UM BREVE DESCRITIVO DO MODELO MPS-BR (MELHORIA DE PROCESSO DE SOFTWARE BRASILEIRO) E SUAS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO CLÉVERSON TRAJANO PRÉCOMA PORTES PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO UP RUA PETIT CARNEIRO, 1166 CURITIBA PR CLEVERSONTPP@GMAIL.COM Resumo Este artigo apresenta uma breve descrição do modelo de Melhoria de Processo de Software Brasileiro (MPS-BR) que vem sendo implementado nas empresas desde 2003. Este modelo vem sendo uma alternativa para pequenas e médias empresas possuírem uma certificação de seus processos de desenvolvimento a um custo razoável. Um panorama da situação atual do projeto é apresentado bem como as perspectivas para o futuro. 1. INTRODUÇÃO A necessidade de se produzir softwares com mais qualidade tem motivado as empresas a obterem uma qualificação nos seus processos de desenvolvimento de software. Alcançar competitividade pela qualidade, para as empresas de software, implica tanto na melhoria da qualidade dos produtos de software e serviços correlatos, como dos processos de produção e distribuição de software [1]. Com o objetivo de favorecer e estimular principalmente a micro, pequena e média empresa brasileira de produção de software a um custo acessível, foi criado, em 2003, o projeto MPS-BR. É um projeto de Melhoria do Processo de Software Brasileiro, coordenado pela SOFTEX(Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro), e composto por mais sete instituições brasileiras com competências na melhoria de processos de software. São elas: COPPE/UFRJ, CESAR, CenPRA, CELEPAR, ABNT, Sociedade Núcleo de Apoio à Produção e Exportação de Sotware do Rio de Janeiro RIOSOFT e Sociedade Núcleo SOFTEX 2000 de Campinas. Tecnicamente, o Modelo MPS inclui um Modelo de Referência para Melhoria de Processo (MR-MPS), um Método de Avaliação (MA-MPS) e um Modelo de Negócio (MN-MPS) com as seguintes características: conformidade com as normas ISSO/IEC 12207 [2] E ISSO/IEC 15504 [3]; compatível com Modelo CMMI [4]; baseado nas melhores práticas da Engenharia de Software; criado para a realidade das empresas brasileiras. No Brasil, o Programa MPS-BR é apoiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Em abril de 2005, o programa passou a ser apoiado também pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), através do Fundo Multilateral de Investimento (FUMIN). [5] Na seção 2 o artigo descreve a estrutura do modelo MPS-BR, a seção 3 apresenta a situação atual do modelo, a seção 4 traz uma entrevista com uma idealizadora do modelo Cristina Filipak Machado falando das perspectivas para o futuro e a seção 5 traz as considerações finais.
2. ESTRUTURA DO MODELO MPS-BR A estrutura do modelo MPS-BR foi fundamentada com base em outros modelos e padrões já existentes, adaptando para a realidade brasileira. O ponto de partida para a definição foi a norma ISSO/IEC 12207 [2], a série de normas ISSO/IEC 15504 (SPICE) [3] e o modelo CMMI (Capability Maturity Model Integration) [4]. O modelo MPS está dividido em três (3) componentes (Figura 1): Modelo de Referência (MR-MPS), Método de Avaliação (MA-MPS) e Modelo de Negócio (MN-MPS). Cada componente é descrito por meio de guias e/ou documentos do modelo MPS [1]. FIGURA 1 - COMPONENTES DO MODELO MPS 2.1 MODELO DE REFERÊNCIA Contém os requisitos que os processos das empresas devem atender para estar em conformidade com o modelo. Está definido em níveis de maturidade que são uma combinação entre processos e sua capacidade. A definição dos processos segue os requisitos para um modelo de referência de processo apresentados na ISO/IEC 15504-2, declarando o propósito e os resultados esperados de sua execução [1]. Cada nível de maturidade é uma junção entre processos e capacidade dos processos, ou seja, é composto por um conjunto de processos em um determinado nível de capacidade [5]. São definidos sete (7) níveis de maturidade para o modelo: A(Em Otimização), B(Gerenciado Quantitativamente), C(Definido), D(Largamente Definido), E(Parcialmente Definido), F(Gerenciado) e G(Parcialmente Gerenciado). 2.2 MODELO DE AVALIAÇÃO O objetivo do modelo de Avaliação é verificar a maturidade da empresa na execução de seus processos de software. Descreve um conjunto de atividades e tarefas a serem cumpridas para atingir este propósito. Segundo [6], o Processo e o Método de Avaliação MA-MPS foram definidos de forma a: permitir a avaliação objetiva dos processos de software de uma organização/unidade organizacional; permitir a atribuição de um nível de maturidade do MR-MPS com base no resultado da avaliação; ser aplicável a qualquer domínio na indústria de software;
ser aplicável a organizações /unidades organizacionais de qualquer tamanho. O processo de avaliação é dividido em quatro (4) sub processos: 1. Contratar a avaliação; 2. Preparar a realização da avaliação; 3. Realizar a avaliação final; 4. Documentar os resultados da avaliação; Como resultado da execução deste processo: são obtidos dados e informações que caracterizam os processos de software da organização/unidade organizacional; é determinado o grau em que os resultados esperados são alcançados e os processos atingem o seu propósito; é atribuído um nível de maturidade do MR-MPS à organização/unidade organizacional. A avaliação é válida por um período de três (3) anos a contar da data em que a avaliação final foi concluída com a empresa avaliada. 2.3 MODELO DE NEGÓCIO Este modelo descreve as regras de negócio para implementação do MR-MPS. Para cada nível de maturidade há um guia que detalha os processos existentes que são descritos em termos de atributos de processo (AP). O atendimento destes atributos é avaliado utilizando os respectivos resultados esperados de atributo de processo (RAP). A seguir um resumo dos níveis de maturidades, seus processos associados e atributos de processo a ser atingido (Tabela 1): Tabela 1 - Níveis de Maturidade do MR-MPS
3. PANORAMA ATUAL DO PROJETO Em uma visão quantitativa do número de empresas certificadas temos a seguinte situação [8]: TOTAIS POR NÍVEIS ANO A B C D E F G TOTAL 2005 a 2007 3 0 0 1 3 16 49 72 2008 1 0 0 0 1 9 40 51 2009 2 0 2 0 2 33 41 80 2010 0 0 2 0 0 3 4 9 TOTAL 6 0 4 1 6 61 134 212 TABELA 2: AVALIAÇÕES MPS PUBLICADAS DE 2005 A 2010 (PRAZO DE VALIDADE: 3 ANOS) Um outra visão do panorama atual pode ser obtida de imps 2009 [7] que traz uma análise estatística das empresas que adotaram o modelo MPS em 2009 e uma análise da variação de resultados entre 2008/2009. Nesta análise feita em 2009 foram distribuídos questionários para 135 empresas (20 iniciando a implementação MPS, 25 em processo de avaliação, 57 avaliadas MPS nível G, 26 avaliadas nível F e 7 avaliadas MPS níveis E- A). Ela revela um quadro de ampla satisfação das empresas com o modelo: 71,11% (96 empresas) relataram estar totalmente satisfeitas e 27,41% relataram estar parcialmente satisfeitas [7]. Com relação à satisfação dos clientes das empresas que adotaram o modelo 50% das empresas iniciando a implementação possuem clientes totalmente ou largamente satisfeitos. Este número sobe para 68,13% em empresas com avaliação MPS. E se considerados somente empresas avaliadas entre os níveis E-A a satisfação chega a 71,43%. Com relação a análise da variação de resultados entre 2008/2009, observou-se um aumento no faturamento, número de clientes no país, número de funcionários e retorno de investimento. Por outro lado, alguma influência pode ser observada em relação ao custo médio dos projetos que aumentou e a produtividade que diminuiu [7]. Porém em empresas no nível F ou posteriores que possuem um comportamento de maior capacidade de identificação de defeitos a tendência foi de menor custo nos projetos. De forma geral o modelo vem se mostrando bem aceito pelas empresas, com o aumento do número de clientes, faturamento e número de funcionários sem afetar a satisfação dos clientes. Outro relato foi o de retorno do investimento e, com a internalização do MPS em seus processos, houve a melhoria de custo, qualidade, prazo e produtividade. 4. PERSPECTIVAS PARA O FUTURO Em uma breve entrevista por e-mail com Cristina Filipak Machado, Analista de sistemas da CELEPAR, e uma das responsáveis pela definição e implementação do modelo MPS-BR, foi perguntado sobre metas e perspectivas para o futuro do projeto. Em sua resposta nota-se a preocupação com a estabilização do modelo nas empresas e a expansão para outros países. A meta maior é a internacionalização do modelo para os países da América Latina. Outra meta é que as empresas migrem para os níveis D, E e C. Temos muito nível G e poucas nos outros níveis. Esta é a
meta mais importante para este ano, inclusive os financiamentos estarão focados nestes níveis, na sua maioria [9]. Ao ser indagada também sobre novas versões, novos guias e inovação do modelo ela reforça a idéia de estabilização. Vamos dar uma parada em relação a alterações dos guias, somente pequenos acertos até para conseguirmos estabilizar o modelo para a internacionalização [9]. Um fator que ela considera como o 'estado da arte' para a iniciativa estar dando certo no Brasil está no modelo de negócio do programa, principalmente no modelo cooperado, onde várias empresas se unem para implementarem a certificação a um custo bem mais em conta. A inovação do MPS está no modelo de negócio, principalmente o cooperado [9]. 5. CONCLUSÃO A qualidade nos processos de desenvolvimento de software torna-se cada vez mais importante diante da competividade. Neste cenário o MPS-BR torna-se uma alternativa voltada para o mercado brasileiro, principalmente de pequenas e médias empresas a um custo razoável. Desde 2005 verifica-se um aumento no número de empresas que implementam o modelo e com avaliações acima de 90% de satisfação. Isto se deve ao fato de se ter conseguido um aumento do número de clientes, faturamento e número de funcionários mantendo-se a satisfação de seus clientes. Com a constatação da eficiência do modelo, os próximos passos são a sua estabilização, com o investimento e apoio a empresas que querem evoluir nos níveis de maturidade do MPS-BR. Através desta estabilização espera-se a internacionalização do modelo para os países da América Latina. 6. REFERÊNCIAS [1] ASSOCIAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA EXCELÊNCIA DO SOFTWARE BRASILEIRO SOFTEX. MPS.BR Guia Geral: 2009, maio 2009. Disponível em www.softex.br [2] ISO/IEC 12207:1995/Amd 1:2002/Amd 2:2004. Technology Information Software Life Cycle Processes. [3] ISO/IEC 15504. Technology Information Process Assessment Part 1 Concepts and vocabulary; part 2 Performing an assessment; part 3 Guidance on performing an assessment; part 4 Guidance on use for process improvement and process capability determination; and part 5 An exemplar process assessment model. [4] Chrissis, M. B., Konrad, M, Shrum, S. CMMI: Guidelines for Process Integration and Product Improvement, Addison-Wesley, 2003. [5] Weber, K., Araújo, E., Rocha, A. R., Oliveira, K., Rouiller, A. C., Wangenheim, C. G., Araújo, R., Salviano, C., Machado, C. F., Scalet, D., Galarraga, O., Amaral, M. P., Yoshida, D. Melhoria de Processo de Software Brasileiro (MPS.BR): Um Programa Mobilizador [6] Rocha, A. C. Lições Aprendidas em Avaliações MPS, In: MPS.BR Lições Aprendidas [7] Travassos, G. H., Kalinowski, M. imps: Resultados de desempenho de empresas que adotaram o modelo MPS. Campinas, SP: SOFTEX, 2009 (ISBN 978 85 99334 18 8). [8] SOFTEX: Avaliações MPS Publicadas. 2010. Disponível em: <http://www.softex.br/mpsbr/_avaliacoes/avaliacoes_mpsbr_total.pdf>. Acesso em: 26/04/2010. [9] Machado, C. F. Informações sobre MPS-BR. Entrevista concedida via e-mail.