A GESTÃO DA INOVAÇÃO NO APL DE CONFECÇÃO DE TORITAMA: UM ESTUDO SOBRE A DINÂMICA PRODUÇÃO-COMERCIALIZAÇÃO



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Transcrição:

ISSN 1984-9354 A GESTÃO DA INOVAÇÃO NO APL DE CONFECÇÃO DE TORITAMA: UM ESTUDO SOBRE A DINÂMICA PRODUÇÃO-COMERCIALIZAÇÃO Jônia Marcela da Silva Lima (UFPE) Taciana de Barros Jerônimo (UFPE) Rennaly Patricio de Sousa (Insituição National Polytechnique de Grenoble) Carla Manoela Weber (UFPR) Resumo O município de Toritama passou a compor o Arranjo e Sistema Produtivo Local (ASPL) de Confecção do Agreste Pernambucano, a parir dos anos 1980, com o diferencial de produzir peças jeans. As altas taxas de crescimento econômico têm contribuíído para que o município desperte o interesse da realização do estudo uma vez que, mesmo sem investimentos públicos e incentivos proporcionais a sua importância, a cidade ganha destaque no cenário nacional por ser vista como uma fonte de emprego. Considera-se a inovação e o apoio de entidades públicas e privadas como requisitos importantes para dinamizar a economia de regiões e países. Neste sentido, o presente trabalho busca investigar a gestão da inovação no âmbito da dinâmica da produção e da comercialização dos artigos confeccionados pelas unidades fabris toritamenses. Para isto, foi realizada uma pesquisa de campo na feira livre de Sulanca, no Parque das Feiras e visitas nas unidades domiciliares de produção. Além da pesquisa de campo foi feita uma revisão bibliográfica acerca dos fundamentos teóricos que norteiam o fenônemo da aglomeração produtiva de Micro e Pequenas Empresas (MPEs), com ênfase a economia da inovação O resultou demonstrou que a atividade de confecção baseia-se fundamentalmente na produção doméstica de pequenas unidades fabris informais, instaladas no fundo de quintal, onde o ambiente de trabalho dispõe de uma infra-estrutura deficitária sem qualquer preocupação com a instalação do fabrico. Os artigos confeccionados são caracterizados como um produto de baixa qualidade e destinado a um público de baixa renda. Os produtores que não tem a preocupação no quesito

inovar, sendo a concorrência no arranjo voltada para uma competitividade espúria. Palavras-chaves: Palavras - chave: Inovação, ASPL, Toritama 2

1. Introdução A postura da política expansionista adotada no final dos anos 1990 contribuiu na proliferação de das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), constituídas sob ótica das aglomerações produtivas ou Arranjos e Sistemas Produtivos Locais (ASPLs), cuja tônica se deu através do incentivo ao desenvolvimento econômico de regiões menos desenvolvidas, como exemplo a região nordeste. É nesse contexto que o presente estudo busca analisar a aglomeração produtiva de empresas localizadas no Agreste Setentrional de Pernambuco, o município de Toritama está localizada no agreste setentrional, fica a 167 km do Recife, capital do Estado de Pernambuco, possui uma área de 34,8 km². Segundo o IBGE (2006), o município possui uma população de 35.631 habitantes, um aumento de 63,4% em relação ao quantitativo populacional do ano 2000. O censo (2000) mostrou ainda que, 29,27% da população recebe até um salário mínimo, 39,5%, recebe mais de um a dois salários mínimos, representando um total de 68,77% de pessoas que vivem com um rendimento de até 2 salários mínimos. Com relação ao nível de ensino da população, cerca de 44,5 % da população toritamense possuem apenas de um a quatro anos de estudo, ou seja, grande parte de sua população estudou apenas o ensino primário. O contingente de pessoas que tiveram menos de um ano de estudo representa 22,3%, esse resultado nos mostra que os integrantes desse grupo podem ser considerados como analfabetos ou com nenhuma instrução escolar. Já a parcela dos que estudaram até o ensino fundamental representa 23,57%. O município é visto como fonte de emprego em um raio de até 150 quilômetros, o que também o faz ter uma população flutuante formada por pessoas que diariamente se deslocam de municípios vizinhos para trabalhar em Toritama, em termos absolutos esta população é pelo menos duas vezes maior que sua população fixa, segundo estimativa do secretário municipal de Indústria e Comércio. As estimativas censitárias indicam que, os municípios de elevado fluxo de habitantes que se deslocam todos os dias para Toritama são de Vertentes e de Caruaru, sendo respectivamente seus valores percentuais de 43,3% e 36,35%. O interesse pelo estudo está associado à conjunção de vários aspectos pertinentes, dentre os quais são: 3

-A inovação se constitui como um elemento endógeno para a dinâmica de desenvolvimento das empresas voltadas para a confecção do jeans e consequentemente para o desenvolvimento de Toritama; - O crescimento da informalidade nas atividades de confecção; - A gestão ambiental dos resíduos da dinâmica do jeans. Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é analisar as práticas inovativas desde o processo produtivo empresarial e as unidades domésticas até os canais de comercialização. No sentido de auxiliar os empresários do ramo, por meio de uma gestão inovativa voltada para o melhoramento da comunicação e do valor comercial das peças de roupa confeccionadas. Para o alcance de melhores resultados empresariais, é necessário o entendimento acerca dos tipos de inovações que podem ser inseridas no setor de confecção. Sundbo (1998) categoriza a inovação em vários campos, dentre eles a inovação organizacional, que é vista como uma nova forma de gerenciamento ou de organização de qualquer empresa. Entende-se, ainda, que é o desenvolvimento de estratégias laborais orientada pela busca de flexibilidade nas empresas e mudanças organizacionais na gestão de recursos humanos para o sistema de produção de jeans. Neste sentido, a educação (treinamento e capacitação) deve fazer parte de uma ação organizacional planejada de modo sistemático, que possibilita a aquisição de habilidades motoras, atitudinais ou intelectuais, assim como o desenvolvimento de estratégias cognitivas que podem tornar o indivíduo mais apto a desempenhar suas funções (Borges- Andrade, 2002). 2. Fundamentação Teórica As aglomerações produtivas são fundamentadas por quatro veretente teórica:a economia neoclássica, economia dos negócios, a economia regional, a economia da inovação. 2.1 A Economia neoclássica Essa abordagem está baseada nos pressupostos da teoria neoclássica. A análise dessa vertente admite que o surgimento das aglomerações produtivas ocorre devido às economias crescentes de escala. Segundo Campos (2004) o aumento de escala é originário das externalidades positivas geradas pelo fato das empresas estarem localizadas próximas geograficamente. Os adeptos dessa concepção analisam as aglomerações produtivas com base nos distritos industriais marshallianos O economista Alfred Marshall (1985) foi um dos 4

importantes e primeiros estudiosos a defender a idéia que as externalidades positivas produzem retornos crescentes de escala. Para Marshall há dois tipos de fatores que contribuem com os retornos crescente de escala, são eles: i) as economias externas, as quais são provenientes do desenvolvimento industrial; e, ii) as economias internas que estão vinculadas com a organização e a eficiência administrativa da empresa. No estudo das organizações industriais, Marshall enfatizou as principais vantagens competitivas decorrentes da concentração de empresas, tais vantagens foram destacadas por Carvalho (2008) da seguinte forma: i) a concentração de empresas em áreas próximas contribui para que haja a disponibilidade de mão-de-obra especializada, permitindo benefícios para os trabalhadores e as empresas; ii) a localização produtiva permite o surgimento de atividades subsidiárias de fomento à industria, ocorrendo ainda o fornecimento de implementos, equipamentos, materiais e organização do comércio; iii) indústrias subsidiárias que o processo produtivo é dedicado às grandes firmas podem obter a vantagem de empregar máquinas sofisticadas; e, vi) as empresas próximas geograficamente tem a vantagem de compartilhar os conhecimentos com as outras empresas ligadas à ela. 2.2. A Economia dos Negócios Um dos autores que fundamentou contribuição teórica da abordagem da Economia de Negócios ou Economia das Empresas foi Michael E. Porter (1990). A sua análise evidenciou as vantagens competitivas e as estratégias de competição para entender a unidade do negócio e o ambiente externo. Segundo Carvalho (2008) entende-se por vantagem competitiva a capacidade de criar e aplicar conhecimento e tecnologia à competição industrial (p.23). Porter identificou as estratégias e as relações comerciais de uma indústria através de cinco forças competitivas: i) a rivalidade entre concorrentes; ii) a ameaça da entrada de novos competidores; iii) a ameaça de produtos substitutos; iii) o poder de barganha dos fornecedores; e, iv) o poder de barganha dos consumidores. 2.3. A Economia Regional Os autores que participam da abordagem da Economia regional toma como base o processo de formação dos aglomerados produtivos das regiões da Itália e da Europa, além de tratar dos bens nontradables. Nesta vertente, as Micros e Pequenas Empresas (MPEs) atuam cooperando entre si proporcionando entre as firmas economias de escala. Segundo Andrade (2008) as diferentes 5

formas de cooperação são analisadas não apenas pela troca de informações entre funcionários e relações formais de parcerias, mas principalmente o ambiente institucional. Afirmou ainda que, as empresas criam, com a ajuda de associações e dos governos regionais e locais, instituições responsáveis pela geração e oferta de bens coletivos. Tais instituições têm como funções elementares o treinamento, a pesquisa, o desenvolvimento, o marketing e coordenação de aquisições coletivas (p.69). As pequenas empresas contam com o incentivo de governos seja no âmbito local ou regional para estimular a cooperação e contribuir para a segurança dos agentes econômicos. 2.4. A Economia da Inovação A vertente que trata da Economia da Inovação sofreu grandes influências de Schumpeter. Posteriormente, a literatura da inovação contou a contribuição dos neoschumpeterianos/evolucionistas, os quais dentro da perspectiva inovativa compõem a base teórica acerca dos Arranjos Produtivos Locais (APLs). A compreensão dessa corrente busca explicar a dinâmica capitalista enfatizando a rapidez e a contínua mudança dos processos produtivos estimulados pelos avanços tecnológicos que têm provocado rupturas e criado estruturas modificações nas velhas. Segundo Andrade (2008) os adeptos dessa concepção abordam a inovação por meio de sistemas nacionais, setoriais, regionais e locais. De acordo com Cassiolato e Lastres (2005) sistemas de inovações engloba um conjunto de instituições e organizações que buscam contribuir para o desenvolvimento econômico através dos avanços tecnológicos. Essa vertente considera importante o espaço territorial em que as empresas situadas próximas geograficamente cooperam entre si e interagem compartilhando aprendizado e progressos técnicos. A concepção do desempenho inovativo está relacionada com a existência de ligações entre as empresas e organizações de ensino e pesquisa, no sentido de processo de produção, difusão e uso de conhecimento. Campos (2004) destacou que a inovação pode ocorrer em diversas aspectos, não se referindo apenas a introdução de novos processos, como também a produtos, na administração, formas organizacionais da empresa e relações comerciais. Andrade (2008) mencionou que há dois tipos de inovação: i) a radical que refere-se ao desenvolvimento de um novo produto, processo ou organização; e, ii) a incremental que corresponde a melhoria sem grandes modificações. 6

Dentro da concepção dos APLs, o processo de inovação ocupa um papel importante influenciando no aprendizado interativo entre os agentes, para contar com o apoio institucional na difusão dos avanços tecnológicos. Nas palavras de Andrade (2008) a matriz institucional exerce função primordial, pois quando numa região existem organizações que interagem de modo regular em torno das questões importantes para a inovação e a competitividade das empresas elas conseguem gerar uma dinâmica regional de aprendizado (p.73) Assim sendo, a partir da contribuição teórica dessa corrente para os APLs, na seção seguinte busca-se entender esse fenômeno na economia a partir de um estudo de campo realizado no município de Toritama. 3. O arranjo de confecção do Município de Toritama O surgimento do aglomerado de confecção do Agreste Pernambuco remonta ao final da década de 1940, a partir de indícios de produção no município de Santa Cruz do Capibaribe quando ainda era um distrito de Taquaritinga do Norte (ANDRADE, 2008). Segundo Cabral (2007) os municípios de Jataúba, Santa Cruz do Capibaribe, Brejo da Madre de Deus, Taquaritinga do Norte, Toritama, Caruaru, Vertentes, Frei Miguelino, Santa Maria do Cambucá, Vertente do Lério, Casinhas e Surubim compõem o ASPL de confecção do Agreste Pernambucano. Esses municípios que também se localizam no semi-árido nordestino, dispõem de características geofísicas semelhantes e convivem com problemas como: a seca e a pobreza que castiga a sua população Antes de tais municípios constituírem um ASPL de confecção, a maior parte da população sobrevivia da agropecuária que, devido às condições climáticas desfavoráveis dificultava a melhoria de renda havendo um grande contingente de mão-de-obra excedente que, sem grandes expectativas no campo migravam para as cidades na tentativa de conseguir algum emprego. Diante este cenário, a costura doméstica foi ganhando força como fonte alternativa de renda familiar. A costura doméstica constituía uma tarefa desempenhada pelas mulheres de baixa renda que costuravam em suas residências como meio de obtenção de renda e, também, por se tratar de um afazer feminino e um costume interiorano. Nesse sentido, aprender a costurar fazia parte da educação feminina. Muitos enxergavam nesse arranjo a possibilidade de melhoraria de vida. A população do município de Santa Cruz do Capibaribe foi pioneira do 7

Agreste Pernambucano no ramo de confecção, no início da atividade têxtil, não recebia investimento por parte dos governos locais. Mais tarde, a confecção se destacou no estado pelo preço competitivo das peças de roupa e aos poucos se consolidaram mercadologicamente. Uma das iniciativas de mostrar a qualidade do produto em sua fase de introdução no mercado foi a criação da feira da Sulanca. Esta iniciativa foi de grande importância no sentido de fornecer o aumento da produção e o financiamento para as costureiras que sem condições de comprar à vista puderam adquirir os tecidos através da forma de pagamento à prazo. Sendo assim, a agricultura, até então atividade econômica principal do município, não mais propiciava os ganhos necessários para sobrevivência, e aos poucos, foi sendo substituída pelas vendas e produção doméstica de roupas. Com relação às vendas, houve uma expansão nos locais de comercialização ao longo dos anos da cadeia produtiva do jeans. Na primeira fase as vendas dos produtos confeccionados foi marcada pela informalidade, as vendas ocorriam nas ruas de Santa Cruz do Capibaribe e em outras cidades do interior de Pernambuco e do Nordeste. Com a evolução do ASPL houve a expansão para outras cidades, como Caruaru e Toritama. O comércio se expandiu de tal forma que houve a inauguração de lojas modernas e shoppping centers, além de abranger os três pólos comerciais do agreste. Com o desenvolvimento do comércio houve uma diversificação no segmento do vestuário, como moda praia, surf, streetwear e moda íntima, além da criação de marcas próprias. Dessa forma, as mercadorias buscavam atingir os mais diferentes consumidores de classes sociais variadas. Como forma de entender a cadeia têxtil-confecção do Agreste Pernambucano, especificamente a produção de jeans em Toritama, a figura 1 mostra a organização dessa estrutura. No início da cadeia, têm-se os fornecedores de insumos, bens de capital, aviamentos e o material necessário para confeccionar as peças jeans, como: os botões, as etiquetas e o zíper. Na etapa seguinte, têm-se as firmas de confecções que normalmente subcontratam as firmas faccionistas. Na terceira etapa as peças jeans são encaminhadas para a estamparia e as lavanderias e, posteriormente, recebem o acabamento final. As mercadorias prontas são comercializadas nos três centros comerciais que são: O Pólo Comercial de Caruaru, o Parque das feiras em Toritama e o Moda Center em Santa Cruz do Capibaribe; nos interiores das cidades circun-vizinhas, pelos sacoleiros, varejista locais e de outras regiões do país, lojas, boxes e até mesmo em shopping centers da capital Recife. 8

Sendo assim, pode-se observar que a organização da cadeia produtiva da indústria têxtil e de confecção envolve diversos elos de cadeias produtivas bastante complexas. Segundo Nascimento (2006) as etapas que mais se destacam na inserção de novos avanços tecnológicos são o segmento da fiação e a tecelagem, pois são os passos que requerem mais investimento em capital. Outra parte que se destaca em melhoramento do aparato tecnológico, são as de desenho e de corte. Estes são feitos a partir da utilização do CAD (Computer Aided Design) e do CAM (Computer Aided Manufacturing). Figura 1: Cadeia Produtiva do APL de Confecções do Agreste Pernambucano 9

FONTE: Adaptado de Cabral (2007) 4. Metodologia Para a execução da pesquisa foram utilizadas fontes de dados secundários e dados primários, este último foi resultado da pesquisa de campo no município de Toritama. A partir da pesquisa de campo conseguiu-se a obtenção de uma amostra representativa de 29 unidades de produção. O alvo para a aplicação dos questionários foram os empresários proprietários. Entretanto, a amostra aleatória foi diversificada em: empresários feirantes e lojistas, na qual, 14% dos questionários foram realizados juntos a gerentes, 21% com os funcionários da loja e 65% com os empresários-proprietários. Sendo 48% dos entrevistados do sexo feminino e os outros 52% do sexo masculino. O resultado obtido expôs um percentual relativamente maior de homens administrando, e uma há predominância de mulheres na parte da costura. Nessa perspectiva, a grande maioria dos fabricos são liderados pelo proprietários com o auxílio do cônjuge, havendo também a participação de outros entes familiares na empresa (83%), este índice se comporta da seguinte forma: 58% dos entrevistados responderam que em sua empresa há de 10

um a três membros de sua família; de quatro a seis familiares obtém-se o resultado de 37%; e, mais de oito familiares é representado pelo percentual de 5%. Os membros familiares desempenham as mais variadas funções, como: vendas, criação, corte, gerência e produção. Em contrapartida, apenas 17% responderam que não havia nenhum familiar que trabalhava na empresa. No tocante ao grau de escolaridade constatou-se que dentro da amostra consultada, 97% dos entrevistados sabiam ler e escrever e os outros 3% eram considerados analfabetos. As pessoas entrevistadas que não concluíram o primário e o secundário, correspondem ao percentual de 58%, ratificando a idéias do elevado nível de evasão escolar nesses dois níveis. O ensino primário completo foi de 21%, o secundário completo foi de 14% e, apenas, 7% corresponde ao ensino superior incompleto. Não foi mencionada por nenhum dos entrevistados a conclusão do ensino superior. No que se refere às grandes decisões a serem tomadas na empresa, 70% dos proprietários entrevistados revelaram a importância da participação dos familiares nos momentos de tomadas de decisões da firma. Segundo Cabral (2007) o compartilhamento de decisões é bastante significativa para o proprietário, pois o ajuda a refletir melhor nas suas escolhas. Mesmo com o elevado percentual de empresários que decidem com o auxílio dos familiares (70%), 11% responderam que cabe ao proprietário juntamente com seus gerentes se posicionarem nos momentos de deliberações. Entretanto, 19% dos proprietários alegaram tomar decisões importantes sozinhos. 4.1 Caracterização das unidades de produção Das 29 unidades fabris consultadas, 24% podem ser reconhecidas como pequenas empresas e, 76% são consideradas como microempresa. Observou-se que, dentre as unidades produtivas investigadas 72% são informais, enquanto apenas 28% são consideradas formais. A grande maioria das organizações se encontra em uma situação irregular, pois com a regularização muitos produtores não conseguiriam sobreviver com a fiscalização e os encargos tributários a cumprir. Além da predominância da informalidade, o mercado confeccionista é caracterizado pela livre entrada de novas unidades produtivas no comércio. Segundo Andrade (2008) a inexistência de barreiras no segmento de confecção pode ser atribuído ao baixo custo de instalação exigido, a precariedade da infra-estrutura nos fabricos e a simplicidade do processo produtivo. Fato evidenciado, pois dos 29 fabricos visitados 66% eram instalados dentro do 11

domicílio do proprietário. Os outros 34% correspondem as fábricas localizadas em prédios comerciais. É importante ressaltar que a organização do espaço de produção é bastante caótica. O ambiente de trabalho dispõe de uma infra-estrutura precária sem qualquer preparação para a instalação do fabrico. Dessa forma, a estrutura física do local de trabalho deixa a desejar, no que diz respeito às condições de iluminação, ventilação, a acústica, a higiene e as instalações elétricas que são deficitárias e inadequadas. Os funcionários são submetidos a conviver nesse espaço sendo mal remunerados e executando jornadas de trabalhos exaustivas (CAMPOS et. al., 2009). A pesquisa revelou os dados acerca do número total de empregados nas unidades fabris, nos quais 73% de microempresas que contratam com até 19 funcionários. Para as pequenas empresas que possui acima de 20 funcionários correspondem ao percentual de 49%. Nesse intervalo três unidades de produção responderam que havia respectivamente 65, 68 e 75 funcionários trabalhando. Os funcionários em sua maioria (86%) trabalham irregularmente deixando de contribuir com as obrigações trabalhistas como: Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho e Serviço (FGTS), férias, décimo terceiro salário, licença maternidade, de saúde, entre outros. Uma característica importante no aglomerado é a relação de subcontratação. Neste sentido, 67% das unidades fabris não fazem todas as etapas do processo produtivo, as quais recorrendo às subcontratações (facções que são unidades domiciliares que executam uma ou mais etapa(s) do processo produtivo, como o risco, corte, costura de peças, caseamento, lavagem, tingimento, dentre outros). Dentre as etapas subcontratadas sobressai à atividade de costura com o percentual de 64%, seguido pela estamparia 18%, a lavanderia 14% e as aplicações 4%. O restante (33%) elaboram todas as etapas do processo produtivo. De acordo com Andrade (2008) as relações de subcontratações configuram-se como um fator de flexibilidade das relações de trabalho. Os subcontratados trabalham conforme o nível de demanda e, muitas vezes, são criados vínculos dependentes ficando impedidos de estabelecer qualquer tipo de negociação com os empresários, como: a formação de preços, a quantidade e a quem vender. 5. Gestão da inovação nas unidades de produção em Toritama 12

Do ponto de vista empresarial, as organizações que inovam, são consideradas mais dinâmicas, alcançam uma maior rentabilidade e criam seus próprios nichos de mercado por meios de patentes e segredos industriais (TIGRE, 2006). Os avanços tecnológicos constituemse em um processo de busca de conhecimento e de aprendizado, bem como de ganhos de produtividade e competitividade empresarial. Os artigos de vestuário confeccionados pelas unidades de produção do arranjo de Toritama são caracterizados segundo a os proprietários das unidades de produção, a demanda pelos seus produtos ocorre da seguinte forma: 17% dos empresários consultados atribuíram ao produto diferenciado, 19% à qualidade, porém 64% citaram que era devido ao preço. Percebese que apenas 17% dos entendem como importante a diferenciação do produto no mercado através das inovações. Dessa forma, a concorrência no arranjo é considerada como uma competitividade espúria, não sendo respaldada na lógica do processo inovativo. Percebe-se que, o atributo preço se sobressai perante os demais, sendo este uma característica que não apresenta um caráter sustentável no longo prazo. A inovação tecnológico sim, constitui um elemento importante para as empresas permitindo um desenvolvimento a longo prazo e uma vantagem competitiva duradoura. As peças confeccionadas, em sua grande maioria é um produto que imita marcas famosas, moda atual e segue conforme a tendência positiva de aceitação do produto pelo mercado consumidor. São poucas as empresas que conseguem fabricar um produto novo para o mercado nacional e até mesmo a nível local. 5.1 O papel das instituições financeiras locais Nos últimos anos as micros e pequenas empresas têm assumido uma importância na economia, exercendo poder no estabelecimento de preços no mercado e intensificado sua atuação, mesmo sem contar com o apóio institucional proporcional à sua participação econômica (CEZARINO & CAMPOMAR, 2006). Contudo estas empresas não possuem instrumentos de apoio suficientes para a eficácia na produtividade do jeans, uma vez que há tímida relação dos mesmos com as instituições financeiras locais. A pesquisa acusou que no que se refere ao financiamento, 64% dos entrevistados nunca havia recorrido a qualquer um tipo de empréstimo, o capital aplicado na empresa é de origem própria. Numa menor proporção os outros 36% responderam já ter 13

tomado e/ou tomam empréstimo, sendo 20% junto ao Banco do Nordeste, 13% na Caixa Econômica Federal e 3% no Banco do Brasil. De maneira geral, os empresários argumentaram que a burocracia é um dos principais obstáculos de acesso ao crédito, desestimulando o interesse dos empresários a recorrer a essas formas de financiamento. Entretanto, como as unidades de produção funcionam na ilegalidade a liberação desses recursos tornam-se difíceis, pois estas instituições se utilizam de comprovações de garantias oficiais. Assim, os confeccionistas, principalmente os proprietários de micro e pequenas empresas informais ficam impedidos de conseguir o financiamento desejado. Dentre os créditos mais requisitados, destacam-se o: Financiamento de Máquinas e Equipamentos (FINAME) e o Proger Giro-Renda. O FINAME corresponde a uma linha de crédito destinada as empresas de grande porte (existindo uma modalidade de crédito especial com menor burocracia para as empresas menores) para investimento em construção, ampliação, reforma, aquisição de máquinas, equipamentos, imóveis, utensílios e compra de veículos ( ANDRADE, 2008, p. 139) O Proger Giro-Renda é uma linha de crédito mais ampla destinada para aumentar o capital de giro tanto de pessoas físicas quanto jurídica. Tendo em vista a predominância de empresas irregulares, a Caixa Econômica Federal oferece ainda uma linha de crédito denominada de Empreendedor Popular, voltada para as os proprietários de empresas de porte menor e de caráter informal. 5.2 A comercialização e o apoio institucional aos produtos A pesquisa empírica nos revelou que apesar da forte especialização de Toritama na fabricação de jeans, encontra-se também, roupas de malhas produzindo para adulto e infantojuvenil, vestidos, blusa feminina e camisa masculina. Mesmo sabendo que o município é considerado um grande produtor de peças jeans, das vinte e nove unidades fabris consultadas, apenas 7 produzem roupas jeans, enquanto as outras 22 unidades de produção fabricavam vestuários em malhas. Na aplicação do questionário para se saber o total em termos percentuais de vendas em peças por mês em relação a 2007 e 2008. Os dois períodos de grandes encomendas: em meados de junho e dezembro, 39% dos proprietários confeccionista indicaram que venderam entre 1.000 a 2.000 peças. 14

Para a efetivação da comercialização os produtores não só de Toritama, mas do arranjo como um todo, não conta com algum tipo de contrato formal ou informal com os compradores. Dessa forma, não há nenhum tipo de mecanismo que assegure a execução e o cumprimento desses contratos. Muitas vezes, os produtores de porte menor se prejudicam com essa prática, pois se um cliente fizer uma encomenda e porventura desista, não há nenhum tipo de contrato que assegure o confeccionista. A relação de comercialização, nesse caso ocorre com base na confiança. A grande parte dos clientes são denominados de sacoleiros, isto é, são pessoas de outros estados e até mesmo do estado de Pernambuco que vão até a feira livre e/ou Parque das Feiras em Toritama para comprar as peças confeccionadas por preços inferiores e retornam ao seu local de origem para revende-las. A comercialização dos artigos das micro e pequenas empresas são realizadas nas feiras dos três municípios do arranjo (Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama), além do parque das feiras de Toritama. Essas três feiras são os principais pontos de venda, pois grande parte da produção é negociada nelas. No caso de Toritama, a feira realizada no município acontece sempre as segundas e terças-feiras e é considerada uma atividade estratégica que dinamiza a economia local. Em 2002, foi construído o Parque das Feiras por empresários do município sendo localizado em frente à feira livre, sendo considerado o maior centro de comercialização de confecção de Toritama e um dos maiores do Nordeste, possui 11 mil metros quadrados (5 mil de área coberta e 6 mil para estacionamento), 500 boxes e 110 lojas distribuídas pelos dois galpões, uma praça de alimentação com restaurantes e lanchonetes, guichês bancários, banheiros e uma rádio comunitária (ANDRADE, 2008). A partir de 2003, o Parque das Feiras passou a ser administrada pela Associação dos Lojistas do Parque das Feiras de Toritama (ALPF), contando com 150 associados que colaboram com uma taxa de arrecadação mensal para ser mantida pela iniciativa privada. Desde então, o Parque das Feiras tem buscado melhorar a comercialização. Para isso, numa iniciativa pioneira no APL a ALPF realizou a organização do Festival do Jeans, um evento que logo alcançou uma importância no âmbito nacional e internacional, fato este que pode ser ratificado pela continuidade do evento que já está em sua nona edição. O festival é montado na área externa do Parque das Feiras e normalmente atrai em torno de 1,5 mil pessoas de outros estados para assistir aos desfiles das coleções dos lojistas e fabricantes 15

locais, os quais também montam seus stands para a comercialização de pronta entrega e fechamento de negócios (ANDRADE, 2008) Além da ALPF, o município conta com a Associação Comercial e Industrial de Toritama (ACIT) que foi criada recentemente no final de 2004 e início de 2005 pelos empresários líderes que careciam de um órgão formal de apóio para fornecer um suporte ao desenvolvimento da atividade confeccionista local. A ACIT é considerada uma entidade patronal composta por empresários formais, donos de lavanderias, comerciantes do ramo de confecção (em menor expressão), que desde sua criação vem crescendo o número de sócios (cerca de 50 para 100) e desempenhando um papel importante no município. Embora a ACIT em sua composição seja formada por produtores de maior porte e formais, a entidade busca a inserção de confeccionistas informais para englobar o maior número possível de os produtores que fazem parte do aglomerado. São oferecidos treinamentos, palestras e cursos de capacitação para melhorar o desempenho da atividade de confecção do município. Contudo, a cultura empresarial local, prejudica o trabalho da ACIT, pois os produtos de menor porte (os que mais necessitam de um apóio institucional) são os que mais resistem em participar dos programas oferecidos pela entidade. Além do baixo nível de interação existente entre os empresários e as instituições locais, a pesquisa revelou ainda que, a cooperação no arranjo apresenta-se de forma muito inexpressiva, sendo muito baixo o nível de cooperação. Cerca de 19 empresários entrevistados responderam que não há cooperação, acordos e trocas de informações com os outros produtores locais do arranjo. Em contrapartida, 7 responderam que procura se interagir e compartilhar com os concorrentes, porém eles destacam que ocorre com maior freqüência entre amigos e familiares A comercialização dos artigos confeccionados ocorre nos dois principais centros de comercialização de Toritama: o Parque das feiras e a feira da sulanca, ambos recebem um grande número de compradores locais, de outras estados e até mesmo de outras regiões. O estudo mostrou que 90% das unidades têm a sua produção voltada para atender a demanda outros estados do nordeste e até mesmo outras regiões fora dele. Dentre os estados mais citados pelos proprietários 64% da produção é voltada pra a Bahia, 18% para o Maranhão, 11% Rio Grande do Norte e 7% Minas Gerais. Outros estados citados foram: Espírito Santo, Sergipe, Paraíba, Manaus, Piauí e Belém. Os outros 10% são comercializados apenas para o estado de Pernambuco constituindo um relevante mercado consumidor. 16

Com relação ao mercado externo encontrou-se que apenas 5 unidades de produção que já haviam exportado, sendo que essas exportações ocorreu de forma esporádica. Entre os países mencionados foram, Estados Unidos, Angola e Portugal. O mercado internacional ainda é pequeno, inexpressivo e ainda há um conjunto de limitações que contribuem para dificultar o seu acesso. Dentre as restrições cita-se, por exemplo: a dificuldade de se comunicação, as barreiras comerciais impostas pelos países importadores, a baixa qualidade dos produtos confeccionados e a acirrada concorrência de produtos no âmbito nacional e internacional. Uma das grandes dificuldades é atender as exigências e conquistar o mercado internacional superando a acirrada concorrência, dada a necessidade de se conseguir atingir o padrão exigido. Uma das formas de se enquadrar e conseguir novos nichos de mercado seria por meio das inovações. 6. Considerações finais O debate sobre os APLs permite identificar componentes fundamentais na sua caracterização, os quais pode-se citar: a dimensão territorial, a diversidade de atividades e atores envolvidos, o conhecimento tácito, o aprendizado, a governança, a cooperação e a dinâmica inovativa. A ênfase do presente trabalho foi dada ao município de Toritama, porém com diferencial de se especializar em peças jeans. O aglomerado de confecção de Toritama é assentado na produção doméstica de pequenas unidades fabris informais, instaladas no fundo de quintal. Essas unidades de produção são eminentemente de caráter familiar, as quais produzem peças de baixo valor agregado - a sulanca onde é comercializado para atender o mercado popular local, dos estados do Nordeste e até mesmo fora da dele. A partir desses componentes supracitados e análise de sua presença nesse aglomerado, observa-se que existe um baixo nível de cooperação, inovações e apoio de entidades institucionais, dificultando o arranjo em desenvolver vantagens competitivas e sinergias coletivas duradouras. O baixo nível de cooperação existente entre os agentes econômicos envolvidos, aliado a um tímido esforço na busca de melhorias inovativas e uma resistência das unidades de produção - as que mais precisam do apoio de entidades institucionais em recorrer a sua ajuda, contribui para diminuir o grau de eficiência das empresas do arranjo de Toritama 17

perante o mercado altamente competitivo e que buscam agregar cada vez mais inovações tecnológicas. De maneira geral, a comercialização se volta para atender um público de baixo poder aquisitivo que são atraídos pelos preços. As unidades de produção se mantém no mercado de modo informal e com base na concorrência espúria dificultando uma a sua inserção de forma competitiva para superar outros nichos comércio que prezam pelos avanços tecnológicos, diferenciação dos produtos e, para isso conta com o apoio de órgãos capazes para lhe fornecer o suporte necessário para tal anseio. Nota-se que é necessário o aumento do nível de qualificação para aqueles indivíduos que já concluiram o ensino básico. No sentido de promover maiores chances da inserção destas pessoas no mercado de trabalho pelo maior nível de conhecimentos, segundo os autores Mole e Mole (2008), o que garantirá melhores salários e condição de vida aos mesmos. Isto se torna relevante, na medida em que, a qualificação profissional assegura a participação de inovações nas empresas, com recursos humanos criativos, proativos, críticos, inovativos, produtivos e com conhecimentos chaves para a busca desse novo contexto. Contudo, ainda há muito de se fazer para que o arranjo seja reconhecido como um aglomerado eficiente e forneça uma sustentabilidade no longo prazo ao ritmo de expansão que o arranjo de confecção de Toritama vem se desenvolvendo. Isso só será possível se o município entender como importante a qualificação de sua mão-de-obra na geração de processos inovativos seja no âmbito organizacional, produtivo, comercial e no lançamento de novos produtos; assim como, no estreitamento de relações que buscam a cooperação entre os agentes econômicos envolvidos no arranjo. A própria cultura organizacional deve estar alinhada para o estabelecimento do treimanento e capacitação e uso intensivo dos trabalhadores multifuncionais devem possuir um canal de comunicação, interno e para além da empresa. Este será outro passo a ser dado pelas empresas de confecção de jeans em Toritama. REFERENCIAS COSTA, A.B.; COSTA, B. M. Cooperação e capital social em arranjos produtivos locais. Disponível em: <www.anpec.org.br/encontro2005/artigos/a05a113.pdf.>. Acesso em: maio de 2009 18

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