O dia da água vivências e partilhas entre agricultores do entorno de unidade de conservação



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Transcrição:

O dia da água vivências e partilhas entre agricultores do entorno de unidade de conservação The day of water - experiences and shares on the exchange between small farmers surrounding a nature park MENDES, Ana Eurica de Oliveira 1 ; PADOVANI, Michele Tidisco 2 ; LOPES, Angélica da Silva 3 ; CARDOSO, Irene Maria 4 ; MUGGLER, Cristine Carole 5 1 Universidade Federal de Viçosa, anaeurica@ufv.br; 2 Universidade Federal de Viçosa, michele.padovani@ufv.br; 3 Universidade Federal de Viçosa, angélica.lopes@ufv.br; 4 Universidade Federal de Viçosa, irene@ufv.br; 5 Universidade Federal de Viçosa, cmuggler@ufv.br Resumo: O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) é uma unidade de conservação integral, em Minas Gerais, criada para proteger o ecossistema. No seu entorno, residem famílias agricultoras que participaram do processo de criação do PESB e da transição agroecológica hoje existente em várias comunidades, de alguns municípios, dentre eles Araponga. Com o objetivo de vivenciar e partilhar as histórias e experiências entre famílias agricultores do entorno do PESB acerca da conservação da água e manejo da terra, foi realizado um intercâmbio com famílias agricultoras de Araponga e Pedra Bonita, com a participação de técnicos e acadêmicos. A realização destas vivências é importante para troca de conhecimentos e experiências, para a promoção do diálogo e partilha e apresenta possibilidades de transformação da realidade das famílias. Palavras-Chave: Agroecologia; Sistema agroflorestais; Agricultura familiar. Abstract: The State Park of Serra do Brigadeiro (PESB) is a integral conservation unit, in Minas Gerais State, to protect the ecosystem. Farming families live in the surrounding of the PESB. Some of these families participated in the creation process of Park and are in the process of agro-ecological transition, especially in the municipality of Araponga. In order to share stories and experiences about water conservation and land management among farmers families, technicians and academics, an exchange meeting was organized in Araponga with the participation of farming families from Pedra Bonita (Minas Gerais). Meetings to share knowledge and experiences and to promote dialogue are important to lead the transformation of the reality. Keywords: Agroecology; Agroforestry systems; Family agriculture. Contexto O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) é uma unidade de conservação de proteção integral com uma área de 14.984 ha, criado em 1996 na Zona da Mata mineira e inserido nos municípios de Araponga, Sericita,

Pedra Bonita, Divino, Fervedouro, Miradouro, Muriaé e Ervália. O PESB foi criado com o objetivo de proteger um fragmento do bioma Mata Atlântica. A área do parque constitui importante refúgio para espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção e contém nascentes de rede hidrográfica que compreende as bacias do rio Doce e do Paraíba do Sul (SEMAD, 2007). O processo de criação do PESB ocorreu, de forma inovadora, com a participação dos agricultores do entorno. A mobilização dos agricultores neste processo contou com a iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Durante o processo de criação do parque realizou-se um diagnóstico rural participativo que apontou a necessidade de garantir a permanência dos agricultores do entorno do parque e a experimentação participativa de sistemas agroflorestais (SAFs) como forma de fortalecimento das terras. Durante o diagnóstico o enfraquecimento das terras havia sido apontado como um dos problemas dos agroecossistemas, devido, por exemplo, ao uso de técnicas convencionais de manejo dos solos (CARDOSO & FERRARI, 2006). A experimentação participativa dos SAFs fortaleceu o processo de transição agroecológica no entorno do parque. Entretanto, a experimentação participativa não foi realizada em todos os municípios do entorno. Assim, a atividade foi realizada no município de Araponga (MG) com famílias agricultoras, da comunidade de Matipó, município de Pedra Bonita (MG) que não participaram da experimentação. Participaram também da atividade representantes das instituições UFV, IEF e CTA. O objetivo foi vivenciar e partilhar as histórias e experiências entre as famílias do entorno do PESB acerca do manejo da terra e conservação da água. A vivência foi realizada em três espaços: propriedade da família agricultora Girassol e Margarida (nomes fictícios); Escola Família Agrícola Puris (EFA); sede do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). A propriedade visitada está situada na comunidade de São Joaquim e possui uma experiência de recuperação e conservação de nascentes por meio do

sistema agroflorestal. Na EFA foi discutido o processo de criação e a metodologia de ensino e no PESB foi apresentada a história de criação e importância da unidade de conservação. A experiência foi realizada no dia 22 de março de 2014 que é reconhecido como Dia Mundial da Água. Descrição da experiência A vivência foi realizada na forma de intercâmbio, um encontro que busca gerar um ambiente de interação para a construção de conhecimentos a partir da discussão do grupo. Esta metodologia possibilita aprender uns com os outros (SOSA et al., 2011). Inicialmente o agricultor contou a história da família, em que a comunidade de São Joaquim foi pioneira nas ações de Conquista de Terras em Conjunto, que se iniciou no município em 1989, a partir das reflexões proporcionadas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Para o agricultor as reflexões foram importantes para que os agricultores pudessem se articular e discutir melhorias da qualidade de vida no campo, como o acesso a terra, pois para ele Agricultor sem terra é igual passarinho sem asa. Segundo ele, é preciso quebrar paradigmas e buscar reflexões e ações por meio das organizações, sindicatos e outros grupos, assim como ocorreu no processo de conquista de terras, na criação do PESB e da EFA-Puris. O agricultor comentou sobre a situação da terra quando a conquistou: solo degradado pelo manejo tradicional e falta de água. Com o processo agroecológico a terra e a nascente foram recuperadas. Assim, ele observou que a água sobe morro, pois a nascente a cada ano reaparece em um ponto mais alto da propriedade. Após ouvir a história da família, realizou-se uma caminhada na propriedade, onde os participantes foram orientados a coletar um elemento ou objeto (plantas, um pouco de solo ou de água, etc...) que mais chamou a sua atenção para a socialização posterior, utilizando a metodologia do Círculo de Cultura

(FREIRE, 1967). A família agricultora ainda serviu um café com biscoitos e broas, típicos da culinária mineira. Em seguida, as famílias agricultoras conheceram o espaço, a história e a metodologia educacional da Escola Família Agrícola Puris, onde interagiram por meio de perguntas por se tratar de um modelo novo para elas. A EFA-Puris foi criada a partir da luta das famílias agricultoras de Araponga, organizadas no STR. A EFA segue a pedagogia da alternância, onde os estudantes permanecem quinze dias na escola (tempo escola) e quinze dias nas suas casas (tempo comunidade), em que aplicam as práticas adquiridas na escola, com objetivo de atender a agricultura familiar e auxiliar os pais na propriedade. Por fim, na sede do PESB, por meio de uma maquete interativa, as famílias conheceram a história de criação, localização e a importância desta unidade de conservação para a região. Resultados O processo de conquista da terra de forma coletiva e a forma de organização por meio de associações e sindicatos em Araponga é inovador para as famílias agricultoras de Matipó. Os elementos coletados durante a caminhada e socializados durante o Círculo de Cultura foram organizados em categorias: medicinal (carqueja, melão de São Caetano, algodão, cana-de-macaco, quitoco ou alfavaca e milho de palha roxa); alimentação (manga, laranja, limão, quiabo e castanha mineira); fonte de renda (café, laranja e limão); e funções ambientais (ingá, piteira e quaresmeira, solo, pedra e água). O Círculo de Cultura contribuiu para valorizar (FREIRE, 1967). A mobilização e o diálogo ocorridos durante a vivência foram importantes para fortalecer a luta dos agricultores na busca da conquista de seus interesses e objetivos. As atividades realizadas possibilitaram a interação e a troca de conhecimentos entre as famílias agricultoras das comunidades de Matipó e

São Joaquim. As discussões e reflexões possibilitaram a visualização dos impactos ambientais causados por práticas inadequadas de manejo da terra, que estão muitas vezes associadas a uma questão cultural. Os agricultores mencionaram a necessidade de mudanças de algumas práticas agrícolas que contribuem para degradação do solo e diminuição das águas como o não uso do fogo e de agrotóxicos, deixar o solo coberto para evitar erosão e plantio de árvores na propriedade e próximo a nascentes. Referências bibliográficas CARDOSO, I. M.; FERRARI, E. A. Construindo o conhecimento agroecológico: trajetória de interação entre ONG, universidade e organizações de agricultores. Revista Agriculturas (Impresso), v. 3, n. 4, p. 28-32, dez. 2006. FREIRE, P. Educação como Prática da Liberdde. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra LTDA, 1967. 15p. PLANO de Manejo do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Belo Horizonte: SEMAD, 2007. 219 p. SOSA, B. M. et al. Revolução agroecológica: O movimento de Camponês a Camponês da ANAP em Cuba. 2011. 156p. Disponível em: <file:///c:/users/master/downloads/revolucao_agroecologica_baixa1.pdf>. Acesso em: 15 out. 2014.