DIREITOS HUMANOS, POLÍTICAS PÚBLICAS E CIDADANIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM TERESINA/ PI



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Transcrição:

DIREITOS HUMANOS, POLÍTICAS PÚBLICAS E CIDADANIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM TERESINA/ PI Rosilene Marques Sobrinho de França 1 Maria D Alva Macedo Ferreira 2 1. INTRODUÇÃO Este texto examina as categorias direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e adolescentes, consistindo em um breve estudo acerca de como estas se apresentam após a Constituição Brasileira de 1988, procurando responder às seguintes indagações: que relações podem ser traçadas entre os conteúdos de direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e adolescentes pós-constituição Federal de 1988? Quais os mecanismos de legitimação e efetivação desses direitos? Como os direitos humanos de crianças e adolescentes são tratados considerando a execução da política de Proteção Social Especial de Média Complexidade a crianças e adolescentes? Que análises podem ser feitas a partir dessas reflexões? Desse modo, faz-se uma abordagem teórica a partir de dados empíricos relacionados à execução da política de Proteção Social Especial de Média Complexidade a Crianças e Adolescentes em Teresina/PI, procurando perceber a inter-relação entre as categorias em estudo apresentando um demonstrativo das ações dos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), o que permite fazer um contraponto entre os direitos legitimados através do ordenamento jurídico e a concretização desses direitos. O presente artigo está dividido em três partes. A primeira contém análise dos delineamentos das categorias direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e 1 Graduada em Direito. Especialista em Direito e Processo Civil pela Universidade Católica Dom Bosco/MG e em Gestão de Cidades pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Mestranda em Políticas Públicas pela UFPI. 2 Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC. Profª. adjunta nível III do Curso de Serviço Social e do Mestrado em Políticas Públicas na Universidade Federal do Piauí; membro pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Infância, Adolescência e Juventude e do Núcleo de Pesquisa sobre Questão Social e o Serviço Social.

2 adolescentes pós-constituição de 1988 considerando a questão social brasileira, na segunda, uma análise da inter-relação entre os conceitos em estudo a partir de dados empíricos da política de assistência social no âmbito da Proteção Social Especial de Média Complexidade a crianças e adolescentes em Teresina-PI, e, na terceira, uma abordagem da relação que esta estabelece com o Sistema de Garantia de Direitos. Esta pesquisa é eminentemente qualitativa, com base em um estudo bibliográfico e documental, compreendendo-se, assim como May (2004), que a pesquisa qualitativa envolve um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam trabalhar os componentes de um sistema complexo de significados que têm por base a realidade social. O presente trabalho utilizou-se de instrumentos e técnicas que enfatizaram um estudo analítico e interpretativo visando explicitar as principais questões teórico-metodológicas pertinentes ao tema. Quanto às estratégias metodológicas, os dados utilizados foram construídos a partir de informações contidas no Senso SUAS/ 2009, desenvolvido pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) 3 em todos os municípios brasileiros, além de documentos referentes à execução da política de assistência social em Teresina, quais sejam: planos, relatórios, etc, sendo que a síntese dos resultados é feita a partir da condensação em tabelas, cujas análises têm como referência os marcos regulatórios da política de assistência social e estudos acerca das categorias ora trabalhadas. 2. DIREITOS HUMANOS, POLÍTICAS PÚBLICAS E CIDADANIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PÓS-CONSTITUIÇÃO DE 1988 Os estudos de Ariés (1981) demonstram que, na Idade Média, não havia um sentimento de infância como entendemos hoje, visto que o trabalho fazia parte do processo de educação, e a inserção da criança expressava-se na adoção dos mesmos padrões de comportamento do mundo adulto. A defesa das peculiaridades da criança enquanto ser em desenvolvimento, de acordo com Ariés (1981), passou a ser disseminada com a constituição do modelo de família burguês no século XVIII, sendo que, segundo Machado (2003), pode-se destacar como marco importante da 3 Órgão do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) responsável pelo monitoramento e avaliação da política de assistência social.

3 evolução da concepção contemporânea de direitos humanos da criança e do adolescente a Declaração Universal dos Direitos da Criança, que apresenta uma concepção de criança considerada sujeito de direitos em virtude do reconhecimento de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Os argumentos ora apresentados coadunam-se com os ensinamentos de Bobbio (1992) acerca do direito enquanto construção histórica que tem marco importante no Estado Moderno, sendo que delineamentos posteriores trouxeram para o campo legal institucional e das relações sociais a concepção de cidadão e seus direitos, sendo estes paulatinamente, acolhidos pelo ordenamento jurídico dos Estados, de forma que, atualmente, o problema não está em definir ou fundamentar a natureza dos direitos humanos da criança e do adolescente, mas em saber qual a maneira mais eficaz de defendê-los e concretizá-los. A concepção de cidadania decorrente dessas transformações no âmbito do direito remete a um enfrentamento da questão social, que, na definição dada por Castel (1998), constituise em um conjunto de expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe trabalhadora relacionando-se com a divisão da sociedade, enquanto expressão das desigualdades sociais da sociedade capitalista, em decorrência das disparidades econômicas, políticas e culturais da classe social, sendo constituída a partir das transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas na Europa no século XIX, quando se observou significativo distanciamento entre o crescimento econômico e o aumento da pobreza. Considerando a ordem liberal oligárquica presente no Brasil antes da Constituição de 1988, pode-se perceber, assim como Faleiros (1995), que a intervenção do Estado mostrava-se paternalista e autoritária frente à infância vitimizada, o que reproduzia a exclusão e acentuava as desigualdades sociais. Para Benevides (1994), a cidadania democrática pressupõe a igualdade diante da lei, bem como de condições sócio-econômicas básicas, para garantir a dignidade humana. Nesta perspectiva, muitas são as questões que impedem a construção da cidadania no Brasil, entretanto, Telles (1996) nos apresenta que estas são aprofundadas no contexto do modelo econômico neoliberal adotado no país nas últimas décadas. Considerando a questão social brasileira que envolve a infância e a adolescência, pode-se perceber um campo de múltiplas violências e violações de direitos que afetam a população infanto-juvenil de várias formas, especialmente as classes populares. De acordo com

4 Lima (2001) e Frazão (2007), estas estão relacionadas à ausência de enfrentamento dos problemas sociais em sua universalidade, o que nos faz pensar a necessidade da implementação de políticas públicas voltadas, sobretudo, para a redução de desigualdades sociais. Assim, podese perceber que a questão social que envolve a infância e a adolescência no Brasil está relacionada, principalmente à pobreza, situação de rua, abandono, violência institucional, intra e extra-familiar. A presente análise nos remete a outra mais específica acerca do ordenamento jurídico brasileiro pós-constituição Federal de 1988, oportunidade em que são suscitadas as seguintes questões: como os direitos humanos de crianças e adolescentes são apresentados no texto constitucional? Em decorrência disso, que aspectos da legislação infraconstitucional legitimam a proteção, defesa e controle dos direitos humanos da criança e do adolescente? Como esses direitos são efetivados? Para tanto, far-se-á uma breve análise do texto constitucional, procurando perceber os fundamentos básicos dos direitos humanos de crianças e adolescentes pós-constituição Federal de 1988, além de reflexões acerca de aspectos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Sistema de Garantia de Direitos da criança e do adolescente e da política de assistência social no que se refere à legitimação e efetivação desses direitos. Analisando o artigo 227 do texto constitucional, percebe-se que os conceitos de criança e adolescente postos no ordenamento jurídico brasileiro coadunam-se com o adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que demonstra a sintonia da legislação brasileira com as discussões de âmbito internacional no que se refere a essa matéria. É perceptível então que, a partir da Constituição de 1988, foram adotados critérios específicos para a implementação de políticas públicas voltadas para as crianças e adolescentes, sem distinção de raça, classe social ou qualquer forma de discriminação, passando esse segmento social a ser sujeito de direitos, considerado em sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento e a quem se deve assegurar prioridade absoluta na formulação e implementação de políticas públicas, visando, sobretudo, à construção e exercício da cidadania. (MACHADO, 2003). Considerando os argumentos apresentados, podem ser postas as seguintes indagações: qual a relação entre direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e adolescentes pós-constituição Brasileira de 1988? Como está sendo operacionalizada a proteção, defesa e controle dos direitos humanos de crianças e adolescentes?

5 O Estatuto da Criança e do Adolescente regulamentou e assegurou os direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988 no que tange aos direitos da criança e do adolescente, de modo que os princípios norteadores para a elaboração daquele documento pressupõem uma compreensão de criança e de adolescente como sujeitos de direitos fundamentais com absoluta prioridade de proteção pelo Estado, pela família e pela sociedade em geral. Fazendo uma breve análise do texto do Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere aos dispositivos que tratam da promoção, defesa e controle de direitos, verifica-se que, no âmbito da promoção, podem ser destacadas a prioridade do direito à convivência familiar e comunitária, a integração e articulação das ações governamentais e não-governamentais junto à política de atendimento, bem como a instituição dos mecanismos de participação destacados por Gohn (1991), através das instâncias colegiadas nos níveis federal, estadual e municipal, além da municipalização do atendimento, implicando a adoção de um conjunto de políticas públicas especialmente nas áreas de educação, saúde e assistência social, visando ao acesso a formas de vida mais justas e mais humanas. Nesse sentido, a instituição dos mecanismos de participação através das instâncias colegiadas nos níveis federal, estadual e municipal é materializada nos conselhos de direitos da criança e do adolescente, os quais são órgãos paritários onde devem ser contemplados os anseios do Estado e da sociedade como forma de promover a proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. Desse modo, a promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes é efetivada de forma intersetorial, articulando as políticas públicas e integrando ações, tendo como sujeitos sociais os Conselhos de Direitos, compostos por organizações representativas da sociedade civil e de órgãos governamentais, com a função de deliberação e controle social. No âmbito da defesa de direitos, o título VI do ECA regulamenta a proteção do direito de crianças e adolescentes em face dos crimes e infrações cometidas em decorrência de abuso do poder familiar, das autoridades e dos responsáveis pelas crianças e adolescentes, além da garantia do devido processo legal e defesa ao adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional. O atendimento aos direitos humanos de crianças e adolescentes, em conformidade com o artigo 86 do ECA, operacionaliza-se através de políticas públicas, especialmente as sociais, através da execução de programas contendo medidas de proteção de direitos humanos, de modo que a defesa dos direitos de crianças e adolescentes caracteriza-se pela garantia do acesso à

6 justiça e aos mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos da infância e da adolescência, de forma a assegurar a estes impositividade e exigibilidade. Através da defesa dos direitos humanos desse segmento social, com base no artigo 194 do ECA, pode-se responsabilizar pelo não atendimento, pelo atendimento irregular ou pela violação dos direitos da criança e do adolescente, mediante a atuação dos Conselhos Tutelares, do Juizado da Infância e da Juventude, da Defensoria Pública, das Secretarias e órgãos de Segurança e Justiça, do Ministério Público e dos Centros de Defesa. O controle da efetivação dos direitos humanos de crianças e adolescentes estabelece a vigilância sobre o cumprimento da legislação para a garantia desses direitos, exigindo o controle das ações públicas de promoção e defesa, o qual se fará através das instâncias públicas colegiadas próprias, nas quais se assegure a paridade da participação de órgãos governamentais e de entidades sociais, tais como: conselhos dos direitos de crianças e adolescentes, conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas, os órgãos e os poderes de controle interno e externo, sendo que o controle social é exercido pela sociedade civil, através das suas organizações e articulações representativas. (BRASIL, 2006). Analisando a relação entre direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e adolescentes no Brasil pós-constituição de 1988, pode-se destacar como importante aspecto a descentralização das políticas púbicas, contudo observa-se, de acordo com Arretche (2002) e Draibe (1990), que os recursos destinados à execução destas não são compatíveis com o enfrentamento das necessidades sociais. Nesse sentido, observa-se que, apesar de constitucionalmente serem universais, a execução dessas políticas é destinada apenas a uma parcela mais vulnerável, podendo-se destacar como importante aspecto, nesse contexto, a privatização dos serviços, sendo o enfrentamento da questão social feito com a participação de setores privados. Nesse sentido, os problemas sociais que envolvem a infância e a adolescência relacionados à pobreza, situação de rua, abandono, violência institucional (intra e extra-familiar) são enfrentados principalmente através de um conjunto de políticas sociais, dentre as quais daremos especial enfoque à política de assistência social a partir de dados empíricos de seu processo de implementação no município de Teresina/PI, como forma de oportunizar algumas reflexões acerca da relação entre direitos humanos, políticas públicas e cidadania de crianças e adolescentes pós-constituição Brasileira de 1988.

7 3. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ÂMBITO DA PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE A CRIANÇAS E ADOLESCENTES Considerando as políticas públicas de enfrentamento da questão social brasileira, destaca-se como importante a política de assistência social, a qual com a Lei Orgânica da Assistência Social, a Política Nacional de Assistência Social e a regulamentação do Sistema Único da Assistência Social, passou a ter seus serviços e programas pautados em proteções afiançadas, ou seja, descentralizadas, em que cada ente federativo exerce seu papel, sendo organizada em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. (BRASIL, 2005a). As pessoas e famílias atendidas pelo serviço de Proteção Social Básica, de acordo com Sposati (2004), apresentam fragilidade nos vínculos familiares, situação de pobreza e ausência de pertencimento social em face de discriminação étnica, etária, de gênero, por alguma deficiência, sendo que a Proteção Social Especial atende àqueles indivíduos cujos direitos foram violados e que estão em situação de risco social. Cabe salientar que a Proteção Social Especial de Média Complexidade é uma forma de atendimento direcionado a pessoas e famílias cujos direitos foram violados, porém os vínculos familiares e afetivos não tenham sido rompidos, enquanto a de Alta Complexidade atende àquelas pessoas e famílias que tiveram seus direitos violados e que estão com vínculos rompidos ou sob ameaça de rompimento. (BRASIL, 2005b). Neste sentido, no âmbito da promoção dos direitos de crianças e adolescentes, com a descentralização da política de assistência social, o modelo de gestão plena oferece serviços de Proteção Social Básica e Especial para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e/ou risco social, tais como ações socioeducativas e atendimentos para vítimas de exploração e/ou abuso sexual, abrigos, albergues, moradias provisórias e família acolhedora, dentre outros. (BRASIL, 2005b). Os serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade a crianças e adolescentes são ofertados no conjunto das ações de atendimento às pessoas/famílias com seus direitos violados desenvolvidas pelos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), que referenciam o atendimento às pessoas que sofrem violações de direitos, favorecendo um atendimento socioassistencial em rede, aumentando a efetividade das ações, na

8 perspectiva de sua integralidade. Assim os CREAS devem ofertar atendimento especializado e continuado às pessoas/famílias que sofrem violações de direitos, através o atendimento em grupo por equipe multiprofissional que permitam a inclusão das pessoas atendidas nos serviços das diversas políticas públicas, bem como orientação jurídica que favoreça o acesso ao Sistema de Justiça. 4. A POLÍTICA DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE EM TERESINA-PI E A RELAÇÃO COM O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Para atender às demandas vinculadas à Proteção Social Especial foram criados os Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), que ofertam serviços de enfrentamento à violência, abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes, de orientação e apoio especializados a indivíduos e famílias com seus direitos violados, serviços de orientação e acompanhamento a adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade. (BRASIL, 2004). Em Teresina, os CREAS I e II foram implantados em 2007 e 2008, respectivamente, buscando atender às situações de risco e de violações de direitos de pessoas e famílias. De modo geral, os CREAS devem manter estreita relação com o Sistema de Garantia de Direitos, que, na concepção de Ferreira (2004), compreende as instituições governamentais e a participação da sociedade civil organizada, propondo políticas para área da infância e da juventude e exercendo o controle sob o processo de implementação dessas políticas, com atuação na defesa e garantia dos direitos desses segmentos sociais. De acordo com Brasil (2006), o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal. Compete ao Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente promover, defender e controlar a efetivação dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos e difusos, em sua integralidade, em favor de todas as crianças e adolescentes, de modo que sejam reconhecidos e respeitados como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar

9 de desenvolvimento, colocando-os a salvo de ameaças e violações a quaisquer de seus direitos, além de garantir a apuração e reparação dessas ameaças e violações, (BRASIL, 2006). Desse modo, o Sistema de Garantia de Direitos articula-se com todos os sistemas nacionais de operacionalização de políticas públicas, especialmente nas áreas da saúde, educação, assistência social, trabalho, segurança pública. Assim, o CREAS tem como público alvo crianças, adolescentes, jovens, mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiência, público LGBTTT, minorias em geral e suas famílias, que vivenciam situações de ameaça e violações de direitos em decorrência de abandono, preconceitos, violência física, psicológica ou sexual, exploração sexual comercial, situação de rua, vivência de trabalho infantil e outras formas de submissão a situações que provocam danos e agravos a sua condição de vida e os impedem de usufruir de autonomia e bem-estar. (TERESINA, 2008). Partindo de um contato com o objeto de estudo, passamos a apresentar alguns elementos dessa aproximação conceitual e empírica de modo que a tabela a seguir apresenta um demonstrativo das ações dos CREAS de Teresina, em relação ao atendimento a crianças e adolescentes. Tabela 1 Tipologia das violações atendidas pelos CREAS em relação à criança e ao adolescente TIPOLOGIA DA VIOLAÇÃO PÚBLICO-ALVO/ SEGMENTO CRIANÇA e/ou ADOLESCENTE Mendicância/ trabalho infantil 145 Abuso/ exploração sexual 120 Situação de rua/ mendicância - Uso de substâncias psicoativas 13 Violência (física, psicológica, sexual e 14 negligência) Adolescentes em cumprimento de LA e PSC 90 Total 382 Fonte: dados do Relatório Consolidado do CREAS, 2008, p. 03. Os números apresentados demonstram que 37,9% dos casos são relacionados a mendicância/trabalho infantil; 31,4%, abuso/exploração sexual; 23,5%, ao acompanhamento de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de liberdade assistida (LA) e

10 prestação de serviços à comunidade (PSC); 3,6% são casos de violência e 3,4% representam situações de uso de substâncias psicoativas. O acesso das pessoas/famílias aos serviços do CREAS ocorre através de encaminhamentos recebidos dos órgãos do Sistema de Garantia de Direitos, pela busca ativa de agentes institucionais e, ainda, por demanda espontânea dos usuários através serviço do Disque- Cidadania 4, ou no próprio CREAS. No que se refere ao trabalho realizado pelos CREAS de Teresina, a partir das demandas identificadas nos diagnósticos feitos por equipe multidisciplinar, é construído, em conjunto com a família, um plano de trabalho ou projeto sócio-terapêutico 5 que contemple as estratégias interventivas apropriadas ao caso identificado, às responsabilidades e compromissos do serviço e das famílias, ao tipo e periodicidade do atendimento, bem como às metas pretendidas. (TERESINA, 2008). Quanto ao atendimento a crianças e adolescentes, percebidos em sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, é importante ressaltar que se faz necessário considerar, assim como em Ferreira (2001) e Frazão (2007), as condições existenciais, bem como as vulnerabilidades e riscos sociais que a sociedade lhes impõe, e ainda o teor das políticas públicas a serem implementadas, tendo por base o contexto social em que estas estão inseridas. O atendimento especializado pela equipe do CREAS (composta por profissionais de serviço social, psicologia e direito, além de estagiários) compreende ações de acolhimento, escuta qualificada, orientação psicossocial e jurídica, além de encaminhamentos ao Sistema de Garantia de Direitos, quando se faz necessário. O desligamento da família se dará conforme a superação da situação de violação e fortalecimento de vínculos afetivo-relacionais. Em se tratando de execução de medida socioeducativa, o desligamento deverá ser acordado com o órgão encaminhador. (TERESINA, 2008). Os dados do Senso SUAS/ 2009, realizado pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI), demonstram uma fragilidade da articulação dos CREAS com o Sistema de Garantia de Direitos (SGD), especialmente em relação ao Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente e à rede socioassistencial setorial e intersetorial, o que aponta para a necessidade de 4 Serviço gratuito de telefone com acesso 24 h. 5 O projeto sócio-terapêutico constitui-se em um plano de trabalho em que são identificadas todas as demandas de atendimento à pessoa / família: documentação civil, escolaridade, profissionalização, habitação, saúde, dentre outros, para que seja feito o atendimento e/ou realizados os encaminhamentos necessários.

11 fortalecimento desta relação, visando à promoção, defesa e controle dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Nesse sentido, de acordo com Brasil (2005), os CREAS devem articular os serviços de média complexidade e operar a referência e a contra-referência com a rede de serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica e Especial e com as demais políticas públicas e instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos e movimentos sociais. Para tanto, é importante estabelecer mecanismos de articulação permanente, como reuniões, encontros ou outras instâncias para discussão, acompanhamento e avaliação das ações, inclusive as intersetoriais. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se verificar que a implantação dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e dos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS) com o fim de identificar e atender às situações de vulnerabilidade, risco e violações de direitos remete a uma compreensão, no âmbito das políticas públicas, de que as situações de pobreza e risco social são resultados de múltiplas determinações, o que aponta para a implementação de políticas públicas que enfrentem a questão social em sua universalidade, através do desenvolvimento de ações coletivas, organização de redes de serviços e intersetorialidade das políticas sociais, visando à concretização dos direitos humanos. Entretanto, diante da realidade ora estudada, pode-se perceber que as políticas públicas implementadas pós-constituição de 1988 tiveram pouco impacto no sentido de reduzir as desigualdades sociais, o que reflete significativamente nas políticas de enfrentamento das situações de risco e violações de direitos da criança e do adolescente. É perceptível que a Constituição Federal de 1988 e o ECA significaram um avanço em relação à conquista de direitos, entretanto ainda existe uma dicotomia entre os direitos legitimados no ordenamento jurídico e a concretização desses direitos, em face dos delineamentos da própria política neoliberal que consiste no desmonte dos direitos sociais conquistados no texto constitucional, o que significou a privatização dos problemas sociais, com

12 a sociedade civil assumindo, em grande parte, a responsabilidade do Estado no atendimento às demandas provenientes da questão social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENDT, Hannah. As esferas pública e privada. In: A condição Humana. 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. ARRETCHE, Marta. Estado federativo e políticas sociais: determinantes da descentralização. São Paulo: Revan, 2002. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Traduzido por Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. BENEVIDES, Maria Vitória de Mesquita; Cidadania e Democracia. Revista Lua Nova, nº 33; ANPOCS, CEDEC, 1994. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: 1988, Brasília, 2008., Presidência da República. Lei Orgânica da Assistência Social, n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993., Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990., Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS, Secretaria Nacional de Assistência Social SNAS, Política Nacional de Assistência Social, 2004.. Norma Operacional Básica NOB/SUAS, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da Resolução nº 130, 2005a.. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS, Secretaria Nacional de Assistência Social SNAS, Centro de Referência Especializado de Assistência Social CREAS, Guia de Orientação Nº 01, 2005b.. Resolução 113, de 19 de abril de 2006, DOU, Nº 76, quinta-feira, 20 de abril de 2006, seção I, p. 3-5.. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, SINASE, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Brasília, 2006.. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, Censo Suas 2009, Brasília: DF, 2009.

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