LEVANTAMENTO SOCIODEMOGRÁFICO DO USO/ABUSO DO CRACK E ADICTOS EM TRATAMENTO

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Transcrição:

LEVANTAMENTO SOCIODEMOGRÁFICO DO USO/ABUSO DO CRACK E ADICTOS EM TRATAMENTO Brena Luiza Gomes de CASTRO 1, Lucíola Galvão Gondim Corrêa FEITOSA 2, Cláudia Karine Carmo de NORONHA 3, Perla Maria Antão de Alencar CARVALHO 4 e Iracema Luiza de Paiva Gomes Monteiro de CASTRO 5 INTRODUÇÃO As drogas são substâncias que ao entrarem em contato com o organismo sob diversas vias de administração provocam modificações nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional das pessoas 1. Essas substâncias atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo por essa razão denominada de psicoativas. Elas são basicamente classificadas em três tipos: depressoras, estimulantes e perturbadoras. As drogas depressoras diminuem a atividade do sistema nervoso central (SNC) fazendo com que este sistema funcione de forma mais lenta. Como conseqüência, há uma diminuição na atenção, concentração e sonolência. Alguns exemplos desse tipo de droga são o álcool e os inalantes 2. As drogas estimulantes são responsáveis por estimular a atividade do SNC, fazendo com que o cérebro funcione de forma mais rápida. Com isso, há um aumento da atividade motora e uma diminuição do sono devido ao estado de vigília aumentado. A cafeína, o tabaco, a cocaína e seus derivados (cloridrato, crack, merla, pasta) são exemplos de drogas estimulantes. Já as drogas perturbadoras alteram o funcionamento do SNC, fazendo com que ele trabalhe de forma desordenada. Devido a isso, há alterações mentais como delírios, ilusões, alucinações. Os exemplos mais comuns são o LSD, o ecstasy e a maconha 2. 1 Enfermeira voluntária, setor NUINSA, da Fundação Municipal de Saúde. Teresina Piauí, Brasil. E-mail: brenalgdc@hotmail.com 2 Docente do Curso de Enfermagem da FACID, Mestre em Políticas Públicas/UFPI-Teresina-pi. Email: luciolagalvao@hotmail.com 3 Enfermeira Assistencial da Maternidade Evangelina Rosa. Enfermeira voluntária da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Getúlio Vargas. Teresina Piauí, Brasil. E-mail: dine.hta@hotmail.com. 4 Enfermeira Assistencial do ITACOR. Teresina-Piauí, Brasil. E-mail: perlinhantao@hotmail.com 5 Enfermeira da ESF da Prefeitura Municipal de Teresina-pi. E-mail: iracemaluizacastro@hotmail.com

Neste trabalho será enfatizado o grupo das drogas estimulantes, mais especificamente o crack. Reputado como uma nova droga, ele não passa de um novo método de consumo de uma droga muito antiga, a cocaína. Essa droga tornou-se popular nos meados da década de 1990, é chamada de pedra pelos usuários brasileiros e pode ser consumida por via oral (fumada em cachimbo). Apesar de ser mais barata que a cocaína em pó e de possuir pouca quantidade de substância ativa, seus efeitos são mais acentuados devido à liberação da cocaína diretamente na corrente sanguínea através dos pulmões 1. O presente estudo tem como objetivo geral: realizar um levantamento sociodemográfico do uso/abuso do crack em Teresina-Pi, e como objetivos específicos: inventariar os meios de acesso e inserção social do crack em Teresina, compreender as principais consequências inerentes ao uso e abuso do crack, levantar o(s) motivo(s) que levou (aram) ao início do uso do crack e traçar o perfil dos adictos ao crack em Teresina. O interesse sobre essa pesquisa deu-se em razão do grande avanço no consumo de crack em Teresina, além disso, existem poucos trabalhos na literatura sobre esse tema. Ademais urge salientar o interesse pelo aprofundamento de conhecimentos nessa temática buscando mostrar o perfil dos usuários dessa droga e a gravidade desse problema social, auxiliando as autoridades públicas competentes e os profissionais de saúde no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas e programas de combate ao uso dessa droga, bem como a possibilidade de uma atuação mais específica no que tange ao auxílio dos usuários enquanto dependentes e de suas famílias enquanto codependentes possibilitando assim uma reinserção social mais efetiva. MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização da pesquisa foi necessário apresentar um termo de consentimento à instituição escolhida para a coleta de dados. O projeto, também foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa- CEP da Faculdade Integral Diferencial FACID e recebeu aprovação no dia 18/02/11 com o protocolo nº 371/10; e somente após a autorização dessas instituições que foi iniciada a coleta de dados. Os sujeitos da pesquisa foram abordados individualmente e esclarecidos sobre os objetivos e metodologia da mesma. Depois de aceitar participar da pesquisa foi solicitado previamente as assinaturas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A presente pesquisa é de natureza descritiva - exploratória com abordagem quantitativa. Ela foi realizada em um Centro de Atenção Psicossocial - CAPS específico para o tratamento de álcool e outras drogas na cidade de Teresina-PI. Os sujeitos escolhidos foram os usuários de crack que estiveram em tratamento no CAPS-AD, totalizando 53 adictos. Para a obtenção do número de usuários a ser entrevistado calculou-se a população total de usuários existente no CAPS-AD resultando em 251 por meio da amostra significativa nos últimos 6 meses, com o desvio-padrão resultando em 12,46 e a média equivalendo 42. Depois avaliou-se a quantidade de usuários de crack a serem entrevistados, somando 53. Os dados foram obtidos mediante a utilização da equação erro absoluto, com intervalo de confiança de 95% e erro absoluto de 3%. Nesta pesquisa, os critérios de inclusão envolveram o fato de serem adictos de crack em regime de tratamento há pelo menos dois meses no serviço e confirmação de sua participação no estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme preconiza a Resolução 196/96. Os critérios de exclusão foram todos os adictos de crack que estiveram no CAPS-AD com tempo inferior a 2 meses de tratamento. A presença de qualquer outro transtorno mental no adicto também foi considerada como exclusão visto poder confundir os sentimentos, ações e reações do pesquisado, além da recusa em assinar o TCLE. O procedimento de coleta de dados foi realizado no mês de julho de 2011, através de uma entrevista semiestruturada e observação participante. Depois os dados foram analisados por meio da utilização de métodos da estatística descritiva. Esta estatística foi representada pela média e desvio-padrão máximo e mínimo e também por meio da frequência relativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO O uso/abuso de drogas constitui um problema de magnitude mundial e o nosso Estado tem corroborado estatisticamente para este cenário. Neste estudo foram entrevistados 53 adictos que estão ou estiveram em tratamento pelo uso/abuso de drogas no CAPS-AD, especificamente os usuários de crack, um subproduto da cocaína. A magnitude de tal agravo o tornou um dos assuntos mais recorrentes em saúde pública dada sua amplitude de afetamento e gravidade, tendo em vista a quantidade de pessoas dependentes que necessitam de acompanhamento e tratamento.

IDADE (ANOS) Gráfico 1: Distribuição dos adictos de crack por gênero no CAPS-AD, Teresina-PI FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. No que se referiu aos aspectos sociodemográficos do grupo estudado, o gênero mais afetado durante a pesquisa foi o do sexo masculino com uma porcentagem de 90,6% (Gráfico 1), e uma faixa etária média de 29,38±9,01 anos, sendo a mínima de 16 anos e a máxima de 55 anos, ou seja, adultos jovens, conforme pode ser observado no gráfico 2. Gráfico 2: Faixa etária dos adictos de crack do CAPS-AD, Teresina-PI 60 50 40 30 20 10 0 MEDIA MINIMA MAXIMA MEDIA 29,38 16 55 FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. Acredita-se que o que foi constatado se deve ao fato de que desde os primórdios da humanidade o homem tem sido visto como um ser superior e dominante na sociedade. Por conta desses paradigmas, os pais acabam liberando os filhos jovens do sexo masculino para interagir com seus amigos, ter relacionamentos amorosos e, muitas vezes, neste tipo de ambiente surge a aproximação e inconsequente utilização das drogas.

Os resultados encontrados nesta pesquisa são corroborados ainda por outros estudos, que em sua pesquisa afirmaram que a maioria da amostra utilizada em estudo sobre drogas foi constituída por homens jovens. Aonde afirmam que, o maior número de adictos de baixa idade se explica pela maior exposição e grande penetração das drogas entre os jovens 3,4. Gráfico 3: Variáveis de perfil sociodemográfico mais prevalente encontrados nos adictos de crack do CAPS-AD, Teresina-PI FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. No gráfico acima, observou-se que a maioria dos adictos do estudo, ou seja, 71,7% eram solteiros; 50,9 não possuía filhos e 47,3% ainda morava com os pais. Boa parte das pessoas solteiras não tem despesas domésticas e financeiras, pois a maioria depende dos pais e não tem filhos, com isso acabam gastando o que possuem com festas nas ruas e quiosques com os amigos. Diferente dos casados, os solteiros têm mais liberdade e nenhum tipo de compromisso, assim vão para onde querem, escolhem os amigos e é neste momento de diversão e prazer que acabam se envolvendo com os entorpecentes. Os dados apresentados se assemelham a outros estudos, que observaram a predominância de sujeitos solteiros e sua permanência no lar familiar. Ademais, tal fato contrapõe-se a um estudo realizado na Região Metropolitana de São Paulo, onde houve predomínio de usuários de crack que residiam nas ruas ou em favelas, embora tenha prevalecido o mesmo estado civil 4,5. Em relação à escolaridade, 50,9% possui apenas o ensino fundamental. Resultado semelhante foi encontrado em um estudo realizado sobre crack em São Paulo 6. Essa baixa

% escolaridade é explicada pelo uso contínuo da droga não permitir que o usuário realize atividades cognitivas que requeiram atenção, compreensão e concentração, afetando assim o rendimento escolar que fica prejudicado, levando consequentemente ao abandono da escola. Dos entrevistados, 58,5% estavam desempregados e tal fato se aproxima do estudo citado anteriormente, em que 76% dos usuários de crack não possuíam fonte de renda 6. Com o uso do crack, os adictos acabam abandonando o trabalho por não conseguirem cumprir com as obrigações e responsabilidades inerentes a tal atividade. Quanto à religiosidade, 32,1% não frequentavam nenhuma religião, porém rezava/orava em casa. Este fator é citado por muitos autores como um elemento importante na recuperação e tratamento de dependentes de substâncias psicotrópicas, pois a oração promove a fé e tranquiliza o adicto de drogas. A religião oferece recursos sociais de reestruturação como novas amizades, valorização das qualidades individuais, ou seja, o pertencimento do usuário a outro grupo, com outros objetivos e longe das drogas 5,7. Gráfico 4: Efeitos positivos do uso do crack relatados pelos adictos do CAPS-AD 100 66,7 67,8 27,3 50 0 USOU CRACK PARA QUEBRAR ROTINA/CURTIR OS EFEITOS DA DROGA FAZIA USO DO CRACK COM AMIGOS/COLEGAS DA FACULDADE UMA SENSAÇÃO DE BEM ESTAR É EFEITO POSITIVO DO CRACK FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. O gráfico 4 evidencia que 66,7% dos adictos usou o crack para quebrar a rotina/curtir os efeitos da droga, 67,8% usava a droga com os amigos/colegas da faculdade e 27,3% aponta uma sensação de bem-estar como principal efeito positivo do crack. Para alguns estudiosos o uso das drogas não é um fenômeno recente, sempre existiu ao longo da humanidade, no intuito de obter prazer, aliviar o sofrimento psíquico ou físico, isto é, sempre esteve associado à sensações de bem-estar.

Muitas vezes a pessoa não consegue por recursos próprios encontrar formas para satisfazer suas necessidades ou solucionar seus problemas, então surge a busca por alternativas, visando suprir necessidades ou vencer dificuldades, atribuindo à droga a conotação de refúgio. Conforme alguns autores 8, um dos principais motivos que levam o jovem a experimentar uma droga é a influência social. Nessa fase, os jovens recusam orientações e acreditam ter domínio de si mesmos. Eles tendem a separar-se de suas famílias e passam a valorizar seu grupo de amigos. Ao sentirem-se protegidos pelo grupo em questão, aceitam o uso das drogas muitas vezes por pressão e/ou curiosidade para garantirem a permanência neste grupo. Gráfico 5: Consequências do uso do crack relatadas pelos adictos do CAPS-AD, Teresina-PI FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. As principais consequências referentes ao uso do crack relatadas pelos usuários foram a perda do estudo, trabalho, confiança dos pais, mulher e filhos (25,8%), 21,2% relatam o comprometimento da saúde e 21,2% referiram a depressão, angústia e tristeza. Para alguns autores, o uso do crack leva a uma diminuição do apetite e insônia. A sensação de bem-estar intensa provocada pela droga dá uma falsa sensação ao indivíduo de aumento da capacidade física e intelectual. Depois disso, o indivíduo passa a apresentar problemas psiquiátricos como irritabilidade, tristeza, depressão severa, angústia, crise de ansiedade e pânico. O usuário pode ainda apresentar ideias delirantes como alucinações auditivas e/ou visuais e mania de perseguição. E ainda para outros autores, o uso do crack também compromete a memória e a capacidade de concentração. O adicto não exerce suas obrigações, o que acaba acarretando a

perda do rendimento nos estudos, trabalho e confiança da família, como apresentando nesta pesquisa 8,6. Gráfico 6a: Frequência de internações pelo uso do crack Gráfico 6b: Busca espontânea por tratamento no CAPS-AD FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. No gráfico 6a está representada a frequência com que os adictos de crack estiveram internados por conta da droga. Para 34% não houve nenhuma internação, 24,5% referiram uma internação, 22,6% duas internações, 7,5% referiram três internações, 3,8% quatro internações, 1,9% cinco internações e 5,7% seis internações, ou seja, para a maioria dos adictos de crack houve mais de uma internação. Esses dados corroboram com uma pesquisa de drogas, em que evidenciou-se a primeira internação por consumo de drogas em 232 pacientes (52,7%), 38,9% vivenciaram de uma a três internações e 8,4% já internados anteriormente por mais de três vezes, sendo o número de internações anteriores maior entre os usuários de crack 4. Conclui-se assim, que a dependência de crack é a causa mais prevalente de internação por uso de cocaína. Os usuários quando são internados nem sempre conseguem se livrar do vício, o que faz com que sejam internados por várias vezes.

Já o gráfico 6b representa a porcentagem dos adictos de crack que buscaram tratamento no CAPS-AD na tentativa de cessar o uso da droga. O percentual dos usuários que buscaram tratamento por vontade própria foi de 92% e somente 8% referiram procura alheia à sua vontade. Este dado é muito importante, pois mostra que boa parte dos adictos de crack teve motivação pessoal e interesse em buscar ajuda o que facilita a adesão ao tratamento e recuperação. Gráfico 6c: Frequência de prisões por crimes associados ao uso de droga FONTE: Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas, 2011. Quanto aos antecedentes de prisão, 49,1% não esteve preso nenhuma vez por crimes associados ao uso da droga, 22,6% relataram uma prisão, 13,2 % relataram duas ocorrências, 7,5% relataram três ocorrências, 5,7% afirmaram quatro prisões, 1,9% mencionaram cinco prisões. Esses números também foram similares em outras pesquisas que evidenciaram em mais da metade dos indivíduos integrantes da amostra, detenções por crimes associados ao uso de droga 4. Os referidos autores ainda apuraram dados sobre a utilização da pedra de crack nas dependências do presídio, ou seja, tais números demonstram a íntima relação entre a dependência do crack e a marginalidade. Para diversos autores a absorção do crack é muito rápida chegando ao cérebro em poucos segundos. Seu efeito dura em média cinco minutos e é acompanhado por uma sensação eufórica. Passada a euforia o usuário experimenta uma intensa depressão, o que leva o usuário a recorrer novamente ao crack, tal círculo vicioso causa a dependência a essa droga. Como o adicto não fica satisfeito somente com uma pedra, passa a repetir o uso inúmeras

vezes, de forma compulsiva e avassaladora, isso acaba encarecendo o vício. Assim os usuários do crack procuram um meio de financiamento para o vício a qualquer custo, gastam todo o dinheiro que possuem, acabam cometendo pequenos delitos que eventualmente iniciam-se em seu próprio lar e findada esta fonte, passam a cometer crimes nas ruas com o intuito de manter o vício, o que os leva à violência, ao endividamento com os traficantes e consequentemente à criminalidade 8,9. CONCLUSÃO Com o grande avanço no consumo de crack no mundo, seu uso tornou-se um grande problema social e de saúde pública, incentivando a criação de campanhas e propagandas que sensibilizem sobre o uso/abuso de drogas, principalmente as drogas ilícitas, assim como a realização de medidas específicas para o tratamento, chamando a atenção para a atuação familiar e social, as quais têm um papel preponderante na adesão ao tratamento. Partindo do pressuposto de que os usuários de drogas devem ter um acompanhamento multidisciplinar, a enfermagem tem seu papel determinante em todos os momentos da dependência química, desde a prevenção ao tratamento, motivando os usuários para que não hajam recaídas, devendo para isso haver um rigoroso monitoramento durante o período de manutenção da abstinência, através de apoio intenso tanto ao adicto quanto à sua família dando ênfase na reabilitação e reinserção social do usuário. Ao realizar esse levantamento permitiu-se conhecer o perfil sociodemográfico dos adictos de crack em Teresina, perfil esse inexistente até o momento da pesquisa, sendo de grande valia por fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas eficientes e direcionadas à prevenção e tratamento desses cidadãos que estão nessa condição de muita fragilidade e vulnerabilidade. Diante dos resultados percebeu-se que os jovens tentam buscar no crack uma alternativa para seus problemas ou mesmo para uma maior aproximação com seu grupo social, e não imaginam que essa droga barata acaba se tornando cara por levar à dependência muito mais rapidamente que outras drogas, trazendo uma série de consequências tanto para os usuários quanto para toda a sociedade, pois provoca a exclusão social do adicto a partir da desagregação familiar, além de estimular a criminalidade. Sugere-se que seja oferecido aos jovens que usam a droga oportunidades de convívio saudável com outras atividades em geral, sejam elas culturais ou artísticas, mas sem dúvida, que demandem envolvimento e que assim

corroborem para o afastamento das influências prejudiciais no ambiente onde vivem. Em suma, para que o tratamento seja exitoso devem caminhar unidas a motivação pessoal do adicto e o apoio familiar. REFERÊNCIAS 1. MIRANDA, P. Cartilha sobre Maconha, Cocaína e Inalantes. 1. ed. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, 2004. 2. CARLINI, E. et al. Drogas Psicotrópicas: o que são e como agem. Revista IMESC, São Paulo, n.3, p. 9-35, 2001. 3. OLIVEIRA, L.; NAPPO, S. Crack na cidade de São Paulo: acessibilidade, estratégias de mercado e formas de uso. Rev Psiq Clín, São Paulo, v.35, n.6, p.212-8, 2008. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rpc/v35n6/v35n5a02.pdf >. Acesso em:29.out.2010. 4. FERREIRA FILHO, O.F. et al. Perfil sociodemográfico e de padrões de uso entre dependentes de cocaína hospitalizados. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 37, n.6, p. 751-9, 2003. 5. SANCHEZ, Z.V.M; OLIVEIRA, L.G; NAPPO, S.A. Fatores protetores de adolescentes contra o uso de drogas com ênfase na religiosidade. Ciência & Saúde Coletiva, v.9, n.1, p. 43-55, 2004. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ csc/v9n1/19822.pdf>. Acesso em:19.agosto.2011 6. NAPPO, S.; GALDURÓZ J.C.F; NOTO A. R. Crack use in São Paulo. Subst Use & Misuse. v. 31, p.565-79, 1996. 7. SANCHEZ, Z.V.M; NAPPO, S.A. Intervenção religiosa na recuperação de dependentes de drogas. Rev Saúde Pública, v.42, n.2, p. 265--72, 2008. 8. LEITE, M. C. et. al. Cocaína e Crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, 1999.

9. DETONI, M. Guia prático sobre drogas: conhecimento, prevenção, tratamento. São Paulo: Rideel, 2006.