Uma experiência colaborativa na criação de rede social no Projeto Tecendo Redes para Educação Integral



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Transcrição:

Uma experiência colaborativa na criação de rede social no Projeto Tecendo Redes para Educação Integral 05/2008 Dalton Martins - Escola do Futuro USP - dmartins@gmail.com Natália Felix de Carvalho Noguchi - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - natalianoguchi@cenpec.org.br Sonia Dias - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - soniadias@cenpec.org.br Categoria C - Métodos e Tecnologias Setor Educacional Educação Continuada em Geral Natureza do Trabalho Descrição de Projeto em Andamento Classe Experiência Inovadora Resumo O Projeto Tecendo Redes para Educação Integral é uma iniciativa da Fundação Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e tem sua primeira edição em andamento na cidade de Santos (SP) contando, no local, com o Programa Santos Criança como parceiro estratégico. Tem por objetivo a implementação da Educação Integral e se desenvolve em dois eixos principais (formação e articulação), fazendo uso de atividades presenciais e a distância. Para iniciar as atividades de articulação e formação a distância, o projeto contou com uma parceria com o LIDEC (Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária), da Escola do Futuro da USP na aplicação de sua metodologia de Ativação de Redes Sociais, com o objetivo de criar um canal de circulação da informação e colaboração entre as organizações participantes do programa. Palavras-chave: redes sociais, colaboração, ativação, educação integral, aprendizagem, cooperação, desenvolvimento local

1. Contexto do projeto O Projeto Tecendo Redes para Educação Integral é uma iniciativa da Fundação Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e tem sua primeira edição em andamento na cidade de Santos (SP) com a parceria estratégica do Programa Santos Criança - idealizado pela Prefeitura do município com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e propiciar um desenvolvimento saudável e integral à criança por meio do fortalecimento de uma rede permanente e integrada de atenção à infância e o apoio das famílias, rede esta composta pelas secretarias municipais, sociedade civil e organizações não governamentais, programas e projetos já existentes nas mais diversas áreas, como educação, saúde, assistência social, cultura, esportes, turismo e meio ambiente. Com esse compromisso, nasce, em 2007, o Projeto Tecendo Redes para a Educação Integral que visa contribuir para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes fomentando a implementação de educação integral nos municípios por meio da articulação dos serviços locais de atendimento à infância e juventude e da formação conjunta entre profissionais de diferentes instituições governamentais e não-governamentais. 2. Objetivos e desenho do projeto Cada cidadão demanda atenção integral sua saúde, educação, segurança, entre outros elementos devem ser considerados na formulação de políticas públicas. É a partir dessa perspectiva que surge a Educação Integral, com foco no desenvolvimento integral da criança e do adolescente, articulados ao desenvolvimento local sustentável. A ação de implementação da Educação Integral se dá, portanto, a partir de programas multisetoriais, criados e compartilhados pelos diversos atores envolvidos. Nessa perspectiva são objetivos do projeto: articular e mobilizar agentes públicos governamentais e não-governamentais ligados à temática da criança e do adolescente fomentando um pacto no município em prol da educação integral e da atuação em rede; e formar profissionais que atuam na implementação da educação integral de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos propiciando uma ação articulada no microterritório. A ação do projeto se desenvolve, ao longo de um ano, em dois eixos: 1- formação de profissionais envolvidos no atendimento direto de crianças e adolescentes, com a perspectiva da construção de um Plano de Ação Conjunta para implementação da Educação Integral no microterritório; e 2- articulação de profissionais envolvidos na gestão de equipamentos públicos, ONGs e outros agentes públicos que atendam crianças e adolescentes, que possam compor com os participantes da formação e garantir a implantação do plano de ação conjunta, a partir de um Plano de Mobilização.

O eixo Formação conta com encontros presenciais de três dias consecutivos e o grupo de Articulação tem encontros bimestrais de quatro horas de duração. As atividades dos dois eixos foram iniciadas em 2007 e devem se estender por um ano. Após esse período, inicia-se a fase de acompanhamento dos planos de ação no microterritório. O presente artigo apresenta a experiência da edição no município de Santos em dois microterritórios, a saber: 1- Zona Noroeste 2-Centro/Vila Nova/Paqueta e a Área Continental, compondo um único grupo. A seleção desses locais levou em conta análises como a composição do mapa de vulnerabilidade e diversidade de equipamentos da sociedade civil e do governo, bem como do número de crianças e adolescentes atendidos no território. O projeto é composto por encontros presenciais periódicos entre os participantes e atividades desenvolvidas a distância. Como o foco do projeto é a ação articulada entre os diversos atores de um mesmo microterritório, procurou-se incorporar às ações desenvolvidas estratégias que pudessem contribuir para o estreitamento dos laços entre os participantes como estímulo ao fortalecimento de redes sociais de forma a manter a comunicação, a troca de informação e a realização dos projetos, utilizando as ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Para desenvolver essa estratégia, foi construída uma parceria com o Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária (LIDEC), da Escola do Futuro da USP, que contribuiu significativamente para a aplicação de sua metodologia de Ativação de Redes Sociais, que promoveu a comunicação, a conversa e a continuidade das ações do projeto no microterritório de forma virtual. O objetivo da ativação de redes sociais, utilizada pelo Lidec, é facilitar o mapeamento do contexto e criar condições mínimas para estimular a emergência de uma percepção compartilhada da rede que essas organizações formam e disponibilizar ferramentas de comunicação que atuam como importante suporte na elaboração de estratégias para suas atividades. 3. Construindo uma rede social Para apresentar o desenvolvimento do projeto, consideramos necessário apontar os fundamentos a respeito de aprendizagem e de redes sociais em que nos baseamos. 3.1 Conceitos norteadores Uma rede social pode ser definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (Wasserman e

Faust, 1994, Degene e Forsé, 1999). Dessa forma, as redes sociais estão intimamente ligadas à estrutura social que lhe dá contexto e sentido para as conexões entre os atores. Essa estrutura social pode ser identificada como uma comunidade, em que seus atores compartilham assuntos, problemas semelhantes e conhecimentos específicos relacionados ao contexto pelo qual se unem. Em torno do contexto, as comunidades acabam desenvolvendo práticas cotidianas, formando aquilo que podemos denominar de comunidades de prática. Wenger et al. (2002) definem uma comunidade de prática como um grupo de pessoas que compartilha uma preocupação, um conjunto de problemas ou uma paixão por um assunto. As comunidades de prática compartilham uma estrutura básica, a combinação única de três elementos fundamentais (Wenger et al, 2002): o contexto, que cria um senso comum de identidade, a comunidade, que cria uma fábrica social de aprendizagem, e a prática, que é um conjunto de idéias, informações, ferramentas, estilos, linguagem, histórias, documentos compartilhados pelos envolvidos. Dessa forma, a relação entre os atores e suas conexões, em torno do contexto a partir de sua prática, torna-se o elemento-chave para a emergência e o desenvolvimento de uma rede social, bem como do valor que essa rede pode criar para seus participantes. Nessa perspectiva, a interação entre os participantes se torna conteúdo de um tipo de aprendizagem que, considera que aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando nos relacionamos, estabelecemos vínculos, laços, entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido (MORAN, 2006). Essa forma de ver a educação como um processo que envolve diversidade de experiências e produção de sentido é a base da concepção de aprendizagem do projeto, que tem como pressupostos que: A aprendizagem acontece na relação com diferentes sujeitos, espaços, objetos e tempos; Todos os envolvidos são sujeitos ensinantes e aprendentes; Promover situações de diálogo entre os participantes possibilita troca de informações e experiências, ampliação de repertório e de oportunidades; Os sujeitos de aprendizagem estão incompletos e a incompletude dos sujeitos é a riqueza da aprendizagem; As diferenças são repertórios de aprendizagem do grupo que produzem efeitos singulares; As ações e as práticas dos envolvidos são foco da formação; A utilização de diferentes metodologias e ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs) favorecem o incremento dos laços existentes entre os participantes e da troca de informação, além de ampliar o repertório. Dessa forma, a estratégia do projeto Tecendo Redes passa por estimular o desenvolvimento de redes sociais como espaços de aprendizagem, colaboração e construção coletiva de contexto.

3.2. Ativação de rede social no projeto Tecendo Redes para Educação Integral A construção da rede social iniciou-se logo nos primeiros encontros presenciais com os envolvidos no projeto, conduzida pela metodologia de ativação da rede social. Essa etapa é o momento em que os participantes, ou grupo que o representa, se encontram para construir e visualizar de forma coletiva e colaborativa o contexto de sua própria comunidade. O objetivo dessa etapa é permitir que, de forma presencial, os participantes possam criar vínculos maiores em torno de seus próprios objetivos, compartilhar percepções e práticas e ampliar sua perspectiva de como podem lançar mão da estrutura social da rede para melhorar suas formas de comunicação, colaboração e inovação de práticas desenvolvidas pela comunidade. A metodologia de ativação de redes sociais busca criar espaços presenciais de conversação e construção de contexto que permitam aos atores vivenciar as conexões da rede que formam. Essa vivência torna-se um estímulo para que as conversas continuem em espaços virtuais. Para criar esses espaços presenciais, utilizamos o que chamamos de tecnologias da conversação: dinâmicas de grupo que facilitam a circulação de informação e construção coletiva de contexto. No Projeto Tecendo Redes para Educação Integral, foram utilizadas duas técnicas para organização de encontros e criação de campos de conversação entre grupos: Café Colaborativo (world cafe) para o grupo de Formação e Inquérito Apreciativo para o grupo de Articulação, trabalhando essencialmente três elementos: Vivenciar o estar em rede: utilizar dinâmicas de conversas que permitam a criação de links entre os atores e o compartilhamento de idéias; Ouvir e ser ouvido: criar espaços de conversação que otimizem o tempo dos encontros, de forma a que múltiplos atores possam se expressar e considerar diversos pontos de vista; Construção de comprometimento: criar condições para que os atores possam expressar seus desejos de ação e possam construir comprometimento coletivo em torno desses desejos. As tecnologias de conversação são utilizadas de forma a criar campos de conversação e espaços criativos que estimulem a colaboração entre os atores. Segundo Juanita Brown e David Isaacs (2007) num encontro do Café as pessoas passam rapidamente da conversação comum (...) para as conversas significativas, nas quais há uma compreensão coletiva mais profunda ou um movimento avançado em relação a uma situação com que as pessoas verdadeiramente se preocupam. No encontro do grupo de Formação, a técnica foi utilizada para fazer um levantamento de formas de continuar a conversa entre os participantes, para

além dos encontros presenciais. O tema proposto foi a construção de oportunidades de reconhecimento das diferentes atuações dos participantes no território, com a construção de mapas de circulação e a promoção de diálogo. O foco, no encontro de Articulação, foi a reflexão a respeito de formas eficazes de comunicação. Apesar de a internet fazer parte do cotidiano da maioria das pessoas, nem sempre o acesso a ela é fácil ou o participante está familiarizado com o uso do computador. Por isso torna-se fundamental a promoção de atividades em ambiente virtual que façam sentido para os participantes e os instiguem a buscar a internet. Também faz parte desse processo, o empenho da equipe na construção e manutenção das atividades em ambiente virtual durante todo o processo. Essa atitude reflete uma forma diferenciada de considerar a assimetria que costuma estar presente nas relações de formação, ter em conta que o fluxo de interações nas redes e a construção, a troca e o uso colaborativo de informações mostram a necessidade de construção de novas estruturas educacionais que não sejam apenas a formação fechada, hierárquica e em massa (KENSKI, 2006). Como continuidade do processo de ativação de redes sociais, o projeto Tecendo Redes tem utilizado como dispositivos de comunicação entre os participantes um plantão telefônico, em que se disponibiliza um telefone gratuito (0800), que os participantes podem utilizar para entrar em contato com a equipe, sanar dúvidas, pedir suporte no acesso à internet ou o contato de outros participantes. Além disso, os participantes são estimulados a trocar telefones e a conversar entre si durante todo o processo. Também foi criada uma lista de discussão virtual entre os participantes e uma comunidade virtual, que tem tido papel importante no desenvolvimento, articulação e realização de diversas ações do projeto. A lista foi criada no GoogleGroups e todos os participantes do encontro presencial foram convidados a participar. O acesso à rede e a utilização desta como ferramenta potencializa a troca, a colaboração e a conversa. Há um forte investimento no Projeto Tecendo Redes para que seja garantido o acesso dos participantes à internet, na perspectiva que o maior potencial de transformação da rede está em conectar pessoas; é a chance de se fazer novas coisas juntos, um potencial de cooperação em escalas que não eram possíveis antes. (...) As tecnologias são meios. Meios de translação, de comunicação, de interação, no sentido de que nos possibilitam o trânsito, viver entre diferentes idéias, culturas, informação e conhecimento. A tecnologia aponta para o incremento do estado de relações entre as pessoas. A rede só existe por causa das relações (DIMANTAS, 2006). Olá, turma do Tecendo Redes!!! Nossa lista de conversação já está em funcionamento... A idéia é que possamos utilizar esse canal para manter nossa conexão,

continuarmos conversando e nos ajudando mutuamente ao longo dos próximos meses. Sejam mais do que bem-vindos! A casa é nossa... Só puxar o banquinho e sentarmos para conversar... Um grande abraço a todos, D. (moderador do grupo) mensagem enviada em novembro de 2007, logo após o primeiro encontro presencial. 4. Conclusão A adesão dos envolvidos foi muito expressiva desde o primeiro momento. Apesar de o segundo encontro presencial estar previsto para acontecer após dois meses, boa parte dos participantes se despediu dizendo que se encontraria na semana seguinte na lista virtual, o que ocorreu na maioria dos casos. É interessante notar que a participação efetiva dos envolvidos tem um impacto positivo e leva o interesse aos que ainda não participaram. Para alguns autores o conceito de redes sociais (...) tem a ver com o estoque de credibilidade e confiança entre pessoas gerado pelo envolvimento em grupos e comunidades com sistemas específicos de solidariedade. Esse tipo de capital (...) distingue-se das outras formas de capital por ser a única em que o seu volume cresce com o uso, ou seja, quanto maior for a mobilização desse estoque de confiança para criação coletiva maior será a probabilidade de seu aumento entre os membros da rede (PRATES, CARVALHAES e SILVA, 2007). Houve uma preocupação, por parte de toda a equipe, em manter uma linguagem coloquial, que se aproximasse dos encontros presenciais, o que foi bem recebido pelos participantes. Durante o mês de dezembro, em que, comumente, as pessoas estão em férias, houve a postagem de 164 e-mails no grupo, o que mostra uma forte adesão e o fortalecimento do contato. Até 5 de maio de 2008, foram registradas no grupo mais de 700 mensagens. Oi, Hernani Eu já começo a sentir esta catalisação e inovação;estou recebendo sangue novo. Idéias começam a emergir. Té logo. I. (participante do projeto) mensagem enviada em dezembro de 2007 Olá, pessoal, Demorei um pouco para entrar nesta rede, mas cheguei. Acredito que esta ferramenta será muito importante para nos conhecermos

melhor e fortalecermos o trabalho em REDE. Um abraço. A (participante do Projeto) - mensagem enviada em dezembro de 2007 Segundo Costa (2008), um dos aspectos essenciais para a consolidação de comunidades pessoais ou redes sociais é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou menor escala entre as pessoas. A construção dessa confiança está diretamente relacionada com a capacidade que cada um teria de entrar em relação com os outros, de perceber o outro e incluí-lo em seu universo de referência. (...) Redes sociais só podem ser construídas com base na confiança mútua disseminada entre os indivíduos. Considerando a importância da confiança e apoio necessários para a construção dos laços entre os participantes, foi realizado um grande investimento na atenção e cuidado no acompanhamento dos participantes em suas primeiras incursões pela internet. Além disso, a atitude aberta, informal, colaborativa e amistosa da moderação foi fundamental para que todos se sentissem acolhidos na rede e reconhecidos por suas contribuições. Para facilitar esse processo, também foi criada uma página na internet (www.educacaoeparticipacao.org.br/comunidade) com informações sobre o projeto, com fotos, imagens e produções dos encontros, textos utilizados e as mensagens da lista de discussão. Há também a utilização de outros recursos como um vídeo com o convite para que os participantes enviassem textos e fotos para a criação de uma página, na internet, com informações sobre suas instituições. As trocas de mensagens entre os participantes e construção de páginas das instituições materializam o processo de transposição do grupo para o ambiente virtual. A internet é, para o Projeto Tecendo Redes, uma importante aliada na promoção de conversas que gerem atitudes colaborativas. Para Rheingold (2002) microprocessadores e redes de comunicação são apenas a parte física da fórmula de sucesso da Net; contratos sociais cooperativos também foram incorporados à arquitetura básica da Net. A internet é tanto resultado quanto a disponibilização de infra-estrutura para novas formas de ações organizadas coletivamente por meio de tecnologia de comunicação. Esse novo contrato social proporciona a criação e a manutenção dos bens públicos e o conhecimento comum dos recursos disponíveis (tradução dos autores do artigo). Dessa forma, o Projeto Tecendo Redes tem atuado na promoção e manutenção da conversa interpessoal, presencial e virtual, na disponibilização de acesso a diferentes informações e na construção coletiva de conhecimentos que subsidiem a ação conjunta dos profissionais para a implementação da Educação Integral no município de Santos.

Referencias bibliográficas BROWN, Juanita e ISAACS, David, O World Café, Editora Cultrix, São Paulo, 2007. COSTA, Rogério, Coleção Educarede Internet na Escola, vol 5, Comunidades Virtuais: aprendizagem em rede, edição Fundação Telefônica, SP, 2006. DEGENE, A. Forse, M. Introducing Social Networks. Sage. 1999. DIMANTAS, Hernani. Marketing Hacker: a revolução dos mercados. 2003 KENSKI, Vani Moreira, Educação e Tecnologias O novo ritmo da informação, Editora Papirus, 2ª edição, São Paulo, 2007. MORAN, José Manoel, Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas, in Novas tecnologias e mediação pedagógica, Editora Papirus, 12ª edição, São Paulo, 2006. PRATES, Antônio Augusto Pereira; CARVALHAES, Flavio Alex de Oliveira; e SILVA, Bráulio Figueiredo Alves, Capital social e redes sociais, in Desigualdades sociais, redes de sociabilidade e participação política, Editora UFMG, Belo Horizonte, 2007. RHEINGOLD, Howard, Smart Mobs, Basic Books, Cambridge, MA, 2002. WASSERMAN, s. and FAUST, K. Social Network Analysis: Methods and Applications. CUP. 1994. Wenger, E., McDermott, R., & Snyder, W. M. Cultivating communities of practice: A guide to managing knowledge. Boston, MA: Harvard Business School Press. 2002.