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1 História Fernanda Corrêa Coutinho Gisele Pereira Dias Mário Cesar do Nascimento Bevilaqua INTRODUÇÃO A ansiedade faz parte da condição humana e pode ser analisada ao longo da história a partir de diferentes perspectivas. 1 Estudos sob as mais diversas abordagens, como antropológica, filosófica, religiosa, médica e psicológica, mostram o quanto essa sensação intriga e motiva os pesquisadores a buscar constantemente novos entendimentos a respeito desse sentimento que faz parte da história da humanidade. Este capítulo apresenta um panorama da história da ansiedade e detalha o momento no qual o termo passou a fazer parte da história da medicina, bem como traz um recorte dos transtornos de ansiedade ao destacar desde a elaboração até o desenvolvimento do conceito de transtorno de pânico e sua influência na clínica médica contemporânea. Relatos da Antiguidade apontam a ansiedade como uma característica presente no cotidiano dos homens na Grécia Antiga. Na mitologia desse país, por exemplo, Pã, o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores, era temido por aqueles que necessitavam atravessar as florestas à noite. Com sua aparência assustadora, metade homem e metade carneiro, causava sustos, gritos, medos, pavores e sofrimento àqueles que cruzavam as matas. As trevas e a solidão das travessias induziam os que as realizavam a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente, como um ataque de pânico. Daí a origem da palavra pânico. 2 Na Grécia Antiga, apesar de não existir uma palavra para descrever a ansiedade, já se usavam termos como mania, melancolia, histeria e paranoia para definir sentimentos pouco conhecidos, porém vividos em sua plenitude. Relatos bíblicos apontam que os sintomas de medo excessivo já apareciam naquela época e eram atribuídos ao relacionamento com Deus 3 e ao distanciamento deste. No início do século XVII, o termo ansiedade começou a ser usado na escrita médica sobre doenças mentais. 4 Não se falava em psiquiatria, já que essa palavra não se enquadrava na linguagem médica até Johann Reil criá-la, em 1808. O uso do termo ansiedade também significava o início de uma distinção entre os níveis normais vividos pela população em geral depois de desapontamentos no amor, preocupações financeiras e problemas de saúde e os níveis excessivos apresentados por pessoas que reagiam de forma mais intensa a eventos similares. Em acréscimo, o que hoje consideramos sín-

18 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) dromes de ansiedade grave era, naquele período, vinculado a quadros depressivos. 5 Já no século XVIII, os médicos no campo da doença mental concentraram-se nos pacientes com delírios ou outros sintomas de transtornos que requeriam cuidado institucional. A ansiedade era vista estritamente sob o enfoque biológico, passando a ser considerada por seus aspectos físicos e destacando-se os sintomas corporais a ela relacionados. Segundo o médico escocês William Cullen (1710-1790), nesse período era comum associar a ansiedade a algum tipo de doença do nervo, uma vez que o sistema nervoso era claramente acionado, o que deu origem ao termo neurose. 4 Os primeiros anos do século XIX testemunharam uma mudança parcial do foco no campo da saúde mental. Apesar de não ser uma hegemonia mundial, passou- -se a cogitar a possibilidade de as causas das doenças mentais serem psicológicas, e não físicas. Nessa época, já se tentava entender o medo de falar em público, a aversão a animais, a agitação excessiva, a angústia e a dificuldade para dormir, conferindo-se explicações psicossomáticas a tais sintomas. 6 Considerava-se que ansiedade intensa e tristeza poderiam levar a condições orgânicas. Contudo, na França do início do século XIX, os ataques de pânico eram entendidos como crises agudas de angústia, sendo definidos pelo médico Landré-Beauvais como um certo mal-estar, inquietude, agitação excessiva. Sintomas como tontura, taquicardia e inquietude ainda eram vistos como parte da doença neurocirculatória. O termo neurose fazia referência a distúrbios orgânicos e somáticos, não estando relacionado a transtornos mentais. 5 Ainda em meados do século XIX, os sintomas de ansiedade eram encontrados em nosologias médicas espalhadas pelas seções dedicadas a coração, orelha, intestino e cérebro. A ansiedade continuava a ser vista e tratada como uma questão física no sentido de ser um distúrbio do órgão sintomático, como evidenciam os livros de medicina desse período, nos quais é possível encontrar as principais fontes de estudos históricos dos transtornos de ansiedade. 3 No que se refere aos sintomas de ansiedade, começou-se a esboçar uma progressiva mudança a partir de 1850. As causas somáticas, que até então eram plenamente aceitas, passaram a dividir a atenção com possíveis causas psicológicas. 5 De fato, o tratamento e o estudo da ansiedade só foram designados à seção psiquiátrica no final do século XIX. 7 Nessa fase, a classificação diagnóstica não era considerada essencial para o trabalho clínico, embora alguns sistemas de classificação já existissem. Entre estes, o de Emil Kraepelin (1856-1926) era o único que apresentava um sistema de classificação dos transtornos mentais com utilidade clínica. Ele procurava entender os transtornos psiquiátricos por meio da observação de seus desfechos, dividindo- -os em 13 grupos baseados em seu curso e resultado. Como exemplo, separou a demência de outros transtornos. 7 Kraepelin teve destacada influência na criação da primeira nomenclatura oficial para os transtornos mentais, publicada em 1918, com a ideia de ser a classificação utilizada em hospitais e de possibilitar uma melhor comunicação entre clínicos e cientistas. Esse sistema, porém, nunca foi popularizado. Ao fim dos anos de 1940, houve crescente reconhecimento internacional da necessidade de consenso científico sobre a terminologia das doenças mentais, o que levou, em 1946, à criação do National Institute of Mental Health (NIMH), culminando com um projeto para desenvolver um sistema de diagnóstico mais abrangente. 7 Dois anos depois,

Transtorno de pânico 19 a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a sexta edição da Classificação internacional de doenças (CID-6), que, pela primeira vez, incluiu uma seção para transtornos mentais. Na segunda metade do século XIX, começou-se a estudar a ansiedade por meio da mente humana. Nesse período, o termo pânico foi descrito pela primeira vez na psiquiatria. O termo utilizado por um dos pioneiros da psiquiatria inglesa, Henry Maudsley (1835-1918), em 1879, foi pânico melancólico. Sua obra Body and Mind foi, inclusive, uma das referências para o trabalho de Charles Darwin (1809-1882) (Quadro 1.1). Só no fim do século XIX os sintomas de ansiedade foram reunidos em um novo conceito nosológico e passaram ao cuidado da psiquiatria, com base nos trabalhos de psiquiatras franceses e de Sigmund Freud. Freud, na década de 1890, publicou um trabalho teórico bastante difundido naquele período. O manuscrito citava a neurose de angústia e definia seus sintomas: irritabilidade geral, expectativa ansiosa e ataques de ansiedade, entre outros. Os sintomas resultavam de um problema hereditário ou de uma excitação somática oriunda de um mau funcionamento do sistema nervoso e poderiam estar associados de diversas formas. Freud entendia a neurose de angústia como uma forma de neurose atual, resultado de uma condição reativa com origem em eventos da infância. 3,8-10 Para ele, existiam duas formas clínicas fundamentais de manifestação da angústia: por meio de crise de ansiedade ou do estado crônico. 5 Associada à neurose de angústia estava a agorafobia considerada um esforço do paciente para evitar os ataques de angústia em situações nas quais não era possível pedir ajuda. É interessante pontuar que a estreita relação entre os ataques de pânico e a agorafobia, hoje consolidada, já aparecia nos textos de Freud. 5 O conceito diagnóstico de neurose de angústia impactou a literatura médica e teve grande aceitação pelos psiquiatras por muitas décadas. É possível comparar a introdução de Freud sobre a neurose de angústia com a introdução dos conceitos de transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e transtorno de pânico da terceira edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM- -III): ambos apresentaram um novo paradigma que foi rapidamente aceito pela comunidade científica e gerou uma vasta literatura sobre o tema. 11 No início do século XX, a crença na hereditariedade das emoções e uma contínua ênfase nos aspectos biológicos da ansiedade influenciaram a compreensão acadêmica e médica dos transtornos de ansiedade. Ribot, um estudioso da época que contribuiu muito para o conceito de ansiedade, identificou diferentes tipos de transtornos de ansiedade, tais como o TAG e as fobias específicas. 4 No que se refere aos transtornos de ansiedade, o foco deixou de ser somente o biológico para ser uma busca da compreensão do ambiente como fator de influência. Por exemplo, em 1938, B.F. Skinner definiu a ansiedade como um conjunto de respostas condicionadas a eventos aversivos, ou seja, a ansiedade era vista como manifestações de respostas aprendidas. Naquele momento, o behaviorismo desempenhou papel importante ao enfatizar que o ambiente contribui para desencadear esses transtornos. 11 Essa nova forma de entender a ansiedade forneceu subsídios para uma renovada abordagem de tratamento. A terapia comportamental utiliza técnicas de exposição que, até hoje, têm-se mostrado eficazes para combater os sintomas de ansiedade. 17

20 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) QUADRO 1.1 A concepção darwinista da ansiedade: contribuições para a psiquiatria contemporânea Em seu livro mais importante, A origem das espécies (1859), Charles Darwin 13 expõe sua ideia inovadora de que as características físicas e comportamentais de um organismo podem ser consideradas adaptativas sendo, assim, selecionadas quando aumentam a probabilidade de sobrevivência e reprodução. Tal princípio, nomeado seleção natural, foi um legado sem precedentes para a neurobiologia contemporânea. Anos mais tarde, em A expressão das emoções nos homens e nos animais (1872), Darwin 14 aplica o princípio de seleção natural aos traços emocionais. Segundo ele, se hoje, como espécie, exibimos um determinado padrão de respostas emocionais, como as observadas em contextos de medo e ansiedade, devemos isso ao fato de estas provavelmente terem constituído importantes características que favoreceram a sobrevivência de nossos ancestrais. Foram, por esse motivo, selecionadas e mantidas ao longo dos milhares de anos de evolução da espécie humana. O processo evolutivo, entretanto, não está concluído, e jamais estará enquanto existirmos. Basicamente, nossos circuitos neurais são os mesmos dos nossos ancestrais caçadores-coletores. Todavia, a sociedade humana tem passado por transformações contextuais sem precedentes e em velocidade cada vez maior. Essa constatação, defendida pela psicologia evolucionista 15 ramo da psicologia que entende os fatores comportamentais e psicológicos sob a ótica darwinista, leva-nos a pensar que, se alguns de nossos traços de ansiedade foram adaptativos para nossos ancestrais, hoje podem ser considerados um transtorno. Além disso, a ansiedade pode e, provavelmente, sempre pôde desencadear respostas psicológicas e comportamentais amplamente disfuncionais se ativadas com frequência ou na ausência de estímulos de fato ameaçadores. Atualmente, a teoria evolucionista de Darwin é o princípio hegemônico da ciência contemporânea, norteando, assim, a forma como a psiquiatria ocidental concebe os transtornos psicopatológicos. Nesse sentido, a ansiedade é vista como um conjunto de respostas comportamentais, endócrinas e fisiológicas, como alerta e esquiva, que foram selecionadas ao longo de nossa história evolutiva por sua função adaptativa de nos preparar e proteger contra estímulos potencialmente ameaçadores. 16 Assim, opondo-se ao dualismo cartesiano corpo versus mente, a teoria darwinista concebe os traços psicológicos como orgânicos e fisiológicos, sendo, dessa forma, sujeitos às mesmas leis de adaptabilidade que regem a seleção natural de todas as demais características do organismo. Nesse contexto, os ataques de pânico poderiam ser vistos como uma tentativa extrema de alarme do organismo diante de alguma ameaça percebida, via ativação das respostas simpáticas de luta e fuga do indivíduo. No entanto, não se deve conceber os princípios evolucionistas de forma superficial: a ideia de ataques de pânico como tendo, em última instância, função protetora para o organismo, como a maioria das respostas de ansiedade, pode não se sustentar. De fato, a prevalência de ataques de pânico espontâneos ou de ataques decorrentes da associação exagerada a estímulos não necessariamente ameaçadores, como túneis e pontes, pode nos fazer levantar a hipótese de essas crises serem, na verdade, apenas um dos muitos traços de ansiedade distribuídos na população humana. É interessante destacar que a teoria evolucionista de Darwin prevê a variabilidade como um de seus princípios. O potencial adaptativo de determinada característica é, assim, função do contexto sócio-histórico. Dessa maneira, por sua natureza disfuncional em nossa sociedade contemporânea, os ataques de pânico tornam-se sintoma, em vez de apenas idiossincrasia. No século XX, a clínica psiquiátrica passou por um momento histórico importante quando o conceito de ansiedade teve sua classificação incluída no DSM, organizado pela American Psychiatric Association (APA). Na medicina, a ansiedade vem sendo estudada ao longo dos séculos (Fig. 1.1). Contudo, nenhum dos sintomas atualmente inclusos nos manuais de transtornos mentais são novos para a humanidade. Mudaram o valor relativo, as permuta-

Transtorno de pânico 21 Figura 1.1 Charles Darwin e seu princípio de que a evolução da espécie humana é regida pelas mesmas leis de adaptação e seleção natural a que as outras espécies animais estão submetidas. ções e combinações, 3 sendo que hoje tais sintomas são agrupados para melhor classificação e diagnóstico. CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE NOS MANUAIS DIAGNÓSTICOS E ESTATÍSTICOS DOS TRANSTORNOS MENTAIS: UMA VISÃO HISTÓRICA A primeira classificação oficial dos transtornos mentais, o Statistical Manual for the Use of Institutions for the Insane, foi criada pelos precursores da APA, em 1918, por um desejo do censo norte-americano de quantificar os loucos. Suas primeiras edições tinham como base a psicose. 7 Em 1942, várias neuroses foram incluídas, e os estados de ansiedade foram categorizados. A primeira edição do DSM foi lançada em 1952, com base nesses dados estatísticos, e desenvolvida por Adolf Meyer e outros psiquiatras que participaram ativamente como médicos na II Guerra Mundial. Entre eles, destacam-se William e Karl Menninger. 17 DSM-I 18 No primeiro DSM, as consequências neurobiológicas das doenças do cérebro foram reconhecidas como transtornos cau-

22 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) 2000: publicação da versão revisada do DSM-IV (DSM-IV-TR) 1994: publicação da quarta edição do DSM Anos de 1990: década do cérebro 1987: publicação da versão revisada do DSM-III (DSM-III-R) 1980: publicação da terceira edição do DSM 1952: publicação da primeira edição do DSM, pela APA 1946: sob influência do reconhecimento à importância de sistemas classificatórios para a terminologia em saúde mental, é criado o National Institute of Mental Health 1918: publicação da primeira nomenclatura oficial para os transtornos mentais, do médico germânico Emil Kraepelin Década de 1890: Sigmund Freud cunha o termo neurose de angústia Final do século XIX: tratamento e estudo da ansiedade designados à seção psiquiátrica Início do século XIX: primeiras concepções psicossomáticas dos transtornos mentais; na França, ataques de pânico entendidos como crises agudas de angústia Século XVIII: ansiedade vista como distúrbio do órgão sintomático (p. ex., taquicardia como disfunção do coração) Linha do Tempo 1968: publicação da segunda edição do DSM-II 1948: primeira inclusão de seção para transtornos mentais na sexta edição da CID 1938: B.F. Skinner definiu a ansiedade como um conjunto de respostas condicionadas a eventos aversivos Início do século XX: Ribot identifica diferentes tipos de transtornos de ansiedade, tais como o transtorno de ansiedade generalizada e as fobias específicas 1872: publicação de A expressão das emoções nos homens e nos animais de Charles Darwin 1859: publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin 1879: primeiro emprego técnico do termo pânico em psiquiatrias, pelo psiquiatra britânico Henry Maudsley 1710-1790: destaque para o médico escocês William Cullen; origem do termo neurose Antiguidade Clássica: relatos apontam para a presença de ataques de pânico, como destacado na mitologia grega do deus Pã Início do século XVII: o termo ansiedade começa a ser usado na literatura médica sobre doenças mentais Figura 1.2 História do conceito de ansiedade: importantes eventos que contribuíram para a concepção moderna dos transtornos de ansiedade, com enfoque para o transtorno de pânico, ao longo da história da humanidade.

Transtorno de pânico 23 sados por ou associados com enfraquecimento da função do tecido cerebral, como, por exemplo, intoxicação, infecção, trauma neurológico e doença congênita. Os transtornos de ansiedade alinhavam- -se sob o título de transtornos de origem psicogenética ou sem uma causa física claramente definida ou mudança estrutural no cérebro. 18 Eles foram considerados exemplos de transtornos psiconeuróticos e deram origem ao conceito atual. Os transtornos foram classificados da seguinte forma: 1. Reação de ansiedade à Esse transtorno foi referido como difuso e não restrito a situações ou objetos definidos. 18 2. Reação fóbica à Esse transtorno ocorre quando a ansiedade torna-se destacada a partir de uma ideia, objeto ou situação na vida diária e é substituída por uma ideia simbólica ou situação sob a forma de um medo neurótico específico [...] O paciente tenta controlar a sua ansiedade evitando os objetos fóbicos ou situações fóbicas. 18 3. Reação obsessivo-compulsiva à Essa condição foi descrita como ansiedade associada com a persistência de ideias indesejadas e repetitivas de impulso para a prática de atos que podem ser considerados mórbidos pelo paciente. O próprio paciente pode considerar suas ideias e comportamentos como sem sentido, mas mesmo assim se sente obrigado a realizar seus rituais. 18 Além desses transtornos relacionados à ansiedade, o DSM apontava outras síndromes que faziam parte do espectro de transtornos psiconeuróticos, as quais incluíam reação dissociativa, reação de conversão e reação depressiva. Também fez uma breve referência ao transtorno de estresse, que é atualmente denominado pós-traumático. DSM-II 19 Em 1968, na tentativa de satisfazer às necessidades de psiquiatras de diferentes orientações teóricas, a APA, utilizando o DSM, 19 enfatizou a necessidade de se tornar universal, aproximando-se da OMS a partir da CID. Durante o processo de desenvolvimento do DSM-II, a comunicação entre psiquiatras e especialistas incentivou a APA a destacar a função comunicativa do sistema de classificação e, assim, de certa forma, negligenciou as questões de confiabilidade e validade dos construtos nosológicos. Os transtornos mentais continuaram a ser descritos usando a teoria psicanalítica, e, nesse contexto, o transtorno psiconeurótico foi substituído pelo termo neurose. Nessa edição, há três categorias de transtornos de ansiedade, incluindo neurose de angústia, neurose obsessivo-compulsiva e neurose fóbica. A neurose de angústia refere-se ao indivíduo ansioso sobre a preocupação prolongada e o entrar em pânico, frequentemente associada a sintomas somáticos [...] não restrita a situações específicas e objetos ; 19 já a neurose fóbica era geralmente atribuí da aos temores deslocados para o objeto fóbico ou uma situação de algum outro objeto do qual o paciente está inconsciente. 19 Outros sintomas de ansiedade descritos no DSM-II incluíam as síndromes depressiva, dissociativa, histérica, fóbica e neurastênica, a despersonalização e os transtornos hipocondríacos. DSM-III 20 Diferentemente do DSM-I e do DSM-II, os conceitos do DSM-III não seguiram qual-

24 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) quer abordagem teórica específica. Os estudos farmacológicos ajudaram a redefinir algumas categorias dos transtornos de ansiedade, que passaram a incluir o transtorno de pânico, o transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse pós-traumático. Os critérios eram muito mais explícitos, e os transtornos foram subdivididos em categorias específicas. Por exemplo, o transtorno fóbico passou a incluir agorafobia com ataques de pânico, agorafobia sem ataques de pânico, fobia social e fobia simples. 11 A maior conscientização sobre a importância do desenvolvimento de critérios bem definidos para cada transtorno mental acelerou o refinamento e a revisão desse manual, culminando com a produção de sua versão revisada, o DSM-III-R, em 1987. DSM-III-R 21 Nessa edição, a agorafobia passou a ser vista como consequência do transtorno de pânico, deixando de ser uma categoria apartada, e incluiu os termos transtorno de pânico com e sem agorafobia. Houve nítida simplificação dos critérios diagnósticos para transtorno de pânico, aproximando-se da clínica. Assim, após um ataque de pânico com repercussões fóbicas por um mês, obtia-se um diagnóstico afirmativo. Em suma, foram ressaltadas as consequências fóbicas do ataque de pânico, e não apenas seus sintomas físicos. DSM-IV 22 O DSM-IV representa a mais importante revisão do DSM até o momento. 11 Foi feito, de forma mais elaborada, a partir de pesquisas longitudinais, em vez de usar o consenso profissional simples, como ocorreu anteriormente. No DSM-IV, passaram a fazer parte da nomenclatura formal 12 categorias de transtornos de ansiedade. São elas: transtorno de pânico, transtorno de pânico com agorafobia, agorafobia sem história de transtorno de pânico, fobia social, fobia específica, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de estresse agudo, transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral, transtorno de ansiedade induzido por substância e transtorno de ansiedade não especificado. 22 O transtorno de pânico manteve praticamente a mesma definição. Entretanto, os ataques de pânico passaram a ser definidos de forma a permitir sua ocorrência isolada ou associada a outros diagnósticos, sem preencher os critérios para transtorno de pânico propriamente. Além disso, distinguiram-se os ataques de pânico espontâneos, os situacionais (ligados a agorafobia) e aqueles provocados por um estímulo fóbico (mais ligados a fobia específica). DSM-IV-TR 23 No DSM-IV-TR, os critérios diagnósticos para os transtornos mentais não foram alterados, mas a descrição de cada transtorno foi atualizada a fim de refletir os avanços atuais do conhecimento. 11 Os critérios diagnósticos do transtorno de pânico no DSM-IV-TR são descritos no Quadro 1.2. CONCLUSÃO A abordagem fenomenológica implementada no DSM-III representou um esforço

Transtorno de pânico 25 QUADRO 1.2 Critérios diagnósticos para o transtorno de pânico segundo o DSM-IV-TR 21 A. Tanto (1) como (2): (1) ataques de pânico recorrentes e inesperados. (2) pelo menos um dos ataques foi seguido pelo período mínimo de 1 mês com uma (ou mais) das seguintes características: a) preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais b) preocupação acerca das implicações do ataque ou suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer) c) uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques B) Ausência/presença de agorafobia C) Os ataques de pânico não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., abuso de droga, medicamento) ou de uma condição médica geral (p. ex., hipertireoidismo). D) Os ataques de pânico não são mais bem explicados por outro transtorno mental, como fobia social (p. ex., ocorrendo quando da exposição a situações sociais temidas), fobia específica (p. ex., quando da exposição a uma situação fóbica específica), transtorno obsessivo-compulsivo (p. ex., quando da exposição à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação), transtorno de estresse pós-traumático (p. ex., em resposta a estímulos associados a um estressor grave) ou transtorno de ansiedade de separação (p. ex., em resposta a estar afastado do lar ou de entes queridos). Fonte: American Psychiatric Association. 23 consciente para orientar de forma clara os debates teóricos com relação à etiologia da ansiedade. Contudo, hoje em dia, com os esforços da neurociência para entender as bases biológicas da ansiedade, tornou- -se possível, por exemplo, selecionar um sintoma de um transtorno de ansiedade, como o medo ou a preocupação, e examinar sua neuroanatomia e neuroquímica. 24 Como esses sintomas costumam ser decisivos nas categorias de diagnóstico, o DSM-5 pode ter de se acomodar em um sistema de diagnóstico dimensional, seguindo os avanços da ciência. REFERÊNCIAS 1. Clark DA, Beck AT. Cognitive therapy of anxiety disorder: science and practice. New York: Guilford; 2010. 2. Nardi AE. Some notes on a historical perspective of panic disorder. J Bras Psiquiatr. 2006;55(2):154-60. 3. Berrios GE. Anxiety disorders: a conceptual history. J Affect Disord. 1999;56(2-3):83-94. 4. Stone MH. History of anxiety disorders. In: Stein DJ, Hollander E, Rothbaum BO. Textbook of anxiety disorders. 2. ed. Virgínia: American Psychiatric Publishing; 2009. 5. Nardi AE. A história dos ataques de pânico. Ciência Hoje. 2004;34(202):71-3. 6. Berrios GE, Link C. Anxiety disorders. In: Berrius GE, Porter RA, editors. History of clinical psychiatry. New York: New York University Press; 1995. 7. Antony MM, Pickren W, Koerner N. Historical perspectives on psychiatric classification and anxiety disorders. In: McKay D, Abramowitz JS, Taylor S, Asmundson GJG, editors. Current perspectives on the anxiety disorder: implications for DSM-V and beyond. New York: Springer; 2009. 8. Freud S. A reply to criticisms on the anxiety neurosis. In: Freud S. Collected papers. London: The Hogarth Press; 1953. 9. Freud S. The justification for detaching from neurasthenia a particular syndrome: the anxiety-neurosis. In: Freud S. Collected papers. London: The Hogarth Press; 1894.

26 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) 10. Freud S. Obsessions and phobias: their psychical mechanisms and their etiology. In: Freud S. Collected papers. London: The Hogarth Press; 1953. 11. Coutinho FC, Dias PG, Bevilaqua MCN, Gardino PF, Rangé BP, Nardi AE. Current concept of anxiety: implications from Darwin to the DSM- -V for the diagnosis of generalized anxiety disorder. Expert Rev Neurother. 2010;10(8):1307-20. 12. Suinn RM. Anxiety management training: a behavior therapy. New York: Plenum Press; 1990. 13. Darwin CR. On the origin of species by means of natural selection, or the preservation of favored races in the struggle for life. London: John Murray; 1859. 14. Darwin CR. The Expression of the emotions in man and in animals (1872). London: Fontana Press; 1999. 15. Cosmides L, Tooby J. Evolutionary psychology and the emotions. In: Lewis M, Haviland-Jones J, editors. Handbook of emotions. New York: Guilford; 2000. 16. Gross C, Hen R. The developmental origins of anxiety. Nat Rev Neurosci. 2004;5(7):545-52. 17. Friedman LJ. Menninger: the family and the clinic. New York: Alfred Knopf; 1990. 18. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-I. Washington: APA; 1952. 19. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-II. 2nd ed. Washington: APA; 1968. 20. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-III. 3rd ed. Washington: APA; 1980. 21. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-III-R. 3rd ed. Washington: APA; 1987. 22. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV. 4th ed. Washington: APA; 1994. 23. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV - TR. 4th ed. Washington: APA; 2000. 24. Ledoux J. The emotional brain. New York: Simon & Schuster; 1996.