhões, e que podem surpreender aquele com cláusulas iníquas e abusivas, dando-se então preponderância à questão de informação prévia sobre o conteúdo de tais cláusulas, fulminando-se, outrossim, de nulidade, as cláusulas abusivas, elencando o art.51, dentre outras que possam ocorrer, as mais comuns no mercado de consumo." 09. Com efeito, assim dispõe a Lei 8078/90, em seu Art. 51, quanto às cláusulas abusivas constantes do contrato em que figure o consumidor: " Art.51.- São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IX- deixem ao _fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X- permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI- autorizem o _fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XV- estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor (grifo Ministerial

10. Nelson Nery Júnior, in Código de Defesa do Consumidor, página 465, ed. Forense Universitária, 6a ed., 1999, assim se manifesta com relação ao direito fundamental de proteção do consumidor contra cláusulas abusivas: 44 O CDC enumerou uma série de cláusulas consideradas abusivas, dando-lhes o regime da nulidade de pleno direito (art. 51). Esse rol não é exaustivo, podendo o juiz, diante das circunstâncias do caso concreto, entender ser abusiva e, portanto, nula, determinada cláusula contratual.[...]. A proteção contra cláusulas abusivas é um dos mais importantes instrumentos de defesa do consumidor, importância que se avulta em razão da multiplicação dos contratos de adesão, concluídos com base nas cláusulas contratuais gerais." 11. Especificamente acerca das cláusulas abusivas de que trata o art. 51, IX e seguintes, do CDC, este autor observa: " Não se permite a cláusula que dê ao fornecedor a opção exclusiva para, a seu talante, concluir ou não o contrato e que, ao mesmo tempo, obrigue o consumidor a aceitar a opção do fornecedor. Nesse, e em outros dispositivos do Código, vê-se a preocupação da lei em dirigir o contrato de consumo para o ponto de equilíbrio ideal entre fornecedor e consumidor. A cláusula seria, ademais, potestativa, sendo proibida pelo art. 115 do Código Civil." (grifo Ministerial) M1!

12. Configurada a existência de cláusula abusiva no contrato de seguro em exame, sendo ela nula de pleno direito, como se deflui do supramencionado Art. 51, encontra-se a empresa Ré obrigada a proceder à renovação do contrato, por ela rompido unilateralmente, promovendo aos consumidores sacrifícios e até danos irreparáveis, porque excluídos do atendimento médico médico-hospitalar a que têm direito em virtude de negócio jurídico. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA 01. O CPC assim dispõe acerca da concessão da tutela antecipada: " Art.273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I- haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II- fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.,, céd

2. No caso em apreço, presentes estão os pressupostos para a concessão de tutela antecipada, vez que é inequívoca a natureza potestativa da cláusula que prevê a rescisão unilateral do contrato, sendo ela abusiva e, portanto, nula de pleno direito, conforme está demonstrada através da prova documental produzida nos autos do Procedimento de Investigação Preliminar n 014/02-19. 3. Ademais, os consumidores, celebrantes do contrato de seguro supracitado encontram-se sem seguro de saúde e portanto, descobertos, na eventualidade de necessidade de serviços médico-hospitalares desde o dia 31.03.2002, data de vencimento do contrato de seguro, dado que a empresa Ré, com fulcro na supracitada cláusula abusiva, negou-se a renovar a apólice do contrato. 4. É por demais oportuno ainda trazer à colação que a vida constitui um dos direitos fundamentais do cidadão, sem olvidar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: Art.1 A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I- a soberania; II- a cidadania; III- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V- o pluralismo político.

Art. 5 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. 05. Configuram-se, portanto, presentes o fumus boni juris cláusula contratual manifestamente abusiva - e o periculum in mora possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação para os segurados que tiveram seus contratos de seguro rompidos unilateralmente, já que, desprovidos de plano de saúde, não têm como se precaver de eventuais necessidades de serviços médico- hospitalares. DOS PEDIDOS 01. Ante o exposto, uma vez presentes seus requisitos, o fumus boni juris cláusula contratual manifestamente abusiva e o periculum in mora possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação, requer a Vossa Excelência a concessão da tutela antecipada, inaudita altera pars, no sentido da renovação imediata do supracitado contrato para os segurados que tiveram seus contratos de seguro unilateralmente rompidos por parte da empresa Ré, os quais se encontram individualizados no PIP 014/02-19, fls. 046 a 049, perfazendo um total de 87 (oitenta e sete) consumidores-beneficiários (segurados);

02. A citação da parte adversa conteste a presente Ação Civil Pública. para que, querendo, 03. Que seja julgada procedente a presente Pública, declarando-se a nulidade da clá Ação Civil estabelece a possibilidade de rompimento unila usula contratual que contrato de seguro-saúde, a fim de que se teral do supracitado determinando-se à empresa Ré a definitiva restabeleça o contrato, renovação do segurosaúde, restabelecendo-se as garantias e os direitos dos S consumidores-beneficiários (segurados). 04. Requer também a fixação de multa de R$ 10 (cem mil reais) por dia à empresa Ré 0.000,00, pelo descumprimento de quaisquer das obrigações de fazer determinadas por este Juízo, em favor do Fundo Municipal de Defesa do Consumidor de Recife. Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), para efeito de cumprimento dos requisitos do art. 282 do CPC. Recife, 12 de junho de 2002. /117M SOLON IVO DA SI A FILHO Promotôt de Justiça ANNA LUIZA COSTA Estagiária do MPPE