EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: O QUE DIZEM AS INVESTIGAÇÕES E PRODUÇÕES TEMÁTICAS NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS?

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1 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: O QUE DIZEM AS INVESTIGAÇÕES E PRODUÇÕES TEMÁTICAS NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS? Ilma Regina Castro Saramago de Souza 1 (UFGD) Marilda Moraes Garcia Bruno 2 (UFGD) Palavras-chave: Escolarização Indígena. Publicações. Teses. Artigos. Introdução O direito dos povos indígenas à educação diferenciada e bilíngue foi conquistado pelos movimentos sociais, liderados pelos próprios indígenas e apoiados por órgãos governamentais e não governamentais, a partir da Constituição Federal Brasileira de O foco das políticas públicas reivindicadas foram a educação diferenciada, a garantia das especificidades linguísticas e culturais de cada comunidade. Para elaboração e implementação dessas políticas, as Universidades Federais e Estaduais tais como: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal de Goiás (UFG); Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Universidade de São Paulo (USP) dentre outras, tiveram relevante papel, pois contribuíram elaborando propostas educativas que contemplassem as necessidades e os interesses dos indígenas, contribuindo com formação de professores para o desenvolvimento pedagógico em suas aldeias (NASCIMENTO, 2012). Mais tarde outras Universidades como a Universidade Dom Bosco (UCDB), Universidade Estadual de Mato grosso (UNEMAT), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), começaram a desenvolver pesquisas referentes à temática da educação escolar indígena, bem como a ofertar cursos de formação para 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Atua como professora formadora do Curso de Especialização em Docência da Educação Infantil da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados. 2 Docente do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

2 professores fomentando debates, discussões e reflexões acerca da implementação das políticas públicas para a educação indígena e práticas de ensino que contemplassem o modo de ser indígena. Embora as pesquisas sobre a educação indígena tenham avançado no decorrer do tempo, o processo de escolarização ainda é um campo vasto a ser explorado. Assim, este trabalho, um recorte da pesquisa de doutorado, tem como objeto de estudo o fracasso escolar de alunos indígenas nas escolas da Reserva Francisco Horta Barbosa, em Dourados/MS. Este estudo busca identificar e analisar trabalhos científicos que tenham sido desenvolvidos e publicados nos últimos 10 anos. Metodologia Trata-se de estudo temático descritivo por meio do levantamento de teses no Banco de dados da Universidade Dom Bosco, bem como artigos publicados na Revista Tellus, vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (NEPPI-UCDB). Justifica-se o critério de seleção adotado pelo fato dessa instituição ser referência na pesquisa acerca da escolarização indígena e por manter um periódico específico sobre a temática indígena. Este estudo constituiu-se em selecionar os descritores: Educação Indígena, educação indígena escolar, leitura e escrita e fracasso escolar, posteriormente foi organizado qualitativamente os dados encontrados, dos quais foram elencados: autor, orientador, Instituição, linha de pesquisa, títulos, palavras-chave, natureza da publicação, resumo, ano de publicação, eixo temático, local de realização da pesquisa, objetivos, metodologia e resultados. A partir de então, os dados foram organizados apenas pelos itens: Ano de publicação, eixo temático e palavras-chave. Finalmente foi feita a análise de três artigos, dois quais foram considerados mais próximos ao objeto de pesquisa de doutorado da autora deste trabalho. Resultado e Discussão Os resultados do recorte temporal nos últimos dez anos, com os descritores mencionados, apontaram 05 Teses e 21 artigos. No período de 2013 a 2015 foram publicadas 05 Teses, tendo como eixos temáticos o ensino superior, as concepções dos professores indígenas acerca da escola, formação continuada de professores indígenas, diversidade cultural e educação indígena e Tecnologias digitais no ambiente escolar.

3 Nota-se que os eixos são diversificados, possibilitando a discussão em âmbitos distintos da educação indígena. No ano de 2014 não houve nenhuma publicação referente a essa temática Foram identificados 21 artigos, publicados de 2005 a Dentre os eixos temáticos estão: 02 na área da Formação de professores, 01 na perspectiva da preservação e revitalização linguística, 06 referem-se à educação indígena com especificidades como diversidade étnica, preconceitos e autonomia, 02 discutem políticas públicas para a educação indígena, 01 refere-se aos professores indígenas na perspectiva da antropologia, 03 refere-se a criança indígena e a educação infantil nesse contexto, 03 discutem como foco a formação de docente, 01 aborda o aprendizado na docência, 01 enfatiza a educação especial em contexto indígena, 01 refere-se a produção de matéria didático na língua Guarani. Quanto ao ano de publicação observa-se que houve uma publicação no ano de 2005, duas publicações no ano de 2006, já no ano de 2007 não houve nenhuma publicação. No ano de 2008 volta-se a publicar e tem-se três trabalhos, no ano de 2009 igualmente ao ano anterior houve três publicações, e no ano de 2010 apenas uma publicação, seguido em 2011 com três publicações, em 2012 há uma publicação, em 2003 tiveram quatro publicações e em 2014 foram publicados três trabalhos. Nessa perspectiva vê-se que há um movimento contínuo de publicações de artigos com a temática da educação indígena durante os últimos dez anos, com exceção do ano de 2007, quando nenhuma publicação foi realizada. Na segunda etapa desta pesquisa foi realizada a leitura dos resumos das Teses e dos Artigos buscando apesentar os seus objetivo e resultados. Portanto, para essa dinâmica foram selecionados três artigos conforme a proximidade do objeto de pesquisa da autora. Romanowski e Ens (2006, p. 38) apontam que as sistematizações da produção numa determinada área do conhecimento já se tornaram imprescindíveis para apreender a amplitude do que vem sendo produzido. Nesse caso conhecer o que já se vem produzindo na área da educação indígena possibilita não somente compreender o objeto estudado, mas ampliar as investigações a partir do que já se estudou sobre ele.

4 Dentre os artigos selecionados para a análise, o primeiro deles tem como título Balanço da Educação Escolar Indígena no Município de Dourados, de Girotto (2006), teve como objetivo demonstrar alguns aspectos do processo de educação escolar indígena em Dourados, MS. A autora apresenta a partir da Constituição Federal Brasileira de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases e de outros documentos oficiais as garantias para uma escola indígena de qualidade, com respeito e valorização da língua, cultura e modo próprio de aprendizagem dos povos indígenas. A pesquisa aponta como resultado que existem muitas dificuldades, contradições e desafios na educação indígena das quais destacam-se: 1) garantir o acesso e a permanência dos alunos indígenas; 2) ampliar o acesso aos conhecimentos, o que pressupõe a efetivação de práticas específicas e diferenciadas, interculturais, bi/multilíngues e comunitárias tratadas no item anterior; 3) promover uma gestão participativa, conjuntamente com a comunidade, em todos os aspectos que dizem respeito à escola. O segundo artigo, das autoras Rodrigues, Rocha e Rodrigues (2013) Formação indígena para a docência: o que revelam as produções acadêmicas em 16 anos de pesquisas?, faz um levantamento de produções acerca da formação indígena para a docência nos últimos 16 anos no Brasil. Teve como objetivo analisar o volume e o teor dos trabalhos acadêmicos referentes à temática no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, em periódicos, bem como em anais da ANPED, com o recorte para o período de 1997 a A pesquisa apontou que no ano de 2012, houve um grande crescimento de produções acerca da temática e que, das 220 etnias do país, apenas 80 delas foram estudadas por pesquisadores O terceiro artigo Infância e educação Guarani: para não esquecer a palavra, de Menezes e Richter (2014) objetiva discutir acerca dos processos de colonização e descolonização do sentido da alteridade de ser criança na dupla face do poder colonial de domar os selvagens e educar as crianças. As autoras partem da cosmologia Guarani e a partir das crianças discute a palavra como fundamento da casa, da aprendizagem, da vida do povo. A pesquisa aponta que há um grande desafio a ser enfrentado tanto dos professores indígenas como não indígena, pois é preciso inventar uma escola que seja descolonizadora. Para as autoras é necessário que haja indagações acerca da homogeneização das culturas, da supressão

5 dos conhecimentos locais, da exclusividade do conhecimento científico, abrindo caminhos epistemológicos de encontro com a diversidade que nos ajude a pensar que lutar contra uma dominação cada vez mais polifacetada significa perversamente lutar contra a indefinição entre quem domina e quem é dominado, e, muitas vezes, lutar contra nós próprios (MENEZES e RICHTER, 2014, p. 116). Embora os artigos se aproximem do objeto da pesquisa de doutorado em desenvolvimento, observa-se que nenhum deles trata do fracasso escolar de alunos indígenas, o que torna a pesquisa com caráter inédito e de grande relevância acadêmica e social, pois seus resultados irão fomentar discussões e reflexões acerca dessa temática que vem preocupando gradativamente os educadores indígenas. Considerações Finais Ainda que nos últimos anos os pesquisadores tenham sido instigados a estudar educação indígena, os resultados aqui apresentados são desafiadores. Esses resultados apontam para a necessidade de pesquisas nos mais diversos segmentos da educação indígena e, consequentemente, a necessidade de mais publicações a fim de se fomentar reflexões e discussões acerca das práticas pedagógicas, da formação de professores, do processo de aprendizagem, do sucesso e fracasso escolar e de quantos outros eixos temáticos comportarem esse grande tema. Referências GIROTTO, Renata Lourenço. Balanço da educação escolar indígena no município de Dourados. Tellus, ano 6, n. 11, out MENEZES, Ana Luisa Teixeira de; RICHTER, Sandra Regina Simonis. Infância e educação Guarani: para não esquecer a palavra. Tellus, ano 14, n. 26, p , jan./jun NASCIMENTO, André marques. Português Intercultural [manuscrito]: fundamentos para a educação linguística de professores e professoras indígenas em formação superior específica numa perspectiva intercultural. Goiás, Tese (Doutorado em Letras e Linguística), Universidade Federal de Goiás, RODRIGUES, Laudinéa de Souza; ROCHA, Simone Albuquerque da; RODRIGUES, Sílvia de Fátima Pilegi. Formação indígena para a docência: o que revelam as produções acadê- micas em 16 anos de pesquisas? Tellus, ano 13, n. 25, p , jul./dez ROMANOWSKI, Joana Paulin; ENS, Romilda Teodora. As pesquisas denominadas do tipo "estado da arte" em educação. Diálogo Educ., Curitiba, v. 6, n.19, p.37-50, set./dez