VI ENCONTRO REGISTRAL IMOBILIÁRIO USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL. 12 de março de 2016 Hotel Majestic Florianópolis, SC



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Transcrição:

VI ENCONTRO REGISTRAL IMOBILIÁRIO USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL 12 de março de 2016 Hotel Majestic Florianópolis, SC

(O / A) USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL ASPECTOS PRÁTICOS (ARTIGO 216-A DA LRP) Este material é fruto da reunião de opiniões, pareceres e textos emitidos por profissionais do direito no âmbito de encontros que tiveram por tema a Usucapião Extrajudicial (XLII Encontro dos Oficiais de Registro de Imóveis do Brasil 19 a 23 de outubro de 2015 / Encontro Estadual do CORI-MG 12 e 13 de novembro de 2015), bem como é fruto da reprodução de trechos extraídos da seguinte obra: Usucapião Administrativa, da Editora Saraiva, 1ª Edição, 2016, de autoria de Leonardo Brandelli 1 OFENSA AO DIREITO DE ACESSO IRRESTRITO À JUSTIÇA - Não há que se falar em ofensa aos preceitos do artigo 5º, XXXV da Constituição Federal (direito de acesso irrestrito à justiça), uma vez que não há lesão ou ameaça de lesão diante da oportunidade de consensualidade pela via extrajudicial, com dispensa da intervenção do Estado-Juiz. (não há lide instaurada, face aos acordos expressos ou tácitos entabulados) - Alguns autores já estão defendendo que ir ao judiciário para propor usucapião sem esgotar a oportunidade da via extrajudicial implicará em carência de ação. 2 NÃO INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - Artigo 216-A da LRP dispensa atuação do Ministério Público. (curador permanente dos registros públicos) - A dispensa do Ministério Público nos feitos de usucapião está prescrita na recomendação nº 16 de 2010 do Conselho Nacional do Ministério Público. Artigo 5º - Perfeitamente identificado o objeto da causa e respeitado o princípio da independência funcional, é desnecessária a intervenção ministerial nas seguintes demandas e hipóteses: XI Ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ou de coisa móvel, ressalvadas as hipóteses da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001; - Face a não reprodução das disposições do artigo 944 do Código de Processo Civil vigente, restará o debate sobre a obrigatoriedade, ou não, de atuação do Ministério Público nos feitos extrajudiciais de usucapião.

Para os que defendem a atuação em comento, o embasamento encontrase contido nos seguintes dispositivos legais: Artigo 178, III do NCPC: o Ministério Público será intimado para, no prazo de trinta dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:... III- litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Artigo 176 do NCPC: O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis. (destaque: os procedimentos extrajudiciais de usucapião têm por objeto direitos disponíveis propriedade) 3 NATUREZA JURÍDICA DA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL - O procedimento de usucapião extrajudicial é de natureza administrativa, e não jurisdicional. (revisão jurisdicional sempre possível, desde que antes do prazo prescricional) - Os pleitos extrajudiciais de usucapião não induzem litispendência nem tampouco fazem coisa julgada qualidades da jurisdição. 4 MOMENTO DA AQUISIÇÃO PELA USUCAPIÃO NO BRASIL - Para Leonardo Brandelli, a usucapião é declaratória do direito, e constitutiva do título e da disponibilidade. A natureza jurídica da sentença que reconheça a aquisição é meramente declaratória do direito adquirido, e não constitutiva. Visa apenas possibilitar a aquisição de um título para o registro. Neste sentido é constitutiva do título registrável. A posse é um direito real inter-partes, pois a aquisição pela usucapião independe de registro. (por não depender de registro, não se pode atribuir aos efeitos da sentença de usucapião a condição de erga omnes)

5 INEXISTÊNCIA DE MATRÍCULA OU DE TRANSCRIÇÃO NA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL 6 o Transcorrido o prazo de que trata o 4º deste artigo, sem pendência de diligências na forma do 5º deste artigo e achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapido e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. - O quê significa sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso? 1 Se a descrição do imóvel usucapido for diferente da constante da Matrícula ou da Transcrição abre-se nova Matrícula? 1.1 - imóvel usucapido integralmente: encerra e abre outra matrícula? 1.2 imóvel usucapido parcialmente: baixa área usucapida por averbação (fica saldo) e abre matrícula nova para área usucapida? 2 - Mesmo não havendo Matrícula ou Transcrição, a usucapião poderá findar-se pela via extrajudicial, oportunidade em que será inaugurada a Matrícula? OPINIÃO: - Havendo consenso, é cabível a usucapião pela via extrajudicial mesmo nas hipóteses de ausência de Matrícula ou de Transcrição. - Se não há oposição oferecida por proprietário (inexistência de Matrícula ou de Transcrição) após a publicação do Edital destinado a todo e qualquer da sociedade, o deferimento é cabível. - Para Lamana Paiva: a usucapião pela via extrajudicial não se destina somente às hipóteses de imóveis matriculados ou transcritos (é uma das hipóteses, mas não a única). Não havendo Matrícula ou Transcrição o tabelião deverá instruir a Ata Notarial com a certidão negativa de existência de Matrícula ou de Transcrição.

- Para Leonardo Brandelli: não havendo Matrícula ou Transcrição não é cabível a usucapião pela via extrajudicial. Assevera que apesar de continuar sendo, certamente, aquisição originária, a necessidade de que seja amigável, isto é, de que haja a anuência dos titulares de direitos do imóvel usucapido bem como dos confrontantes, faz com que haja a necessidade de se localizar a matrícula ou transcrição do imóvel objeto da usucapião bem como dos seus confinantes, sem o que inviabilizado estará o procedimento de usucapião extrajudicial registral. - Destaque-se que o fato de o imóvel não possuir Matrícula ou Transcrição não o inclui no rol dos bens públicos, uma vez que, a título de exemplo, pode ter sido recebido por sucessão causa mortis anteriormente a 1916 sistema em que as sucessões causa mortis não tinham assento obrigatório no registro de imóveis. 6 CIÊNCIA DOS INTERESSADOS E FORMA DE CIENTIFICAÇÃO DE CADA UM DOS INTERESSADOS - Manifestação de qualquer interessado: 15 dias. (prazos são contínuos e peremptórios e não podem ser dilatados nem por autoridade judiciária) - Formas de ofertar ciência: edital e notificação 1 - Edital: - 1 (uma) publicação em jornal de grande circulação; - Não havendo jornal de grande circulação na comarca, a publicação será em comarca vizinha ou em jornal de alcance estadual, o que for mais eficaz; - Proprietário do imóvel usucapido (não se aplica); - Proprietários dos imóveis confinantes (não se aplica); - Detentores de direitos (imóveis usucapido e confinantes) (não se aplica); - Entes Federados (não se aplica); - Terceiros eventualmente interessados (aplicação cabível); 4 o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.

- Terceiros eventualmente interessados (alcance): - Hipótese 1: Ausência de Matrícula ou de Transcrição? (imóvel usucapido ou confinante) - Não há como se exigir anuência de proprietário desconhecido tratamento será o de terceiro interessado. - Solução: pratica-se o ato. O Poder Judiciário também só poderia se valer do edital. Não foi atribuído ao registrador o poder de dirimir lide, mas não há lide. - Hipótese 2: Presença de Matrícula ou de Transcrição com notificado em local incerto ou não sabido? (imóvel usucapido ou confinante) - Solução: a remessa para o judiciário só implicará na publicação de edital. Mesmo assim, não será conveniente o deferimento na via extrajudicial após valer-se somente do Edital para tentar cientificar as partes (proprietário do imóvel usucapido, dos imóveis confinantes e dos detentores de direitos). Será interpretado como contorno à determinação de que o silêncio do interessado identificado importa em recusa vedação posta no 2º. ALTERNATIVAS PARA AS HIPÓTESE DE INTERESSADO CONHECIDO MAS EM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO A) Proprietário usucapido identificado (mas em local incerto e não sabido): - Não cabe cientificação por edital; ou - Até cabe cientificação por edital, mas o silêncio após edital importa em recusa. B) Proprietário usucapido não identificado (ausência de matrícula ou de transcrição): - Cabe cientificação por edital, e o silêncio após edital importa em aquiescência.

C) Confinantes identificados (mas em local incerto e não sabido): - Não cabe cientificação por edital; ou - Até cabe cientificação por edital, mas o silêncio após edital importa em recusa. D) Confinantes não identificados (ausência de matrícula ou de transcrição): - Cabe cientificação por edital, e o silêncio após edital importa em aquiescência. E) Detentores de direitos sobre o imóvel usucapido ou sobre quaisquer dos imóveis confinantes, que são sempre identificados (mas em local incerto e não sabido): - Não cabe cientificação por edital; ou - Até cabe cientificação por edital, mas o silêncio após edital importa em recusa. F) Entes Federados (sempre local certo e sabido): - Não cabe cientificação por edital, e o silêncio após notificação importa em aquiescência. G) Terceiros interessados (sempre desconhecidos e sempre em local incerto e não sabido): - Cabe cientificação por edital, e o silêncio após edital importa em aquiescência. REPISANDO: não cabe notificação por edital de nenhum legitimado passivo certo, ainda que esteja em local incerto e não sabido. A participação desses legitimados passivos certos sempre deverá ser voluntária ou após notificação pessoal (AR ou RTD ou RI). Encontrando-se em local incerto e não sabido, não será cabível a usucapião pela via extrajudicial. (melhor teria sido admitir a notificação por

edital desses legitimados passivos certos que se encontrassem em local incerto e não sabido) 2 - Notificação: - Oficial do RI ou AR ( 2º) - RTD somente Entes Federados? ( 3º - falta de técnica do legislador sempre poderá ser pelo RI, pelo RTD ou por AR Lamana Paiva) - Silêncio importa em recusa (exceção: salvo no caso dos entes públicos, em que o silêncio implicará em anuência vide 3º do artigo 216-A) - Lamana Paiva: nos casos de falta de anuência, uma hipótese será buscar, no judiciário, somente o suprimento da aquiescência. - Notificações podem ser praticadas fora de horário? Não, salvo regulação da CGJ, inobstante o Código de Processo Civil dizer que para o Oficial de Justiça atuar fora de horário normal é dispensada autorização judicial. - Sendo a notificada uma empresa, não poderá a notificação ser entregue na recepção por exemplo, mas deverá ser em mãos do seu legítimo presentante ou representante. (por em mãos entenda-se também correios com AR em mãos próprias) FORMAS DE CIENTIFICAÇÃO DE CADA UM DOS INTERESSADOS Proprietário do imóvel usucapido (conhecido) (notificação pelo RI, RTD, correios com AR ou edital desde que anua expressamente) Proprietários dos imóveis confinantes (conhecidos) (notificação pelo RI, RTD, correios com AR ou edital desde que anua expressamente) Detentores de direitos (conhecidos)

(notificação pelo RI, RTD, correios com AR ou edital desde que anua expressamente) Entes Federados (conhecidos) (notificação pelo RI, RTD, correios com AR ou edital e fica dispensada a anuência expressa, implicando o silêncio em consentimento) Terceiros interessados (desconhecidos ou legitimados passivos incertos) (edital e o silêncio = anuência tácita) DESTAQUE: Exaurir todos os meios de localização do notificando: CPC - Art. 256 3 o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos. 7- DESTINATÁRIOS DAS CIENTIFICAÇÕES - Proprietário do imóvel usucapido (marido e mulher ação real) Há quem defenda a tese de que se já houver prévia manifestação / concordância do proprietário usucapido (exemplo: já assinou o contrato de promessa de venda) basta a notificação, e, em não se manifestando, pratica-se o ato (já que a manifestação de vontade já estará documentada no procedimento) - Proprietários dos imóveis confinantes (marido e mulher ação real) Há quem defenda a tese de que se o imóvel usucapido já foi objeto de retificação de registro no âmbito da qual já se coletou a assinatura dos confinantes imediatos, a manifestação no âmbito do procedimento de usucapião extrajudicial ficará dispensada. - Detentores de direitos (imóveis usucapido e confinantes). Que direitos são esses?

Somente aqueles dotados de densidade material capaz de repercutir na esfera jurídica de terceiros interessados na aquisição do imóvel. - Entes Federados (sua notificação dispensa requerimento, uma vez que o artigo 216-A determina que esses sempre deverão ser notificados). A notificação dos entes federados, por questão de economia processual, somente deverá ser feita após a ocorrência da qualificação registral POSITIVA, tanto formal quanto material economia procedimental. Para os entes públicos o objetivo da notificação não é o de obter assentimento, mas simplesmente o de dar ciência. 2 o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapido e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância. (ou pelo Oficial do RTD ou por carta com AR) - Terceiros interessados (desconhecidos) - 15 dias 8 - PRAZO PARA MANIFESTAÇÃO DOS INTERESSADOS - Por se tratar de procedimento administrativo, não há preclusão das possibilidades de impugnar ou de assentir, apesar do prazo legal estabelecido. O prazo não é rígido até a decisão do registrador o assentimento ou impugnação poderão ser ofertados. 9 - FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE CADA UM DOS INTERESSADOS - Regra: silêncio importa em recusa, salvo no caso dos Entes Federados, em que o silêncio implicará em anuência. Verificada a recusa, deverá ser o procedimento encaminhado ao Juízo competente para o prosseguimento pelo rito comum (notificar antes o requerente para verificar sua pretensão de desistir do procedimento ou de encaminhamento do feito ao Juízo). 3º O oficial de registro dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de

recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido. - No caso dos entes federados, solicitar para que eles se manifestem tanto quanto ao mérito da usucapião quanto aos aspectos tributários (Imposto de Transmissão) e urbanísticos (eventuais áreas afetadas ao domínio público, acessões). 10 IMPUGNAÇÃO Artigo 216-A, 10 - Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapido e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequála ao procedimento comum. - Qualquer impugnação serve, por mais infundada que seja, uma vez que o silêncio já basta (não cabe juízo de valor acerca do teor da impugnação ofertada). - A manifestação expressa, favorável ou contrária à pretensão, poderá ser feita verbalmente. - Inobstante o requerimento da usucapião só poder ser formulado por advogado, o mesmo não ocorre com a manifestação provocada pela notificação (impugnação ou assentimento). Em registro imobiliário, a regra é a de que o jus postulandi não é privativo de advogado, de modo que as exceções a esse regramento devem ser feitas expressamente pela lei (única exceção: deflagração do procedimento). - Ofertada impugnação por qualquer ente federado, ou por entidade autárquica sua, ou de empresa pública, por entender haver tentativa de usucapião de imóvel de sua propriedade, passará qualquer delas a integrar o polo passivo do processo, deslocando a competência da Justiça Estadual comum para a Justiça Federal comum da comarca da situação do imóvel. 11 CONCILIAÇÃO / AUTOCOMPOSIÇÃO - A depender da natureza da impugnação, devemos tentar a conciliação? Sim. Para Lamana Paiva, poderemos fazer audiência de investigação ou de conciliação. O

procedimento é do registrador (poderemos solicitar documentos ou até ouvir alguém caso seja relevante). - Sinaliza-se com a possibilidade de suspensão da ação judicial para se buscar a AUTOCOMPOSIÇÃO das partes na via extrajudicial. 12 ESPÉCIES DE USUCAPIÃO CABÍVEIS PELA VIA EXTRAJUDICIAL - Para Leonardo Brandelli e Lamana Paiva, à exceção da usucapião do direito de propriedade decorrente do registro do título de legitimação de posse expedido pelo Poder Público em processo de regularização fundiária de interesse social, que tem procedimento específico na Lei Federal nº 11.977, não há limitação no artigo 216-A da LRP quanto à espécie de usucapião que possa ser reconhecida pela via extrajudicial. (Usucapião extrajudicial é para qualquer modalidade de usucapião (rito do 941 a 945 CPC aplicava-se a qualquer modalidade - O artigo 216-A da LRP não restringiu espécies aspecto formal não restringiu o material) 13 REQUISITOS DA USUCAPIÃO 13.1 REQUISITOS GERAIS 1 Posse mansa, pacífica, ininterrupta e contínua 2 Ânimo de titular direito real incidente sobre uma coisa, imóvel e passível de ser possuída 3 Prazo legal 4 Justo título 5 Boa-fé

- Leonardo Brandelli faz uma interessante reflexão acerca da importância da reunião dos elementos acima indicados: - podem existir o justo título e a crença, sem existir a posse própria, ou qualquer posse; - podem existir a posse e o título, sem existir a crença; - podem existir a crença e a posse, sem existir o título; - pode existir o título, sem existirem a crença e a posse; - pode existir a posse, sem existirem o título e a crença; - pode existir a crença, sem existirem a posse e o título. 1 Posse mansa, pacífica, ininterrupta e contínua - A posse é questão fática, que não se confunde com a crença no justo título ou na causa de adquirir, nem com o próprio justo título Posse é fato. - Não confundir POSSE com MERA DETENÇÃO: o possuidor atua em nome e interesse próprio, enquanto o detentor atua em nome e interesse alheios. - Posse ad interdicta x Posse ad usucapionem: a posse ad usucapionem é posse qualificada pela intenção de dominar, de ter a coisa como sua, de detê-la fundado em direito real, diferentemente da primeira (posse ad interdicta), que somente assegura ao possuidor o direito de utilização da coisa e a proteção possessória, mas que não confere a possibilidade da aquisição pela usucapião. - Posse justa: que não decorre de violência (física ou moral), ou de esbulho, ou de clandestinidade (obtido às escondidas, de maneira oculta), ou de precariedade (obtida com o abuso de confiança ou de direito). - Posse injusta por violência ou por clandestinidade: podem ser convalidadas, após a cessação da violência ou da clandestinidade. - Posse injusta por precariedade: não se convalida nunca. - Posse mansa e pacífica: a posse deixará de ser pacífica se o titular do direito requerido apresentar qualquer oposição judicial ou extrajudicial, da qual tenha decorrido algum efeito, não retirando, pois, o caráter de mansa e pacífica a posse atacada por qualquer medida judicial ou extrajudicial ineficaz, que não interromperá qualquer prazo prescricional (para alguns autores somente a oposição judicial é que detém essa força).

- Posse contínua e ininterrupta: sem solução de continuidade, não sendo possível a soma de lapsos temporais possessórios para o fim de alcançar o prazo legal. Acaso interrompida a posse, recomeçará um novo prazo prescricional quando reiniciar-se a posse. - Sucessão possessória: é permitida para configurar a continuidade da posse, não configurando tal sucessão solução de continuidade (mas ambas as posses deverão ser Ad usucapionem e ambas deverão ser fundadas em justo título e boa-fé (salvo de extraordinária a usucapião), bem como se faz necessário que a posse do sucedido e a de quem o sucedeu sejam da mesma natureza, contendo os mesmos elementos exigidos para a espécie de usucapião pretendida). - A sucessão possessória pode ser a título singular (Acessio possessionis) ou a título universal (Sucessio possessionis). - Apreensão física da coisa é indispensável para caracterizar a posse? Não, à exceção de algumas modalidades de usucapião que exigem não somente a posse, mas a apreensão física direta da coisa (exemplo: usucapião familiar). Basta que seja possível a comprovação de atos possessórios, ainda que diversos do da direta apreensão física, a exemplo da locação, comodato, etc... - Ação possessória exitosa interposta dentro de ano e dia pelo possuidor ad usucapionem esbulhado: tem o condão de fazer com que não haja interrupção da posse e com que o período do esbulho seja computado no prazo possessório. 2 Ânimo de titular direito real incidente sobre uma coisa, imóvel e passível de ser possuída (não se restringe a animus domini) - O objeto de uma usucapião deve ser uma coisa imóvel corpórea, não bastando ser bem imóvel, exemplo: uma ação real é bem imóvel, mas não é coisa, e por isso não pode ser usucapida. Também deverá ser essa coisa passível de posse, razão, pela qual, não cabível o usucapião de hipoteca, uma vez que referido direito real de garantia não dá direito à posse do bem. - A intenção do possuidor em titular direito real determinado é que caracteriza, de modo claro e objetivo, a situação de qual direito real se pretende usucapir. - Verificar qual direito é refletido pela posse (exemplo: a parte requer direito de propriedade, mas inequivocamente o conjunto probatório indica um direito de servidão de passagem, razão pela qual o indeferimento se impõe). 3 Prazo legal

- Lapso temporal: será avaliado no âmbito de cada uma das espécies de usucapião. - Não é vedado admitir-se que o prazo (lapso temporal) se complete no curso do procedimento (enunciado 497 da V Jornada de Direito Civil) 497) O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor. - Disposição transitória do código civil quanto ao prazo: tendo havido, por ocasião da entrada em vigor do atual Código Civil, redução de prazo prescricional aquisitivo em relação ao Código Civil anterior, e tendo transcorrido menos da metade do tempo estabelecido no Código de 1916, o termo inicial da prescrição aquisitiva será o da data da entrada em vigor pelo Código de 2002. - Determina o artigo 1.244 do CC que se aplicam à usucapião as causas que obstam, interrompem ou suspendem o prazo da prescrição extintiva (artigos 197 a 202 do Código Civil). Artigo 1.244: Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. Artigo 197: Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Artigo 198: Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ; II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Artigo 199: Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III - pendendo ação de evicção. Artigo 200: Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Artigo 201: Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível. Artigo 202: A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Impedem: o prazo sequer começa a correr (relação entre ascendentes e descendentes).

Suspendem: paralisa o prazo que está correndo, e depois continua a correr de onde parou. Interrompem: o prazo é paralisado, e se reiniciará do zero. - Disposições do Código Civil acerca da contagem dos prazos prescricionais: 4 Justo título Artigo 2.028: Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Artigo 2.029: Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei n o 3.071, de 1 o de janeiro de 1916. - Instrumento hábil para transmitir o domínio ou outro direito real, e que formalmente está em ordem, ou seja, intrinsicamente o título está hábil a transmitir o direito, mas padece de vício extrínseco. É o título que, tendo suas condições adimplidas, em tese tem o poder de transmitir ou de constituir um direito real prescritível. Ele cria a crença, a fé. - É o ato ou fato jurídico que, em tese, pode transmitir a propriedade, mas que, por lhe faltar algum requisito formal ou intrínseco (como a venda a non domino), não produz tal efeito jurídico. - Ato jurídico hábil, abstratamente considerado, a transferir ou constituir um direito real passível de usucapião, esteja registrado ou não. - Confere ao possuidor, em seu consciente, a legitimidade de direito à posse, como se dono do bem pretendido fosse. - Será justo o título ainda que se trate de compromisso de compra e venda, desde que esteja o preço quitado. - Não pode ser verbal. - Não pode ser inválido por nulidade ou anulabilidade (exemplo: título maculado por anulabilidade frente à venda fraudulenta de ascendente para descendente sem o consentimento dos demais descendentes).

- Deve ser entendido como qualquer documento que demonstre a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse. - É sempre necessário para o deferimento de usucapião? Não, salvo se a espécie de usucapião requerida impuser (Exemplo: na usucapião extraordinária a necessidade de justo título não se impõe). 5 Boa-fé - Estamos falando da boa-fé subjetiva, fundada no estado de ignorância, derivado de um erro escusável, perdoável, em que se encontra o usucapiente a respeito do vício que lhe impede a aquisição do direito real pretendido. - Tem íntima ligação com o título, mas com ele não se confunde, uma vez que a ignorância a respeito do vício que impede a aquisição do direito geralmente deriva do justo título. - Pode haver justo título sem boa-fé, porque a pessoa não ignora o vício extrínseco existente no título, assim como pode haver boa-fé sem haver justo título, porque há um vício de nulidade, por exemplo. - Presunção de boa-fé daquele que possui justo título (artigo 1.201, parágrafo único do Código Civil): O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. 13.2 - REQUISITOS ESPECÍFICOS (O ARQUIVO DAS TABELAS ABAIXO ESTÁ DISPONIBILIZADO NOS ANEXOS 1 e 2)

14 OBJETOS DA USUCAPIÃO (LIMITES) - Rememoremos que o objeto de uma usucapião deve ser uma COISA IMÓVEL CORPÓREA, não bastando ser bem imóvel, exemplo: uma ação real é bem imóvel, mas não é coisa, e por isso não pode ser usucapida. Também deverá ser essa coisa passível de posse, razão, pela qual, não cabível constitui-se o usucapião de HIPOTECA, uma vez que referido direito real de garantia não dá direito à posse do bem. - Podem ser usucapidos quaisquer direitos incidentes sobre imóvel, e não somente o direito de propriedade, a exemplo da nua propriedade, a propriedade superficiária, o usufruto, as servidões aparentes, o uso, o domínio direto, a habitação e o domínio útil. Parece mais correto falar-se em ânimo de titular do direito usucapido animo suo. - É correta a expressão animus domini como requisito das usucapiões? Nem sempre, vez que em algumas situações a intenção de usucapir não pretende ver reconhecido o direito de propriedade, mas por exemplo o de usufruto ou o de superfície. - Não podem, diversamente, serem usucapidas: - coisas fora do comércio (bens de família, clausulados de inalienabilidade legal, penhorados em favor da UNIÃO FAZENDA NACIONAL ou das suas AUTARQUIAS OU FUNDAÇÕES); - bens públicos, ainda que dominicais ou ainda que devolutos não podem ser usucapidos, a exemplo das áreas indispensáveis à segurança nacional, terras tradicionalmente habitadas por silvícolas ou demarcadas como reservas indígenas ou terras de interesse ecológico, consideradas como tais as declaradas reservas biológicas ou florestais e os parques ou unidades de conservação nacionais, estaduais e municipais, assim como as terras particulares possuidoras de tal destinação perante o poder público; (Artigos 183, 3º e 191 da CF e 102 do CC) - imóvel na faixa de fronteira pode ser usucapido? Sim, uma vez que não se constituem por bens públicos, mas por bens privados sobre os quais incidem políticas de controle em caso de transmissão, políticas essas que deverão ser observadas; - imóvel clausulado de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade podem ser usucapidos? Sim, pois se tratam de limitações convencionais, e não legais, e que não atendem a qualquer interesse público;

- imóvel com matrícula bloqueada pode ser usucapido? Sim, pois implicará no assento de ato-fato, e não de ato ou negócio jurídico voluntariamente contratados pelo proprietário; - o domínio útil em aforamento de um imóvel público pode ser usucapido? Sim, na medida em que a situação de pública do bem não se altera, havendo apenas uma substituição do enfiteuta; - bens pertencentes a sociedades de economia mista podem ser usucapidos? Sim, não podendo somente os pertencentes às autarquias e empresas públicas; - pode ser usucapida uma coisa acessória sem que seja usucapida também a coisa principal? Não, salvo se a coisa acessória encontrar-se dotada de autonomia fática, hipótese em que se tratará de usucapião de bem móvel, ou salvo ainda se o direito espelhado pela posse for o de uma propriedade superficiária, caso em que a acessão passará a ser a coisa principal deste direito, e não mais a coisa acessória ; - imóvel com área inferior às frações mínimas de parcelamento rural ou urbano também podem ser usucapidas? Sim, uma vez que não houve voluntariedade do requerente da usucapião para que se promovesse fracionamento abaixo do mínimo legal, não incidindo, na hipótese de imóvel rural, as disposições do artigo 65 da Lei Federal nº 4.504/64; - podem ser usucapidas unidades componentes de parcelamento clandestino do solo ou unidade autônoma de um condomínio edilício juridicamente inexistente? Leonardo Brandelli assevera que sim, sendo que, enquanto o lote inexistente será usucapido e possuirá matrícula própria, não como um lote, mas como uma porção de solo, a unidade autônoma não poderá ser dotada de existência jurídica própria sem a respectiva instituição de condomínio, pois cada unidade autônoma só pode existir como tal quando coexistente com as demais, cada qual com sua fração ideal no solo e nas coisas de uso comum, razão, pela qual, será possível o reconhecimento judicial da aquisição, mas não o seu registro enquanto não houver o registro da instituição do condomínio edilício, o que implica, pois, na impossibilidade de seu reconhecimento pela via extrajudicial, impondo-se o indeferimento. Para Francisco Rezende, não há óbice de tal ordem para deferir-se a usucapião de unidade autônoma de condomínio edilício não regularizado, ainda que pela via extrajudicial, e destaca que a usucapião incide sobre a unidade autônoma, e não somente sobre a fração ideal. Assevera, ainda, que se houver benfeitoria no solo usucapido ela será incluída (busca-se o reconhecimento do domínio sobre parcela de solo e acessões). 15 PROCEDIMENTO DA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

PONTUAÇÕES SOBRE O PROCEDIMENTO E SOBRE OS DOCUMENTOS QUE O COMPORÃO - Deverá o interessado: - requerer a instauração do procedimento administrativo (Peça inicial deverá ser acompanhada de ATA NOTARIAL atestando o tempo de posse do usucapiente ou de seus antecessores, caso haja acessio ou sucessio possessionis); - requerer o registro da usucapião ao final (Em regra, os requerimentos ao RI podem ser expressos ou tácitos. Já os requerimentos para usucapião extrajudicial devem ser expressos e especiais); - Legitimidade ativa: - é do possuidor que afirma ter adquirido os requisitos materiais para tanto, ainda que já não tenha posse no momento da propositura da ação. Não há necessidade de que tenha a posse do bem no momento da sua propositura, haja vista que a sentença é meramente declaratória de uma aquisição que já se implementou. - poderá ser também intentada por algum terceiro que detenha interesse jurídico no reconhecimento da aquisição da propriedade pela usucapião, sendo este terceiro o autor, e o possuidor + o proprietário + os confrontantes e eventuais interessados citados por edital os réus, em litisconsórcio. (O artigo 216-A não fala em possuidor, mas em interessado exemplo: credor do possuidor) - havendo composse, todos os copossuidores deverão ser autores da ação. Há quem entenda que poderia ser proposta por apenas um dos copossuidores, sem necessidade de litisconsórcio processual ativo diante do regramento do novo CPC. (Guilherme Marinoni) - o cônjuge ou companheiro é litisconsorte necessário na ação, salvo se casados pelo regime da separação obrigatória de bens, e serão legitimados passivos no procedimento. - Legitimidade passiva: - considerando que o oficial de registro de imóveis somente lida com pretensões não afrontadas ou resistidas, não há que se falar em autor e réu. Legitimidade passiva não significa contraponto ao pedido do autor, mas significa somente a qualidade das pessoas

que devem participar do procedimento, dando seu assentimento, voluntariamente ou após intimação. - indicar a espécie de usucapião aplicável ao caso (a falta de indicação da espécie de usucapião não sobrestará a análise, pois o Oficial poderá deferir o pedido se tiver condições de depreender tal elemento da documentação apresentada); - estar representado por advogado, salvo se o requerente, advogado, agir em causa própria (instrumento de procuração poderá ser público ou particular, com poderes especiais e expressos se particular, necessita de firma reconhecida); - há necessidade de alvará judicial para que pessoas desprovidas de capacidade, ainda que momentânea, possam se manifestar na condição de proponente ou na condição de usucapido? Há quem entenda que não, alegando que a usucapião implementa-se no direito brasileiro ipso iure com a reunião dos requisitos materiais, sendo o seu reconhecimento posterior apenas declaratório, constituindo-se o ato de tal natureza por de mera administração, requerendo ou anuindo no procedimento. No mesmo sentido, Leonardo Brandelli, quanto à capacidade do possuidor para adquirir, já pontuava sua dispensabilidade, uma vez que não se trata de negócio jurídico entabulado para adquirir-se, mas mero atofato, decorrente de posse por certo lapso de tempo, da qual não decorre qualificação de vontade, adquirindo o possuidor frente ao simples preenchimento dos requisitos, tenha ou não capacidade aquisitiva negocial. Já para quem pensa de modo diverso, ou seja, de que não se trataria de ato de mera administração, impõe-se a necessidade de alvará judicial, bem como remessa do procedimento ao Ministério Público, não pela natureza do pleito (usucapião), mas por envolver interesse de incapaz. - asseverar qual o suporte fático de norma jurídica que foi concretizado; - asseverar como se deu a concretização do suporte fático indicado; - relatar minuciosamente o preenchimento dos requisitos materiais para a aquisição pela usucapião, detalhando se há, ou não: posse mansa, pacífica, ininterrupta e contínua;

ânimo de titular direito real incidente sobre uma coisa, imóvel e passível de ser possuída; prazo legal; justo título; boa-fé. PRIMEIRA QUALIFICAÇÃO REGISTRAL - Verificação dos requisitos de admissibilidade: - legitimidade ativa e passiva; - requerimento acompanhado dos documentos obrigatórios; - prova dos requisitos da espécie de usucapião. - Requisitos formais registrais: - requerimento adequado e fundamentado; - requerimento indicando pedido e causa de pedir; - representação por advogado; - ata notarial; - planta e memorial descritivo: - planta e memorial descritivo contendo a descrição do imóvel usucapido, segundo os requisitos dos artigos 176 e 225 da LRP. - planta e memorial deverão estar assinados por profissional legalmente habilitado pelo CREA ou pelo CAU, acompanhados da ART respectiva. - a planta e o memorial descritivo deverão indicar ou conter: - o imóvel usucapido; - os confrontantes do imóvel usucapido;

- os números de matrícula ou de transcrição dos imóveis confrontantes; - os titulares de direitos sobre tais imóveis (usucapido e confrontantes), com sua caracterização mínima, como nome e CPF ou RG; - a assinatura do profissional habilitado, o requerente e o possuidor (se diversos), os titulares de direitos do imóvel usucapido bem como dos imóveis confrontantes; - ART ou RRT quitadas; - especificação das matrículas do imóvel usucapido e dos imóveis confrontantes; - identificação dos titulares dos direitos inscritos; - assinatura dos titulares dos direitos inscritos ou requerimento para suas notificações, quando então deverão ser indicados os endereços das partes a serem notificadas, em observância do princípio da instância. Deverão acompanhar a notificação os documentos que permitam ao notificando conhecer o pedido, como no mínimo cópia do requerimento inicial, cópia da planta e do memorial descritivo; - assinaturas com firma reconhecida; - certidões dos distribuidores da comarca da situação do imóvel + do domicílio do requerente e do requerido (certidões em nome de ambos); - justo título se for o caso; - demais documentos que ajudem a comprovar os requisitos da espécie de usucapião invocada. SEGUNDA E ÚLTIMA QUALIFICAÇÃO REGISTRAL - verificar se é caso de acatamento do pedido e de necessidade, ou não, de notificação dos legitimados passivos certos, para a posterior realização do registro da usucapião (na hipótese de prática do ato, justificar de maneira sucinta, salvo se compreender que alguns aspectos materiais ou formais devam ser destacados). - verificar se é caso de negativa do pedido por falta de requisitos formais e materiais e de realização de nota devolutiva (justificar sucintamente a recusa, assegurando ao

requerente o conhecimento das razões do indeferimento), da qual caberá suscitação de dúvida. - verificar se é caso de remessa dos autos ao MM. Juízo competente. OBSERVAÇÃO: ainda que ocorridas qualificações positivas nas etapas anteriores do procedimento, nada obsta que o oficial, a qualquer tempo, reveja sua decisão de forma fundamentada, uma vez que não há preclusão ou coisa julgada das decisões administrativas tomadas no curso do procedimento, as quais podem ser revistas, de ofício, até a decisão final, bem como, diversamente, poderá uma decisão denegatória ser revista a qualquer tempo, deferindo-se o pleito. Autoria do Fluxograma acima: Dr. Lamana Paiva (XLII Encontro dos Oficiais de Registro de Imóveis do Brasil) 16 FEITOS AJUIZADOS

Art. 216-A, III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente (em nome do requerente e do requerido) - As certidões de feitos ajuizados em nome do requerente da usucapião e em nome do requerido (proprietário do imóvel usucapido) poderão: - evitar propositura, na via extrajudicial, de usucapião já requerida em juízo; - evitar que não se observe decisão em usucapião com trânsito em julgado; - verificar se existe ação reivindicatória que tenha por objeto o imóvel usucapido; - ajudar a comprovar que a posse não é mansa e pacífica (reintegração de posse); - verificar se há causa impeditiva, exemplo: requerente é curador do requerido; - Inobstante o artigo referir-se a certidões negativas, há que se ressaltar que somente no caso em que a ocorrência representar um empecilho ao reconhecimento da usucapião é que a positividade impedirá o prosseguimento do feito. - Deverão ser expedidas certidões da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente (do domicílio do requerido não interessam, uma vez que só interessam feitos judiciais propostos em seu desfavor que tenham por objeto pretensão acerca do imóvel, o que, segundo regra processual civil, é de competência exclusiva do foro da localização do imóvel). - As certidões devem se referir a todos os distribuidores judiciais (estadual comum, federal comum e especial, cíveis e criminais). Essas certidões serão suficientes para detectar fatos que impeçam o deferimento do pleito de usucapião, a exemplo de: - ação possessória tabular contra o possuidor requerente, cujo citação teve o escopo de interromper o prazo prescricional aquisitivo; - ação reivindicatória da União contra o requerente da usucapião, por se tratar de imóvel público. - As certidões deverão ser as dos distribuidores judiciais, e não somente as dos registros de imóveis, uma vez que a lei proclama certidões dos distribuidores, e não certidão de feitos ajuizados? Para alguns sim, pois há situações em que dada a natureza da ação proposta não há que se falar em aplicabilidade da Lei Federal nº

13.097/15, que trata das hipóteses em que das forças da ação puderem restar resultados ou responsabilidades patrimoniais que reduzam o requerido à insolvência (exemplo: reivindicatória ou reintegração de posse propostas contra o requerente da usucapião não se encaixam nas hipóteses da Lei Federal nº 13.097) Já Leonardo Brandelli pontua que uma vez vigentes as normas dos artigos 54, 55 e 56 da Lei Federal nº 13.097/15, que determinou que as ações devam estar publicizadas na matrícula do imóvel para que possam produzir efeito contra todos, suficiente será a certidão de ações reais / pessoais reipersecutórias. (vigência em 18/2/2017) - Verificar feitos em geral ou somente feitos de usucapião? (geral exemplo: reintegração de posse contra o requerente) - Por que certidão do domicílio do requerente se a ação de usucapião obrigatoriamente deve ser proposta no foro de localização do bem usucapido? (verificar se já não foi contemplado em outra usucapião) - Caso alguma certidão dê notícia de já haver uma ação judicial de usucapião, do mesmo imóvel, proposta pelo mesmo autor, contra os mesmos réus, haverá litispendência? - Leonardo Brandelli pontua que somente haverá litispendência se já tiver sido decidida, de forma procedente ou improcedente, e tenha feito coisa julgada, não podendo a questão voltar a ser discutida registralmente, para o que deverá o oficial qualificar negativamente o pedido. Havendo ação mas não tendo sido proferida decisão com trânsito em julgado, parece não haver litispendência entre a jurisdição judicial e a jurisdição registral, hipótese em que o Oficial poderá receber e analisar o pleito. Assim, e estando o pleito em andamento tanto na via judicial como na via extrajudicial, inúmeras são as possibilidades, vejamos: - o registrador decidir antes do Juiz, de modo que a decisão jurisdicional, posterior, poderá modificar ou não a do registrador; - o registrador pode negar o pedido e o juiz deferir, e mandar registrar a usucapião; - o registrador pode deferir o pedido, e o Juiz pode indeferi-lo, e mandar cancelar o registro de usucapião; - o registrador pode deferir o pedido, e o autor desistir do processo judicial nas situações em que for possível;

- o registrador pode deferir o pedido, e registrar a usucapião, e o Juiz pode também deferir o pedido, o que possibilitará um novo registro da mesma usucapião, agora judicial e dotada de coisa julgada material, efeito esse não ofertado pelo nosso deferimento na via extrajudicial (não seria caso de mera averbação para publicizar a coisa julgada material?) - o juiz pode decidir antes do registrador, o que definirá a questão tão logo transitada em julgado a decisão, devendo ser encerrado o processo de usucapião extrajudicial, uma vez que não mais poderá decidir o registrador de forma diversa, ou, ainda que decida, nenhuma eficácia ofertará. - Ato de registro (167, I, 28) 17 PRÁTICA REGISTRAL - A B C D E (cadeia de sucessão possessória): as partes B C D não figurarão no ato de registro da usucapião, uma vez constituírem-se por meros possuidores anteriores, sem que qualquer deles requeresse o reconhecimento do direito de propriedade em seu benefício. - Obediência à continuidade subjetiva e objetiva: Leonardo Brandelli preleciona que na via judicial, não há necessidade de suas observâncias, bastando que haja requisitos suficientes para a abertura da matrícula, nem há necessidade de que o titular do direito e sua qualificação constantes do registro imobiliário coincidam com o réu do procedimento de usucapião e com a sua qualificação. Já na via extrajudicial, a continuidade objetiva, da mesma forma que na via judicial, poderá ser mitigada. Nesse caso, deverá ser aberta matrícula para o imóvel usucapido previamente ao ato de registro da usucapião, quando então deverão estar presentes, pelo menos, os requisitos necessários ao seu descerramento. Havendo o respeito à especialidade objetiva, bastará o ato de registro stricto sensu. Já quanto à continuidade subjetiva, a sorte é outra na usucapião extrajudicial: é que nesta, dada a necessidade de que seja amigável, e de que os titulares de direitos inscritos (sobre o imóvel usucapido bem como sobre os imóveis confrontantes) estejam de acordo, há não somente a necessidade de se identificar tais titulares, como também a necessidade de coincidência entre tais titulares e os legitimados passivos certos que participaram do procedimento - A prenotação do pedido de usucapião extrajudicial gera prioridade? Sim, pois, ao contrário do que acontece na retificação de registro, onde não há a criação, transmissão ou extinção de algum direito registrado, mas apenas a alteração de

elementos objetivos ou subjetivos do registro, na usucapião extrajudicial, se deferida, haverá a criação e concomitante extinção de direito registrado. - Prenotação: ficará prorrogada até que: - haja a análise do pedido, acolhendo-o ou rejeitando-o; - até que haja a qualificação jurídica do pedido, registrando-o ou devolvendo-o com exigência fundamentada; - até que se encaminhe o processo ao juízo competente, em caso de impugnação do pedido. - Protocolado o pedido, fará o registrador a autuação do processo, tornando-os uma única peça documental, com termo de abertura, numeração e rubrica das folhas. - Não há regras procedimentais estanques, uma vez tratar-se de procedimento administrativo, sendo cabível alguma alteração procedimental justificável juridicamente. - O artigo 15 do novo NCPC determina que na constatação de alguma lacuna normativa na condução do processo extrajudicial de usucapião as disposições do NCPC deverão ser aplicadas subsidiariamente. Artigo 15: Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. 18 USUCAPIÃO LIBERTATIS NO BRASIL? (USUCAPIÃO LIBERTADORA) - É adquirir certo direito real livre de quaisquer outros direitos ou encargos preexistentes (efeito de eliminar direitos preexistentes). (Ao mesmo tempo possibilitaria a aquisição de direitos, como o de propriedade, como a extinção de direitos, ônus ou gravames, como o de hipoteca). - Estariam os direitos constituídos anteriormente ao reconhecimento da usucapião fadados ao desaparecimento? Para Leonardo Brandelli, esse efeito libertador nada tem a ver com a aquisição originária ou derivada. A aquisição pode ser originária, por não estabelecer qualquer relação jurídica de continuidade com o titular anterior do direito, mas não extinguir os demais direitos que porventura existam. E prossegue:

Ser a aquisição originária significa que o direito adquirido não se apóia em um direito antecessor, não decorrendo daí conclusão necessária de que haja a extinção de qualquer outro direito existente sobre o bem adquirido originariamente, mas apenas daqueles que não couberem no mesmo espaço jurídico do direito adquirido. (exemplo: usucapir imóvel alienado fiduciariamente a propriedade plena reconhecida extingue a propriedade resolúvel anterior, constituída a título de garantia) - O direito de propriedade adquirido por usucapião pode conviver com uma hipoteca? Sim. Então não há que se falar em extinção desta última. - Usucapir é tão somente substituir um direito anterior por um direito posterior, de igual conteúdo. - Usucapião libertatis no direito Português: o direito real maior usucapido acaba por aniquilar o direito real menor, como por exemplo na hipótese em que o reconhecimento do direito de propriedade implicará na extinção do direito real de servidão constituído sobre o mesmo imóvel. Mas, mesmo lá, não há que se falar na extinção de qualquer direito real que não pressupõe um domínio de fato, como por exemplo a hipoteca. - Usucapião libertatis no direito Italiano: não há que se falar em usucapião libertadora, quando então a usucapião tem eficácia somente aquisitiva, e não extintiva, salvo em relação ao próprio direito real usucapido (propriedade x propriedade). USUCAPIÃO LIBERTATIS NO DIREITO BRASILEIRO - Há quem entenda não haver no direito brasileiro a usucapião libertadora, enquanto outros entendem existir a mesma. Para Leonardo Brandelli, a usucapião pode ser, ou não, libertadora, a depender dos seguintes elementos: - da posse (o direito refletido pela posse é incompatível com o direito preexistente que se pretende libertar pela usucapião?) - do justo título - da publicidade registral - Quanto à posse e quanto ao direito que se pretende libertar pela usucapião: o direito refletido pela posse é incompatível com o direito preexistente? Analisando-se os elementos acima poderemos verificar a compatibilidade, ou não, de coexistência dos direitos envolvidos. Exemplo: se a usucapião for de um direito real de servidão de passagem ou de usufruto, não há que se falar em extinção do direito de propriedade