Palavras-Chave: História da Educação, Instituições Educacionais, Beatas-Professoras



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MOVIDAS PELOS PRINCIPIOS DA EDUCAÇÃO E ORAÇÃO - as beatas em tempo do Padre Cícero e a fundação de instituições educacionais na cidade de Juazeiro do Norte RESUMO Ivaneide Severo Goiana 1 Mestranda-LHEC-UFC e-mail:ivaneidesevero@bol.com.br) Patrícia Helena Carvalho Holanda 2 Professora FACED/UFC Pesquisadora da LHEC e-mail:profa.patriciaholanda@gmail.com O presente trabalho tem como propósito fazer uma abordagem histórica acerca do papel das Beatas no processo educacional do Juazeiro do Norte, mais especificamente na fundação das instituições educacionais, no período de 1916 a 1933. Pretende, ainda, explicitar a atuação das beatas do Padre Cícero na educação escolar de Juazeiro do Norte tomando como estudo as instituições educacionais, criadas no período exposto. Para tanto utilizamos como referencial teórico, autores que discorrem sobre a historiografia local, como: Della Cava (1976), Dantas (1982), Paz (1998), Menezes (1999), Araújo (2004), Forti (1999, 2009), Madeira (2008), Oliveira (2001) Nobre (2011). A metodologia privilegiou a perspectiva qualitativa, por meio da pesquisa bibliográfica e documental. O estudo possibilitou compreender o processo educacional da região, através da perspectiva comparada, uma vez que a ampliação de ideias, sua circulação e suas influencias no contexto atual no! tocante a educação mantém uma cultura educacional que guarda em muito a perspectiva de uma formação das mulheres e das crianças sob a organização das beatas quando da disseminação do projeto educacional, para Juazeiro do Norte. Palavras-Chave: História da Educação, Instituições Educacionais, Beatas-Professoras INTRODUÇÃO 1 Aluna do Programa de Pós Graduação em Educação da Linha de História da Educação Comparada - Universidade Federal do Ceará/UFC. E-mail:ivaneidesevero@bol.com.br 2 Professora Associado do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFC, Pesquisadora da Linha de História da Educação Comparada. E- mail:profa.patriciaholanda@gmail.com 1

Esta pesquisa tem como propósito, discutir a participação das beatas do Padre Cícero no processo educacional da Vila de Joaseiro, posteriormente município de Juazeiro do Norte, no que diz respeito à fundação de instituições, educacionais na região do Cariri Cearense. Em estudos realizados durante a trajetória acadêmica tivemos como nosso campo de estudo o Cariri Cearense, desenvolvendo pesquisas acerca da História da Educação. Durante as nossas investigações, foi possível ter acesso a escritos de historiadores locais, estudos acadêmicos e documentos que muito nos mostrou sobre a história da educação no Cariri e sobre mulheres religiosas como agentes desse processo, algumas denominadas como beatas, no papel de professoras. Estas eram mulheres oriundas dos mais diversos lugares que chegaram em Juazeiro do Norte. O termo beata para os sujeitos da época equivalia a uma religiosa ou freira, que cuidavam com esmero da educação de crianças e jovens. (QUEIROZ, 2014, p. 731). Nos escritos de historiadores locais como Oliveira (2001), percebemos que algumas destas mulheres, dentre a sua atividade de devoção e disseminação dos preceitos do Padre Cícero, foram responsáveis e muito contribuíram para a educação de crianças e das moças da região, ainda nas décadas de 1916 a 1933, período de fundação de várias escolas na Cidade de Juazeiro do Norte. Destarte, o presente trabalho pretende fazer uma abordagem histórica acerca do papel das beatas no processo educacional do Juazeiro do Norte, mais especificamente na fundação das instituições educacionais, no período de 1916 a 1933. Pretende, ainda, explicitar a atuação das beatas do Padre Cícero na educação escolar de Juazeiro do Norte tomando como estudo as instituições educacionais, criadas no período exposto. Nos registros dos quais tivemos acesso, encontramos dados sobre instituições educacionais criadas na Cidade de Juazeiro do Norte, voltadas para a educação das meninas da região, estas escolas eram em sua maioria de cunho particular. Nos escritos de Queiroz (2014, p. 1077) citando Della Cava (1976), a maioria dessas Escolas particulares de Juazeiro eram mantidas pelo padre Cícero. A exemplo, a Escola de Izabel Montezuma, criada pelo Padre, onde, a professora teve as suas primeiras turmas. Em 1941, fundou-se o 1º colégio 2

secundário em Juazeiro. (DELLA CAVA, 1976, p. 263). Encontramos ainda: Em 1923, no entanto, Joaseiro, já podia orgulha-se de suas quatro escolas primárias, financiadas pelo estado e pelo município, e de um grande número de escolas particulares [...] Ainda em 1916, fundou, pessoalmente, um dos primeiros orfanatos do interior, o Orfanato Jesus, Maria e José. [...] Em 1932, coube ao patriarca doar terras que lhe pertenciam para que o governo criasse o primeiro colégio de formação de professores rurais, instalado, finalmente, em 1934 com o nome de Escola Normal Rural, a primeira no gênero a funcionar no Nordeste Brasileiro (Ibidem, p. 262). Em 1912, uma escola pública Professora Maria Luiza Furtado Landim. Em 1916, Dr. Floro Bartolomeu instalou algumas escolas municipais [...] Em 1920, o município criava mais duas escolas públicas [...] Em 1922, o Professor Lourenço Filho, chamado de São Paulo pelo Presidente Justiniano de Serpa, para Diretor de instrução no Ceará, iniciou a reforma do curso Normal [...]. Em 1927, as cinco cadeiras isoladas existentes na cidade foram agrupadas e a direção entregue a professora Maria Gonçalves [... ] construíram o primeiro Grupo Escolar onde os alunos faziam até o terceiro ano primário. Em 1928, [...] Amália Xavier de Oliveira que não conseguindo uma cadeira pública para lecionar, abriu uma escola particular que mais tarde daria origem ao Colégio Santa Teresinha, hoje Ginásio Monsenhor Macêdo. O ano de 1929 [...], surgiram naquele ano mais três escolas particulares: o São Miguel, Colégio masculino sob a direção do professor Dr. Manoel Pereira Diniz, o São Geraldo, Colégio misto sob a direção do professor proprietário Edmundo Milfont e o Colégio particular do professor Anchieta Gondim [...]. Em 1933, coube ao Pe. Cicero grande parcela na criação do patrimônio do Instituto Educacional de Juazeiro do Norte para que se criasse a primeira Escola Normal Rural do Brasil [...] em 1934 e Colégio São João Bosco em 1942 (SOUZA, 1994, p. 26-28 apud QUEIROZ, 2014, P. 1077-1078). Nos estudos de Queiroz (2011) sobre as instituições escolares podemos perceber o potencial educacional da região do Cariri, em específico Juazeiro do Norte, tendo como figura importante nessa construção o Padre Cícero, estudo que nos instigou e facilitou dados para a nossa pesquisa. Nos achados aparecem personagens secundários e pouco lembradas pelas suas ações missionárias, negando-lhes a história seus feitos, suas contribuições, para a população, Juazeirense são os beatos e beatas. Nosso objeto de estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla acerca do feminino, a 3

história de mulheres, protagonistas de uma história educacional muitas vezes negada. Esta evidencia histórica foi sendo desenhada, no nosso percurso de pesquisa, em contato com fontes históricas relativas ao Cariri cearense, recorte espacial do nosso foco investigativo. 3 O estudo é parte da pesquisa, ainda em construção, onde buscamos nos aproximar do nosso objeto de estudo, em um cenário considerado místico e de grande importância histórica para a história da educação. Uma discussão que requer uma análise do passado na tentativa de compreender o futuro, com o intuito de conhecer o percurso que foi desenhado na história da educação e dá visibilidade aos seus protagonistas lembrados ou não pela história oficial. Para nos aproximarmos do nosso objeto de estudo, buscamos como referencial teórico autores que trabalham conceitos, tendências e abordagens teórico-metodológicas associadas às investigações que pretendemos realizar, Magalhães Junior (2003) torna-se referência ao trabalhar a instituição educacional. Sobre a memória, citamos Ecléa Bosi em seu livro Memória e Sociedade: lembranças dos velhos (1994). A autora especifica que a utilização da oralidade e da memória para (re) construção da história educacional, política e/ou cultural, está diretamente ligada e influenciada pelo posicionamento teórico e ideológico do pesquisador. Ainda sobre oralidade buscamos nos escritos de Gisafran Nazareno Mota Jucá (2013), a importância da oralidade no processo de construção histórica, desde o seu reconhecimento como uma fonte capaz de estabelecer o diálogo entre o pesquisador e o pesquisado, uma fonte dialogal, que abrange todas as áreas das ciências humanas, exercendo o papel da "transdisciplinaridade", trazendo assim, uma nova concepção metodológica no resgate do processo de reconstrução histórica da sociedade e seus protagonistas. Consultamos ainda autores que discorrem sobre a historiografia local, como Della Cava (1976), Ribeiro Sobrinho (1994, 1996), que trazem nos seus escritos a história, política econômica e educacional de Juazeiro. Sobre as Beatas-Professoras tomamos como base, o 3 Parte da linha de pesquisa em História da educação comparada LHEC, do programa de Pós Graduação em Educação Brasileira, da faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. 4

estudo de Nobre (2011), Dantas (1982), Paz (1998), Menezes (1999), Menezes e Alencar (s.d), Araújo (2004), Forti (1999, 2009), Madeira (2008), Oliveira (2001). De início estes escritos anunciam a presença das beatas na ação do Padre Cícero, com ênfase na história da Maria de Araújo, em função do acontecimento do Milagre da hóstia, lembrada nos estudos de Forti (1999, 2009). Porém, ao longo dos estudos podemos constatar que estas mulheres, muitas vezes esquecidas nos registros oficiais tiveram uma ação missionária exemplar, obedecendo, em todos os momentos, os princípios da obediência, oração e do trabalho. Aqui cabe registrar a importância dos estudos comparados, pois, trataremos de Beatas- Professoras que atuaram em momentos distintos, mas tiveram como fio condutor a missão da fé, do cuidar e do educar. Neste sentido, um estudo que se baseia na educação comparada se fortalece. Utilizamos então da perspectiva comparada, para uma maior ampliação de ideias, analisando sua circulação e suas influencias no contexto atual no tocante a educação caririense. Sobre o papel da mulher na sociedade, buscamos em Mary Del Priore, com a obra intitulada, História das Mulheres no Brasil (2007) uma contextualização do papel da mulher dentro de uma perspectiva histórica. Em termos metodológicos buscamos privilegiar a perspectiva qualitativa, por meio da pesquisa bibliográfica e documental, nos remetendo em primeiro momento a investigação, identificação e reunião das fontes, que nos dá informações sobre o nosso objeto de estudo, o que nos foi possível fazer uma primeira apreciação do apresentado, sobre as Beatas do Padre Cícero e as instituições educacionais da época. Os procedimentos metodológicos viabilizaram uma melhor aproximação com o objeto de análise nos levando a compreender na pesquisa qualitativa o essencial, relativizando as informações obtidas, sem tomá-las como verdades inquestionáveis. 2 As Casas de Caridade e as instituições educacionais femininas em Juazeiro do Norte- CE 5

A forma de educação organizada no Brasil reveste-se de característica religiosa, quando analisamos a história educacional e nos deparamos com, uma educação, baseada nos princípios da Igreja católica, iniciando com a chegada dos Jesuítas e as suas ações, missionárias em terras brasileiras. Ao colocarem em prática as suas primeiras atividades educacionais em Igreja Católica passou a exercer sobre o país a mais poderosa influência no ensino e formação da sociedade. Sob a tríplice proteção da Coroa, Igreja e Família Patriarcal a instrução foi monopolizada e os direitos educacionais estendidos para poucos, que respondiam aos princípios da Coroa e da Igreja, servindo a escola aos interesses de uma classe dominante, tendo a igreja como propagadora desta construção. No Ceará colonial, a educação iniciou-se com a evangelização praticada pelos missionários. Iniciaram a educação escolar no sul do Ceará com a implantação de um sistema educacional sob a égide da Igreja Católica. Até boa parte do século XIX, a religiosidade institucional foi resultado de uma ação muito rara de religiosos itinerantes. (SOUZA, s/d, p.02). Como resultado da ação dos missionários, podemos encontrar ao Sul do Ceará em 1872, um experimento imbuído do espírito filantrópico, católico, do Padre Ibiapina (QUEIROZ e GOIANA, 2013). Um missionário que de acordo com Paz (1988, p.42-44), chegou a fundar vinte e duas Casas de Caridade entre 1862 a 1883, sendo algumas dessas casas na região do Cariri. Padre Ibiapina, em suas ações caritativas ao percorrer alguns estados do Nordeste. Segundo Nobre, o Padre dedicou-se a ajudar as famílias atingidas pelas secas, que eram constantes na época. Ele ainda ergueu igrejas, cemitérios, além das Casas de Caridade nos lugares onde as ações governamentais falhavam. (NOBRE, 2011, p.58). Para Nunes, a ação do Padre Ibiapina, voltada para os princípios religiosos para formação de fiéis, estimulava também o combate à miséria e aos pecados, não através do autopadecimento ou da expiração, más, do redirecionamento da energia do povo para o trabalho em prol da melhoria para a coletividade (PAZ, 2005, p. 46 apud NOBRE 2011, p.58). Dando sentido às casas de caridade da época, que pretendiam dar conta do trabalho assistencial aos mais pobres (NOBRE, 2011, p.58). 6

Essas casas eram em sua constituição beatérios que imitavam o modelo europeu dos recolhimentos femininos de mulheres leigas, muito comuns na Europa e que migraram para o Brasil. As Casas de Caridade criadas pelo Padre Ibiapina tinha como lema máxima Ora e labora, isto é, Ora e trabalha que já indicava claramente sua função. (NOBRE, 2011, p.58). Essas casas abrigavam mulheres, pobres e visavam levar a educação, saúde e auxilio religioso para a população, carente. De acordo com NUNES (2007), essas instituições, são oriundas de restrições à criação de conventos, ainda no período colonial, por parte dos reis de Portugal. Estes consideravam que os conventos representavam uma ameaça aos objetivos reais, por retirar parte da população potencial fértil (p.484). Essas restrições foram contornadas por padres da Colônia brasileira, quando passaram a criar casas para abrigar mulheres necessitadas, em regime de reclusão. Para Nunes tratava-se de casas religiosas, organizadas como convento, mas sem a obrigatoriedade dos votos. Nunes (2007) destaca a ação de algumas famílias na época, que colocavam suas filhas nos conventos ou casas de reclusão, e as caracteriza como razões de ordem econômica e/ou moral, isolando essas mulheres do convívio social mais amplo. Nunes lembra ainda que além dos conventos servirem como espaço de reclusão e submissão caracterizava-se também como um espaço de fuga para mulheres que queriam escapar de situações sociais indesejadas, como o casamento de conveniência, forçado ou malfadado, chegando algumas mulheres a pedirem divorcio, preferindo abraçar uma vida religiosa a se subordinar a desmandos da autoridade paterna ou marital. Ainda a luz de Nunes, podemos perceber a divisão social que se desenhava na época, onde os conventos estavam para mulheres brancas da classe média alta, como forma de manter o poder econômico das famílias e até mesmo, para moças que tinha passado o tempo de se casar, sendo a igreja, responsável tanto pelo matrimonio como de resolver o problema com as mulheres desviantes. (NUNES, 2007, p. 486). As casas de Caridade a qual nos referimos, criadas em conformidade com a concepção do catolicismo tradicional, vão ganhar corpo, no Nordeste, em face das terríveis secas, que dizimam grande parte da população, deixando muitas crianças órfãs e mulheres desabrigadas. 7

Nesse sentido, elas vão se caracterizar pela ação missionária de Padres, preocupados com mulheres pobres desvalidas, sobre a inspiração de práticas oriundas, tanto do período colonial, quanto da Idade Média Europeia. As Casas criadas no século XIX retomam esse sentido de acolhimento de pobres, e de mulheres oriundas de famílias de pobre, com uma vertente além de acolhedora, também educativa, como coloca Dantas sobre as Casas do padre Ibiapina. A segunda versão das Casas, com Padre Ibiapina [...] constituíam se em instituições femininas que, de acordo com Renato Dantas, serviam como escolas para filhas de senhores abastados, orfanatos para meninas pobres, centros desenvolvimento artesanal e, sobretudo, de recolhimento para a sua congregação de mulheres piedosas (DANTAS, 1982, p. 3 apud PAZ, 1998, p.58). Esse era o perfil institucional das casas de caridade, que buscavam através da religiosidade, cumprir com a função social de ajudar a população e as mulheres, abastardas nos Sertões Nordestinos. Segundo Nobre (2011) as Casas de Caridade do Cariri se constituíram também nos primeiros centros educacionais para as mulheres do Cariri (p. 59). Tinham em sua função, além do viés de acolhimento e caridade era também oferecido educação para as órfãs que ali moravam. Essas casas eram coordenadas por mulheres que se propuseram a contribuir com a formação de moças carentes da Região, elas assumiam o papel de supervisoras e cuidavam das meninas (NOBRE, 2011, p. 60). A criação das Casas de Caridade estendeu-se também no interior do Ceará na cidade de Juazeiro do Norte que segundo Madeira, ainda no final do século XIX, o Padre Cicero Romão batista começou a recrutar, mulheres que queriam seguir uma vida religiosa, dedicada a caridade, e que pudessem contribuir com a formação das meninas da na região. As beatas eram em sua maioria mulheres que mostravam vocação para a vida religiosa, e que muito contribuíram para a formação, educacional, social e profissional, na Região do Cariri Cearense. Ainda em Nobre ao tomar para si a responsabilidade da organização destas mulheres, a igreja tinha um propósito, o controle sobre as mulheres, diante da situação social que se 8

desenhava, em pleno século XX, no contexto da reforma eclesial e principalmente, após a Proclamação da República em 1889, a igreja buscava manter o controle, das ações desenvolvidas pelos Padres. Assim para Nobre. A organização destas mulheres em associações femininas controladas pela igreja è essencial para que se destitua do laicato qualquer tipo de poder que dispensasse a atuação dos sacerdotes, tratando-se então de centrar a ação religiosa nos sacramentos e organizando os leigos em associações de piedade dirigidas por sacerdotes. (NOBRE, p.77) A criação destas instituições femininas nada mais era uma forma da Igreja, buscar na fragilidade feminina um público, que respondesse cegamente aos interesses e as normas clericais, formuladas com base no concílio de Trento, uma concepção ideológica construída através da história sobre a mulher sexo frágil, seres inferiores, uma forma de manter o controle, quando pairava sobre a história as incertezas do continuísmo hegemônico que o clero exercia sobre a sociedade. (NOBRE, 2011). 2.1 As Beatas em tempos do Padre Cícero e a educação em Juazeiro do Norte - CE Não podemos falar das Casas de caridade do Padre Cícero sem antes falar das Casas de Caridade do Padre Ibiapina, assim como não podemos deixar de expressar a importância das beatas e dos beatos para a história da Cidade de Juazeiro do Norte Ceará. Uma história que está nitidamente atrelada aos beatos e beatas seja na mística que envolve a cidade, com os milagres que deram visibilidade ao Juazeiro através da Beata Maria de Araújo ou através das Casas de Caridades, que deram origem a um modelo, educacional seguido pelo Padre Cícero. Quando cria em1888, a Associação do sagrado Coração de Jesus, o início para construir as casas de Caridade. Seguindo os passos do Padre Ibiapina, o Padre Cícero começa ainda em 1888, a recrutar moças, solteiras do povoado que quisesse seguir a vida religiosa, agora organizadas dentro de uma associação aprovada pela igreja, constituindo em a Casa de Caridade do Padre Cícero, o mentor espiritual das beatas do Juazeiro, o que difere das Casas de Caridade do 9

Padre Ibiapina, por não ter autorização canônica nas palavras de Nobre (2011). Essas casas de caridade desenvolveram um importante papel na formação das meninas na região do cariri, dado a missão das beatas em cuidar e educar, as meninas pobres da região, caracterizando assim as beatas como propulsoras do fazer pedagógico da atualidade. Sobre as Escolas em Juazeiro e a participação das beatas no processo educacional, Oliveira (2001), conta que em 1890, foi criada uma escola particular, para meninas sendo regida pela Beata Cotinha, como ela conhecia a professora Maria Cristina de Jesus Castro, diplomada pela Escola Normal do Rio Grande do Norte, e veio para o Juazeiro atraída pelo Milagre (p. 279). Conta ainda que em a Escola passou de particular para Municipal em 1899, devido a emancipação de Juazeiro. Ela faz referência a escola noturna, para domesticas que a mesma mantinha nos anos de 1912 e 1913 (QUEIROZ, 2014, p.1077). Conforme registro de Souza, segundo Queiroz, (2014) na década de 1890 foi localizado quatro escolas particulares. Duas masculinas e duas femininas, sendo as femininas regidas por Izabel Montezuma da Luz e Maria Cristina de Jesus Castro (Souza, 1994, p.26 apud Queiroz, p. 1.076). Criada por iniciativa do Padre Cícero, foi a primeira escola feminina a ser instalada na cidade de Juazeiro do Norte, sob a regência da Beata Professora Isabel Montezuma da Luz. Segundo Oliveira (2001), Izabel da Luz se destacava ao lado de outras figuras, que abriram escolas particulares na região, sob os olhares do Padre Cicero. (p.274). Já em 1916 o Padre Cícero, criou na Cidade de Juazeiro do Norte uma casa de caridade, que se propunha a receber jovens, meninas órfãs, oferecendo lhes, casa, comida e educação, colocando como responsáveis, as beatas, que assim como coloca Nobre (2011) eram mulheres que seguiram a vida religiosa, como uma opção de vida ou até mesmo pelas circunstancia que se desenhava a situação da mulher naquela época, a figura da mulher estava atrelada a uma sociedade patriarcal, onde o papel da mulher era reduzido a ser mãe e esposa. A casa se constituiu como Orfanato Jesus Maria José, fundado e mantido pelo Padre dentro de uma das casas de sua propriedade, funcionando até o ano de 1933. A princípio dirigida pela Beata Joana Tertuliana de Jesus, conhecida por "Beata Mocinha" e pela Beata Raimunda de Jesus. 10

Em 1933 a direção do Colégio foi passada para as Filhas de Santa Teresa de Jesus logo após a morte do Padre Cícero, funcionando como internato para meninas órfãs até o ano de 1994. (OLIVEIRA, 2011). Segundo Amália Xavier de Oliveira, o Orfanato tinha como princípios norteadores amparar as crianças do sexo feminino, pobres e órfãos, dando-lhes uma educação adequada capaz de lhes garantir viver honestamente, quando pela idade ou outras circunstâncias tiverem que deixar a tutela da entidade de sua formação. Em 1996 houve um novo direcionamento no atendimento do Orfanato, devido às mudanças sociais e por motivos também financeiros. Neste período a instituição não pode mais contar com o apoio do governo municipal e estadual tendo que fechar a escola regular. As irmãs continuaram com o regime de externato, passando a ser uma entidade civil de fins filantrópicos, de caráter beneficente, educativo, cultural e de assistência social com a finalidade assistencialista às crianças pobres e abandonadas, garantindo um futuro sólido e digno na sociedade segundo Oliveira [...] [...] ainda hoje, conforme dissemos, está em pleno funcionamento esta obra de Assistência Social, iniciada pelo Pe. Cicero, e continua até nossos dias, algum tempo sob a orientação dos salesianos e atualmente sob a responsabilidade exclusiva das irmãs que a dirigem. (OLIVEIRA, 2001, apud FIGUÊREDO, 2011, p.27) A instituição continua atendendo a missão para qual foi criada, encontra-se hoje atendendo em torno de 150 crianças e adolescentes de 06 a 15 anos de idade engajadas nas diversas atividades: reforço escolar, aulas de inglês, arte cênica, pintura, desenho, canto e coral. Oferece ainda: esporte; biblioteca infantil e clube de mães. O Orfanato Jesus Maria José, tem por finalidade assistência as crianças pobres e abandonadas, garantindo-lhes um por vir sólido e digno à sociedade. (SOBREIRA, apud, FIGUÊREDO, 2011, p.5). Completando neste ano de 2015, noventa e nove anos da sua fundação, o orfanato continua sendo uma instituição que serve a sociedade Caririense, pautados também nos princípios da oração e do trabalho, deixando nítido que o trabalho das beatas, repercutiu, no desenvolvimento do processo educacional. 11

Considerações Finais As Beatas mulheres religiosas que dedicaram suas vidas a caridade, foram mulheres a frente de sua época, buscaram através do trabalho da oração e da fé, construir um novo modelo de sociedade, mesmo sendo relacionadas a figura do Padre Cícero, estas mulheres foram protagonistas da história de Juazeiro do Norte, colaborando para a formação daquela sociedade. Mulheres que conseguiram fazer com que a instituição mais poderosa em sua época, voltasse para o interior do Ceará, utilizando, das mais diversas, armas, com o intuito de controlar qualquer menção, que pudesse ser feita, em referencia a um milagre, tendo como protagonista uma mulher. Uma história que desafiou a mais poderosa, instituição eclesiástica, em tempos de opressão e perseguição a qualquer, fato que não seguisse o exercício da ordem vigente. Essas mulheres foram protagonistas, de um espetáculo, envolvendo o milagre da hóstia transformada em sangue, pela Beata Maria de Araújo. Repercutindo até hoje, em uma cidade que, coloca o papel da beata, entre o sagrado, e a luta pela formação da sociedade que se desenhava na época, tendo como personagem principal a figura da mulher. Além de serem personagem da construção de uma misticidade em torno da cidade de Juazeiro do Norte estas mulheres, foram propagadoras do fazer pedagógico, participaram da Construção e organização da educação, institucionalizada e deram as moças da região uma opção de inserção social, rompendo com os princípios que norteavam a sociedade da época, dando as meninas órfãs, um lar e uma educação que lhes foi privada, pela sociedade dado as suas condições econômicas. O estudo nos fez perceber a importância da mulher na história da educação, quando nos propomos a trazer para o cenário principal o papel da mulher missionária, que leva a ação docente, movidas pelos princípios do trabalho da oração e da fé. O estudo também possibilitou compreender o processo educacional daquele lugar, através da perspectiva comparada, uma vez que a ampliação de ideias, sua circulação e suas influencias no contexto atual no tocante a educação mantém uma cultura educacional que 12

guarda em muito a perspectiva de uma formação das mulheres e das crianças apregoados pelas beatas quando da disseminação do projeto educacional para Juazeiro do Norte. Buscamos também através da perspectiva comparada, evidenciar o papel da mulher na sociedade Caririense, seus feitos, seu protagonismo, dentro da construção do processo educacional, que reflete desde a sua constituição até os dias atuais, desde a sua concepção em termos metodológicos e organizacionais. Damos este trabalho como um longo caminho a ser percorrido, com questionamentos ainda a ser respondido, principalmente sobre o legado deixado por estas mulheres para a história da educação Cearense no tocante a ação docente, da atualidade. Referências ARAÚJO, Raimundo. Mulheres de Juazeiro - biografias. Juazeiro do Norte: Gráfica e Editora Royal Ltda, 2004.. Questionário histórico. Juazeiro do Norte. Gráfica e Editora Royal Ltda, 2012. BASTOS, Maria Helena Câmara.Comparar o (in)comparável: somos estrangeiros em todas as partes: a história comparada da educação e as transferências culturais. In: CAVALCANTE, Juraci Maia et al. (Org.). História da educação comparada: Fortaleza: Edições UFC, 2011. BOSI, Ecléia. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 9 ed. São Paulo: Companhia das letras, 1994. BORGES, Raimundo de Oliveira. O padre Cícero e a Educação em Juazeiro. Fortaleza: ABC editora, 2004. CÂMARA, Maria Helena Bastos. Comparar o (in)comparável: Somos Estrangeiros em todas as Partes: A História Comparada da Educação e as Transferências Culturais. Fortaleza: UFC, 2011. CORREA, João Jorge. Educação comparada: esboço para compreender as fronteiras e os limites da comparação. Revista visão global, Joaçaba, v.14 n.2, p. 251-272, Julho/Dez. 2011. DANTAS, Francisco Renato. As beatas do Juazeiro e do Cariri. Juazeiro do Norte: Instituto Cultura do Vale do Cariri, 1982. 13

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