EXPRESSIVIDADE EMOCIONAL E DEFICIÊNCIA MENTAL: UMA RELAÇÃO A SER CONSIDERADA RESUMO



Documentos relacionados
SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

ABA: uma intervenção comportamental eficaz em casos de autismo

O OLHAR DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E DA TEORIA DE BASE PSICANALÍTICA SOBRE PACIENTES HIPERTENSOS NO CONTEXTO HOSPITALAR

5 Instrução e integração

COMO AS CRIANÇAS ENFRENTAM SUAS ALTERAÇÕES DE FALA OU FLUÊNCIA?

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

AUTOCONTROLE E EXPRESSIVIDADE EMOCIONAL: DESENVOLVENDO HABILIDADE DE SENTIR E EXPRESSAR-SE

A LUDICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Douglas Daniel de Amorim A PSICANÁLISE E O SOCIAL

Encontro 7 26 de agosto de 2015

Este caderno é parte integrante da Revista APM Edição n 561 -Outubro de 2005

1. Eu tenho problema em ter minhas necessidades satisfeitas

Resumo Aula-tema 04: Eu e os outros (Competência Social)

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

O BRINCAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL DENTRO DO PROCESSO GRUPAL (2012) 1

Papo com a Especialista

AS INQUIETAÇÕES OCASIONADAS NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE REGULAR DE ENSINO

IMPLANTANDO OS DEZ PASSOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL RELATO DE UMA EXPERIENCIA

Aos 4 anos. Desenvolvimento Psicológico. i dos Pais

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

A ENERGIA DO BRINCAR: UMA ABORDAGEM BIOENERGÉTICA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Construindo Relacionamentos

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Coordenadora do NPA: Profª. Ms. Elquissana Quirino dos Santos. Diretora Pedagógica: Profª Ms. Stefane Barbosa

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta *

A NECESSIDADE DA PESQUISA DO DOCENTE PARA UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA INCLUSIVA, PRINCIPALMENTE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL E NO TRABALHO COM AUTISTAS

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Serviço de Reabilitação

COLÉGIO MATER CONSOLATRIX PROJETO DE INTERVENÇÃO DE PSICOLOGIA

Terapia Cognitivo- Comportamental para Casais

Transição para a parentalidade após um diagnóstico de anomalia congénita no bebé: Resultados do estudo

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A PROMOÇÃO DE HÁBITOS SAÚDAVEIS: Um relato de experiência

Atividades lúdicas na educação o Caminho de tijolos amarelos do aprendizado.

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

Aula 1 Uma visão geral das comorbidades e a necessidade da equipe multidisciplinar

Liderança de equipes. Estudo. 6 ecoenergia Julho/2013. A indústria do petróleo e seus derivados no

Eventualmente tutores podem desafiar a coragem e independência de seus pares através de atividades de competição entre todos, mudando de vínculo

Profª. Maria Ivone Grilo

JOGOS MATEMÁTICOS PARA O ENSINO MÉDIO

FACULDADE DE CALDAS NOVAS UNICALDAS SANDRA REGINA SILVA MARTINS NÚCLEO DE ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO CALDAS NOVAS 2013

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

Planejamento de Aula - Ferramenta Mar aberto

As crianças adotadas e os atos anti-sociais: uma possibilidade de voltar a confiar na vida em família 1

Profª Iris do Céu Clara Costa - UFRN iris_odontoufrn@yahoo.com.br

Prefeitura Municipal de Santos

UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO COM FOCO NA MODALIDADE ORAL DE LINGUAGEM EM SUJEITOS COM SÍNDROME DE DOWN

MINISTÉRIO DA FAZENDA Secretaria do Tesouro Nacional TERMO DE REFERÊNCIA

JOGOS PARA O ENSINO MÉDIO1

Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Petrolina - FACAPE Curso: Ciência da Computação Disciplina: Ambiente de Negócios e Marketing

Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção e Auto-Estima

Creche Municipal Pequeno Príncipe

A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO ENSINO DAS PROPRIEDADES DE POTÊNCIAS

AFETA A SAÚDE DAS PESSOAS

GUIA PRÁTICO PARA PROFESSORES

ITECH Instituto de Terapia e Ensino do Comportamento Humano. Abuso e dependência de álcool e substâncias psicoativas. Cristina Belotto da Silva

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico.

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

INCLUSÃO: POSSIBILIDADES DA PSICOLOGIA ESCOLAR RESUMO

O PAPEL DOS JOGOS LÚDICOS PARA O DESENVOLVIMENTO POR MEIO DA COMPREENSÃO

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

Dicas que ajudam pais na escolha da escola dos seus filhos

OBJETIVO DESENVOLVER UM MELHOR CONHECIMENTO DE SI MESMO E

Atendimento Domiciliar

O que é coleta de dados?

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

Iniciando nossa conversa

Formação e Responsabilidade Profissional do Psicólogo Escolar

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NO CONTEXTO ESCOLAR

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

TERAPIA DE CASAIS. A Terapia Comportamental de Casais (TCC) é uma prática clínica

A ARTE E A IMPORTÂNCIA DE RECEBERMOS FEEDBACK

PARTE V ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

ROTINA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: INSERÇÃO DA CRIANÇA AUTISTA NO CONTEXTO ESCOLAR.

Motivação. Robert B. Dilts

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciência da Informação/Londrina, PR.

PLANEJAMENTO OPERACIONAL: RECURSOS HUMANOS E FINANÇAS MÓDULO 10

TÍTULO: PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROFISSIONAIS FORMANDOS DA ÁREA DE NEGÓCIOS DA FACIAP

Ensino Religioso História Geografia Auteridade (O Eu, Eu sou, Eu com os outros, Eu e os outros somos Nós)

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

Empreendedorismo. Tópico 1 O (a) Empreendedor (a)

Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial- 2º ano Módulo nº5- Semiologia Psíquica Portefólio de Psicopatologia Ana Carrilho- 11ºB

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL OU ATRASO COGNITIVO?

COMUNICACÃO FALA E LINGUAGEM

Transcrição:

EXPRESSIVIDADE EMOCIONAL E DEFICIÊNCIA MENTAL: UMA RELAÇÃO A SER CONSIDERADA Ana Cristina Polycarpo Gameiro Camila Carmo de Menezes Cristiane Ribeiro de Souza Solange Leme Ferreira Universidade Estadual de Londrina RESUMO Muitas pessoas comportam-se de modo ineficiente em ambientes sociais distintos, ocasionando problemas nos relacionamentos interpessoais (VILA, 2005). As interações sociais têm sido entendidas como um importante fator do desenvolvimento do indivíduo como um todo. Segundo Caballo (apud VILA, SILVEIRA & GÔNGORA, 2003), o chamado comportamento socialmente habilidoso depende de parâmetros e de contextos sociais que se modificam de cultura para cultura, não existindo um critério absoluto para a conceituação de habilidade social. O desenvolvimento deficitário de habilidades sociais compromete as interações sociais do indivíduo. Segundo Del Prette, A. e Del Prette, Z. A. P., (2001), quando a falta de habilidades sociais se torna crítica, isso pode caracterizar relações sociais restritas e conflitivas que interferem, de maneira negativa, sobre o grupo e sobre a saúde psicológica do indivíduo. Esses mesmos autores afirmam que existem diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais chamadas de habilidades sociais. Estas podem ser organizadas em seis conjuntos: habilidades de comunicação, habilidades de civilidade, habilidades assertivas, habilidades empáticas, habilidades de trabalho e habilidades de expressão de sentimento positivo. As habilidades de assertividade e expressão de sentimentos positivos são importantes, pois podem prevenir problemas de relacionamento ou mesmo garantir a autenticidade de uma relação. Portanto, estas habilidades serão detalhadas a seguir. Del Prette, A. e Del Prette, Z. A. P., (2001), caracterizam a assertividade como um tipo de enfrentamento que requer autocontrole de sentimentos negativos despertados pela ação do outro ou a expressão apropriada desses sentimentos, sendo geralmente aplicada às situações que envolvem algum risco de conseqüências negativas. A assertividade é uma habilidade importante para a construção de relações de confiança, honestas e saudáveis, e para inibir ou enfraquecer a ansiedade previamente experimentada em relações interpessoais (ALBERTI e EMMONS, 1978). Segundo Alberti e Emmons (1978), o comportamento assertivo torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento ou a exercitar seus próprios direitos sem negar os alheios.

As habilidades de expressão de sentimentos positivos são as que mais requerem coerência entre sentimento, pensamento e ação, pois as demandas de afetividade são próprias das relações em que a expressividade emocional é indispensável para a satisfação e/ou manutenção de um compromisso estabelecido ou em vias de se estabelecer. As demandas afetivas fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa saudável, contribuindo decisivamente para a qualidade de vida, o equilíbrio emocional e a harmonia entre as pessoas (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2001) Nos últimos anos, o estudo das habilidades sociais tem tido um importante papel na compreensão dos distúrbios de aprendizagem ou de desenvolvimento, como no caso da deficiência mental. Segundo a AAMR (Associação Americana para a Deficiência Mental) e DSM-IV, a deficiência mental é um estado de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior à média, associado a limitações pelo menos em dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, competências domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho (TELFORD e SAWREY, 1978). Todos os aspectos citados anteriormente devem ocorrer durante o desenvolvimento infantil para que um indivíduo seja diagnosticado como sendo portador de deficiência mental. Muito tem se falado e publicado a respeito do que sentem as pessoas envolvidas com os deficientes mentais, como pais e irmãos (ARDORE, 1988; CARVALHO, 1996; FERREIRA, 1999). No entanto, pouca ênfase tem sido dada aos sentimentos do deficiente. Porque isto acontece? Será que os sentimentos das pessoas deficientes mentais não são importantes? Ou primeiramente, será que eles sentem como a gente? Sim! Eles sentem, sofrem, choram, amam, têm saudades, ficam com raiva, ou seja, se emocionam como qualquer pessoa. Sendo assim, seus sentimentos também devem ser considerados, por serem tão importantes quanto suas ações, pois ambos são produtos das contingências vividas (SKINNER, 1978). No entanto, as emoções da pessoa com deficiência mental, usualmente, não são considerados, primeiro porque habitualmente pensamos que eles são imunes a tais aspectos dado o seu déficit intelectivo. Em segundo lugar, muitas vezes, as inadequadas expressões das emoções são vistas como parte da deficiência, inerentes a ela. Como conseqüência, há uma tendência em se amenizar as deficiências fisiológicas, motoras, cognitivas, deixando de se preocupar com as emoções e de se ensinar formas socialmente adequadas de expressão das mesmas. Uma expressão efetiva de sentimentos aumenta a probabilidade de que as necessidades de uma pessoa sejam atendidas, pois podem evocar no ouvinte alguns dos mesmos estados corpóreos que estão sendo expressos pelo falante. Quando estas mesmas emoções são vivenciadas pelo ouvinte, aumenta a probabilidade de que este se lembre de situações semelhantes por ele experenciadas, bem como dos comportamentos a elas associados. Desta forma, os ouvintes podem predizer melhor o comportamento do falante, pois passam a entender com maior facilidade o que a outra pessoa está sentindo. Conhecer bem a outra pessoa, por sua vez, envolve estar capacitado para predizer como ela agirá. Relações de intimidade parecem exigir bastante conhecimento do que esperar da outra pessoa e, por isso, exigem expressão emocional. (KOHLENBERG e TSAI, 2004). Del Prette, A. e Del Prette Z.A.P. (2001), apontam que, embora o desenvolvimento do indivíduo ocorra ao longo de todas as etapas do desenvolvimento, a infância e os

contextos familiar e escolar são momentos críticos para aprendizagens que influenciam o desempenho do indivíduo em todas as etapas posteriores. Os autores destacam a semelhança funcional que os grupos família e escola adquirem no processo de socialização da criança e como o desempenho do indivíduo nestes grupos iniciais fornece amostras de seu comportamento em outros grupos. O contexto grupal pode favorecer o desenvolvimento pessoal, pois oportuniza o relacionamento com pessoas diferentes, promove condições para a manifestação de determinados comportamentos, favorece a transposição dos ganhos para o dia-a-dia; aumenta a probabilidade de reforçamento mútuo. O grupo pode proporcionar situações de ensaio e erro, que resulta em uma maior probabilidade de lidar habilmente com as frustrações, permitindo um espaço para a discussão de assuntos pessoais, que raramente são discutidos em outros ambientes, como sexualidade, namoro e casamento. A aquisição de comportamentos socialmente habilidosos favorece o sucesso nas relações interpessoais, podendo contribuir para a desmistificação de que a deficiência mental, necessariamente, acarreta incompetência no desempenho social das pessoas nesta condição. Assim, o grupo, como um contexto propício, aliado aos recursos de expressividade proporcionados pelo teatro, cria um ambiente favorável à aprendizagem de formas adequadas de expressão de sentimentos. Desta forma, aprender a expressar seus sentimentos de maneira apropriada pode proporcionar a inclusão da pessoa com deficiência mental nos diferentes contextos sociais, ao lhe ensinar comportamentos que colaboram para sua autonomia. Diante do exposto acima e da importância de um individuo possuir um variado repertório de habilidades sociais, fez-se necessário o trabalho, em diversos laboratórios, com a expressão de sentimentos dos atores, aspecto observado como deficitário pelos coordenadores e estagiários do projeto. A expressão de sentimentos foi trabalhada através da modelagem, modelação, reforçamento positivo e feedback e inclui o treino das habilidades de assertividade (manifestar opinião, desculpar-se, admitir falha, expressar raiva, pedir mudança de comportamento e lidar com críticas) e de expressão de sentimentos positivos (expressar solidariedade e afeto). O presente trabalho realizou, em laboratórios de teatro, o treino de habilidades sociais assertivas e de expressão de sentimentos positivos em pessoas com deficiência mental. Participaram do trabalho onze deficientes mentais, com idade entre 17 e 35 anos e todos componentes de um grupo de teatro para atores especiais. O trabalho foi desenvolvido por alunos do 5º ano de Psicologia e supervisionado pela professora do departamento de Psicologia, coordenadora do grupo de teatro. Como estratégia, utilizou-se do espaço oferecido pelo laboratório de teatro para a realização de roll play, vivências, dinâmicas e debates, com a finalidade de treinar as habilidades sociais nos deficientes mentais. Diante disto, optou-se por realizar atividades visando o treinamento das habilidades sociais de comunicação (pedir e dar feedback, fazer elogios, etc), de assertividade (manifestar opinião, desculpar-se, expressar raiva, pedir mudança de comportamento, etc) e de expressão de sentimentos positivos dos atores. No decorrer destas atividades, foi discutido como os atores expressavam seus sentimentos nas mais diversas situações. As atividades desenvolvidas nos laboratórios incluíram aspectos próprios da arte, como a expressão verbal e gestual de sentimentos, revelando situações pessoais de cada ator,

seus conflitos e alegrias, contribuindo para que o deficiente mental tenha consciência de seus próprios sentimentos e do direito que tem de senti-los e expressá-los de maneira adequada, mesmo quando não são sentimentos agradáveis. Alguns atores apresentaram dificuldades de verbalizar que experimentavam sentimentos considerados negativos, como raiva, talvez por acreditarem que este comportamento seria punido. Conforme era explicado que estes sentimentos deveriam ser aceitos e expressados de maneira adequada, conseguiam relatar as situações em que os mesmos ocorriam. Pôde ser observada, a aprendizagem de comportamentos socialmente habilidosos por alguns membros do grupo, pertencentes às classes de assertividade e expressão de sentimentos, verificados através do aumento da ocorrência de comportamentos socialmente habilidosos, como expressão de sentimentos e a diminuição da freqüência de comportamentos inadequados. Estes resultados foram relatados tanto pela equipe coordenadora, quanto pelos participantes e seus familiares. O espaço proporcionado pelo grupo de teatro permitiu ao grupo de deficientes mentais uma oportunidade para se expressarem livremente. A aceitação da atividade pelo grupo deu indícios de quanto os deficientes mentais podem estar privados de contingências que favoreçam sua expressividade emocional em situações sociais. A aquisição de comportamentos socialmente habilidosos favorece o sucesso nas relações interpessoais, podendo contribuir para a desmistificação de que a deficiência mental necessariamente acarreta incompetência no desempenho social das pessoas nesta condição e, desse modo, possibilitar inclusão. Referências Bibliográficas ALBERTI & EMMONS. Comportamento Assertivo: um guia de auto-expressão. Belo Horizonte: Interlivros, 1978. ARDORE, M. Eu tenho um irmão deficiente...vamos conversar sobre isso? São Paulo: Paulinas, 1988, 107p. CARVALHO, S. Thanise, um sorriso especial. Piracicaba: UNIMEP, 1996, 123p. DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2001, p.58-101. FERREIRA,S.L. Espaço pessoal: uma necessidade dos pais de portadores de deficiência mental. Temas sobre desenvolvimento, v. 8, nº 46, setembro/ outubro, 1999, p. 41-47. SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1978. TELFORD, C. W.; SAWREY, J. M. A pessoa mentalmente retardada. In: C. W. TELFORD; SAWREY, J. M.: O indivíduo excepcional. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 227-275.

VILA, E. M.; GONGORA, M.A.N., & SILVEIRA, J.M. Ensinando repertório alternativo para clientes que apresentam padrões comportamentais passivos e hostis. In: C.G. DE ALMEIDA (Org). Intervenções em grupos: Estratégias psicológicas para a melhoria da qualidade de vida Campinas: Papirus, 2003, p. 59-81. VILA, E. M. & BORINI, P. M. Texto elaborado para fins didáticos, apresentado na disciplina Psicologia Clínica na Análise do Comportamento. 2005.