Universidade Federal de Pernambuco Centro de Educação PROJETO REDE ANAIS DO SEMINÁRIO JOGOS COM SUCATA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA JOGOS MATEMÁTICOS: UM DESAFIO À PRÁXIS PEDAGÓGICA LEOPOLDINA MARIA ARAUJO DE MIRANDA ESCOLA MUNICIPAL INÊS SOARES DE LIMA RECIFE leopoldinamiranda@hotmail.com Resumo A experiência com jogos matemáticos tem sido construída com momentos de encontros marcados por reflexões sobre o nosso fazer pedagógico na escola, em nossas salas de aulas e sobre as teorias que embasaram e embasam as nossas vivências cotidianas na escola. Percebemos, também, durante esse ano de formação, que há uma necessidade de rever nossos laços construídos com a matemática e que ficaram marcados em nossa história pessoal, estudantil e que se espelham na profissional. A oportunidade de repensar, refazer e reaproveitar materiais ao se elaborar um jogo e utilizá-lo como atividades de matemática nos fez rever déficits que temos com alguns conteúdos matemáticos e com as estratégias didáticas desenvolvidas em sala. Portanto, o projeto é encantador porque propicia as vivências lúdicas ao jogar, e com isso momentos agradáveis do brincar aprendendo, foi um dos motivos e estímulos para que a formação de professores se desse também sob a ótica do prazer, do desafio, do se oportunizar crescer à luz da teoria e da prática. Palavras-chave: jogos matemáticos, desafio, práxis e ludicidade. 1.INTRODUÇÃO (JOGOS MATEMÁTICOS: UM NOVO OLHAR) Vivenciar o Projeto Rede _ Jogos na Educação Matemática como formadora tem sido de grande reflexão sobre práticas pedagógicas. Sou Leopoldina Miranda, professora e atuando como coordenadora pedagógica na Escola
Municipal Inês Soares de Lima, Recife. Trabalho como formadora da turma D1 constituída por 21 professoras das turmas do 3º ano do I CICLO e as turmas do 1º e 2º ano do II CICLO do Ensino Fundamental. A formação acontece mensalmente, com encontros presenciais e a distância, perfazendo um total de 90 horas. Sou uma apaixonada por jogos didáticos! Como psicopedagoga, tenho os jogos como fio condutor do meu trabalho, eles são motivadores e propulsores do meu lado pesquisador, no qual o objeto de estudo são as dificuldades de aprendizagem. Percebo que na escola, muitas crianças apresentam dificuldades no raciocínio lógico e como consequência um mau desempenho e o insucesso na matemática. Lembro-me que esta percepção foi reforçada com as falas das professoras, no momento inicial do curso. A partir delas começaram a se delinear, também, as dificuldades que algumas professoras têm em relação a sua convivência com a matemática, seja por comportamentos de antipatia com o seu professor no processo de escolarização, seja pela falta de compreensão de determinados conteúdos matemáticos ou pela forma metodológica ineficiente, sem despertar interesses ou estabelecer relações significativas à vida. Possibilitar as crianças a pensarem sobre o uso de materiais reaproveitáveis também foi muito rico, porque elas tiveram que pegar e sentir os materiais, além de fazer escolhas, construir o jogo, refletir sobre formas, tamanhos, medidas, dentre outros conteúdos matemáticos. Uma oportunidade ímpar de ampliar a consciência crítica sobre as questões ambientais de destaque atual em nossa sociedade e a importância dos erres (R): Reutilizar, Reaproveitar, Reciclar para a manutenção de nossas vidas. Por todas estas razões, senti-me desafiada a cada encontro poder gerar reflexões com os meus pares educativos, as cursistas, sobre o que é jogo, o que significa jogar e como se relacionar com a matemática amistosamente. A proposta é que juntas pudéssemos, desvelar e aprofundar os conhecimentos matemáticos e suas finalidades didáticas, para que as crianças ao serem apresentadas aos jogos criassem uma relação prazerosa ao manipularem e brincarem com eles. Outro aspecto é que pudessem, também, pensar sobre suas ações, atitudes, emoções e novas construções no ato de jogar e na elaboração do jogo. Afinal, matemática é vida, vida é riqueza, riqueza ao 2
descobrir que brincando também se aprende e que o jogar amplia as nossas aprendizagens, a nossa forma de ver a matemática com outro olhar, o olhar de que é possível aprender. 2. RESSIGNIFICANDO A PRÁXIS PEDAGÓGICA COM OS JOGOS No início da formação cada professora foi historiando sobre sua prática com jogos matemáticos, algumas não trabalhavam com jogos (esquecimento, não gostam de jogos, não sabem como trabalhá-los), outras com o intuito de explorar só os conteúdos, algumas objetivando a brincadeira e finalmente aquelas com os propósitos didáticos e lúdicos. Sabemos que nos últimos anos a escola recebeu uma variedade de jogos didáticos, recursos para contribuir na compreensão dos conteúdos matemáticos, no entanto sabe-se que a maioria desses jogos ou estão empoeirados dentro de armários ou são utilizados sem finalidades didáticas, somente como passatempo ao ser explorado pelos alunos. Antes, as reclamações eram por não haver jogos e hoje, por não saber usá-los. Então, por que jogos? 2.1. JOGOS: GRANDES POSSIBILIDADES Vamos jogar? Uma pergunta que geralmente obtém como resposta: Vamos!!! Muitas vezes nem precisa saber qual será o jogo a se jogar. Tudo isso acredito que pelo fascínio do desafio, do movimento, da interação, da ludicidade, do brincar antes de qualquer coisa. Utilizar os jogos no espaço educacional é potencializar o ensino e a aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento. Considerar o jogo como uma das estratégias em sala de aula é fundamental, pois ele possibilita nas crianças o desenvolvimento afetivo, social, cognitivo, motor e moral, o que hoje, principalmente é muito valioso, porque vivemos numa época de poucos valores e princípios em nossa sociedade. São tantos os tipos de jogos e dentre eles, Macedo (1994) defende em especial os jogos de regras, porque criam um contexto de observação e diálogo sobre as etapas do pensar e da construção do conhecimento de acordo com os limites da criança. O jogo de regras possibilita desencadear os mecanismos da equilibração cognitiva, logo constitui um poderoso meio para favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem de crianças, visto que a aprendizagem, segundo Piaget, está subordinada às leis do desenvolvimento 3
(SISTO, 1998, p.141). O que significa que o jogador precisa ter a compreensão das regras, para que jogando ele se organize, planeje, faça as inferências, antecipe, volte o seu pensamento e reveja as estratégias, enfim opere de acordo com o seu desenvolvimento cognitivo. O jogo deve ser para dois ou mais jogadores, sendo, portanto, uma atividade que os alunos realizem juntos; também deverá ter um objetivo a ser alcançado pelos participantes, ou seja, ao final haverá um vencedor e, por último, deverá permitir que os alunos assumam papéis interdependentes, opostos e cooperativos... (SMOLE, 2007, p.13). Com essas contribuições podemos refletir que sem deixar de lado o papel relevante da ação educativa, que vai se construindo com os erros e acertos em cada estratégia desenvolvida pelos jogadores, há também, o lado lúdico. Vislumbrar os movimentos, o prazer de estar com os seus pares em momentos de desafios, perceber as ações de cada um e a necessidade de cooperarem um com os outros no respeito às regras sem perder o interesse no jogo e com isso ir se estimulando e compreendendo o próprio processo de sua aprendizagem. Outro nível relevante é o interpessoal que se estabelece com um grau de interdependência e complementaridade. Ou seja, é necessário quando duas ou mais pessoas jogam e iniciam as trocas de pontos de vista, se colocam no lugar do outro e pensam como o oponente ou com uma nova perspectiva e começam a coordenar suas ideias, seus pensamentos, suas atitudes e procedimentos em cada jogada. Pode-se dizer que esse pensar lógico só acontece a partir dessa interação social, desse movimento de socialização e compartilhamento das ideias. Ao longo da formação percebemos o quanto foi rico para todas nós professoras, refletirmos sobre as estratégias utilizadas em sala, durante as aulas de matemática. Segundo Smole (2007), quando bem planejado e organizado o trabalho com matemática em sala de aula ele auxilia no desenvolvimento de habilidades diversas. Uma das professoras, a partir da sua prática exitosa com jogos, pode instigar, através dos seus relatos a cada encontro, o fazer das outras professoras, o querer vivenciar com seus alunos os jogos. Expuseram também as dificuldades ou entraves para a não aplicabilidade do jogo, como: achei o nível do jogo alto para a turma, mas acabei subestimando a capacidade das crianças,... estou cheia de projetos 4
pontuais e por este motivo não tive a oportunidade de aplicá-lo, as professoras são de acumulação e não estão participando da formação, o que dificulta a aplicabilidade,...fiz a oficina da confecção dos jogos com as crianças e não tive tempo para jogar, eu detesto jogos,...não sei utilizar os jogos que tem na escola entre tantas outras falas. Pensando, nos tantos jogos da escola, podemos fazer a seguinte reflexão: em um país como o nosso, com tal dimensão populacional e geográfica, onde riquezas são diversificadas e mesmo assim a pobreza está tão presente, nos perguntamos por que não reutilizar, reciclar, reaproveitar a variedade de materiais que fazem parte do nosso dia a dia? E por isso mais uma das riquezas deste curso foi a de confeccionarmos os jogos com materiais reaproveitáveis, mostrando aos nossos alunos e educadores que é possível termos uma variedade de possibilidades utilizando estratégias significativas nos momentos de reflexão, tanto ao jogar, como na construção do jogo. Para iniciar a confecção dos jogos com materiais reaproveitáveis, reutilizáveis ou de baixo custo, foi muito interessante. Lembro-me da expressão de felicidade no rosto de duas crianças quando fui desenvolver o trabalho na escola em que atuo. Ao explicar sobre o projeto, e que todos nós teríamos inclusive a oportunidade de construir com a nossa família, com os amigos, usálos e ensinar a outras pessoas como se joga, quais as regras, o objetivo do jogo, foi uma alegria só! Explorar os jogos como um recurso a mais nas estratégias de sala de aula, é fazer com que: [...] a introdução de jogos nas aulas de Matemática é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos falam Matemática, apresentam também um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de aprendizagem. (BORIN J. in Starepravo. 2009. p.11) 5
Um aspecto interessante foi em relação aos estudos dos conteúdos e das finalidades educacionais. Durante a exploração dos jogos fomos compreendendo como, ainda, precisamos pensar e estudar mais matemática. Muitos medos que temos em relação à matemática, o não gostar de matemática, se dá pela forma como nos relacionamos durante anos com ela. Quantos de nós só estudamos ou gravamos as fórmulas para passar de ano, sem conseguirmos atribuir significado e sentido aos conteúdos trabalhados? E o pior é que permanecemos com essa postura ainda hoje, reforçando ideias que não mais fundamentam o ensino da matemática. Numa sociedade em constante e acelerada transformação, com recursos alternativos, tecnologias avançadas e que nos respaldam em tantos fazeres, com tantos conhecimentos que acabam nos proporcionando vivenciar formas diferenciadas de viver e conviver com a matemática de uma maneira menos rudimentar e com certeza mais prazerosa, podemos então indagar: qual é a intenção que temos ao ensinar matemática aos nossos alunos? Fazemos com que eles pensem, elaborem situações que os desafiem a compreender um conteúdo e se apropriarem desse conhecimento? 3 CONCLUSÃO Ao participar do Projeto Rede Jogos na Educação Matemática, pude compreender melhor o meu interesse em aprofundar e desmistificar alguns tabus construídos ao longo dos anos na relação com a matemática. Com essa nova compreensão vejo a possibilidade de mergulhar mais ainda nas minhas pesquisas com jogos e nas maneiras que os educandos acabam se confrontando com a matemática nas salas de aulas, ampliando pode-se dizer, as dificuldades e a aversão à matemática. A postura dos professores precisam ser revistas, refletidas com seus pares educacionais, para que possam superar uma imagem mitificada que foi construída ao longo dos anos. Além de que precisamos discutir mais sobre os conteúdos que estão sendo trabalhados em sala. De que forma eles chegam aos alunos? Será que oportunizam o desenvolvimento deles? Será que abrem espaço para que esses alunos possam se envolver com a matemática e consequentemente, se desenvolverem como pessoas? Uma vez ouvi de Luíz 6
Schettini Filho, psicólogo, que não há aprendizagem, desenvolvimento sem envolvimento e acredito profundamente nessa relação. Ter a oportunidade de conviver com os professores do NEMAT foi muito importante, o curso de formação de professores com os jogos matemáticos me oportunizou rever minha postura de uma forma geral com o meu grupo de professoras (da escola), através do grupo de professoras (cursistas). Como coordenadora pedagógica, percebo que posso contribuir de forma mais objetiva com a minha equipe de professoras e com os alunos da escola. Afinal, quando o Grupo de formadores do projeto Rede, Sub Projeto: Jogos na Educação Matemática (2011) faz o convite de nos aventurarmos, através dessa formação, na qual novas possibilidades se descortinam, quando enfrentamos coletivamente os desafios que cada jogo nos propõe e o grande desafio de compartilhar com nossos alunos a riqueza e a beleza da Matemática redescoberta brincando e jogando... significa que melhorar e ampliar as oportunidades, de repensarmos juntas os nossos saberes e dissabores do fazer matemático é o grande desafio, a partir dessa formação oportunizada pela Secretaria de Educação do Recife, através do NEMAT/UFPE. REFERÊNCIAS BORIN J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. São Paulo: IME-USP, 1996. GRUPO DE FORMADORES DO PROJETO REDE. SUB PROJETO: JOGOS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Jogos didáticos para o ensino da matemática elementar. NEMAT. UFPE. Recife, 2011.(mimeografado) MACEDO, L. de. Ensaios construtivistas. São Paulo. Casa do Psicólogo, 1994. SISTO, F. F. et al. Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar. In Uma proposta psicopedagógica com jogos de regras, organizada por Rosely Palermo Brenelli. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. SMOLE, K. S. et al. Cadernos do Mathema, jogos de matemática de 1º a 5º ano. Porto Alegre, Artmed, 2007. STAREPRAVO, A. R. Jogando com a matemática: números e operações. Curitiba, AymarÁ, 2009. 7