Inovações Curriculares em Educação a Distância: Contribuições da Disciplina Educação e Sexualidade à Formação de Educadores.



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Transcrição:

Inovações curriculares em Educação a distância:contribuições da disciplina educação e sexualidade à formação de educadores. 1 Sonia Maria Martins de Melo 2 Carla Sofia Dias Brasil 3 Márcia de Freitas 3 Mário José da Conceição Júnior 3 Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC Por meio de pesquisas de cunho qualitativo, está se buscando levantar as possíveis contribuições da inserção da disciplina Educação e Sexualidade ao currículo do Curso de Pedagogia na modalidade a distância CEAD/UDESC, na perspectiva dos/as alunos e alunas da Turma Piloto e Turma II (3000 alunos/as). Pesquisa esta realizada por meio de leitura de produção escrita pelo alunado, denominada Reflexões sobre as contribuições da disciplina Educação e Sexualidade à minha prática pedagógica, produzido pelos membros do corpo discente após o término da disciplina em tela. Por meio da análise de conteúdo dos textos que compõem a amostra, está se buscando identificar categorias ligadas a temática Educação e Sexualidade subjacentes a essa produção escrita e que apontem ou não para práticas pedagógicas transformadoras. Procura-se também avaliar o processo de construção de competências do profissional em formação na questão da produção de textos reflexivos. Na seqüência do processo, está sendo realizada a reflexão teórica sobre o resultado da análise das categorias encontradas, com a produção de relatório que possa subsidiar a re-orientação curricular e pedagógica, tanto da disciplina quanto do Curso de Pedagogia como um todo. Nessa etapa da caminhada investigativa surgiu com bastante ênfase a categoria de professor reflexivo, bem como são fortes os indícios de que os objetivos da disciplina, calcados numa perspectiva emancipatória de Educação Sexual, estão sendo atingidos. Palavras-chave: Educação Sexual, Formação de professores, Pedagogia, Educação a Distância, Professor reflexivo. Inovações Curriculares em Educação a Distância: Contribuições da Disciplina Educação e Sexualidade à Formação de Educadores. Em 2001 a Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC/Centro de Ensino a Distância CEAD, cria o curso de Pedagogia na modalidade a distância para atender em uma nova perspectiva a formação dos profissionais da educação catarinenses, curso este hoje com 13000 alunos. Busca alcançar especialmente os/as professores/as de nosso estado que ainda não possuem graduação, dando ênfase curricular à necessidade da 1 Projetos de pesquisa com bolsistas de Iniciação Científica, ligados ao Mestrado em Educação e Cultura/UDESC, e ao grupo de pesquisa Formação de Educadores e Educação Sexual. 2 Professora Doutora em Educação, orientadora das pesquisas. 3 Bolsistas PIBIC/CNPq, acadêmicos de Pedagogia

2 relação dialética entre teoria e prática na formação dos profissionais da educação. Estimula a relação constante, crítica, sobre teoria e prática pedagógica, como uma das competências exigidas para um profissional de qualidade para a educação, aquele que não seja um mero reprodutor de verdades, mas se coloque como um sujeito construtor de conhecimentos. Nesse contexto e nessa mesma abordagem é inserida no currículo do curso a disciplina Educação e Sexualidade, como espaço de sensibilização para a temática, com seus 45 créditos, acrescentando a essa práxis uma proposta de educação sexual compreensiva numa perspectiva emancipatória, ou seja, como o próprio Caderno Pedagógico da disciplina coloca, [...] na intenção de superar os modelos postos anteriormente e possibilitar, assim, a construção de um novo olhar para a sexualidade (Melo e Pocovi, 2002, p. 63). Na disciplina referida o paradigma emancipatório proposto e trabalhado procura conduzir o aluno à reflexão sobre as possibilidades e limites da construção de um processo intencional de educação sexual compreensiva nos vários modelos e sistemas de educação, e principalmente no cotidiano da sala de aula. Busca a disciplina ainda possibilitar ao educando refletir e apropriar-se de sua corporeidade - entendida como unidade de existência e de suas escolhas, de forma saudável e responsável, expandindo o espaço para o exercício de sua cidadania. Nessa perspectiva também é apresentado como conteúdo a ser debatido a Declaração Mundial dos direitos sexuais como direitos humanos universais, considerando que somos todos cidadãos sexuados sempre, em constante processo de educação sexual, consciente ou não. Portanto, a inserção da disciplina Educação Sexual dentro da caminhada do Curso de Pedagogia na Modalidade a Distância da UDESC surge estreitamente alinhada com a proposta básica do referido curso, ou seja, a de instigar o debate e a reflexão crítica acerca do fazer pedagógico de professores e professoras, buscando subsidiar sua qualificação. O Grupo de Pesquisa Formação de Educadores e Educação Sexual acompanha a inserção pioneira e o desenvolvimento da disciplina Educação Sexual no Curso de Pedagogia na Modalidade a Distância da UDESC, por meio de pesquisas de cunho qualitativo desde a sua primeira Turma, a Piloto, que já concluiu o curso e que nesse momento está sendo trabalhada em

3 pesquisa específica através do acompanhamento da prática pedagógica de seus egressos. Isto está sendo possível pela análise de textos produzidos pelos discentes(230) ao final da disciplina, textos esses denominados Contibuições da disciplina Educação e sexualidade á minha prática pedagógica. Após a leitura dos textos da Turma Piloto foram identificadas algumas em pré-categorias as quais foram organizadas em uma tabela com nome do aluno, região, núcleo, quando então foram sendo categorizando os indicadores encontrados nos trabalhos. Aos poucos foi possível compreender como a disciplina conseguiu abriu novos caminhos para o repensar da prática pedagógica desses egressos, no que se refere educação sexual que está sempre ocorrendo no processo educacional. Foi feita então uma segunda leitura, para que fossem selecionados 12 ex-discentes, todos/as professoros/as, numa amostra intencional, baseada no desvelamento das categorias professor reflexivo e educação sexual emancipatória que estavam mais evidentes nos textos desses profissionais, ao refletirem sobre sua prática pedagógica. O objetivo dessa nova etapa será o de aprofundar o estudo, acompanhando especialmente a prática pedagógica nessa amostra no seu cotidiano escolar no que tange ao tema educação sexual e suas expressões pedagógicas. Na seqüência dos contactos com os/as professores/as escolhidos, foi usado como instrumento de pesquisa um questionário de perguntas abertas, previamente elaboradas e testadas, por acreditar que o mesmo possibilitaria estabelecer um contato mais aprofundado com esses/essas educadores/as. Após o primeiro contato por telefone com esses/essas egressos/as, esclarecendo o objetivo da pesquisa, foi solicitada a sua colaboração e enviado o questionário com quatro questões que abordavam o seu processo de educação sexual em várias etapas de suas vidas tais como: na família e na escola quando crianças e adolescentes, bem como a fase adulta (mãe, pai, filho/a, esposa/o), como professor/a antes e depois do curso de pedagogia e, conseqüentemente, antes e depois da disciplina. Os questionários foram enviados pelo correio, com envelope já preparado para a devolução:dez questionários retornaram dos vinte enviados e estão sendo trabalhados por meio de análise de conteúdo, segundo BARDIN

4 (1979). Foram separadas então as respostas das perguntas pela numeração das mesmas, para facilitar a análise dos dados e classificamos as que apontavam para uma prática reflexiva, buscando uma abordagem emancipatória de educação sexual. Dentre os/as egressos/as que participaram do questionário definiu-se que os respondentes seriam as amostras finais para um estudo de caso mais detalhado de suas vivências no cotidiano escolar, através de visitas de observação ao seu local de trabalho e entrevistas com cada um/a dos/as educadores/as escolhidos/as. Em outra pesquisa está sendo acompanhada a Turma II no que se refere a disciplina Educação Sexual já cursada. Isto também é feito através da leitura dos textos reflexivos produzidos pelos/as alunos/as dessa turma ao final das 45 h/aula, abordando as contribuições da disciplina Educação Sexual à prática pedagógica dos/as mesmos/as. A leitura dos textos foi muito rica, uma experiência ímpar. Verificar que a Educação Sexual está sendo debatida, refletida por 3.000 educadores (Turma II em todo o Estado Catarinense) que estão procurando novas práticas pedagógicas, de maneira mais humana e mais compreensiva, deixou o Grupo de Pesquisa estimulado a prosseguir com esse trabalho. A princípio 3.000 textos pareceu um trabalho exaustivo e quase impossível, mas quando ocorreu o mergulho total na leitura, a tarefa tornou-se prazerosa e gratificante. Durante a leitura do material produzido pelos/as alunos/as utilizando como instrumento a metodologia da análise de conteúdo de Bardin, emergiram nesse processo pré-categorias, tanto ligadas mais a teoria após o estudo da disciplina, com todo seu material de apoio pedagógico ( caderno pedagógico, vídeo, seminários pela tv...), como à explicitação de práticas pedagógicas que já utilizavam e que a disciplina ampliou, ou práticas mais emancipatórias e intencionais, que, graças a disciplina, puderam os/as educadores/as incorporar no seu cotidiano escolar. Essas pré-categorias que foram levantadas, inicialmente da região da Grande Florianópolis (320 textos) subsidiaram o trabalho para a leitura das outras regiões do estado, as quais foram divididas no que se convencionou

5 chamar de relatos ligados à teoria ou á prática, subdividindo-as em teoria pura e teoria sugerida ou prática sugerida e prática vivenciada. A teoria pura foi arbitrada como sendo aquela expressa pelo texto onde o/a aluno/a faz uma síntese da teoria apreendida na disciplina. Na teoria sugerida, o/a aluno/a consegue dialogar com a teoria estudada e rever posições para uma possível atitude prática, como se verifica no fragmento de um dos textos que segue: Não nos cabe mais a discussão sobre a necessidade da Educação Sexual. É ponto pacífico em todos os níveis e classes sociais. É hora, sim, de discutirmos qual a maneira mais conveniente de fazêla. Prática sugerida foi denominada a pré-categoria na qual o/a aluno/a sugere no seu texto uma possível aplicação à teoria lida, como vemos a seguir em um trecho de outro dos textos por eles/as produzidos. Sendo assim, o professor deve se mostrar disponível para dialogar e responder as dúvidas de forma direta e esclarecedora. Durante um debate, deve conduzir as discussões, evitando emitir opiniões pessoais que possam ser vistas como modelo a ser seguido inibam possíveis questionamentos. Devemos auxiliar os alunos na orientação e no desenvolvimento do tema, mas sem expor opiniões próprias. Prática vivenciada é então a denominação dada quando o/a aluno/a coloca em seu texto uma reflexão que expressa uma prática da teoria estudada, como podemos ver no trecho do texto abaixo. Uma forma de proporcionar essa liberdade é trabalhar a privacidade e a individualidade de cada aluno que tem dúvida mas não consegue vencer sua timidez e expôs suas dúvidas, criamos na segunda série a caixinha das perguntas que teve o nome dado pelos próprios alunos, onde os alunos colocam suas dúvidas, perguntas e todo final da semana é aberta pela professora e respondida por todo o grupo. Totalizados 3000 textos refletindo sobre a disciplina, sobre sua prática pedagógica antes da disciplina, durante a disciplina e depois da mesma, o trabalho foi desafiador e realizado em um ano inteiro de pesquisa que, após essa etapa das pré-categorias, conseguiu chegar ao delineamento de categorias que se desvelaram com muita força dos textos lidos.

6 Uma categoria especialmente destacou-se nos textos produzidos por esses/as educadores/as: a categoria Professor Reflexivo -, paralela a da categoria emancipatória de Educação Sexual Compreensiva - que dá uma dimensão mais abrangente à análise realizada. Perrenoud (2002, p.15), ressalta que a referência ao Profissional Reflexivo pode parecer insólita quando se trata de ensino, principalmente porque a relação com os saberes científicos como bases da ação profissional é muito diferente daquilo que se observa na engenharia ou medicina, por exemplo. Diz ainda que para formar um Profissional Reflexivo deve-se formar um profissional capaz de dominar sua própria evolução, construindo competências e saberes novos ou mais profundos a partir das suas aquisições e experiências, cabe lembrar que o reflexivo aqui é um questionamento metódico, regular, para uma tomada de consciência e mudanças (Perrenoud, 2002, p. 42), onde os alunos a partir de práticas de sala de aula, vividas e relatadas, relacionadas com a teoria vista na disciplina, analisam a ação já ocorrida, ponderando como executá-la em uma próxima ocasião, de outro modo mais adequado àquela situação. O primeiro nível de profissional reflexivo que surgiu no debate sobre as leituras realizadas, principalmente tendo como cúmplice neste momento Perrenoud, foi o refletir durante a ação: é quando a ação ocorre e a seguir realizamos uma rápida reflexão mental de como, quando agir, o que muitas vezes resulta até em uma prática equivocada por parte do profissional, devido ao pouco tempo que esse dispõe para a reflexão-ação. Como observamos no relato de um dos 3.000 discentes do Curso: Como docente vivi uma experiência enriquecedora em apenas uma aula de ciências com meus alunos da 2ª série. Certa manhã tinha planejado trabalhar as partes do corpo humano, inicialmente pedi que as crianças escolhessem o colega mais tímido da sala, uma aluna que aqui vamos chamar de Maria, foi escolhida. Expliquei então a atividade. Maria ficaria deitada em cima de um papel e nós iríamos contorná-lo logo as crianças iriam desenhar o que estava faltando no corpo de Maria. Foi então que começaram as brincadeirinhas sobre a mamica da Maria, ou a pomba, xexeca, enfim variedades de dizeres populares que as crianças aprendem em casa, na rua, com os vizinhos e outros. A aula tomou outro rumo, o objetivo de ensinar apenas as partes do corpo, passou a ser explicar os nomes científicos e que todos aqueles ditos

7 anteriormente eram apelidos inventados pelas pessoas por terem vergonha, ou falta de informações sobre os verdadeiros nomes. Utilizei as mesmas gírias antes ditas pelas crianças, mas acrescentei o nome correto. Temos que ter consciência que fazer críticas e gozações sobre a forma que os alunos perguntam irão inibi-los e afastá-los cada vez mais de nossas aulas, esclarecer com simplicidade na medida correta sem se perder em grandes explicações acompanhando o ritmo dos alunos é a forma mais correta de trabalhar a sexualidade. O que se torna mais evidente principalmente na área da sexualidade, onde tudo é considerado feio e proibido, é que há uma cobrança maior na velocidade e intensidade da atitude a ser tomada. Mas leituras feitas, foram verificados vários casos assim, onde o profissional toma uma atitude equivocada, como por exemplo, se você continuar fazendo isso na sala de aula eu corto sua mão, ao ver seu aluno de 04 (quatro) anos em atitude autoerótica durante sua aula. Refletir durante a ação exige um trabalho mental mais demorado, ponderando realmente qual tática utilizar, perguntar-se o que realmente está acontecendo, o que podemos e devemos fazer, que desvios e precauções temos que tomar, que riscos corremos etc. (Perrenoud, 2002, p.30-31). O nível refletir sobre a ação ou distante da ação já é algo bem diferente: nesse caso tomamos nossa própria ação como objeto de reflexão, seja para compará-la a um modelo prescritivo, o que poderíamos ou deveríamos ter feito, o que outro profissional teria feito, seja para explicá-la ou criticá-la. O/a professor(a) reflete sobre a teoria vista, sem efetivamente relacioná-la com sua prática, onde a assimilação ocorre em uma primeira fase, assimilação e acomodação da teoria, para depois em outras ocasiões levar isso para a prática de sala de aula, como expressou uma das alunas do curso, em um dos textos por nós lidos: Diante disso, penso que o educador ficará mais a vontade em tratar do assunto sem medo de represálias, pois percebo que na minha prática pedagógica costumava ter medo e cuidava no que falava para não criar situações embaraçosas com os pais. Essa postura está completamente errada, agora percebo, mas até então eu não estava preparada e não sabia ao certo como trabalhar o assunto com as crianças, que por sua vez, demonstram estar interessadas. Sempre que ocorria algo na sala relacionado à sexualidade costumava desconversar, mudar de assunto, ou dava uma explicação não me aprofundando na questão. Agora sei que devo responder suas perguntas, sanar dúvidas, mas mesmo assim ainda tomo cuidado, pois os pais e a direção da escola onde leciono não

8 foram conscientizados, e portanto não deixaram de ter uma visão preconceituosa. Por isso, a necessidade sentida de aprofundar o estudo com Perrenoud sobre a categoria Professor Reflexivo, percebendo esses/as educadores/as em vários níveis de práticas pedagógicas mais reflexivas. Como exemplo de reflexão no calor da ação: Quando vi Sabrina e Joaquim pelados no banheiro e se beijando, não pude esconder meu choque, que logo foi percebido pelos dois. Trataram de se vestir como se estivessem fazendo algo de errado. (Professora B) Já aqui está a reflexão distante do calor da ação: Hoje, após o estudo da disciplina, agiria de forma diferente. (Professora A) Só agora percebo como foi preconceituosa e castradora com aquelas crianças. Mas já consigo conversar com eles, tratar sua curiosidade naturalmente... (Professora B) A reflexão sobre o sistema de ação ocorre em muitos dos relatos: Lembrando de como foi minha educação, e hoje, estudando a disciplina, percebo como repetia com meus alunos o que minha professora fazia comigo. (Professora C) Mas o mais importante nesse trabalho, até esse momento, tem sido verificar que o objetivo da disciplina Educação Sexual está sendo alcançado: a Educação Sexual na UDESC em EAD está ajudando a formar profissionais que debatem, refletem e praticam ações emancipatórias em todos os níveis de reflexão, dando à temática a dimensão humana emancipatória com a qual ela deveria ser sempre trabalhada. Como subsídios para a reorientação curricular e pedagógica da disciplina e do curso foram levantados alguns indicadores até agora: - há necessidade de inserir mais incisivamente no processo de construção de competências do profissional de educação em formação a categoria do professor reflexivo; - novas metodologias devem ser criadas que estimulem a formação de um profissional crítico, enfatizando esta competência. Os escritos desses/as educadores/as apontaram, a necessidade de refletir sobre sua própria educação sexual, e modo como vêem educando seus/as alunos/as para depois construírem projetos intencionais de uma

9 educação sexual que se pretenda compreensiva e emancipatória. A reflexão faz-se necessária, em todos os seus níveis, para que possamos estabelecer um trabalho dialógico e emancipatório, considerando necessidades, saberes e a vivência de nossos educandos. Fica clara a necessidade do aperfeiçoamento do processo de formação continuada dos/as profissionais da educação, incluída aí a educação Sexual compreensiva, para que possam construir cada vez mais o hábito da reflexão no seu planejamento e no seu cotidiano escolar, abandonando de vez práticas pedagógicas retrogradas, ultrapassadas, onde o educando é visto como um simples receptor de conhecimentos, homogeneizado e classificado, desconsiderando totalmente sua bagagem emocional, cultural e familiar. A Educação Sexual é uma dimensão humana e como tal deve ser tratada explicitamente nos currículos escolares, sendo trabalhada do nascimento à morte do indivíduo. Não há cidadania onde seres humanos são cerceados em seus direitos mais básicos, incluídos aí os seus direitos sexuais. E refletir criticamente sobre todo esse processo vivencial é direito e dever de cada profissional da educação. Referências NUNES, Cesar Aparecido. Desvendando a sexualidade. Campinas: Papirus, 1987. 101p. MELO,S.M.M. e POCOVI, R. M. S. Caderno Pedagógico- Educação e Sexualidade. Florianópolis: UDESC, 2002. PERRENOUD, Philippe. A prática Reflexiva de Professor: profissionalização e Razão Pedagógica. Porto Alegre: Artmed Editora, 200.