A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO SINDICAL EM PERNAMBUCO Luiz Momesso



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Transcrição:

A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO SINDICAL EM PERNAMBUCO Luiz Momesso A comunicação sindical não foi tema de pesquisa em Pernambuco até muito recentemente. Fora da academia, ocorreram debates e seminários que fizeram avaliações e reflexões, organizados pela ECOS - Equipe de Comunicação Social - primeira ONG no Nordeste que se dedicou à comunicação sindical. Criada com este objetivo em 1983 por sindicalistas e profissionais de comunicação, sobreviveu até 1990, quando se dissolveu fundamentalmente pro problemas de divergências internas do movimento sindical. A ECOS, localizada em Recife, além de iniciar no estado a produção de jornais sindicais de forma profissional, organizou biblioteca para os trabalhadores, produziu videos, promoveu cursos de treinamento em comunicação sindical para sindicalistas e estágios para estudantes de comunicação (cerca de 30 estudantes passaram por esses estágios) e auxiliou alguns sindicatos na organização de suas assessorias de comunicação. Buscou uma aproximação do trabalho profissional com a universidade. Mas ainda não se pode falar, propriamente, de pesquisa neste setor No âmbito da academia encontrei alguns trabalhos de estudantes vinculados a disciplinas de comunicação, com levantamento de jornais sindicais e alguma reflexão. A primeira abordagem mais sistemática da pesquisa em comunicação, apesar de ainda exploratória, aparece em minha tese de doutorado, em 1994, que incluiu um estudo inicial do processo da profissionalização da comunicação sindical no estado. Aponta as características básicas desta comunicação no sindicalismo urbano de Recife - setores secundário e terciário - e chama a atenção para a importância do sindicalismo rural no estado e para as particularidades de sua comunicação. O estudo do sindicalismo urbano continua sendo realizado através de projetos de iniciação científica e de projetos experimentais. Já foram abordadas as formas de produção dessa comunicação e realizadas análises de conteúdo de alguns jornais sindicais. No momento há um projeto com dois bolsista iniciando um trabano de pesquisa de recepção junto aos trabalhadores dos sindicatos dos bancários e dos metalúrgicos de Recife. Quanto à produção da comunicação, um levantamento realizado junto a um número significativo das entidades mais importantes constatou avanços significativos,

numa realidade difícil, com categorias dispersas em pequenos estabelecimentos, poucos recursos das entidades, muitas vezes mal aplicados (gasta-se muito coma mídia). Cerca de 40% dos sindicatos produzem apenas material impresso, 50% além de produzirem os impressos, também recorrem a outras formas de se comunicar com suas bases. 32% dos sindicatos têm secretaria ou departamento de comunicação. Destes, 52,5% mantém profissionais da área. Dos que não contam com secretaria ou departamento de comunicação, apenas 30% contratam serviços avulsos de profissionais (É crescente o número de prestadores de serviços, frequentemente organizados em grupos ou agências). Os demais se mantém no sitema artesanal. i Isto demonstra claramente que a comunicação é uma peça fundamental na dinâmica sindical e compõe uma tentativa de melhor representar os trabalhadores, criando canais de interação entre lideranças e liderados, de forma que as reivindicações do sindicato junto ao patronato sejam estabelecidas conjuntamente. No momento, a pesquisa privilegia o estudo da comunicação do sindicalismo rural. Está sendo desenvolvida através de um projeto integrado com dez participantes. Esta opção vincula-se à reconhecida representatividade que a FETAPE - Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Pernambuco - tem como maior força sindical no estado, com uma história de lutas e uma organização sólida que resistiu à ditadura. Os trabalhadores que compõem o sindicalismo da FETAPE ora são assalariados da cana, ora de fazendas de produção de frutas, ora pequenos produtores. O estado tem cerca de metade de sua economia centrada na agro-indústria, o que propicia base para este sindicalismo. As contradições sociais no campo são muito grandes gerando conflitos que são canalizados em muitas formas de ação e organização conhecidas historicamente, desde o cangaço até o sindicalismo atual. Antes do golpe de 64 proliferaram as ligas camponesas, que se iniciaram a partir de pequenas ações e reivindicações e caminharam no sentido da radicalização. Cerca de 50% das ligas existentes no Brasil localizavam-se em Pernambuco. Buscavam conquistas e benefícios para seus associados e, diferentemente do sindicalismo, não priorizavam a categoria como um todo. Seu lema - "Reforma agrária na lei ou na marra" - indicava uma postura radical:

Com o golpe de 64 as ligas foram desaparecendo dando lugar ao crescimento da organização sindical, que inicialmente foi bastante estimulada por alguns padres comprometidos com as lutas dos trabalhadores e por militantes comunistas.. O sindicalismo rural de Pernambuco se manteve, apesar da grande perseguição, greves reprimidas com armas e reuniões vigiadas. Em 1979 grandes greves tomaram conta da Zona da Mata e tornaram-se tradição dos camponeses pernambucanos, que realizam anualmente grandes dissídios tendo obtido diversas conquistas. Os assalariados das usinas constituíram sua identidade como categoria. Tornou-se um orgulho ser trabalhador agrícola de carteira assinada. Hoje essa categoria está em processo de dissolução com a crise das usinas. Ainda não existem perspectivas claras de substituição de trabalho para esse contingente humano. Estão ocorrendo constantes ocupações de terra, visando a sobrevivência. Porém há uma dificuldade de se ajustar a uma produção para mercado nas condições da globalização. Vêem a terra como fonte da vida, mas sem o espírito capitalista do lucro. Para entender sua cultura, sua relação com a terra e com o trabalho, é necessário se reportar à escravidão. A FETAPE se consolidou e coordena o sindicalismo rural no Estado. É uma entidade sindical de segundo grau, estruturada em forma de pólos sindicais. São 10 pólos, cada um agregando de 8 a 12 sindicatos de municípios. Dois situam-se na zona da Mata - Mata Norte e Mata Sul. São três no Agreste, meridional e setentrional. Os demais ficam no Sertão: Afogados de Ingazeira, Serra Talhada, Petrolândia, Petrolina e Ouricuri. Cada pólo é formado com base nos interesses dos trabalhadores das regiões. No total são 165 sindicatos de trabalhadores rurais, totalizando aproximadamente 700.000 associados, de um total de três milhões de trabalhadores rurais no estado. ii Estes dados, contudo, estão sofrendo uma mudança muito rápidas devido às dificuldades dos camponeses, especialmente na Zona da Mata, região úmida e de terra fértil onde predomina o cultivo da cana e o sistema de trabalho assalariado. Vez por outra é criado um novo sindicato, enquanto outros perdem quantidades consideráveis de associados com fechamento de usinas. A FETAPE coordena a luta dos assalariados da cana. A cana tomou toda a área. Expulsou o homem do campo para as periferias das cidades. Os

donos das terras, engenhos e usinas nunca procuraram se desenvolver e organizar suas empresas, sempre vivendo à beira da falência, o que serve de pretexto para conseguir subsídios, dinheiro que recebem do Estado e aplicam em outras áreas. Algumas usinas estão se modernizando, o que se traduz por uma racionalização do trabalho que amplia ainda mais a exploração dos trabalhadores e busca anular suas formas de pressão. Muitas usinas, porém, estão falindo, demitindo os trabalhadores sem pagar seus direitos, nem sequer salários atrasados. Sem ter como sobreviver, esses trabalhadores desempregados, em extrema miséria, sem mesmo ter o que comer, estão se organizando e ocupando terras dos engenhos (fazendas de plantio de cana) para produzir alimentos para a própria sobrevivência. Com a necessidade urgente de substituição da produção agrícola na Zona da Mata, novas formas de organização e de lutas vão emergindo. No agreste e no sertão existe o problema da lavoura branca, nome dado à lavoura que não é de cana. Ao milho, mandioca, tomate, frutas etc. É o problema dos camponeses sem terra e do pequeno agricultor, que tem sua pequena gleba mas não há uma política agrícola que lhes garanta condições de produção e distribuição. Quando há secas os agricultors não pudem pagar os financiamentos e a luta é para que os bancos não tomem as suas terras. Os grandes latifúndios são menos numerosos que na Zona da Mata e maiores em extensão de terra. Os que se dedicam à pecuária ocupam número reduzido de trabalhadores. Com a seca a situação se agrava, porque os recursos hídricos estão sob controle dos latifundiários. A seca é um fenômeno secular. Mas o maior problema são as cercas. Porque o governo constrói açudes em latifúndios e não desapropria essas terras, que posteriormente são cercadas, transformando-se em açudes privados. 75% das águas no Nordeste, dos recursos hídricos, ainda são controlados pelos latifundiários. Com a seca de 1993 a luta foi pela criação e manutenção das frentes de trabalho, que garantem meio salário mínimo para cada trabalhador. São aproximadamente dois milhões de pessoas cadastradas nestas frentes, sendo 690 mil em Pernambuco. A situação chega ao desespero e os camponeses invadem feiras, supermercados, chegando a ocupar a sede da Sudene em Recife.

A FETAPE luta pela reforma agrária, que é uma questão de decisão política. É colocada como única forma de criar condições para se resolver o problema do trabalhador do campo na região. A luta dos camponeses enfrenta também o problema da violência que se manifesta a todo momento na repressão e nas ameaças, bem como em assassinatos de líderes sindicais, advogados etc. o que tem sido uma constante. A Justiça persegue os trabalhadores e é conivente com os assassinos. A impunidade é seletiva. Mas nem a violência nem a impunidade quebram a resistência e a esperança dos trabalhadores. A pesquisa da comunicação dos sindicatos rurais vinculados à FETAPE, num primeiro momento, dedicou-se a um trabalho exploratório para conhecer a realidade e as particularidades do sindicalismo rural em todo o estado, seguindo a divisão em dez pólos sindicais, realizada pela FETAPE. Constatamos que os critérios para essa divisão não se prendem tanto a aspéctos geográficos, mas às diferenças e particularidades das reivindicações e lutas dos trabalhadores nas diferentes regiões. Este trabalho exploratório buscou realizar uma descrição dos processos comunicativos e de suas particularidades em cada pólo sindical através de visitas nas quais se faziam levantamentos de informações por entrevistas, coleta de materiais, de joranis locais, participação em atividades, epecialmente sindicais, observação, pesquisa em outras fontes (IBGE, prefeituras, bibliotecas municipais...) Para tanto foi organizado um roteiro com vários ítens: características da economia local, das relações de trabalho, da política, da cultura; vínculos econômicos e políticos dos meios de comunicação de massa locias, programas e veículos de maior penetração entre os trabalhadores; organização e características dos sindicatos, principais lutas, formas de atuação, concepções político-sindicais dos dirigentes, história do sindicato e das lutas...; processo de circulação das mensagens nos sindicatos. O estudo dos pólos sindicais mostrou uma realidade muito mais complexa e diversificada do que a divisão geográfica: zona da mata, agreste e sertão. Falando-se apenas em sertão, pode-se dizer que existem vários sertões com sistema de produção, relações de trabalho, características culturais, políticas, atuação sindical diferenciadas. A

região de Petrolina, com empresas agrícolas bem estruturadas, organização interna semelhante à de uma fábrica, com uma cultura em franco processo de desenraizamento, influenciada pelas culturas do sul do país e imitando os EUA. Uma parte dos associados do sindicatos são assalariados dessas empresas, outra parte constitui-se de pequenos produtores; Na região de Petrolândia, com a construção das barragens, houve um processo de organização e resistência pelos trabalhadores agrícolas, possibilitando a construção de um sindicalismo mais avançado, com relacionamento com ONGS nacionais e de outros países e com a Universidade Federal Rural. Muitos agricultores foram desalojados, espalhados em agrovilas ou ainda aguardando um assentamento. Os grupos culturais foram desestruturados e a cidade (além de outras na região) reconstruída com uma arquitetura que nada tem a ver com a anterior. Um verdadeiro atentado à cultura de um povo. Os sindicatos da região estão organizando os camponeses em agrovilas, com produção de frutas no sistema de cooperativas, voltada para a exportação. Com a impossibilidade de conseguir espaço para um programa rádiofônico, pois as rádios locais estão sob controle de latifundiários, está-se buscando a construção de rádios comunitárias livres para a comunicação entre as agrovilas; Já no sertão do Araripe a seca causa estragos, a miséria é o que sobressai. Há falta de recursos para tudo. Em decorrência dessa pobreza e da distância (quase mil km de Recife), há um certo isolamento e pouca participação ns atividades promovidas pela FETAPE; O sertão do Pageú é a região de poetas populares e repentistas. Tem uma história marcada pela ação da igreja católica comprometida com o povo, que matém uma rádio e exerce forte influência no sindicato. Quanto às práticas comunicativas constatou-se, como era esperado, que elas se dão fundamentalmente através de atividades diretamente vinculadas à militância como educação, seminários, cursos de formação, oficinas de trabalho para cada frente de luta e através comunicação de massa feita pelo rádio. Os sindicatos não têm jornais nem gráficas. Utilizam poucos impressos, mesmo porque uma grande parte dos camponeses é analfabeta. O rádio supre a distância e dispersão e chega, de forma acessível e compreensível a todos os camponeses.

Há, contudo, uma série de dificuladades para se conseguir o espaço e para se ter liberdade de expressão, pois a grande maioria das rádios, especialmente no sertão e agreste, são de propriedade de latifundiários e oligarquias que controlam o poder político ou de seus testas de ferro. Os horários são comprados pelos sindicatos às emissoras, e o conteúdo dos programas é determinado exclusivamente pelos sindicatos e a federação. Porém há rádios que impõem certas condições, como proibição de determinado líder participar dos programas. Algumas rádios se recusam a vender tempo para o movimento sindical. Outras elevam tanto o preço/hora que a compra do horário torna-se inviável. Além disso, nem tudo pode ser dito pelo rádio. O número de programas de rádio varia, porque sempre existem programas fechando e outros iniciando. Há uma tendência ao crescimento (no momento são catorze). Têm duração entre meia e uma hora cada, semanais, em rádios locais em horários determinados pelas conveniências de cada região. São programas que incluem música, entrevistas, informações, avisos, respostas de cartas etc. produzidos e apresentados pelos próprios trabalhadores e pessoal dos sindicatos e da FETAPE. Para isso a entidade organizou curso de treinamento para programadores, apresentadores e foram se constituindo equipes em cada pólo tendo, alguns destes camponeses, se tornado verdadeiros radialistas. A maioria dos programas, contudo, têm um aspecto extremamente amadorístico. Camponeses sem nenhum preparo técnico postam-se diante dos microfones e falam dos problemas dos trabalhadores, dão informações, fazem propostas, convocam para atividades... Chegam às rádio meia hora antes do programa, estabelecem uma sequência intercalada com alguma música que frequentemente nada tem a ver com as falações. Inicialmente os assuntos e programas eram discutidos na FETAPE e elaborados os clipes que eram levados para os diferentes pólos. Hoje, porém, cada sindicato ou grupo de sindicatos faz seu próprio programa. Todos os camponeses têm acesso fácil às informações do dia e hora dos programas e são estimulados a sintonizarem neles seus aparelhos. Através da integração entre o trabalho militante e a comunicação de massa pelo rádio todo camponês, mesmo

o mais isolado pode estar informado e acompanhando as orientações de seu sindicato e da FETAPE. Os carros de som também são utilizados, principalmente como infra-estrutura para as assembléias e em algumas atividades de mobilização. Alguns sindicatos têm carro de som. Outros alugam quando necessário. O sonho da FETAPE é ter uma rádio própria. Porém, numa situação de pobreza e miséria, o sindicalismo também se ressente e se debate com muitas dificuldades financeiras. A instalação de rádios comunitárias livres abre uma perspectiva promissora. Há que se levar em conta, porém, que mesmo que sejam resolvidos os problemas legais, sua instalação vai encontrar muitas dificuldades porque o poder do latifúndio se contrapõe e desafia, com muita frequência, o cumprimento da lei. Para a comunicação com a sociedade a FETAPE participa de palestras, debates em universidades, colégios, instituições. Quando ocorre algum acontecimento de destaque há veiculação de notícias na grande imprensa e, às vezes, participação em algum debate no rádio ou televisão. Monografias já produzidas na pesquisa da comunicação do sindicalismo rural Processo da profissionalização da comunicação sindical em Pernambuco - Renata Stadtler e Simone Grace - Recife, junho de 1995 - monografia - projeto de iniciação científica Seguindo o caminho percorrido pela tese de doutorado do prof. Luiz Momesso, realiza um estudo do processo de profissionalização da comunicação sindical em Pernabuco, tendo como base a cidade do recife. Através de um levantamento estatístico quantifica esse processo. Aponta, com pequenas diferenças, os mesmos avanços e dificuldades apontados na tese. Nas ondas do campo - Paula Reis - projeto experimental - junho de 1996

Estudo do mais antigo programa de rádio do sindicalismo rural de Pernambuco (cerca de 30 anos), em Surubim, agreste de Pernambuco, patrocinado por alguns sindicatos da região. A monografia contextualiza a região, o sindicato, os conflitos e desenvolve uma análise de conteúdo através da qual fica claro o papel do programa como espenha dorsal da comunicação dos sindicatos que o patrocinam. Comunicação oral: elemento socializador de informação. a experiência das trabalhadoras rurais do Agreste Central de Pernambuco - Caruaru -Creusa Santos. Acompanhando um grupo de mulheres agricultoras, especialmente suas líderes, o trabalho desvenda o processo o processo comunicativo no cotidiano, e aponta as matrizes dos discursos que estão provocando mudanças de hábitos e comportamentos nas agricultoras e os caminhos pelos quais esses discursos chegam até elas. O discurso do jornal dos bancários de Pernambuco na década de 80 - ensaio/ projeto experimental - UFPE - novembro de 1996 - Conceição - Através da análise do conteúdo dos jornais so Sindicato dos Bancários de Pernambuco, aponta as mudanças nas políticas sindicais, o perfil das direções e a consolidação da corrente que dirige o sindicato atualmente. Vozes e Ecos - As estapas de uma comunicação sindical no sertão pernambucano - Ricardo Duarte Gomes Após uma caracterização da região sob diversos aspectos, principalmente econômico, político, cultural, estuda o sindicato numa perspectiva histórica e analisa sua comunicação, especialmente através do programa de rádio do sindicato rural de Afogados da Ingazeira. i - Dados colhidos da monografia: Profissionalização da comunicação sindical em Pernambuco - Projeto de iniciação científica - alunas:renata Stadtler e Simone Grace - orientador: Luiz Momesso. ii - Fonte: mapa do estado de Pernambuco editado pela Diretoria de Geociências do IBGE, 1996