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Transcrição:

1 Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Estado de Sergipe www.jfse.jus.br Processo nº 0003992-47.2013.4.05.8500-3ª Vara Classe: 126 Mandado de Segurança Partes: Impetrante: SÉRGIO GOMES DOS SANTOS Impetrados: PRESIDENTE DO BANCO AMAZONIA e OUTROS CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA VISUAL. AMBLIOPIA (VISÃO MONOCULAR). CLASSIFICAÇÃO NO ROL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. SÚMULA 377 DO STJ. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. SENTENÇA SÉRGIO GOMES DOS SANTOS ajuizou o presente MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de concessão de medida liminar em face do PRESIDENTE DO BANCO AMAZONIA e OUTROS, com o fito de obter, liminarmente, a inclusão do seu nome no rol dos aprovados na condição de PCD pessoa com deficiência e, ao final, o deferimento do writ pata que seja reconhecida a sua condição de pessoa com deficiência, para o posterior provimento do impetrante no cargo de Técnico Bancário do Banco da Amazônia S/A Basa, haja vista a aprovação no certame público. Relata o impetrante que se candidatou em concurso público ao cargo de Técnico Bancário do BASA Banco da Amazônia S/A, Pólo 04 MA/TO, concorrendo às vagas como PCD PESSOA COM DEFICIÊNCIA, tendo sido convocado para fazer os exames de perícia médica no dia 13/08/2013, após o resultado das provas objetivas, sendo considerado inapto para concorrer às vagas destinadas aos portadores de deficiência visual.

2 Inconformado, ingressou com recurso administrativo, tendo sido o mesmo julgado improcedente, consoante documento acostado à fls. 41. Junta documentos de fls. 23/64. Concedi a liminar requestada, fls. 67/70, determinando a inclusão do nome do impetrante no rol de aprovados, constantes da lista de PCD pessoa com deficiência Pólo MA/TO e na lista PCD Geral, para o provimento de Técnico Bancário, até decisão definitiva de mérito. Em fls. 88/107, o Presidente da Fundação Cesgranrio, uma das autoridades ditas coatoras, presta informações ressaltando que o impetrante não possui visão monocular, mas baixa visão em um olho e visão normal no outro. Em suma, argui, preliminarmente, a inadequação da via eleita para a solução da lide, uma vez que se exige dilação probatória e a necessidade da formação de litisconsórcio passivo necessário em relação aos candidatos prejudicados; no mérito, aduz que o ato impugnado não é ilegal, pautado no Edital 01/2013, regente do concurso público em questão. A Fundação Cesgranrio interpôs Agravo de Instrumento, em face da decisão que concedeu a liminar, tendo sido o recurso improvido (fls. 181/183). O presidente do Banco Amazônia, Valmir Rossi e o Diretor de Gestão de Recursos Humanos do Banco da Amazônia, Wilson Evaristo, também prestam informações, fls. 163/168. Afirmam, em síntese, que não há qualquer ilegalidade nos atos praticados, sem qualquer ofensa direito ou abuso de poder, vez que não é deficiente físico, não fazendo o suplicante jus à classificação no rol de pessoas com deficiência. Em fls. 186/189, o Ministério Público Federal apresenta parecer e opina pela concessão da segurança. Cumprimento da decisão liminar, conforme documentos de fls. 191/192. RELATADOS, DECIDO. O direito tutelado pelo impetrante cinge-se em suspender os efeitos do ato coator praticado pelos impetrados, para permitir que o impetrante seja inserido na condição de PESSOA COM DEFICIÊNCIA PCD POLO MA/TO e GERAL, concorrendo às vagas reservadas a tal segmento, relativo ao concurso público ao cargo de Técnico Bancário do BASA Banco da Amazônia S/A. O Mandado de Segurança, como já nos adverte doutrinador de escola na matéria 1, é remédio constitucional apto à invalidação de atos de autoridade ou à supressão de efeitos de omissões administrativas capazes de lesar direito individual ou coletivo, líquido e certo. 1 Meirelles, Hely Lopes. Mandado de Segurança, Ed. Malheiros, 16ª Edição, 1995, p.23.

3 É do mesmo autor também o sabido conceito do direito líquido e certo como aquele que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da impetração 2. Assim sendo, expurgo a preliminar argüida de inadequação da via eleita, haja vista que os documentos acostados são hábeis a provar o alegado, desnecessário dilação probatória. Alegam os impetrados, ainda em sede preliminar, a premência de formação de litisconsórcio passivo necessário. No caso vertente, tenho-a por desnecessária, uma vez que não há qualquer relação de direito material a ser decidida para os demais participantes do certame nesta lide, Rejeito, pois, a preliminar. Passo à análise do mérito. A questão central ora posta cinge-se na existência ou não de fato que caracterize a deficiência do impetrante, ou seja, saber se o suplicante pode ser qualificado como PCD Pessoa com Deficiência. O decreto n. 3.298/99 regulamenta a Lei n. 7.853 e dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Nesse passo, o artigo 4º, inciso III é enfático quanto à definição de portador de deficiência visual, senão vejamos: Art. 4 o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I omissis II - omissis III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60 o ; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004) Conforme se infere dos documentos de fls. 28/29, o impetrante possui visão normal no olho direito e baixa visão no olho esquerdo, caracterizando perda parcial de binocularidade, ambliopia moderada e desvio convergente no olho esquerdo. Assim, caracterizada está a deficiência do impetrante, restando plenamente demonstrado nos autos, devendo-lhe ser garantida a proteção legal, qual seja a participação no certame público na qualidade de pessoa com deficiência. 2 op.cit, p.28.

4 Em recente julgado, o Min. Carlos Ayres Britto, em voto-condutor de acórdão da Primeira Turma do STF, enfrentou questão de fato semelhante, a qual transcrevo e cujo conteúdo utilizo para fundamentar a presente decisão: "9. No tocante ao mérito, começo por dizer que, na forma do 2º do art. 5º da Lei n. 8.112/90, "às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso". Aqui, é bom realçar que essa disposição cumpre o comando do inciso VIII do art. 37 da Constituição Federal. 10. Em seqüência, esclareço que, antes mesmo do advento do Regime Jurídico Único, fora promulgada a Lei n. 7.853, de 24.10.89, com o objetivo de estabelecer "normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência, e sua efetiva integração social" (art. 1º). E foi para regulamentar essa lei que o Presidente da República editou o Decreto n. 3.298, de 20.12.99. 11. Muito bem. De acordo com a redação original do inciso III do art. 4º do mencionado decreto, considera-se portadora de deficiência visual a pessoa com "acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20% (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações". 12. Devo anotar, agora, que o laudo médico de fls. 36, cujo conteúdo foi aceito pelas partes, revela que o impetrante tem acuidade visual de 20/40 no olho direito, sem correção, e 20/20 com correção; ou seja, visão completa com o uso da lente adequada. Já no olho esquerdo a acuidade é insignificante, praticamente nula, na ordem de 20/400, com ou sem correção. Daí a conclusão da perícia no sentido de que o requerente possui visão apenas monocular, isto é, padece de cegueira no olho esquerdo, tecnicamente chamada de ambliopia. 13. Nesse contexto, fica difícil admitir que o recorrente tem um olho melhor do que o outro, como foi dito pela autoridade coatora e admitido pela decisão recorrida. 14. Ora bem, quem tem um olho só, obviamente sofre de grave insuficiência visual. Uma insuficiência igual, na melhor das hipóteses, a 50% (cinqüenta por cento) do campo visual de uma pessoa que enxerga pelas duas janelas da alma (como se disse, alhures, dos olhos humanos). 15. Nesse rumo de idéias, nunca é demasiado lembrar que o preâmbulo da Constituição de 1988 erige a igualdade e a justiça, entre outros, "como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos". Sendo certo que reparar ou compensar os fatores de desigualdade factual com medidas de superioridade jurídica é política de ação afirmativa que se inscreve, justamente, nos quadros da sociedade fraterna que a nossa Carta Republicana idealiza a partir das suas disposições preambulares." 71 (STF - RMS 26071).

5 Patenteado está, consoante registrou o Expert, em peças de fls. 27 e 29, que o autor possui visão monocular, por ser portador de estrabismo convergente com ambliopia em olho esquerdo, com visão normal em olho direito e baixa visão em olho esquerdo, podendo ser enquadrado como deficiente físico, nos termos da decisão retro mencionada. (grifo nosso). A questão em deslinde no presente mandamus é pacífica em nossos tribunais superiores, pelo que colaciono o aresto abaixo: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 36890. Relator(a): MAURO CAMPBELL MARQUES. STJ. SEGUNDA TURMA. DJE DATA:05/12/2012. EMEN: RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. PORTADOR DE VISÃO MONOCULAR. FATO INCONTROVERSO. DEFICIÊNCIA FÍSICA. SÚMULA 377/STJ. 1. Trata-se, na origem, de mandado de segurança impetrado com o objetivo de obter sua inclusão na lista de candidatos aprovados, nas vagas destinadas a deficientes físicos, possibilitando sua nomeação, no concurso público para provimento do cargo de Analista Judiciário/Área Judiciária, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, uma vez que é portador de visão monocular. 2. Pela leitura do laudo médico apresentado pela autoridade coatora, verifica-se que houve a aplicação literal do artigo 4º, inciso III, do Decreto 3298/99, que considera deficiente visual aquele que possui acuidade visual prejudicada nos dois olhos, ou seja, considerou que o ora recorrente não se enquadrou nesta deficiência. Ocorre que a interpretação do referido Decreto não exclui os portadores devisão monocular do benefício da reserva de vagas para deficientes físicos. Assim, o referido laudo não analisou a questão da visão monocular, apenas declarou que o candidato não se enquadrava na exigência do artigo 4º, inciso III, do Decreto 3298/99 para ser considerado deficiente visual. 3. Para demonstrar a sua deficiência visual, o ora requerente apresentou três laudos médicos, onde verificou-se a presença do CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) H54.4 (cegueira em um olho ou visão monocular) e H47.2 (atrofia ótica), o que demonstra ser o ora recorrente portador de visão monocular. 4. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é pacífica no sentido de reconhecer o direito do portador de visão monocular de inscrever-se em concurso público dentro do número de vagas reservadas a deficientes físicos. Incide, no caso, a Súmula 377 do STJ: "O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes". 5. Recurso ordinário provido. Reconhecido, pois, a qualidade e o direito do postulante, enquanto portador de ambliopia, a ser considerado portador de deficiência física, para fins de disputa de vagas reservadas em concurso público, diante do exposto, não me resta seguir outro caminho senão o de JULGAR PROCEDENTE O PEDIDO, confirmando a liminar condecida, para determinar aos impetrados que procedam à inserção do nome do autor no rol constante da lista de PCD PESSOA COM DEFICIÊNCIA POLO MA/TO e na lista PCD GERAL, para o provimento do cargo de Técnico Bancário do BASA BANCO DA AMAZÔNIA S/A.

6 Sem honorários advocatícios, consoante entendimento do Egrégio Supremo Tribunal Federal na Súmula n.º 512. 7º, da Lei nº 9.289/96. Sem condenação ao pagamento das custas processuais, nos termos do art. Sentença sujeita ao reexame necessário, ex vi do disposto no artigo 14, 1º da Lei 12.016/09. P.R.I. Aracaju/SE, 26 de fevereiro de 2014. Juiz Edmilson da Silva Pimenta