VI ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO



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Transcrição:

REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO DE PAULO FREIRE ACERCA DA EDUCAÇÃO Cristiane Silva Melo - UEM 1 Rosileide S. M. Florindo - UEM 2 Rosilene de Lima - UEM 3 RESUMO: Esta comunicação apresenta discussões acerca do pensamento educacional de Paulo Freire (1921-1997). Busca-se compreender a concepção de educação do autor bem como suas contribuições na definição de práticas de alfabetização e letramento. Para tanto, considera-se o conteúdo das obras de Paulo Freire com destaque às suas considerações sobre a educação e o ensino. Freire considerava a educação condição para a prática da liberdade, indispensável para a tomada de consciência e ação política social. Para ele, o educador deveria criar situações para os alunos pensarem e refletirem sobre aspectos sociais e culturais coletivamente, nesse processo, o diálogo era indispensável, sendo uma condição construída em conjunto pelo educador e educando. Freire pensava uma educação para o povo, que possibilitasse conscientização e transformação. Palavras-chave: Pensamento Pedagógico; Paulo Freire; Educação e conscientização. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta discussões acerca do pensamento educacional de Paulo Freire (1921-1997). Busca-se compreender a concepção de educação do autor bem como suas contribuições na definição de práticas de alfabetização e letramento. Para tanto, considera-se o conteúdo das obras de Paulo Freire com destaque às suas considerações sobre a educação e o 1 Graduada em Pedagogia pela (UEM). Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da (PPE/UEM). E-mail: cristianesilme@yahoo.com.br. 2 Graduada em Pedagogia pela (UEM). E-mail: rsmf90985@gmail.com. 3 Graduada em Pedagogia pela (UEM). Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da (PPE/UEM). E-mail: lene.lim@hotmail.com.

2 ensino. Freire considerava a educação condição para a prática da liberdade, indispensável para a tomada de consciência e ação política social. Paulo Freire nasceu em Recife, no dia 19 de setembro de 1921, e faleceu em 2 de maio de 1997. É autor de uma vasta produção bibliográfica, escreveu as obras Educação como Prática da Liberdade (2005), Pedagogia do Oprimido (1975), Pedagogia da Autonomia (2011), os artigos Carta aos Professores (2001), A Importância do Ato de Ler (2006), entre outros. Nestes escritos, Paulo Freire destacou noções sobre a educação e o papel do educador no processo de ensino-aprendizagem dos indivíduos. Paulo Freire estudou a linguagem do povo e com base neste entendimento definiu premissas para um novo método de alfabetização (método Paulo Freire), divulgado no final da década de 1950, que ficou conhecido nacionalmente e em diversos países no mundo. O método foi exposto em 1958 e maior sistematizado em 1962. Na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte, se iniciaram as primeiras experiências do método, um grupo contou com a participação de 300 trabalhadores, que foram alfabetizados em 45 dias. Freire envolveu-se no Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife e foi um dos fundadores do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife, sendo diretor. Na década de 1980, após 16 anos de exílio, voltou ao país passando a ser professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e da Universidade de Campinas (Unicamp). Paulo Freire também trabalhou como Secretário da Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão Luiza Erundina (PT), entre 1989 e 1991. (FREIRE, 2001). 2 PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO PARA CONSCIENTIZAÇÃO Paulo Freire em diversos momentos enfatizou que a educação não deveria ser um processo mecânico de simples transmissão de conteúdos. Considerava o ensino um ato ativo e

3 dinâmico, o educador também aprendia na ação de educar e auxiliaria o aluno a adquirir condições de se apropriar de conhecimentos úteis para sua vida e mudança social. [...] ensinar não pode ser um puro processo, como tanto tenho dito, de transferência de conhecimento do ensinante ao aprendiz. Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinal que já critiquei. Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente crítico que demanda necessariamente uma forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura de mundo, leitura do contexto. (FREIRE, 2001, p. 264) No processo de educação era importante que o educador apreciasse a cultura que o aluno possuía, uma vez que a aprendizagem acontecia a todo o momento, mesmo antes da aprendizagem de escrita pelo aluno. O indivíduo realizava a leitura de mundo antes da leitura da palavra escrita, e esta compreensão de mundo era importante na vivência do aluno, precisava ser identificada pelo educador e valorizada na aprendizagem escolar. Para Paulo Freire, ensinar exigia a consciência de que o ser humano é um ser inacabado, ou seja, que está em constante processo de aprendizagem. Desse modo, afirmava a importância do respeito a autonomia do ser do educando. Ensinar era um ato que exigia humildade e bom senso, alegria e esperança, a convicção de que a mudança era sempre possível. O educador precisava acreditar nas condições de aprendizagem do aluno e auxiliá-lo a conquistar conscientização e senso de luta em defesa de seus direitos e ideais. (FREIRE, 2011). Sendo assim, Freire enfatizava que o educador deveria criar situações para os alunos pensarem e refletirem sobre aspectos sociais e culturais coletivamente, nesse processo, o diálogo era indispensável. A educação para Paulo Freire era essencialmente dialógica, podia promover a criticidade e ao mesmo tempo alfabetizar e problematizar os conteúdos. Ele percebia o homem não apenas no mundo, mas com o mundo.

4 O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. [...] Se é dizendo a palavra com que, pronunciando o mundo os homens o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significados enquanto homens. Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E se êle é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, p. 1975, p. 93, grifos do autor) O diálogo era uma condição construída pelo educador e pelo educando, sendo um ato coletivo, de solidariedade, de amor, de trocas culturais e solidárias, entre as pessoas. Freire pensava uma educação para o povo, que possibilitasse conscientização e transformação. Weffort (1980) esclarece que, no momento de divulgação do método, as ideias de Freire se fortalecem no âmbito do movimento popular:. Em verdade, seria difícil tratar de outro modo a um pensamento engajado como o de Paulo Freire. Suas idéias nascem como uma das expressões da emergência política das classes populares e, ao mesmo tempo, conduzem a uma reflexão e a uma prática dirigidas sobre o movimento popular. Mas cabe assinalar que se estas ideias trazem nítidos os sinais do tempo e das condições históricas brasileiras, isto não significa que se encontre inibida a possibilidade de esclarecimento de sua significação geral. (WEFFORT, 1980, p. 4) Gadotti (1997) conviveu com Paulo Freire, tendo com ele desenvolvido inúmeras atividades. Ele destaca que Freire colocou o oprimido no palco da história, ressaltava um ensino que privilegiava a liberdade e a autonomia de aprendizagem dos indivíduos, defendia um ensino contextualizado, respaldado pelos aspectos sociais. A problematização pressupunha uma ação transformadora.

5 Para Paulo Freire, o conhecimento é construído de forma integradora e interativa. Não é algo pronto a ser apenas "apropriado" ou "socializado", como sustenta a pedagogia dos conteúdos. Por isso, essa pedagogia sustenta, até hoje, a necessidade da memorização. Conhecer é descobrir e construir e não copiar. Na busca do conhecimento, Paulo Freire aproxima o estético, o epistemológico e o social. Para ele é preciso reinventar um conhecimento que tenha "feições de beleza". (GADOTTI, 1997, p. 1, grifos do autor) A sociedade brasileira no final da década de 1950 apresentava altos índices de analfabetismo. Paulo Freire contribuiu na exposição de uma pedagogia da liberdade, fazia-se urgente a alfabetização e conscientização das massas, mais da metade da população no país eram analfabetos, muitos vivenciavam um sistema social marcado pela desigualdade e opressão. A alfabetização e a conscientização eram subsídios para mudanças nas condições de desigualdade política, cultural e social. 3 AS CONSTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA A ALFABETIZAÇÃO As ideias educacionais de Paulo Freire contribuíram no desenvolvimento de práticas de alfabetização e na organização de movimentos sociais de erradicação do analfabetismo no Brasil, no início da década de 1960. O método de alfabetização de Paulo Freire, ainda hoje utilizado em práticas de alfabetização e letramento, considera, num primeiro momento, o levantamento do universo vocabular dos grupos que são alfabetizados de modo a considerar as necessidades educacionais desses grupos, em seguida é definido temas geradores significativos para esses grupos, posteriormente são organizadas situações existenciais, com espécie de fichas roteiros, para o debate pelo grupo. Na alfabetização são utilizadas fichas que apresentam a decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos geradores. (FREIRE, 2005). O ensino por este processo visa a conscientização das pessoas para a atuação prática social. Paulo Freire considerava a cultura do povo, enfatizava a autonomia, não a imposição, no processo de aprendizagem.

6 Sempre confiáramos no povo. Sempre rejeitáramos fórmulas doadas. Sempre acreditávamos que tínhamos algo a permutar com ele, nunca exclusivamente a oferecer-lhe. Experimentávamos métodos, técnicas, processos de comunicação. Superamos procedimentos. Nunca, porém, abandonamos a convicção que sempre tivemos, de que só nas bases populares e com elas, poderíamos realizar algo de sério e autêntico para elas. Daí, jamais admitirmos que a democratização da cultura fosse a sua vulgarização, ou por outro lado, a doação do povo, do que formulássemos nós mesmos, em nossa biblioteca e que a ele entregássemos como prescrições a serem seguidas. (FREIRE 2005, p. 110) Brandão (1985), ao explicar o método de Paulo Freire, destaca o princípio da dialogicidade que era valorizado nos chamados círculos de cultura, onde eram desenvolvidos debates e aplicado o método de Freire para a alfabetização do povo: [...] todos estão à volta de uma equipe de trabalho que não tem um professor ou um alfabetizador, mas um animador de debates que, como um companheiro alfabetizado, participa de uma atividade comum em que todos se ensinam e aprendem. O animador coordena um grupo que não dirige e, a todo momento, anima um trabalho orientando uma equipe cuja maior qualidade deve ser a participação ativa em todos os momentos do diálogo, que é o seu único método de estudo no círculo. [...] muito mais do que o aprendizado individual de saber ler e escrever o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos de pensar. E todos juntos aprenderão, de fase em fase, de palavra em palavra, que aquilo que constroem é uma outra maneira de fazer a cultura que os faz, por sua vez, homens, sujeitos, seres de história palavras e idéias-chave no pensamento de Freire. (BRANDÃO, 1985, p. 43-44, grifos do autor) Paulo Freire defendia uma educação emacipatória. A tomada de consciência crítica, pelo aluno, era indispensável nessa educação coletiva. A alfabetização de adultos era um ato político, não poderia estar restrita ao conhecimento da linguagem escrita, a conscientização era importante para a vida prática.

7 [...] me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. (FREIRE, 2006, p. 19) A educação e conscientização concederiam ao homem condições para participar da história social e da própria história, uma vez que a história não estava determinada, ela se fazia pela ação do homem no social. Para Freire, tornar-se alfabetizado implicava criação ou recriação de atitudes de intervenção no meio. O educador de adultos precisava dialogar com os alunos sobre as situações concretas. 4 CONCLUSÃO As ideias educacionais de Paulo Freire foram propagadas no final da década de 1950 e início de 1960 de maneira a influenciar a criação e manutenção de diversos movimentos de educação e cultura popular que objetivaram a alfabetização das massas e diminuição dos índices de analfabetismo brasileiro, dentre eles, pode-se recordar o Movimento de Educação de Base (MEB) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os Centros Populares de Cultura (CPCs) organizados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento de Cultura Popular (MCP) relacionado a prefeitura de Recife, a Campanha de Educação Popular (CEPLAR) e o De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, da prefeitura de Natal, entre outros, em diversas localidades do país. (GALVÃO; SOARES, 2006). As contribuições de Paulo Freire se estendem à atualidade. Hoje o país possui o programa Brasil Alfabetizado na tarefa de alfabetização de jovens e adultos, muitas práticas educativas, no âmbito deste programa, vêm sendo desenvolvidas com base na educação pensada por Paulo Freire.

8 As Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná (2006) considera a educação de jovens e adultos (EJA) uma modalidade educacional com o compromisso da formação humana e acesso a cultura geral, de maneira a levar os alunos a aprimorarem sua consciência crítica e assumirem atitudes éticas e compromisso político para o desenvolvimento de sua autonomia. Considera que os alunos da EJA trazem consigo um legado cultural que deve ser considerado no contexto da dialogicidade das práticas educativas. Desse modo, enfatiza que, [...] o trabalho dos educadores da EJA é buscar de modo contínuo o conhecimento que dialogue com o singular e o universal, o mediato e o imediato, de forma dinâmica e histórica. Para que a escola possa reorganizar o conhecimento originário na cultura vivida e dar significado ao conhecimento escolar, o ponto de partida deve ser a experiência dos sujeitos envolvidos. Conforme Freire (1996, p. 38) a educação emancipatória valoriza o saber de experiência feito, o saber popular, e parte dele para a construção de um saber que ajude homens e mulheres na formação de sua consciência política. (DIRETRIZES, 2006, p. 38) Paulo Freire enfatizava que para o ensinante ensinar certo era preciso responsabilidade ética, política e profissional. O ato de ensinar exigia o dever de se preparar e se capacitar e, sobretudo, possuir uma formação que se fundasse na análise crítica de sua prática. A leitura crítica dos textos e do mundo poderia repercutir com a mudança em processo (FREIRE, 2001). REFERÊNCIAS BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1985. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2006.

9. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.. Carta de Paulo Freire aos professores. In: Revista Estudos Avançados. 15 (42), p. 259-268, 2001.. Pedagogia da autonomia. Rio de janeiro: Paz e Terra, 2011.. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; SOARES, Leôncio José Gomes. História da alfabetização de adultos no Brasil. In: A alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 27-58. GADOTTI, Moacir. Lições de Freire. Revista da Faculdade de Educação. São Paulo. Vol. 23, n. 1-2, dez. de 1997. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551997000100002&script=sci_arttext. Acesso em: 08 de out. de 2012. WEFFORT, Francisco C. Educação e Política (Reflexões sociológicas sobre uma pedagogia da Liberdade). In: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. p. 3-26. PARANÁ (Secretaria de Estado da Educação). Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba: 2006.