Análise da Formação dos Custos e dos Preços em Restaurantes de Hotéis no Nordeste Brasileiro

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Transcrição:

Análise da Formação dos Custos e dos Preços em Restaurantes de Hotéis no Nordeste Brasileiro Aloisio da Silva Lima Maria Silene Alexandre Leite Resumo: A ocorrência de importantes transformações na economia mundial ao longo dos últimos anos resultou em profundas mudanças na gestão empresarial. Custos passou a ser palavra chave na obtenção de vantagens competitivas. Com o incremento na oferta de produtos e serviços, o preço passou a ser determinado pelo mercado, isso determinou aos fabricantes adequarem suas planilhas de custos a nova realidade. Por outro lado a introdução da mentalidade da busca constante da Qualidade Total nas empresas, teve como conseqüência o surgimento de inúmeras novas técnicas de controle de custos, que poderiam vir a auxiliar gerentes nas suas tomadas de decisões. Todas essas mudanças impõem aos empresários, administradores e gerentes um tratamento mais rigoroso, prioritário e detalhado dos custos. Neste trabalho procura-se mostrar os critérios adotados para a formação de custos e dos preços no decorrer da elaboração dos produtos oferecidos pelos restaurantes. Palavras-chave: Área temática: Gestão Estratégica de Custos no Processo Decisório das Organizações

Análise da Formação dos Custos e dos Preços em Restaurantes de Hotéis no Nordeste Brasileiro 1. Introdução Aloisio da Silva Lima Universidade Federal da Paraíba - Departamento de Engenharia de Produção Bloco G - CEP. 58051-970 - João Pessoa - PB Fone: (083) 216-7124 Maria Silene Alexandre Leite Universidade Federal da Paraíba - Departamento de Engenharia de Produção Bloco G - CEP. 58051-970 - João Pessoa - PB Fone: (083) 216-7124 A ocorrência de importantes transformações na economia mundial ao longo dos últimos anos resultou em profundas mudanças na gestão empresarial. Custos passou a ser palavra chave na obtenção de vantagens competitivas. Com o incremento na oferta de produtos e serviços, o preço passou a ser determinado pelo mercado, isso determinou aos fabricantes adequarem suas planilhas de custos a nova realidade. Por outro lado a introdução da mentalidade da busca constante da Qualidade Total nas empresas, teve como conseqüência o surgimento de inúmeras novas técnicas de controle de custos, que poderiam vir a auxiliar gerentes nas suas tomadas de decisões. Todas essas mudanças impõem aos empresários, administradores e gerentes um tratamento mais rigoroso, prioritário e detalhado dos custos. Neste trabalho procura-se mostrar os critérios adotados para a formação de custos e dos preços no decorrer da elaboração dos produtos oferecidos pelos restaurantes. 2. Observações realizadas Nos restaurantes visitados encontrou-se muito desperdício no tratamento dos alimentos para a preparação dos pratos. No caso do filé de peixe, o peixe inteiro era adquirido a R$5,00 por quilograma. Viu-se a compra de 93 kg de peixe que foram reduzidos, após o porcionamento, ao uso útil de 27,40 kg, ou seja, uma perda de 70,5%, fazendo com que o custo do quilograma útil de filé de peixe fosse elevado ao valor de R$17,00, enquanto, na época, a compra do quilograma de peixe, já devidamente porcionado, custava no mercado local R$11,00. Já o frango era comprado a R$1,50 por quilograma. Foram adquiridos 55,5 kg. A perda foi de 30,6%. Para o camarão a situação também era ruim: preço de compra R$7,00 e 16 quilogramas comprados. Perda de 62,5%.

Quanto as carnes bovinas observou-se que o filé mignon custava R$6,00, sendo comprados 24,50 kg.: perda de 48,30%; e, que o contra-filé: custo de R$4,50 ; 20 kg. comprados e perda de 47%. 3. Situação atual da formação de preços e custos nos restaurantes de hotel Abaixo apresenta-se o modo como o hotel elabora os preços dos pratos disponíveis no cardápio. Para efeito de análise foi selecionado o prato que estatisticamente tem o maior número de pedidos: Filé de Peixe, segundo dados registrados nos restaurantes pesquisados. Prato: Filé de Peixe Produto UN % perda Qtde. bruta Qtde. líquida Filé de Peixe Tempero Fondor Macaxeira Abacaxi Farinha trigo Ovos Tomate Alface Óleo de soja Sal Porção UN UN UN LT 1,000 5 0,150 0,350 0,030 1,000 0,050 0,250 0,015 5 1,000 5 0,150 0,350 0,030 1,000 0,050 0,250 0,015 5 Preço de compra 2,380 0,010 0,110 0,310 0,030 0,070 0,040 0,080 0,020 0 Tabela I. Ficha técnica FONTE: Pesquisa direta Nordeste - BR. 1995 Custo...3,05 ( somatório dos diversos insumos de matérias-primas ) Quebra... ( não é calculada ) ICMS...17,0% ( imposto estadual sobre circulação de mercadorias ) Fator de correção...3,00 ( fixado arbitrariamente de acordo com a concorrência quantitativa do mercado local - inclui os demais fatores geradores de custos não considerados) Preço preliminar de venda..9,15 ( custo vezes o fator de correção, a ser analisado de acordo com o preço da concorrência ) Tempo de preparo... ( não é estimado ) Observando os dados apresentados, pode-se notar que há distorções nos critérios adotados para formar o preço dos produtos vendidos, tais como: A Ficha Técnica mostra um conjunto de elementos que caracterizam a composição do prato diferente do que constatou-se na realidade: arroz, ervilhas e limão não aparecem

na ficha, enquanto farinha de trigo, ovos e tempero fondor não são utilizados, o que mascara o custo real da matéria-prima. Quantidades: é facilmente perceptível pela ficha que não há determinação das quantidades para a elaboração do prato, o que é um pré-requisito básico para reduzir as perdas e padronizar os produtos fabricados, visto que se não há determinação científica das medidas, e verificou-se que não há balanças, os cozinheiros as estipulam empiricamente, o que raramente corresponde as quantidades ideais. Além disso não há padronização das medidas de quantidades. Quebra: os equipamentos e utensílios utilizados nos restaurantes, são manuseados por funcionários e pelos clientes inúmeras vezes por dia, podendo ser quebrados, danificados ou desaparecidos, sendo necessário, portanto repor nas mesmas quantidades anteriormente existentes. Existe, ainda, depreciação do ambiente, como necessidade de refazer-se a pintura, a decoração etc. Por isso deve haver um valor monetário correspondente a estas despesas incluído no preço final do produto. Fator de correção: é um critério utilizado para ajustar o preço do produto ao mercado, isto é, se o produto é abundante no mercado o fator de correção é menor, se é exclusivo é maior. Nele estão, também, embutidos os custos não calculados: aluguéis, impostos, propaganda etc. No setor hoteleiro este fator é estipulado unicamente pela sensibilidade da administração ao mercado, não havendo estudos que mostrem o valor ótimo para a venda do produto. Tempo de preparo: é um fator importantíssimo na elaboração do preço de venda de um produto ou serviço, porém não é diretamente considerado no momento do cálculo do custo do produto. Isso pode provocar grandes alterações no cálculo dos custos, ocasionando lucros otimizados ( fictícios ) e custos minimizados (distorcidos). Perda: na composição do produto as perdas não são consideradas, o que ocasiona grandes lacunas na avaliação do custo do produto. ICMS: não há preocupação de realizar compensação entre créditos e débitos de recolhimento de impostos, simplesmente sendo alocados, pelo fator de correção, estes custos ao preço final dos produtos.

4. Metodologia proposta para a elaboração dos critérios de determinação de custos e formação de preços em restaurantes de hotéis. Abaixo apresenta-se o modo como o hotel deveria elaborar os preços dos pratos disponíveis em seu cardápio. Escolheu-se o mesmo prato mostrado anteriormente para exemplificação. Prato: Filé de Peixe Produto UN R$ perda Quantidade Preço de compra Filé de Peixe Arroz Macaxeira Abacaxi Ervilha Limão Tomate Alface Óleo Sal 0,42 * * * * 120g 300g 160g 92g 50g 38g 24g 1g 23g 2g 0,60 0,26 0,11 0,09 0,10 0,08 0,02 0,016 0,03 05 Tabela II. Ficha técnica FONTE: CRACKNELL et. al.(1990,137p) Custo total de matéria prima...1,31 ( soma dos preços das matérias-primas utilizadas ) Perdas...0,48 ( 0,42 de perda no peixe e, ainda, 0,06 de perdas nos itens com asterisco (*) ) MOD...0,29 ( mão-de-obra direta pessoal envolvido na confecção do prato por tempo de preparo) Gás...0,33 ( consumo por unidade produzida ) Água...0,15 ( consumo da cozinha por unidade produzida ) Energia...1,01 ( calculado pela potência das máquinas ) Material de limpeza...0,13 ( consumo por unidade produzida ) Custo de material de venda...0,10 ( custo com propaganda, viagens e transporte por unidade produzida) Diversos...0,05 ( material de escritório, guardanapos, palitos, canudos etc. ) Depreciação predial, decoração...0,30 ( estimado ) Aluguel...0,30 ( estimado ) Quebra:...0,05 ( estimado: não tivemos como calcular, já que

não existe steward ) Custo total...4,50 Margem de lucro ( 30%)...1,35 Preço antes do imposto...5,85 ICMS...0,9945 ~ 1,00 (incidente sobre o produto acabado) Preço de venda...6,85 ~ 7,00 Analisando a metodologia tecnicamente correta para a formação de preço das refeições oferecidas pelos restaurantes, pode-se perceber: O cálculo do custo deve incluir todos os componentes que interferem de forma direta ou indiretamente na formação do preço do produto ou serviço a ser vendido. O que acontece atualmente no setor hoteleiro, especificamente analisando os restaurantes, é que itens importantes, tais como: perdas, mão-de-obra direta, gás, água, energia, material de limpeza, tempo de preparo, depreciação e aluguéis não são analisados no momento do cálculo dos custos que incorrem em determinado produto. Avaliando o item quantidade (Tabelas I e II) de produto destinada a cada refeição produzida não há uma coerência lógica de proporção por pessoa na Tabela I. Os ingredientes devem ser apresentados todos com a mesma unidade de medida Quanto a perda, não há uma preocupação visível no que se refere a análise dos desperdícios pelo que se observa na Tabela I. O que acontece, normalmente, na hotelaria é que os produtos in natura são comprados em grandes quantidades e são porcionados no próprio hotel, o que gera grandes perdas de produtos, seja pela falta de treinamento do pessoal, seja pelo acúmulo de tarefas, já que estas vêm se somar as normais do restaurante. Estas perdas terão, indispensavelmente, de ser agregadas aos produtos finais, como mostra a Tabela II. Um fator a ser observado no item 3 é que os valores são tanto absolutos como percentuais, o que dificulta o entendimento dos critérios de formação de custos e preços. O insumo MOD ( mão-de-obra direta ) é um critério muito importante na formação do preço, pois é imprescindível saber quanto de mão-de-obra é envolvido na produção de cada prato, já que existem pratos que exigem um número maior de funcionários na preparação devido a seu grau de dificuldade, encarecendo ou barateando o preço final do produto. Outro aspecto que precisa ser observado é se, realmente, a quantidade de MOD para a produção daquele produto é suficiente ou não. A maioria dos restaurantes de hotéis ainda utilizam fogões à gás o que ocasiona um custo elevado em consequência da quantidade produzida ser alta e pelo mau uso por parte dos funcionários.

O consumo de água além de grande é dispendioso. Os administradores não se preocupam em ratear as despesas por todos os departamentos para verificar onde acontece os maiores custos e otimizar este consumo. Consideram este item pouco relevante para a formação do preço. A energia é um dos fatores que mais geram custo na produção dos pratos, porém os administradores não possuem um rateio por potência das máquinas, o que informaria quanto cada equipamento consome de energia e quanto é apropriado desse consumo a cada produto fabricado. Todos os utensílios utilizados na cozinha e no restaurante necessitam de material de limpeza para sua lavagem, porém esse item não é observado no momento do cálculo do custo. Custo material de venda: neste item são incluídos, todos os elementos de custos envolvidos na venda do produto, tais como: propaganda, viagens, transportes etc. Quebra: o steward (departamento ou pessoa) tem como finalidade principal preservar o patrimônio do hotel. Nos restaurantes observados não existe este controle, através de observações diretas de quebras e desaparecimentos de utensílios, pôde-se estimar um valor aproximado. Diversos: neste item estão todos os demais custos incorridos na produção de um produto que não foram mencionados em outras contas, devido ao seu pequeno valor monetário. Um dos fatores mais importantes na produção de qualquer produto não é observado no setor hoteleiro: o tempo de preparo do produto. No caso do restaurante o tempo é fator determinante de venda não só no que concerne a custo de tempo gasto para produção, mas, também, de tempo de espera do cliente pelo pedido, que interfere na determinação da escolha do restaurante. 5. Aplicação do método ABM\ABC para o cálculo dos custos Para o rateio mais apropriado dos custos, pode-se utilizar o método ABM\ABC, através dos seguintes passos: Acompanhamento da produção O primeiro passo a ser determinado é o fluxo de produção dos produtos da empresa ( número de pratos e bebidas fabricadas). Nesta fase, monta-se um fluxograma do processo de funcionamento da empresa, desde o pedido até a entrega do produto ao cliente. Para se chegar a tal fluxograma de produção, serão necessárias diversas entrevistas

informais com os funcionários das diversas áreas da empresa, que podem apresentar resistência a este trabalho. Determinação das atividades A partir das disposições do próprio fluxo de operações da empresa, pode-se determinar as atividades. É necessário organizar todas as tarefas registrando-as de forma lógica e ordenada, estabelecendo-se o nível de hierarquia entre elas( processo, subprocesso e atividade). Em seguida determinar os procedimentos que são realmente relevantes, e agrupá-los em atividades, tornando uma tarefa de grande responsabilidade, pois não é permissível a existência de um número muito elevado de atividades. Tampouco deve-se reduzi-las a um número muito pequeno. Excesso de atividades tornaria o custeio dos produtos inviável economicamente e a escassez não refletiria a exatidão a que o sistema ABC se propõe. Cada atividade utiliza os recursos de maneira diferenciada e por isso precisa ser descrita de forma lógica e ordenada, criando direcionadores claros que tornam possível uma apropriação justa dos custos de todas as atividades desenvolvidas pela empresa. Neste ponto, define-se as atividade com seus direcionadores de primeiro estágio (custeio das atividades). Determinação dos fatores de consumo de recursos Determinar as atividades que consomem mais e menos recursos. Determinação dos objetos de custos Nos restaurantes existem diversos tipos de comidas e bebidas fabricadas. A determinação do objeto de custo leva em consideração os diferentes tipos de comidas e bebidas. Implementação gradativa Por existir grande resistência a mudanças no meio empresarial, verificou-se que a implantação deveria ser gradativa. Deve-se inclusive, começar pela motivação junto ao pessoal, mostrando aos responsáveis pelos setores o que é o sistema global, o que ele pretende fazer, como são usadas as informações. Precisa-se mostrar a importância que dos seus dados, mesmo que aparentemente pequenos em relação ao sistema, terão no funcionamento geral do esquema, e como é importante lhe ser dada a devida atenção. 6. Conclusões

O trabalho analisa a estrutura de determinação dos custos e de formação de preços nos restaurantes de hotéis, desenvolvendo um equacionamento dos elementos que o compõe. A distorção de custos causados pela falta de controle da quantidade e variedade de componentes, como também os demais itens que constituem o perfil de custos do produto, é refletida diretamente no preço de venda dos mesmos. A proposta apresentada foi baseado em pesquisa direta realizada no Nordeste do Brasil em 54 hotéis de categorias de 3,4 e 5 estrelas, onde, entre outras coisas, causou impacto o nível de perdas encontradas nesses estabelecimentos. Por amostragem foi calculado o custo de uma refeição por pessoa, de forma elementar. Nesse momento da análise não se usou métodos de custeio mais precisos, como ABC\ABM ou UP S ( Unidades de Produção ), comparando-se a forma atual de cálculo vigente na maioria dos restaurantes de hotéis com a metodologia proposta. Como resultado obteve-se muitas distorções entre os cálculos realizados e existentes. Pela metodologia atualmente utilizada chegou-se ao preço de R$9,15, enquanto pela nossa proposta, mesmo simplificada, atingimos o preço de R$7,00. Uma diferença de 30,71%, que não é, necessariamente, apropriada pelo hotel, o que evidencia um descaso com relação aos cuidados da gestão do negócio e que pode fazer a diferença entre ter mais ou menos clientes. Como continuidade deste trabalho pode-se utilizar os resultados para estruturar uma planilha de custos para controle das perdas dos produtos baseado no método ABM\ABC, como foi sugerido no próprio artigo. Bibliografia CRACKNELL, KAUFAMAN e NOBIS. Catering: Manual prático e profissional da indústria hoteleira. Portugal: CETOP, 1990, 137p. LEITE, Maria Silene A. Proposta de um modelo de custos gerenciais para o setor hoteleiro. Dissertação de Mestrado. 1995.UFPB, João Pessoa - PB. OSTRENGA, Michael et al. Guia da Ernst & Young para a gestão total de custos. São Paulo: Record, 1994. SHANK, Jonh K., GOVINDARAJAN, Vijay. Gestão estratégica de custos. Rio de Janeiro: Campos, 1995.

ANÁLISE DA FORMAÇÃO DOS CUSTOS E DOS PREÇOS EM RESTAURANTES DE HOTÉIS NO NORDESTE BRASILEIRO Aloisio da Silva Lima Maria Silene Alexandre Leite Universidade Federal da Paraíba - Departamento de Engenharia de Produção Bloco G - CEP. 58051-970 - João Pessoa - PB Fone: (083) 216-7124 Resumo A ocorrência de importantes transformações na economia mundial ao longo dos últimos anos resultou em profundas mudanças na gestão empresarial. Custos passou a ser palavra chave na obtenção de vantagens competitivas. Com o incremento na oferta de produtos e serviços, o preço passou a ser determinado pelo mercado, isso determinou aos fabricantes adequarem suas planilhas de custos a nova realidade. Por outro lado a introdução da mentalidade da busca constante da Qualidade Total nas empresas, teve como conseqüência o surgimento de inúmeras novas técnicas de controle de custos, que poderiam vir a auxiliar gerentes nas suas tomadas de decisões. Todas essas mudanças impõem aos empresários, administradores e gerentes um tratamento mais rigoroso, prioritário e detalhado dos custos. Neste trabalho procura-se mostrar os critérios adotados para a formação de custos e dos preços no decorrer da elaboração dos produtos oferecidos pelos restaurantes.

Área Temática: Gestão estratégica de custos no processo decisório das organizações