A dimensão simbólica dos processos de inclusão financeira e oferta de crédito a grupos populares



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Transcrição:

XI Salão de Iniciação Científica PUCRS A dimensão simbólica dos processos de inclusão financeira e oferta de crédito a grupos populares Eleonora França Teixeira 1, Matheus Schuch de Souza A 2,Fabiano Pedroso B 1, Lúcia Helena Alves Müller¹(orientador), Ana Carolina D. Escosteguy 2 (orientadora), Cristiane Mafacioli Carvalho³ (orientadora) ¹Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS, A² Faculdade de Comunicação Social,PUCRS, B¹ Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS, 1 PG em Ciências Sócias,PUCRS (orientadora), 2 PPG em Comunicação Social, PUCRS (orientadora), ³PG em Comunicação Social (PUCRS) Resumo O projeto em questão faz parte de uma investigação mais ampla que tem como objeto às instituições, representações e práticas sociais relacionadas ao processo de crescimento da oferta de crédito e de outros serviços financeiros às camadas de baixa renda, um fenômeno marcante no Brasil dos últimos anos. Esses processos vêm produzindo dinâmicas que têm efeitos muito significativos na sociedade brasileira contemporânea cuja compreensão, constitui, por si só, grande desafio para pesquisadores da área das ciências sociais, na medida em que estão modificando os padrões de diferenciação entre as classes sociais; alterando os papéis e as relações de poder no interior dos grupos familiares; obrigando às instituições financeiras a diversificarem os mecanismos utilizados e as formas de sua comunicação com o público, fazendo, ainda com que grandes segmentos da população incorporem novos saberes e técnicas, e introduzam novas racionalidades em suas práticas cotidianas. Nesta etapa, a pesquisa enfatiza a dimensão simbólica dos processos de financeirização da vida econômica e de incremento do acesso ao crédito por parte de grupos sociais de baixa renda. Introdução O objetivo geral da pesquisa é o de compreender como os grupos sociais de origem popular, que estão sendo incorporados ao mercado de serviços financeiros (através de políticas públicas ou da ação das instituições financeiras que concorrem no mercado), vivenciam esse processo, isto é, como os indivíduos pertencentes a esses grupos incorporam os novos recursos e instrumentos financeiros que lhes estão sendo oferecidos, em seu universo 1053

simbólico e em suas práticas cotidianas. Nesse caso, o recorte analítico do popular é entendido como um dos organizadores de práticas sociais e culturais, de comportamentos, de modos e estilos de vida diferenciados na sociedade contemporânea. Os objetivos específicos desse projeto são: 1) Desvendar as diferentes formas de interação entre as instituições financeiras, em especial, as de crédito, com o público de baixa renda. Identificar como as instituições financeiras estão adequando as suas formas de abordagem e as suas linguagens, para se comunicar com esse público. 2) Identificar materiais midiáticos que versem sobre as práticas financeiras, contribuindo para a formação e consolidação de novas racionalidades na vivência cotidiana dos indivíduos pertencentes às camadas populares. Metodologia A pesquisa está sendo desenvolvida através de duas frentes de trabalho. FRENTE 1 - Abordagens e interações Enfoca a relação das instituições financeiras com o público de origem popular através da análise do uso que elas fazem do espaço urbano (localização, decoração externa, disposição interna das lojas), das linguagens institucionais adotadas (cores, símbolos, uniformes) e das formas de interação que estabelecem com os clientes (abordagem, maneiras de explicar as transações, formas de interpelação e meios de contatos). Através de uma abordagem etnográfica realizada nas ruas do centro da cidade de Porto Alegre, busca identificar os instrumentos, o material e a linguagem utilizados pelos agentes de crédito na comunicação com a população de baixa renda. Também busca-se registrar o impacto do crescimento da oferta desses serviços na paisagem urbana. A fotografia também está sendo utilizada como meio de registro e de análise do contexto das interações (espacialidade, temporalidade), bem como para a caracterização social dos sujeitos envolvidos (gênero, geração, ethos de classe, etc.). Também está sendo alvo de análise o material impresso que é distribuído pelos divulgadores das financeiras. Posteriormente, serão realizadas entrevistas com trabalhadores e clientes das instituições financeiras e com demais freqüentadores dos espaços observados, a fim de desvendar os significados sociais dessas interações. 1054

FRENTE 2 - Representações Midiáticas Associando-se à premissa de atrair público e de que a composição social da audiência deve ter alguma correspondência na sua programação, percebemos uma busca da televisão pela incorporação de segmentos sociais de baixa renda. Além disso, observamos que a televisão é reconhecida como um dispositivo de caráter pedagógico que ensina sobre o significado de práticas e modos de usar novos produtos, como, por exemplo, abrir conta em banco, ter acesso a cartões de crédito, de poupar, de obter financiamentos, entre outras. É nesse cenário que o universo popular passa a estar no foco de atenção da mídia, dado que ela percebe que esse universo tornou-se um consumidor em potencial. Assim, pretendemos observar, especificamente, essa presença na TV aberta, mostrando que o espaço midiático constrói uma representação desses grupos sociais e está interessado em que esse segmento adote determinadas normas sociais de administração da vida econômica, configurando um determinado modelo de ser consumidor. Num primeiro momento foi feito um mapeamento da programação televisiva que, misturando informação e entretenimento, dirige-se aos grupos populares, para identificar em quais deles os agentes financeiros anunciam seus produtos e serviços, ocupando o espaço comercial tradicional, sob a forma de patrocínio, de publicidade testemunhal ou merchandising. Na segunda etapa selecionamos os programas cujo registro servirá para a análise. Resultados (ou Resultados e Discussão) FRENTE 1 - Abordagens e interações Buscando identificar como as instituições financeiras estão adequando as formas de abordagem, as linguagens, para se comunicar com o público de origem popular, até esse momento foram realizadas observações em cinco instituições de financiamento, todas localizadas entre a Rua dos Andradas, Uruguai e José Montaury, na região central de Porto Alegre. Um fato que chama a atenção é a proximidade entre as mesmas, que se situam lado a lado ou frente a frente, sendo que comum se concentrarem nos mesmos edifícios comerciais. A abordagem dos possíveis clientes por parte dos promotores de venda segue alguns padrões como o uso de uniformes das empresas, as formas de apelos, o uso de gírias, bem como a busca por certos clientes: os aposentados. Encontramos diferenças nas estruturas físicas das financeiras em relação ao espaço, a decoração, a publicidade no local, bem como na organização do material de trabalho, na iluminação e limpeza do ambiente. 1055

Também foi observado que na rua a presença dos promotores de vendas dos planos odontológicos, muitas vezes supera a dos trabalhadores das financeiras. Ao circularmos pelas ruas do centro recebemos um número maior de panfletos promovendo a venda de serviços dessas clínicas do que das financeiras. A abordagem desses trabalhadores segue o padrão dos promotores de vendas das financeiras e inclusive anunciam em voz alta que o pagamento do tratamento pode ser parcelado. FRENTE 2 - Representações midiáticas No levantamento preliminar foram identificados 20 programas televisivos que, pelo horário, formato (auditório) e conteúdo podem ser caracterizados como de audiência popular, que possuem esse formato de diferentes emissoras. Durante 30 dias o grupo de pesquisa se dividiu para assistir, gravar e realizar descrições desses programas, sempre enfocando a presença ou não de publicidade financeira, realizada pelos próprios apresentadores do programa, por anunciantes específicos ou sob a forma de anúncios veiculados no espaço comercial tradicional (fora do programa). A partir desse mapeamento foram eleitos três programas que possuem as características enfocadas nessa pesquisa: Caldeirão do Huck, Domingão do Faustão e Hebe. Além do patrocínio, nesses programas encontramos a inserção de publicidade relativa a produtos e serviços financeiros integrada ao conteúdo do programa, sob diversas formas. A próxima etapa da pesquisa será o registro edições desses programas para sua posterior análise. Conclusão Nessa primeira etapa da investigação foi possível verificar que as instituições financeiras estão utilizando, de forma muito intensa, os programas televisivos dirigidos ao público popular para ofertar seus produtos e serviços, seja ocupando o espaço comercial tradicional, seja sob a forma de patrocínio, de publicidade testemunhal ou merchandising. A análise dos formatos e conteúdos desses programas e de seus anúncios servirá para se compreender melhor como essas instituições estão percebendo o público que elas querem atingir, os grupos de origem popular, e em que aspectos esse público exige diferentes estratégias de comunicação por parte dessas instituições. Em relação às observações realizadas junto às financeiras localizadas nas principais ruas do centro de Porto Alegre, observamos a existência de uma oferta diversificada de crédito e empréstimos dirigido aos grupos populares. Há visivelmente um maior interesse das 1056

financeiras pelos aposentados, que são vistos como fornecedores de crédito para toda a família. Foram realizadas conversas informais com os clientes das financeiras encontramos pessoas que se declararam arrependidas de terem contraído empréstimo, em razão das taxas de juros serem altas. Há quem solicitou empréstimos sucessivos que fizeram da dívida uma bola de neve. Um caso interessante foi o de um militar que, durante a conversa, indicou-nos uma outra financeira, de militar da confiança dele, que oferece juros mais baratos e trabalha com os melhores bancos. Durante nossas caminhadas pelo centro, recebemos material de divulgação dessa financeira. Esse material é distribuído em frente aos quartéis tanto da Brigada Militar, como do Exército, bem como em frente à sede da Policlínica Militar de Porto Alegre. O trabalho de campo continuará a enfocar as interações entre os atores deste cenário urbano, buscando avaliar em que medida pode-se encontrar homologia social (Bourdieu, 2005) entre os divulgadores/vendedores de crédito e o público ao qual esse produto é oferecido. Referências ALMEIDA, Heloisa Buarque de. Telenovela, consumo e gênero: muitas mais coisas. Bauru, Anpocs /EDUSC, 2003. ARAÚJO, Clara; SCLON, Celi (Org.) Gênero, família e trabalho no Brasil. Rio de Janeiro, FGV, 2005. AVANZA, Martina; LAFERTÉ, Gille; PENISSAT, Etienne. O crédito entre as classes populares francesas: o exemplo de uma loja em Lens. Mana v.12 n.1, Rio de Janeiro, abr. 2006. BLOCH, Maurice et al. Les usages de l argent. Terrain, Paris, v. 23, octobre 1994. BOTH, Elizabeth. Família e rede social. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976. BOURDIEU, Pierre. La fabrición del habitus económico. Critica en desarrollo. Revista latinoamericana de ciencias sociales. n.2, 2008. BOURDIEU, Pierre. O Campo econômico. Política e Sociedade. Revista de Sociologia Política, n. 6, abril de 2005. (Dossiê Estado, mercado, regulação). BRUSKI e FORTUNA. Entendendo a demanda para as microfinanças no Brasil: um estudo qualitativo em duas cidades, 2000. 1057

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