MULHERES UNIVERSITÁRIAS: SEXO (IN)SEGURO?



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Transcrição:

MULHERES UNIVERSITÁRIAS: SEXO (IN)SEGURO? Simone Andrade Teixeira NEIM/UFBA A motivação para a realização desse estudo deu-se a partir dos resultados de uma pesquisa que buscou identificar se as mulheres universitárias, intelectualmente diferenciadas, convertiam as informações veiculadas sobre a prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) em ações preventivas (TEIXEIRA, 2005). O tratamento quantitativo dos dados mostrou que 67% das mulheres não usavam preservativo em todas as relações sexuais, que a adesão ao método diminui quando a relação é monogâmica (21%) e que mulheres que tiveram mais de um parceiro no último ano não usaram o método em todas as relações sexuais (44%). A realidade exposta contraria e desafia o que preconizam as campanhas educativas, amplamente divulgadas pela mídia, voltadas à prevenção das DSTs e da AIDS e incita reflexões sobre o planejamento de tais campanhas que parecem estar ancoradas nas mesmas bases epistemológicas da educação sexual oferecida nas escolas como também num discurso repressivo no qual o corpo é tido como um lugar prático direto de controle social. Interpretamos que as campanhas educativas ainda não têm sido eficientes para impulsionar uma mudança de comportamento das mulheres no campo do exercício da sexualidade visando a prevenção de doenças. Várias indagações apresentam-se, dentre elas: a mensagem das campanhas está correta? Qual a mensagem da educação sexual? Como é realizado o processo de educação sexual nas escolas? Como é realizado o processo de educação sexual nas universidades? Para quem é planejada a educação sexual? Qual o seu objetivo? Quem ensina educação sexual? Questões como gênero, classe, cor, geração, etnia, são contemplados nessa educação sexual? Suspeitamos que o discurso dessas campanhas e da educação sexual hegemônica sejam produtos de um sistema patriarcal no qual o corpo, especialmente o da mulher, deva enquadra-se num modelo de corpo dócil e regulado, colocado a serviço das normas da vida cultural e habituado às mesmas (BORDO, 1997). Buscamos publicações que pudessem elucidar tais indagações e descobrimos quase um vácuo sobre a matéria: a produção acadêmica sobre a educação sexual não é proporcional à sua importância.

Num primeiro levantamento sobre a temática, observamos poucas publicações nas regiões Norte e Nordeste 1 e mesmo no eixo Sul-Sudeste 1 sobre a educação sexual. Também são numericamente discretas as publicações sobre o tema em revistas que tratam sobre gênero, a exemplo da revista Estudos Feministas da Universidade Federal de Santa Catarina e dos Cadernos PAGU Unicamp. Silva (2004), que realizou estudo sobre o estado da arte (período de 1977 a 2001) na Formação de professores/educadores para a abordagem da educação sexual na escola 1, confirmou que a maioria das publicações são oriundas das regiões Sudeste e Sul, com maior concentração no Estado de São Paulo, e afirmou que à imensa importância do tema não corresponde uma divulgação de igual peso (SILVA, 2004, p.9) e que as produções acadêmicas sobre a educação sexual, decorrentes de pósgraduações, não estão ao alcance dos mais interessados, que são os professores. A mesma autora concluiu, ainda, que a área da Educação foi a maior produtora de estudos sobre a educação sexual 1, embora a maioria dos autores sejam graduados em outras áreas: Ciências Biológicas, Psicologia, Enfermagem, Medicina, Filosofia, dentre outras. Destacou, também, que a linha de pesquisa menos explorada é a relativa ao tema da formação do professor/educador em educação sexual, revelando que ainda é incipiente a preocupação com a formação de professores/educadores para a abordagem dessa temática tanto com crianças de baixa idade, quanto com alunos no nível universitário. No ocidente, a educação para a saúde foi influenciada, predominantemente, pelo paradigma cartesiano, que moldou, por sua vez, a práxis educativa voltada para a formação dos profissionais da área. Esse modelo mecanicista é o alicerce conceitual da moderna medicina científica, caracterizada pelo reducionismo, com a visão do corpo como uma máquina e da doença como conseqüência de uma avaria que deve ser consertada pela intervenção médica corretiva. A educação sexual também assumiu o modelo predominante adotado pela educação para saúde, estabelecendo seu foco na doença, representada pelo risco de contaminação por DSTs e Aids, na especialidade da ginecologia e no mercado de preservativos e medicamentos. O sujeito social mulher, visto quase que exclusivamente como reprodutor da espécie, foi reduzido à condição de potencial consumidor, seja como o ícone da redução da natalidade através do uso dos anticoncepcionais, seja na menopausa e terceira idade através da reposição hormonal, ou na gravidez, através dos complexos vitamínicos e exames com crescente incorporação tecnológica. Trata-se da etiquetagem iatrogênica das diferentes etapas da

vida humana referida por Illich (1975), na qual a vida não é mais uma sucessão de diferentes formas de saúde, mas sim uma seqüência de períodos, cada qual exigindo uma forma particular de consumo terapêutico. A educação sexual hegemônica quase nunca considera os determinantes sociais, culturais, ambientais, étnicos e econômicos intrínsecos a uma política educacional que vise à mulher como sujeito social, historicamente condicionado a uma de série de dependências culturais, de gênero, que não mudam repentinamente, apenas com indicativos médicos sanitários, sustentados por campanhas 1 que preconizam sexo seguro, compreendido como a prática do sexo microbiologicamente seguro, uma vez que se apóia na prevenção de infecção por DSTs e AIDS pelo uso da camisinha. A proposta veiculada sobre sexo seguro ancora sua ação educativa centrada na prevenção da doença. Em suma: uma abordagem orgânica e intimidadora. Quase não estabelece relação dialógica e em geral despreza o que é essencial para o diálogo com a mulher. São desconsideradas questões de gênero contextualizadas historicamente e espacialmente. A mulher pouco se reconhece nessa abordagem reducionista. Assim, indagamos: a segurança para o exercício da vida sexual está apenas no uso do preservativo? Os condicionantes sócio-culturais têm lugar de expressão na abordagem médico-sanitária? O exercício de nossa sexualidade desperta inseguranças? Essas inseguranças são apenas representadas pelo risco da gravidez e infecção por DSTs? Em quais dimensões a mulher, como sujeito social, se vê contextualizada nessas campanhas? Afinal, quem são os profissionais que desempenham o papel de educadores para o exercício da sexualidade e para a promoção da saúde da mulher? Os protagonistas da educação para o sexo seguro quase sempre são profissionais das áreas de saúde ou de educação, formados dentro da concepção orgânicomecanicista, que segundo Silva(1997) estão despreparados para atuarem como educadores em sexualidade, pois trabalham ainda no plano do senso comum, atrelado ao sexo orgânico, perpetuando valores, conceitos e preconceitos.. Figueiró (1995) concluiu que a educação sexual está muito associada ao enfoque higienista, que reforça a prevenção de doenças como DST/Aids e a gravidez, muitas vezes por meio de abordagens que geram medo e levam ao descrédito, como se a educação sexual se resumisse a esses aspectos. Silva (1997) 1 confirmou os resultados de Figueiró (1995) com a verificação de que os estudos sobre sexo em escolas de medicina, ficam dentro de explicações biológicas e mecânicas das características anatômicas, fisiológicas e patológicas e

conclui afirmando que a estrutura curricular dos cursos investigados é anacrônica e desatualizada. Outros estudos desenvolvidos sobre o ensino da sexualidade em cursos de graduação de Enfermagem e Medicina revelaram que: o ensino da sexualidade humana é inexistente dentro da estrutura curricular, inexiste a preocupação em ministrar tal ensino por parte da Instituição, incapacidade das docentes de assumirem de fato a responsabilidade pelo ensino na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EGRY 1985); os professores não têm consciência de que estão sendo superficiais e pouco reflexivos na abordagem do tema sexualidade no curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto FAMERP e que os conteúdos ministrados sobre a sexualidade são insuficientes, com ênfase nos aspectos anátomopatológicos e de agravos à saúde, não permitindo maiores reflexões sobre os aspectos éticos e emocionais (RAMIN 2002); os alunos de enfermagem apresentam, em sua maioria, noções fluidas e limitadas, sem embasamento sobre sexualidade humana, além de empregarem os termos "sexo" e "sexualidade" como sinônimos (GIR et al, 2000); há uma clareza acadêmico-profissional da comunidade médica docente e não docente, sobre as carências estruturais de sua formação no tocante ao tema da Sexualidade Humana nos cursos de medicina da Universidade de Campinas, da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade de Campinas (SILVA, 1997). Egry (1985), Figueiró (2001), Nunes (1997), Silva (1997) e Silva (2001) sugerem que a educação sexual seja incluída nos cursos de educação superior, especialmente na área da saúde e das licenciaturas, a fim de diminuir a distância entre a formação e as exigências de atuação profissional. Estudos realizados por Barroso (1999), Egry (1985), Figueiró (2001), Nunes (1996), Silva (1997) e Silva (2001) confirmam a necessidade de formação docente, apontam para a falência do atual modelo médico-sanitarista-biologista, e sugerem uma educação sexual envolvida com uma compreensão histórica da sexualidade, contextualizada em suas variáveis culturais e de gênero. A formação de educadores para o processo educativo na área da sexualidade e promoção da saúde da mulher carece, pois, de estudos e se tornou um tema que não pode ser mais adiado. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa reflexão foi motivada pelo resultado de uma pesquisa que mostrou que não há plena adesão de mulheres universitárias às práticas preconizadas por campanhas educativas que visam a prevenção das DSTs e Aids. Essa seria uma forma de resistência feminina à lógica dessas campanhas/ações educativas? Acreditamos que tais resultados sugerem que as mulheres compreendem o exercício da sexualidade a partir de pressupostos diferentes dos utilizados para as ações educativas realizadas, que se ancoram num modelo de controle sobre o corpo. A dimensão subjetivamente significativa e socialmente desafiadora da educação sexual, como tema que deve perpassar a formação do educador, deve instigar as universidades a desenvolverem amplos estudos e pesquisas que possam subsidiar a formação dos educandos numa concepção histórico-cultural (NUNES, 2000), com o objetivo de que os estudantes tenham uma visão holística do ser humano, quer para sua atuação enquanto profissionais, quer para sua auto-compreensão enquanto ser-derelação. Acreditamos que esforços devem ser empreendidos para viabilizar uma educação sexual para mulheres que as libertem dos pressupostos epistemológicos que sustentam o sistema patriarcal. Enfim, destacamos Bordo (1997, pp.22) ao nos alertar que Numa época como esta, necessitamos desesperadamente de um discurso político eficaz sobre o corpo feminino, um discurso adequado a uma análise dos caminhos insidiosos e muitas vezes paradoxais do moderno controle social