DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA E CRACK E TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: ANSIEDADE E DEPRESSÃO. Angélica Vieira Santos Camila Arêas Araújo e Silva de Melo



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Transcrição:

DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA E CRACK E TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: ANSIEDADE E DEPRESSÃO. Angélica Vieira Santos Camila Arêas Araújo e Silva de Melo SAO PAULO 2015

Monografia apresentada à Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas UNIAD, da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Dependência Química sob orientação da Professora Doutora Clarice Sandi Madruga. São Paulo 2015

Resumo Introdução: A identificação de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos é importante tanto para o prognóstico quanto para o planejamento e desenvolvimento de intervenções e tratamentos adequados. Objetivo: Este estudo objetivou verificar o perfil sociodemográfico de pacientes em tratamento, o histórico de consumo de SPA e se havia ou não indicação para as comorbidades psiquiátricas ansiedade e depressão. Método: Foram entrevistados 40 participantes do sexo masculino, com idade média de 32 anos, a prevalência maior de escolaridade era de Ensino Médio Incompleto, solteiros e sem renda. O início de consumo de drogas teve a idade média de 14 anos, todos os participantes estavam em ambiente protegido e abstinentes de SPA. Resultados: Os resultados nos mostraram uma prevalência de 65% para ansiedade e de 30% para depressão. Conclusão: Nesse estudo verificamos que a prevalência de indicação pra ansiedade e depressão em dependentes químicos existe, com resultados de 65% para ansiedade e 30% para depressão, é interessante ressaltar que ainda há controvérsias na literatura quanto à prevalência de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos. Palavras-chaves: drogas, comorbidades psiquiátricas, população masculina. Abstract Introduction: The identification of psychiatric comorbidities in chemical dependents is important both for prognosis for planning development interventions and appropriate treatments. Objective: This study aimed to verify the sociodemographic profile of patients in treatment, the history of consumption of SPA and whether there was an indication for psychiatric comorbidities selected:anxiety and depression. Method: We interviewed 40 participants were male, with a mean age of 32 years, the higher prevalence of schooling was Incomplete secondary education, unmarried and without income. The initiation of drug use had a mean age of 14 years, all the participants were in a protected environment and abstinent of SPA. Results: The results showed prevalence 65% for anxiety and 30% for depression. Conclusion: In this study verify that the prevalence of indication for anxiety and depression in chemical dependents exist, with results of 65% for anxiety and 30% for depression, it is interesting to point out that there is still controversy in the literature regarding the prevalence of psychiatric comorbidities in chemical dependents. Keys words: drugs, psychiatric comorbidities, male population. 1 INTRODUÇÃO Segundo Kalivas (2005) a dependência química é uma doença crônica e recidivantes em que o uso continuado de substâncias psicoativas provoca

mudanças na estrutura e no funcionamento do cérebro. O início do consumo da substância pode se dar por diversos motivos, que provavelmente persistirão após a instalação da dependência. (Edwards, Marshall & Cook, 1999). Dentre essas substâncias, cabe ressaltar a dependência do álcool, da cocaína e crack, ambas com crescimento significativo na população brasileira. O consumo dessas substâncias ocasiona problemas à saúde pública, e está associado a significativos problemas econômicos e sociais, trazendo uma série de complicações médicas e psiquiátricas e aumentando os índices de morbidade e mortalidade (Cunha & Novaes, 2008; Galduróz & cols., 2008). No abuso e dependência de drogas, a ocorrência de comorbidades psiquiátricas é frequente, dificultando assim o tratamento da dependência química. A ocorrência de um transtorno adicional pode alterar os sintomas, comprometendo o diagnóstico, tratamento e diagnóstico de ambos (Alves, Kessler & Ratto, 2005). A ocorrência de comorbidades psiquiátricas devido ao uso de substância tem sido amplamente reconhecida na clínica psiquiátrica, indivíduos dependentes químicos possuem mais chances de desenvolver um transtorno psiquiátrico, quando comparados a indivíduos que não utilizam drogas, sendo a identificação deste outro transtorno relevante tanto para o prognóstico quanto para o tratamento adequado do paciente (Cordeiro & Diehl, 2011; Ribeiro, 2012). De acordo com Flynn & Brown (2008) a presença de outro transtorno psiquiátrico em dependentes químicos influencia na procura de tratamento, aumentando esse índice em 70 a 80%, dessa forma alterando a expressão, o curso e o prognóstico da dependência química, necessitando de uma abordagem diferenciada para o tratamento ser realmente efetivo. Dentre as comorbidades psiquiátricas mais comuns encontradas entre os dependentes químicos destacam-se os transtornos depressivos e ansiosos (Duailibi et al., 2008; Filho, Turchi, Laranjeira, & Castelo, 2005; Schefferet al., 2010; Strain, 2002) Dados do Epidemiologic Catchment Area (ECA) Study(Regier & cols., 1990) apontaram que cerca de metade dos indivíduos dependentes de álcool e outras substâncias possuíam um diagnóstico psiquiátrico adicional, sendo 26% Transtornos do Humor, 28% Transtorno de Ansiedade e 18% Transtornos de Personalidade Antissocial, dentre outras psicopatologias. Segundo Ribeiro et al. (2005) é fundamental que o tratamento das comorbidades tenha um planejamento estruturado longitudinalmente, e que

tenha a participação não só do paciente, mas também de seus familiares. O Department of Health (2002) propõe um modelo de atenção multidisciplinar dividido em quatro etapas: engajamento, motivação para a mudança, tratamento ativo e prevenção da recaída com treinamento em habilidades sociais. É importante inicialmente buscar o engajamento de todos para o tratamento através de abordagens não-confrontativas e empáticas. A identificação de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos é importante tanto para o prognóstico quanto para o planejamento e desenvolvimento de intervenções e tratamentos adequados. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a frequência de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos em abstinência, em ambiente protegido. Todos os participantes do estudo eram usuários de cocaína, podendo também ser usuários de outras drogas como cocaína na forma de crack, maconha, álcool e etc. Verificou-se que a maioria (11%) dos participantes do estudo relatou buscar tratamento para o uso de álcool, cocaína e crack, seguido de 8% que disseram buscar tratamento para cocaína e álcool, 6% para o uso somente de crack e a minoria (2%) para o uso somente de álcool. 2 OBJETIVOS Verificar o perfil sociodemográfico dos pacientes em tratamento para Dependência Química em internação em comunidade terapêutica. Verificar o histórico de consumo de SPA dos pacientes em tratamento. Investigar a prevalência de indicação dos transtornos de Ansiedade e Depressão entre usuários de cocaína e crack, em tratamento de reabilitação, em abstinência e em ambiente protegido. 3 MÉTODO 3.1 Desenho do Estudo Este estudo é de caráter transversal com análise descritiva e quantitativa dos dados.

3.2 Amostra Utilizou-se uma amostra de conveniência, constituída por 40 sujeitos do sexo masculino, alfabetizados, com idade entre 19 a 45 anos. Os participantes todos dependentes químicos conforme os critérios do DSM-V (2014) estavam em regime de internação numa comunidade terapêutica para desintoxicação e reabilitação da dependência química, localizada na cidade de Atibaia no estado de São Paulo. Utilizou-se como critério de exclusão de pacientes com menos de um mês de abstinência. 3.3 Instrumento Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) A escala é composta de 14 itens, sendo que 7 relacionados à presença de sintomas depressivos e 7 à presença de sintomas ansiosos. Para cada item, o participante do estudo deve escolher uma dentre quatro opções. Estes variam de 0 à 3 pontos, demonstrando a evolução do grau de intensidade dos sintomas, a soma dos valores obtidos em cada item, resulta em um escore total, que varia entre 0 e 21 pontos. De acordo com cada escore total apresentado, há a indicação de um determinado diagnóstico: entre zero e 07 pontos indica a ausência de sintomas ansiosos ou depressivos; entre 08 e 10 pontos indica ansiedade ou depressão leve; entre 11 e 14 pontos, indica ansiedade ou depressão moderada; entre 15 e 21 pontos, indica ansiedade ou depressão grave. O questionário abordou questões relativas à: Gênero; Idade; Grau de Escolaridade; Estado Civil; Renda; Trabalho atual; Moradia; Características familiares; Problemas com a justiça; Procura de ajuda para tratamento de quais substâncias; Uso de maconha; Idade de início de uso de substâncias. 3.4 Procedimentos A coleta de dados ocorreu na Comunidade Terapêutica Sadala. Os usuários que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram realizadas entre os dias 05 e 11 de maio de 2015, das 11h às 17h30. Os 40 participantes foram entrevistados em

uma sala de atendimento psicológico cedida pelo serviço para que o entrevistador pudesse realizar a aplicação dos questionários, as entrevistas duraram cerca de 20 minutos. Os participantes ficavam na sala apenas com o entrevistador que estava realizando o estudo. 3.5 Aspectos Éticos A autorização da instituição foi obtida através de carta de apresentação e anuência. Os participantes foram esclarecidos quanto à voluntariedade da pesquisa, o anonimato pessoal e dos dados coletados bem como o direito de não aceitar participar ou de retirar sua permissão a qualquer momento sem nenhum prejuízo para ele, através do TCLE (em anexo) e assinatura de autorização. O TCLE foi lido pelo entrevistador com todos os participantes do estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da UNIFESP e também na Plataforma Brasil com registro CAAE Número: 43093415.1.0000.5505. 3.6 Análise de Dados Foram realizadas análises descritivas de frequências de respostas para cada pergunta do questionário. Os dados foram tabulados no programa Excel onde foi realizada a elaboração de tabelas, quadros e gráficos para apresentação dos resultados. 4 RESULTADOS 4.1 Perfil Sociodemográfico: De acordo com a tabela 1 percebemos que a prevalência acumulada dos participantes tem idade até 35 anos, com idade média de 32 anos na amostra. Como se observa no gráfico 1, no que refere-se ao grau de instrução a prevalência acumulada tem até o ensino médio completo com 52%, sendo que 27,5% apresentou o Ensino Médio Incompleto, seguido por 25% que possuíam o Ensino médio Completo e apenas 5% com o Ensino Técnico ou Superior completo. Em relação ao estado civil, no gráfico 2, a prevalência da amostra

(65%) era solteira e 25% eram casados ou moravam junto. Quanto à renda, podemos ver no gráfico 3, que a prevalência (60%) não apresentava nenhuma renda, seguido por 30% que dispõe de 1 a 2 salários mínimos mensalmente, sendo que, de acordo com o gráfico 4, 55% referiu estar trabalhando atualmente. No que se refere à moradia, podemos observar no gráfico 5, que a prevalência (18%) referiu estar morando atualmente em uma instituição de tratamento, seguido imediatamente por 15% que referiram morar em casa com a família. Como podemos ver no gráfico 6, a maioria (83%) referiu que a família está de alguma forma participando do seu tratamento. Em relação ao histórico com a justiça, conforme o gráfico 7, a prevalência da amostra (52%) referiu não ter tido nenhum problema com a justiça, como por exemplo, ser preso. Quando questionado a respeito da quantidade de pessoas que o participante do estudo pode contar em uma situação de emergência, a média foi de 12,2%, o desvio padrão de 21,88%, sendo que o mínimo foi de 1 pessoa e a máximo foi de 100 pessoas. Tabela 1: Distribuição dos participantes quanto à média de idade. Questão 2 - Idade Média De / Até Quantidade Porcentagem 15-20 4 10 21-25 6 15 26-30 8 20 31-35 9 22,5 36-40 5 12,5 41-45 8 20

Gráfico 1: Distribuição dos participantes quanto ao grau de instrução. % Gráfico 2: Distribuição dos participantes quanto ao estado civil.

Gráfico 3: Distribuição dos participantes quanto a renda. % Gráfico 4: Distribuição dos participantes quanto a atividade econômica. Gráfico 5: Distribuição dos participantes quanto a situação de moradia. %

Gráfico 6: Distribuição dos participantes quanto a participação da família no tratamento. Gráfico 7: Distribuição dos participantes quanto a histórico com a justiça. 4.2 Consumo de Substâncias Psicoativas: Em relação ao consumo de substâncias, todos os participantes eram usuários de cocaína, podendo também ser usuários de outras drogas como cocaína na forma de crack, maconha, álcool e etc. De acordo com o gráfico 8, 11% referiu buscar tratamento para o uso de álcool, cocaína e crack, seguido de 8% que disseram buscar tratamento para cocaína e álcool, 6% para o uso somente de crack e a minoria (2%) para o uso somente de álcool. E ainda, como mostra o

gráfico 9, 18% referiram usar maconha regularmente e considerar também um problema, mas 12% usam regularmente sem pensar em procurar ajuda. De acordo com a tabela 2, a idade média de experimentação de bebida alcoólica entre os participantes é de 14 anos, de maconha é de 15,5 anos, de cocaína é de 17 anos e de crack 22 anos, sendo que 2 participantes nunca usaram bebida alcoólica, 4 nunca ingeriram maconha e 14 nunca fizeram uso de crack, mas todos já usaram cocaína. Gráfico 8: Distribuição dos participantes com relação a procura de ajuda para o consumo de substância. Gráfico 9: Distribuição dos participantes com relação ao uso de Maconha regularmente.

Tabela 2: Distribuição dos participantes quanto à idade que experimentou bebida alcoólica, maconha, cocaína e crack. Idade que experimentou pela primeira vez Nunca usou Menor Maior Média Bebida Alcóolica 2 05 27 14 Maconha 4 10 27 15,5 Cocaína 0 11 28 17 Crack 14 12 42 22 4.3 Avaliação de Ansiedade e Depressão: Por fim, em relação à prevalência de comorbidades psiquiátricas na dependência química, conforme podemos observar no gráfico 10, 40% tem indicação de ansiedade moderada, enquanto 10% apresenta indicação de depressão moderada, e ainda 2,5% apresentam indicação tanto para depressão quanto para ansiedade graves, sendo que 70% não têm indicação de depressão e 35% não apresentam ansiedade. Gráfico 10: Distribuição dos participantes com relação à indicação de Ansiedade e Depressão segundo a escala HADS.

Gráfico 11: Distribuição dos participantes com relação à indicação de Depressão segundo a escala HADS. Gráfico 12: Distribuição dos participantes com relação à indicação de Ansiedade segundo a escala HADS. 5 DISCUSSÃO O presente estudo buscou mostrar o perfil dos pacientes de dependência química em tratamento, e se há ou não a prevalência de indicação de ansiedade e depressão na amostra que foi estudada. A amostra estudada era de 40 participantes, do sexo masculino em regime de internação em uma comunidade terapêutica. Foi observado que o perfil sociodemográfico dos

participantes era predominantemente homens com idade média de 32 anos, com grau de escolaridade baixo estudando apenas até o Ensino Médio Incompleto, alguns trabalhos mostram que a baixa escolaridade é um fator de risco para uso de droga, devido ao uso precoce da substância a evasão escolar é muito frequente entre os dependentes químicos. (Pechansky, Szobot & Scivoletto, 2004; Schenker & Minayo, 2005). Segundo (Minayo, 2005) a família está implicada no desenvolvimento saudável, ou não, de seus membros, já que ela é entendida como sendo o elo que os une às diversas esferas da sociedade. A linguagem familiar imprime a sintaxe, a semântica e a pragmática do como se relacionar, interagir e se comportar no seio da cultura. Os estudos apontam para a complexa influência da família, da escola e do grupo de amigos no caso da manifestação do uso abusivo de drogas, principalmente na adolescência. Concordando com uma vasta gama de trabalhos prévios as prevalências de indicação para ansiedade e depressão encontrada nessa amostra foi consideravelmente mais alta que as prevalências populacionais. Verifica-se a existência de episódios depressivos, por exemplo, associados ao abuso de substâncias (Bukstein, Brent & Kaminet, 2009; Dilsaver, 2007). 5.1 Perfil Sociodemográfico A partir dos dados coletados verificou-se uma alta prevalência dos dependentes químicos com baixa escolaridade. Sendo que a prevalência (27,5%) apresentou o Ensino médio Incompleto. A baixa escolaridade observada entre os dependentes químicos é percebida na literatura como um problema grave, que pode ser decorrente do próprio uso da droga. O início do consumo ocorre muitas vezes precocemente, contribuindo para a evasão escolar. (Pechansky, Szobot & Scivoletto, 2004; Schenker & Minayo, 2005). Jovens usuários de substâncias acabam abandonando o ambiente escolar, não somente para fazer o uso da droga, mas também motivados pelo baixo rendimento e pela dificuldade de aprendizado, consequências dos prejuízos cognitivos desencadeados pelo uso frequente da droga (Pechansky & Cols., 2004; Tavares, Beria & Lima, 2004). No entanto, mesmo no âmbito educacional existem fatores específicos que predispõem os jovens ao uso de drogas cada vez mais precoce, como por exemplo: a falta de motivação para os estudos, o

absenteísmo e o mau desempenho escolar, a insuficiência no aproveitamento e a falta de compromisso com o sentido da educação; a intensa vontade de ser independente combinada com o pouco interesse de investir na realização pessoal a busca de novidade a qualquer preço e a baixa oposição a situações perigosas; a rebeldia constante associada à dependência a recompensas (Swadi, 2005), no entanto contrapondo tal informação, alguns autores se referem à escola como fator de proteção para o não uso de SPA, a escola é um poderoso agente de socialização da criança e do adolescente, ressaltando certa mística e identidade do tipo de educandário com o comportamento daqueles que o frequentam (Klein et al 2004). Por juntar em seu interior a comunidade de pares e por ter fortes instrumentos de promoção da autoestima e do autodesenvolvimento em suas mãos, o ambiente escolar pode ser um fator fundamental na potencialização de resiliência dos adolescentes. (Klein et al 2004). Foi observado também que a maioria (83%) conta com o apoio da família durante o tratamento, a literatura ressalta a importância da família nos diversos estágios, priorizando a adolescência como o momento mais fértil para o uso indevido de drogas (M. Schenker, 2009). A família aparece como coautora tanto no surgimento do abuso de drogas quanto como instituição protetora para a saúde de seus membros. Verificou-se também que 65% dos dependentes químicos da amostra são solteiras, confirmando dados da literatura que apontam a dificuldade que essa população tem para manter relacionamentos, já que muitas vezes acabam por reduzir as atividades com a família em favor do uso da substância (Figlie et al 2004). Outro aspecto importante é o alto índice de violência familiar entre a população usuária de drogas, o que pode ser também desencadeante de separações (Bonifaz & Nakano, 2004; Rabello & Caldas Júnior, 2007). Em relação à condição financeira, percebeu-se que a prevalência (40%) não tinha nenhuma renda ou uma renda baixa de até 2 salários mínimos (30%). É interessante ressaltarmos que quando questionado a respeito da quantidade de pessoas que o participante do estudo poderia contar em uma situação de emergência, a média foi de 12,2%, o desvio padrão de 21,88%, este valor apresentado se dá em função de dois participantes terem colocado que poderiam contar com 100 pessoas.

5.2 Histórico de consumo de SPA O que também foi observado é que a maioria dos dependentes químicos também faz uso de maconha, e considera isso um problema (70%), conforme a literatura a prevalência do uso da maconha é superada apenas pela do álcool e a do tabaco, sendo a droga ilícita mais consumida no mundo, no Brasil em apenas uma década, a prevalência do uso da maconha entre estudantes triplicou. A maconha é a droga com maior frequência de uso ao longo da vida, seguida de longe pelos solventes e a cocaína. (Revista Brasileira de Psiquiatria 2008). A partir dos dados coletados foi visto que a maior prevalência dos entrevistados (11%) procura ajuda predominantemente para álcool, cocaína e crack, mostrando assim uso associado de múltiplas substâncias, de acordo com alguns autores o álcool é a principal substância combinada no poliuso, sendo considerada a droga de preferência ou secundária ao uso de outras SPA. (Azevedo & Oliveira 2012), outros autores afirmam que a interação frequente de cocaína e álcool chega a ser de 3 a 5 vezes mais nocivo do que as substâncias isolada ou alternadamente consumidas (Azevedo, 2012). A idade média dos participantes do estudo que fizeram uso de cocaína era de 17 anos, dos que usaram crack a idade média de uso era de 22 anos, segundo Dualibi (2005) O padrão de consumo dos usuários de cocaína e crack em tratamento parece ser mais pesado em relação aos usuários fora de tratamento. A busca por tratamento parece ser mais precoce entre os usuários de crack em comparação aos de cocaína intranasal, ainda segundo Dualibi (2005), dentre os dependentes de substâncias psicoativas que buscam tratamento, o usuário de cocaína e crack é o que possui os maiores índices de abandono. Evidências apontam como fatores preditivos de abandono, a existência de problemas legais, baixo nível de habilidades sociais, perda dos pais na infância, diagnóstico de transtorno mental na família e transtorno por dependência de álcool associado. O usuário de crack parece estar mais propenso ao abandono de tratamento do que o usuário de cocaína intranasal, os usuários de crack e cocaína necessitam de abordagens mais intensivas e prolongadas que outros dependentes de SPA.

5.3 Comorbidades A presença de comorbidades psiquiátricas é comum entre usuários de cocaína/crack e agrava o prognóstico de ambas as doenças, o diagnóstico diferencial das comorbidades se faz sempre necessário. (Laranjeira, 2005). O estudo da dependência de álcool e outras substâncias, bem como a manifestação de transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de drogas vêm sendo pesquisado há muito tempo (Ross, Glaser & Germanson, 1988). Verifica-se a existência de episódios depressivos, por exemplo, associados ao abuso de substâncias. Babu e cols. (2009) observaram que usuários de cocaína/crack podem ter prejuízo no sistema dopaminérgico, podendo resultar em transtorno de humor em indivíduos com dependência severa dessa SPA. Na última década, a coocorrência de transtornos mentais e de transtornos de humor devido ao uso de substâncias psicoativas é vastamente conhecida na clínica psiquiátrica (Zaleski & cols., 2006). No estudo de Delbello e Strkowski (2003), a prevalência de Depressão Maior entre dependentes químicos variou de 30 a 50%, contrapondo tal informação da literatura nesse estudo realizado verifica-se que a prevalência mais alta mostrou que 70% da amostra escolhida não possui indicação para depressão, e 35% da amostra escolhida não possui indicação para ansiedade. Da mesma forma, em outros estudos tem sido constatado que os transtornos mais comuns são os Transtornos de Humor como: a Depressão (Milling, Faulkner & Craig, 1994; Regier & cols., 1990), tanto uni como bipolar (Hätönen, Forsblom, Kieseppä, Lönnqvist & Partonen, 2008; Ribeiro, Laranjeira & Cividanesi, 2005) e Transtornos de Ansiedade (Messina, Wish, Hoffman & Nemes, 2001; Watkins, Lewellen & Barret, 2001). A associação de dois transtornos sugere que uma das patologias possa ter uma relação causal em relação à outa ou, então, que existiriam fatores de vulnerabilidade comuns às duas patologias. Independentemente dos transtornos associados serem anteriores ou posteriores à instalação da dependência, a detecção precoce desses quadros psicopatológicos contribui para maior eficácia no tratamento (Silveira & Jorge, 1999). Entretanto conforme apontado por Carlini e cols. (2007), verifica-se na literatura que a grande maioria da população de dependentes químicos não tem acesso ao tratamento adequado.

De acordo com Alpert (2004) estar divorciado, ser solteiro, ter disfunção no ambiente familiar e doenças psiquiátricas parentais pode ser considerado como fatores de risco tanto para a dependência de cocaína quanto para o surgimento da Depressão Maior. No Brasil, estudos sobre comorbidades psiquiátricas em dependentes de álcool, cocaína/crack e do uso abusivo dessas drogas são escassos. Ao iniciar o tratamento dessa população pode haver dificuldade na diferenciação entre transtornos previamente existentes e transtornos secundários à dependência química devido aos sintomas depressivos, ansiosos e mania, prevalentes no período de abstinência da droga (Alves & cols. 2004). 5.4 Limitações do estudo Considerando que esse estudo teve uma amostra pequena de apenas 40 participantes, os resultados colhidos foram comparados com estudos maiores já realizados, foram escolhidos apenas participantes do sexo masculino e de apenas 1 instituição de tratamento. Foi selecionado também apenas 2 tipos de drogas cocaína e crack, e também apenas as comorbidades psiquiátricas ansiedade e depressão. 5 CONCLUSÃO Este estudo buscou verificar se há indicação para ansiedade e depressão em dependentes de cocaína e crack, considerando que esse estudo teve uma amostra pequena de apenas 40 participantes, os resultados colhidos foram comparados com estudos maiores já realizados, foram escolhidos apenas participantes do sexo masculino e de apenas 1 instituição de tratamento. Foi selecionado também apenas 2 tipos de drogas cocaína e crack, e também apenas as comorbidades psiquiátricas ansiedade e depressão. É interessante ressaltar que ainda há controvérsias na literatura quanto à prevalência de transtornos psiquiátricos em dependentes químicos. No estudo de Soares (2003), por exemplo, com indivíduos que apresentavam transtornos mentais grave com tentativas e ideações suicidas, apenas 7,3% apresentavam abuso ou dependência de SPA.

A identificação de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos é importante tanto para o prognóstico quanto para o planejamento e desenvolvimento de intervenções e tratamentos adequados. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a frequência de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos em abstinência, em ambiente protegido. Todos os participantes do estudo eram usuários de cocaína, podendo também ser usuários de outras drogas como cocaína na forma de crack, maconha, álcool e etc. Verificou-se que uma alta prevalência dos participantes do estudo relatou buscar tratamento para o uso do trio: álcool, cocaína e crack, uma quantidade menor de dependentes de cocaína e álcool referiu buscar tratamento para estas substâncias, uma prevalência menor ainda de busca para o uso somente de crack enquanto que para o uso de álcool, há uma baixa procura por tratamento. Nossos dados confirmam a literatura que nos mostra que pessoas dependentes de cocaína e crack, têm a prevalência de Depressão Maior e Ansiedade de 30 a 50% (Delbello e Strkowski, 2003), a amostra escolhida apresentou indicação para Ansiedade (65%) e Depressão (30%), considerando também os índices de depressão e ansiedade no restante da população, que é maior que da amostra escolhida. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa constatou uma importante prevalência de transtornos psiquiátricos nos dependentes químicos que participaram do estudo, principalmente de ansiedade. Não foram constatadas diferenças estatisticamente significativas de estudos anteriores. Em relação à condição financeira, este estudo constatou que a prevalência não tinha nenhuma renda ou uma renda baixa de até 2 salários mínimos, isso pode se dar ao fato do dependente químico apresentar uma grande dificuldade de assumir responsabilidades assim como de se manter seguindo normas e regras o que muitas vezes o impede de se manter empregado. O uso nocivo de SPA foi por muito tempo tratado por meio de ações punitivas ao invés de preventivas e terapêuticas, sendo a dependência química considerada como falha moral ou falta de força de vontade. Entretanto, nas últimas duas décadas, com o progressivo desenvolvimento dos estudos

científicos, a dependência química passou a ser compreendida como um sério problema de saúde, que afeta o cérebro e consequentemente, o comportamento. (Scheffer et al, 2010). É relevante o conhecimento de alterações emocionais para um melhor planejamento de programas preventivos e tratamentos, buscando metodologias mais eficazes para dependentes de drogas. Frequentemente os dependentes químicos apresentam muita resistência para iniciar e permanecer em tratamento. Identificando as alterações emocionais, os pacientes poderão receber um tratamento mais adequado e por vezes até mais eficaz. Reforçamos a importância de realizações de mais pesquisas focadas nas comorbidades que se apresentam simultaneamente nos indivíduos dependentes químicos, haja vista que o tratamento precisa desse diagnóstico diferencial para que seja realmente mais efetivo. REFERÊNCIAS Alpert, J. E., Maddocks, A., Rosenbaum, J. F., & Fava, M. (2004). Childhood psychopathology retrospectively assessed among adults with early onset major depression. Journal of Affective Disorders, 31, 165-171. Alves Hnp, Ribeiro M, Castro Ds. Cocaína e crack. In Diehl A, Cordeiro DC, Laranjeira R. Dependência química. Porto Alegre: Artmed; 2010. Pg. 170-179. AMB. Abuso e dependência de cocaína. Projeto diretrizes. São Paulo: AMB, 2012. American Psychiatric Association (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM V (5ª ed.) (Maria Inês Corrêa Nascimento et al Trad.) Porto Alegre: Artmed. Babu, D. K, Díaz, A., Samikkannu, T., Rao, K. V., Saived, Z. M., Rodrigues, J. W., & Nair, M. P.(2009).Upregulation of serotonin transporter by alcohol in human dendritic cells: Possible implication in neuroimmune deregulation. Alcoholism: Clinical and Experimental Research, 33,1731-1738 Bonifaz, R. G. V., & Nakano, A. M. S. (2004). A violência intrafamiliar, o uso da droga no casal, desde a perspectiva da mulher maltratada. Revista Latino- Americana de Enfermagem, vol. 12, pp. 433-438. Carlini, E. A., Galduróz, J. C. F., Noto, A. R., Fonseca, A. M., Carlini, C. M., & Oliveira, L. G. (2007). II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do País 2005. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas.

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