EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO CONSCIENTE: Fortalecendo a relação entre consumidores e produtores agroecológicos 1



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Transcrição:

EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO CONSCIENTE: Fortalecendo a relação entre consumidores e produtores agroecológicos 1 Moacir R. Darolt 2 O objetivo deste relato é apresentar algumas estratégias de fortalecimento da relação entre produtores e consumidores agroecológicos, visando incluir os consumidores como apoiadores de uma rede de propriedades em agroecologia, na perspectiva de melhorar a comunicação e criar novas formas de comercialização direta. As ações são realizadas pela Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná ACOPA em parcerias com instituições públicas, privadas e ONGs. Cultivando Consumidores Com o objetivo de aproximar consumidores e produtores orgânicos 3 foi fundada a ACOPA no ano 2000, visando promover o comércio justo e solidário, divulgar hábitos saudáveis de alimentação e consumo responsável. A Associação é uma organização independente, sem fins lucrativos mantida exclusivamente pela contribuição paga pelos seus associados e parcerias. O trabalho de organização dos consumidores é voluntário e realizado nos locais de vendas de produtos orgânicos, com destaque para as feiras livres. Atualmente, cerca de 600 pessoas participam como associados ou simpatizante do grupo que busca cultivar consumidores na busca de formas mais saudáveis de relacionamento entre o homem e a natureza. Comparados com a população de uma forma geral, os consumidores de produtos orgânicos e/ou agroecológicos se aproximam muito de um consumidor consciente. Segundo pesquisa do Instituto Akatu (2004) um consumidor consciente: apresenta diferença no ato de ir as compras em relação à maioria da população; mostra disposição em transformar em prática os valores com que se identifica; tende a se preocupar com as gerações futuras e com o coletivo; usa o seu poder de consumidor cidadão. Diversas pesquisas têm mostrado que o consumidor orgânico é normalmente um profissional liberal ou funcionário público, na maioria do sexo feminino, com idade variando entre 31 e 50 anos. Apresenta nível de instrução superior tendo em sua maioria cursado uma faculdade. A maioria é usuário de internet com renda entre 9 e 12 salários mínimos. São pessoas que têm o hábito de praticar esportes com freqüência e, mesmo morando na cidade, procuram um estilo de vida que privilegie o contato com a natureza, o que faz com que freqüentem parques e bosques regularmente (Darolt, 2002 e 2007). Estes dados indicam que locais de feiras orgânicas ou agroecológicas têm maior sucesso em áreas naturais (parques, bosques, praças, etc.). Além disso, são pessoas preocupadas com saúde e qualidade de vida, que privilegiam terapia e medicina alternativas. 1Referência: DAROLT, M. R.. EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO CONSCIENTE: Fortalecendo a relação entre consumidores e produtores agroecológicos. In: X Encontro Paranaense de Educação Ambiental, 2007, Maringá-PR. Ambiente, Pesquisa e Sociedades Sustentáveis. Maringá-PR : Universidade Estadual de Maringá - UEM, 2007. 2Engenheiro Agrônomo, Doutor em Meio Ambiente, Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Presidente da Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná (ACOPA). Contato: darolt@iapar.br, (41) 3356-7349. 3Neste texto o termo orgânico inclui todas as preocupações referentes à agroecologia.

Grosso modo, podemos dizer que existem dois tipos de consumidores orgânicos (tabela 1). O primeiro tipo refere-se ao grupo dos consumidores mais antigos, que estão motivados, são bem informados e exigentes em termos de qualidade biológica do produto. Estes consumidores são os freqüentadores das feiras verdes de produtos orgânicos e tem um nível de consciência ambiental maior em relação à população em geral. Tabela 1. Tendências de consumidores de produtos orgânicos segundo características de consumo. Características Consumidor Novo Consumidor antigo Ato de ir as compras Ocasional Regular (Fiel) Tempo de consumo < 5 anos > 5anos Preferência de compra Supermercados Feiras e lojas Preço suplementar (disposição para pagar +) Qualidade percebida Freios para compra 10-20% 20-30% Saúde e segurança alimentar Preço Falta de informação Valores Comprometido Consciente Saúde, meio ambiente, qualidade vida Procedência (origem do produto) Um segundo tipo, mais recente, ainda pouco estudado, é o consumidor das grandes redes de supermercados, que se caracteriza por ser um consumidor onde as preocupações individuais (saúde) sobrepujam as ambientais. Os consumidores do canal supermercado que estão conhecendo o mercado agroecológico compram mais por impulso e de forma menos regular quando comparado ao grupo anterior. Neste sentido, são necessárias estratégias de fidelização do consumidor antigo e retenção ou manutenção do novo consumidor. Estratégias de Fortalecimento da Comunicação entre Produtores e Consumidores O espaço na grande mídia ainda é insuficiente para sensibilizar o consumidor sobre os problemas relacionados aos agrotóxicos e aos benefícios da alimentação orgânica. Apesar de pesquisas mostrarem que esta é uma questão de alto risco para a saúde pública, a preocupação dos consumidores só será despertada e seus hábitos modificados, se houver um trabalho mais eficiente de comunicação. O trabalho da associação de consumidores (ACOPA) é articulado junto a uma rede de produtores, consumidores, comercializadores e poder público que envolve as feiras verdes, associações, empresas, restaurantes, lojas, pequenos varejos e outras iniciativas de comércio solidário. Entre as estratégias de fortalecimento desta rede podem ser destacados: 1.Visita dos consumidores às propriedades: esta atividade batizada de passeio orgânico tem se mostrado como uma das estratégias de maior impacto na conscientização e divulgação da produção. O passeio, realizado nos finais de semana, permite verificar as dificuldades dos agricultores in loco e esclarecer dúvidas dos consumidores em relação ao sistema de produção, beneficiamento, comercialização e certificação, contribuindo

para uma mudança de atitude do consumidor e do produtor. 2.Curso de Alfabetização Orgânica /Locação de canteiro para práticas agroecológicas: Essa estratégia permite melhorar o conhecimento dos consumidores em relação ao sistema de produção. A estratégia é focada num curso prático de horta orgânica numa propriedade selecionada. Cada família de consumidores realiza sua inscrição e recebe um canteiro de sua responsabilidade. O desempenho dos horticultores tem acompanhamento quinzenal, tanto em relação à assiduidade, quanto à manutenção do canteiro e à produção. O agricultor e técnico, em conjunto, são responsáveis pelas orientações técnicas e acompanhamento. O curso é realizado em quatro ou cinco módulos (1.plantio; 2. capina e tratos culturais; 3, 4 e 5.colheitas). Essa estratégia permite que o consumidor volte várias vezes a propriedade, conhecendo todo o sistema produtivo e criando uma relação afetiva com a família e permitindo que o produtor conheça as crenças e valores dos consumidores. 3.Aproximação do consumidor com o alimento (sistema Colha-e-Pague ): o consumidor tendo a oportunidade de colher o alimento no campo, percebe o processo e não apenas o produto. 4.Valorização dos sabores e saberes: Um almoço com produtos orgânicos proporcionado pelos produtores no momento da visita a propriedade ou uma degustação nas feiras livres vai além da palavra. É preciso provar e cheirar para valorizar ainda mais um alimento. A troca de informações entre as pessoas envolvidas nesta rede sobre novos sabores, receitas, alimentos com funções de nutrir e curar, é uma forma de coesão que trabalha a comunicação sob diferentes sentidos (paladar, olfato, tato, visão). 5.Reconhecimento e crédito alternativo: a obtenção de um crédito alternativo para o agricultor, longe do circuito bancário, é uma forma de reconhecimento e aproximação. Alguns agricultores orgânicos já foram financiados pelos consumidores, que adiantam uma quantia em dinheiro ao agricultor, recebendo posteriormente em produtos com um desconto especial, normalmente de 10%. O objetivo é criar relações de confiança, construídas historicamente através de relações de proximidade e de compromissos informais. 6.Valorização da produção local : a venda de produtos direto na propriedade, talvez seja a forma de comercialização olho-no-olho mais adequada para fortalecimento entre a comunicação produtor x consumidor. O resgate dos costumes e tradições locais na forma de produzir, complementado com preços compensadores, qualidade biológica do produto, frescor e sabor são algumas das vantagens do processo. 7.Integração das propriedades orgânicas em circuitos de turismo rural: os processos agroecológicos em uma propriedade orgânica agregam valor ao ambiente natural (paisagem integrada, rios com águas limpas, ar puro). Outras atividades acabam se associando naturalmente ao processo, como a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas, o artesanato e as atividades de lazer. Essa dinâmica permite uma integração maior entre o consumidor visitante e o produtor. 8.Diversão e arte: A dimensão artística, seja pela música, poesia, yoga, dança ou qualquer outra forma de arte, permite integrar as pessoas no seu mundo e nos seus processos. É a partir daí, por diferentes estímulos, que se agregam benefícios físicos, espirituais e sociais as pessoas. Neste sentido, as atividades artísticas nas visitas as propriedades e nos locais de venda direta, como as feiras orgânicas, permitem uma maior aproximação entre as partes. 9.Comunicação direta entre consumidores: A instalação de uma Barraca dos Consumidores de forma permanente em locais de comercialização permite regularidade, qualidade, e diversidade na oferta de informação ao consumidor sobre o processo de

produção orgânica, certificação, alimentos saudáveis, consumo responsável, saúde e qualidade de vida, ajuda na sustentabilidade do processo. O espaço da barraca dos consumidores tem permitido executar ações de conscientização como campanhas de esclarecimento sobre produtos transgênicos, reciclagem de embalagens e materiais orgânicos, troca de informações sobre saúde e terapias alternativas, além de espaço para sugestão e críticas dos consumidores. 10. Ampliação das parcerias: Um número relativamente significativo de entidades com fins similares podem potencializar a sua ação de forma integrada. Portanto, é preciso dinamizar a rede integrada entre o setor público, privado e ONGs. 11. Vendas em Condomínios: Essa é uma modalidade interessante que tem sido iniciada por iniciativa de alguns produtores orgânicos de origem urbana para comercialização direta. Essa modalidade permite atingir um maior número de consumidores de diferentes classes sociais. Políticas Públicas para Consumidores e Produtores Orgânicos Em termos de orientação para políticas públicas, algumas ações podem melhorar o relacionamento entre produtores e consumidores: Prover recursos específicos para educação e informação dos consumidores, inclusive com apoio às atividades de educação informal desenvolvidas pelas entidades civis de consumidores no intuito de facilitar a integração entre comunidades rurais e urbanas como uma ferramenta de educação ambiental e formação agroecológica; Investimentos governamentais no apoio a espaços de feiras orgânicas (certificadas), agroecológicas (em transição) e mercados municipais agroecológicos fixos, que permitam um contato diário entre produtor e consumidor; Apoio à consolidação de redes de propriedades de referência em agroecologia, priorizando ações governamentais de pesquisa, extensão e ensino em grupos de produtores organizados; Definição de uma estratégia de marketing que considere os sistemas de produção, os valores e as motivações dos consumidores; Atuar para fortalecer as ações de educação para o consumo responsável, inserindo o tema nas escolas do ensino fundamental; promovendo a educação no sentido de entender para intervir no consumo responsável, para conscientizar os consumidores sobre os impactos sócio-ambientais dos seus hábitos de consumo; viabilizando espaço nas emissoras de rádio e televisão para programas de educação para o consumo sustentável; e aumentando os recursos destinados à educação e à informação dos consumidores, inclusive com apoio às atividades de educação informal desenvolvidas pelas entidades civis de consumidores e campanhas públicas sobre os direitos dos consumidores; Apoiar financeiramente os produtores, sobretudo com recursos para investimento em estrutura física, visando melhorar a recepção dos consumidores; Implementar programas de capacitação dos produtores em relacionamento humano para receber e bem atender o consumidor, nos espaços de venda direta e numa perspectiva de ampliação das atividades não-agrícolas ;

O trabalho de educação do consumidor é um incentivo para que mais agricultores convertam suas propriedades para a produção agroecológica. Além disso, incentiva para que os alimentos orgânicos estejam nas escolas, nos hospitais, nos restaurantes, num maior número de feiras e disponíveis para maior parte da população a preços acessíveis. Tornar o consumidor protagonista e elemento articulador de mudanças é basicamente um desafio de conscientização. É preciso mostrar que a capacidade de o consumidor mudar hábitos de consumo tem reflexos em todos os outros segmentos da economia. Segundo CAPRA (2003) um dos maiores obstáculos para uma vida sustentável é o aumento contínuo do consumo material. É verdade que a transição para um mundo sustentável não será fácil. Todavia, é fato que um número cada vez maior de pessoas e instituições já começaram o processo de transição. Talvez o nosso grande desafio seja a formação de uma rede de seres humanos conscientes. O movimento agroecológico é um dos nós desta rede. Construir novas relações entre consumidores e produtores é retomar os valores dos amigos, do lazer, da arte, da alimentação sem pressa e de qualidade biológica, da valorização das famílias de consumidores e produtores orgânicos, do foco no "local" presente e concreto - em contraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Referências CAPRA, F. As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. Editora Cultrix. São Paulo. 3. Ed. 2003. 296 p. DAROLT, M.R. Agricultura Orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 250 p.: il., fotos. ISBN 85-88184-09-5. DAROLT, M.R. Alimentos orgânicos: um guia para o consumidor consciente. 2. ed. Ver. Ampl. - Londrina: IAPAR, 2007. 36 p. O que é? ISBN: 978-85-88184-22. INSTITUTO AKATU. Descobrindo o Consumidor Consciente. Akatu Publicações: São Paulo, 2004. www.akatu.org.br