REFLEXÃO E INTERVENÇÃO: PALAVRAS-CHAVE PARA A PRÁTICA EDUCATIVA



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Transcrição:

178 REFLEXÃO E INTERVENÇÃO: PALAVRAS-CHAVE PARA A PRÁTICA EDUCATIVA FEBA, Berta Lúcia Tagliari 1... ler é solidarizar-se pela reflexão, pelo diálogo com o outro, a quem altera e que o altera (YUNES, 2002, p. 32) O Estágio curricular do curso de Letras configura-se como uma atividade cujo objetivo centra-se em estabelecer um elo entre teoria e prática na formação de professores para o ensino Fundamental II e Médio. Porém, ao longo do trabalho com Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa, foram verificadas divergências que nos levaram a refletir acerca da real função do Estágio. Dessa forma, incomodados com a falta de interesse de alunos em realizar o Estágio e com a pretensa ligação entre a teoria que se estudava na faculdade e a prática vivenciada em sala de aula, redefinimos o Estágio na intenção de que este provoque construção de conhecimento e intervenção eficaz na prática educativa. Para isso, propomos aos alunos estagiários a elaboração de unidades de ensino para o desenvolvimento de seu Estágio de Regência. Para a realização do Estágio, cada dupla de acadêmicos planejou uma seqüência de atividades a serem desenvolvidas com alunos, em especial os do ensino público, que tivessem menores índices de aproveitamento, cuja dificuldade se instalasse na leitura e na escrita. Desse modo, entramos em contato com escolas estaduais para que selecionassem os estudantes que precisariam de monitoria. A partir disso, os estagiários teriam uma lista dos participantes e trabalhariam com eles em outra sala de aula, para assim desenvolver as atividades previstas na unidade de ensino. A fim de evitar que o aluno se ausentasse sempre da mesma aula, o que poderia gerar prejuízos em determinada matéria - apesar de acreditamos que sem competência leitora e produtora de texto não há avanços significativos na aprendizagem global do aluno - pensamos em revezar os dias da semana nos quais os estagiários realizavam a monitoria. Então, os alunos selecionados saíram da sala de aula e foram para um outro

179 espaço disponível na escola para desenvolver as habilidades de leitura e produção de texto com os estagiários. Vale ressaltar que em todo o desenvolvimento do Estágio manteve-se um diálogo com o professor titular da classe e com a coordenação da escola, para verificar avanços ou mudanças de planejamento, caso fossem necessárias. Todo o material preparado pelos estagiários tem embasamento teórico e acompanhamento dos professores coordenadores de Prática de Ensino. Para tanto, citamos o livro O texto na sala de aula, de Geraldi, principalmente o capítulo Unidades Básicas do Ensino de Português, bem como o Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola, de Kleiman e Moraes, em que é abordado o trabalho pautado em projetos no capítulo 2, intitulado O projeto coletivo nas redes em construção. Com isso, a primeira Unidade de Ensino produzida pelos estagiários teve como tema Oralidade e Escrita e a segunda foi a respeito de contos da Literatura Infanto-Juvenil, em que os estagiários puderam aproveitar, inclusive, os livros Tchau, de Bojunga, O violino Cigano, recontado por Regina Machado e Alexandre e outros heróis, de Graciliano Ramos, que fazem parte do acervo da biblioteca de toda escola pública do Estado. Com a nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo, os acadêmicos planejaram atividades utilizando o caderno do professor material de apoio para o andamento das aulas e ministrando aulas para toda a turma, não mais trabalhando somente com aqueles alunos com maiores dificuldades. O objetivo da proposta é dar apoio ao trabalho realizado nas escolas nos níveis de ensino Fundamental II e Médio, bem como contribuir para a qualidade da aprendizagem dos alunos. Com relação à disciplina de Língua Portuguesa, é sugerido o estudo da língua considerada como uma atividade social, um espaço de interação entre pessoas, num determinado contexto de comunicação, cujo eixo central é o letramento. Assim, o trabalho com gêneros textuais torna-se importante para se compreender tanto as características estruturais de determinado texto quanto suas condições sociais de produção e recepção, para refletir sobre sua adequação e funcionalidade em cada meio vivido pelo sujeito. Tanto com o projeto de desenvolvimento de competências leitora e escritora, quanto com o caderno do professor, os estagiários foram estimulados a elaborar atividades que privilegiassem: a leitura de textos nas diferentes situações de interação social, a produção de textos na qual o sujeito articula [...] um ponto de vista sobre o

180 mundo que, vinculado a uma certa formação discursiva, dela não é decorrência mecânica (GERALDI, 2002, p. 136) e a análise lingüística, uma prática que retoma o texto do aluno para reflexão. A concepção de leitura adotada nas atividades do Estágio está pautada nos ideais de Paulo Freire (2003). O autor afirma que aprender a ler, assim como aprender a escrever, é aprender a ler o mundo. Esclarece, também, que antes de ser alfabetizado, o indivíduo tem capacidade de ler o que está a sua volta, por isso, pode entrelaçar coisas e objetos do mundo às suas primeiras leituras. A leitura da palavra implica na relação dinâmica que interliga a linguagem à realidade, envolvendo a leitura da cultura e da prática do trabalho. O ato de ler, assim, sugere percepção crítica, interpretação e reescrita do lido, ou seja, uma visão crítica da realidade. Se, para Freire (2003, p. 20), [...] a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele, entendemos que a leitura deve estar relacionada com uma forma de ser do homem. Refletindo acerca da relação entre o ato de ler e a escola, aceitamos o ponto de vista de Martins (2002) que apresenta duas concepções de leitura vigentes e chega à conclusão de que é preciso pensar a questão dialeticamente. Leitura é decodificação mecânica de signos lingüísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta e processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, tanto quanto culturais, econômicos e políticos (MARTINS, 2002, p. 31). Da mesma forma, concordamos com Aguiar (2004, p. 62) ao expor que ler é compreender, assimilar e responder ao assunto lido, isto é, interagir com o texto e aplicar os conhecimentos adquiridos em novas situações. No que tange à produção de textos, são comuns na escola atividades artificiais em que é proposto ao estudante escrever sobre temas repetidos tais como Minhas férias e datas comemorativas, além de ter como único leitor o professor. Durante o Estágio, todavia, os alunos tiveram acesso a propostas nas quais tinham o que dizer, a razão para dizer e a quem dizer, constituindo-se como locutor e escolhendo determinadas estratégias para cada gênero a ser escrito (GERALDI, 2002). A análise lingüística, por sua vez, tem seu maior objetivo voltado para a refacção. Nesta é trabalhado com o aluno o seu texto para que ele atinja seus objetivos junto aos leitores a que se destina (GERALDI, 2004, p. 74). Sendo assim, a refacção

181 não se limita à higienização, à limpeza das impurezas do texto (JESUS, 1997, p. 102), como os problemas de ortografia, concordância, pontuação, muito comuns na produção dos alunos, mas a um trabalho com aspectos textuais e discursivos, como organização e exposição de idéias, fatores de coesão e de coerência, atendimento dos objetivos do texto pretendido. Assim, o centro das aulas de Língua Portuguesa é o texto. Para isso, os estagiários desenvolveram atividades de pré-leitura, nas quais são levantadas expectativas dos alunos quanto ao autor do texto e seu assunto, levando em consideração o conhecimento do estilo de escrita do autor, o suporte onde o texto foi publicado, a época da publicação e o gênero textual a que se insere. Em seguida era feita a leitura e, posteriormente, a interpretação oral e a escrita, esta última privilegiando aspectos estruturais, conteudísticos e de relações entre o leitor e o conhecimento, bem como de reordenação do mundo. Tal atividade procura desenvolver habilidades voltadas a buscar informações explícitas e implícitas do texto, relacionando situações vividas na leitura às da realidade do leitor, possibilitando-lhe, no ato de ler, atribuir significado ao texto e questionar a individualidade e as relações sociais. A interpretação oral, também chamada de debate, nesse ínterim, leva o leitor a assumir publicamente o seu modo de pensar, a forma de se relacionar com os homens e com o mundo, culturalmente delineado pela linguagem. O debate não tem o objetivo de excluir o outro, mesmo que as idéias apresentadas sejam repudiadas, ao contrário, motiva o respeito ao ponto de vista do outro e implica em um crescimento ao ouvir o colega expondo sua opinião, compreendendo a existência de diferenças. Dessa forma, o círculo tende a reconsiderar os conflitos de interpretação entre leitores e de estranhamento com o texto (YUNES, 2002, p. 38). O debate também estimula o prazer de ler, simbolizando a circulação de idéias, o fazer opções, o confronto de modos de agir e pensar. Podemos afirmar, por fim, que o Estágio não é desenvolvido para fins burocráticos. Na verdade, é uma forma de reflexão e de problematização das práticas de sala de aula. A fim de trazer benefícios para os alunos dos níveis de ensino Fundamental II e Médio que, muitas vezes, nem oportunidade têm de mostrar suas habilidades ou de crescer como ser humano crítico, decidimos estabelecer um vínculo mais forte entre a universidade e a escola, como uma forma, também, de pesquisa e de atuação.

182 A modificação das atividades tradicionais de Estágio para a elaboração de unidades de ensino, portanto, pode ser vista como uma alternativa que surte efeitos positivos. E é justamente por isso que trabalhamos com educação: para detectar lacunas, planejar, encaminhar, fazer intervenções, replanejar, enfim, tomar novas diretrizes, visando sempre à construção do conhecimento do acadêmico, futuro professor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, V. T. de. Conceito de leitura. In: CECCANTINI, J. L. C. T.; PEREIRA, R. F.; ZANCHETTA Jr. (Org.) Pedagogia cidadã: cadernos de formação: Língua Portuguesa. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria de Graduação, 2004. (vol 1) p. 61-75. FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 44. ed. São Paulo: Cortez, 2003. GERALDI, J. W. (Org.) O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. JESUS, C. A. de. Reescrevendo o texto: a higienização da escrita. In: GERALDI, J. W.; CITELLI, B. (Orgs.) Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, 1997. KLEIMAN, A. B.; MORAES, S. E. Leitura e interdiscipinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999. MARTINS, M. H. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002. YUNES, E. (Org.). Pensar a leitura: complexidade. Rio de Janeiro: PUC Rio; São Paulo: Loyola, 2002. 1 Mestre em Letras pela UEM, Coordenadora e docente do curso de Letras da Faculdade de Presidente Prudente (UNIESP).