Direito. crianças e adolescentes. à participação de. O caminho para a conquista de todos os direitos humanos



Documentos relacionados
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TEMPO FORMATIVO JUVENIL

CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

Carta do Movimento Paz & Proteção

PROPOSTA DE LEI N.º 233/XII

Faculdade Sagrada Família

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

O que é protagonismo juvenil?

Ciência na Educação Básica

PROPOSTA DE REVISÃO CURRICULAR APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA POSIÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL

DIÁLOGOS PARA A SUPERAÇÃO DA POBREZA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

1. Garantir a educação de qualidade

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL (PPI) DISCUSSÃO PARA REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL

Código de Ética e de Conduta

EIXO V 348. Gestão Democrática, Participação Popular e Controle Social 349. A articulação e mobilização da sociedade civil e de setores do Estado

Propostas para uma Política Municipal de Migrações:

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

Incentivar a comunidade escolar a construir o Projeto político Pedagógico das escolas em todos os níveis e modalidades de ensino, adequando o

PROJETO DE ELEIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE REPRESENTANTES DE TURMA DO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 2011


DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: MARCO REFERENCIAL E O SISTEMA DE GARANTIA DOS DIREITOS

A importância do diagnóstico municipal e do planejamento para a atuação dos Conselhos dos Direitos do Idoso. Fabio Ribas Recife, março de 2012

Unidade 9: Diálogos deliberativos

Belém/PA, 28 de novembro de 2015.

Declaração dos Mecanismos das Mulheres da América Latina e do Caribe frente ao 58º Período de Sessões da Comissão do Status da Mulher (CSW)

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

JORNAL OFICIAL. Sumário REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA. Quarta-feira, 2 de julho de Série. Número 99

O PEDAGOGO E O CONSELHO DE ESCOLA: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA

CREAS - Institucional. O que é o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social)?

POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

FACULDADE ASTORGA FAAST REGULAMENTO ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NOS PROJETOS SOCIAIS E NA EDUCAÇÃO - UMA BREVE ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO PROJETO DEGRAUS CRIANÇA

TEXTO PRODUZIDO PELA GERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL COMO CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE

Proteção Infanto-Juvenil no campo: uma Colheita para o Futuro

ELEIÇÃO 2014 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA BRASIL 27 DO BRASIL QUE TEMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS E PODEMOS DIRETRIZES GERAIS DE GOVERNO

RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DO ACESSO DA MULHER À JUSTIÇA NAS AMÉRICAS: QUESTIONÁRIO

CARTA EMPRESARIAL PELA CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE

Ata de Reunião da UTE/2014 realizada durante a XIX Cúpula da Rede Mercocidades

PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (PME)

OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Departamento das Educação Pré-escolar

ENSINO SUPERIOR: PRIORIDADES, METAS, ESTRATÉGIAS E AÇÕES

Fórum Nacional de Prevenção e erradicação do Trabalho Infantil. Estratégias para o Enfrentamento ao Trabalho Infantil em 2016

PLANO ESTADUAL DE CULTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PLANO SETORIAL DO LIVRO E LEITURA

A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

Projeto Grêmio em Forma. relato de experiência

CONCEPÇÃO DE CUIDADO E EDUCAÇÃO:

Educação para os Media e Cidadania

ZILIOTTO CONSULTORIA SOCIAL LTDA. FEBRAEDA

COMISSÃO DIRETORA PARECER Nº 522, DE 2014

CASAMENTOS FORÇADOS. Amnistia Internacional. Plano de Aula SOBRE ESTE PLANO DE AULA CONTEÚDO OBJETIVOS: MATERIAIS NECESSÁRIOS.

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

Recomendação CM/Rec (2013)1 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre a Igualdade de Género e Media (adotada pelo Comité de Ministros a 10 de

COLÉGIO MATER CONSOLATRIX PROJETO DE INTERVENÇÃO DE PSICOLOGIA

Plataforma dos Centros Urbanos

CIRCUITO DAS BRINCADEIRAS: O CURRÍCULO EM MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF)

A CONSTITUIÇÃO DO FÓRUM PERMANENTE DA PESSOA IDOSA NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO N , DE 27 DE FEVEREIRO DE 2013

GT de Juventude do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PIBID ESPANHOL

Carta de Princípios dos Adolescentes e Jovens da Amazônia Legal

PROPOSTAS LINHAS DE REFLEXÃO E AÇÃO

RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Gênero: Temas Transversais e o Ensino de História

Secretaria Nacional de Segurança Pública

1. Resolver um problema

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

Prefeitura Municipal de Santos

Apresentação. Objetivos do Programa

Regimento Interno CAPÍTULO PRIMEIRO DAS FINALIDADES

TUTORIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Maria Teresa Marques Amaral. Introdução

Diário Oficial Diário Oficial Resolução SE 52, de

Marco legal. da política indigenista brasileira

FOZ DE IGUAZU BRASIL. Celebração das experiências. Fortalecendo os avanços na garantía do direito à família

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

Composição dos PCN 1ª a 4ª

POLÍTICAS PÚBLICAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

Unidade I. Estrutura e Organização. Infantil. Profa. Ana Lúcia M. Gasbarro

Quando a verdade for flama

Pedagogia Estácio FAMAP

11. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Boas Práticas. Meus Direitos são Importantes NUYATALIL (idioma K iché) WOKLENA (idioma Mam) GUATEMALA. Catholic Relief Services CRS Guatemala

UMA LEITURA SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO JOVEM NO PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA

Divisão Projeto Escola Brasil Diretoria de Desenvolvimento Sustentável. Marcos de Referência

Segurança e Saúde dos Trabalhadores

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os

Disciplina Corpo Humano e Saúde: Uma Visão Integrada - Módulo 3

Educação ambiental na gestão das bacias hidrográficas

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MIRANDELA DEPARTAMENTO DO PRÉ-ESCOLAR A N O L E T I V O / 1 5

Transcrição:

Direito à participação de crianças e adolescentes O caminho para a conquista de todos os direitos humanos

Direito à participação de crianças e adolescentes o caminho para a conquista de todos os direitos humanos

SUMÁRIO DO QUE FALAMOS QUANDO NOS REFERIMOS AO DIREITO À PARTICIPA- ÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES?...3 A PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A CONVENÇÃO SO- BRE OS DIREITOS DA CRIANÇA- CDC...6 A PARTICIPAÇÃO COMO UM DIREITO HUMANO...9 QUE CONDIÇÕES DEVEM EXISTIR PARA QUE A PARTICIPAÇÃO SEJA REAL?...10 A INCIDÊNCIA POLÍTICA COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO...11 AS CONTRIBUIÇÕES DA PARTICIPAÇÃO PARA AS CRIANÇAS E ADOLES- CENTES...12 A SOCIEDADE ESTABELECE UMA INTERLOCUÇÃO DIRETA COM A INFÂN- CIA...13 REDE DE ADOLESCENTES PROTAGONISTAS DO ESTADO DO TOCANTINS 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...15

DO QUE FALAMOS QUANDO NOS REFERIMOS AO DIREITO À PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES? Desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão até a Declaração Universal dos Direitos Humanos que o exercício da liberdade, do relacionamento igualitário com seus pares, do direito a organizar-se e associar-se e a intervir com sua opinião nas decisões que lhe afetam, tem sido faculdades que humanizam e fazem legítima esta capacidade de envolver-se, de tomar parte, que se tem definido como participação. A participação de crianças e adolescentes não difere desta visão: é um meio que humaniza, que lhes dota de um conjunto de faculdades que devem ser garantidas pelos adultos, pela sociedade e pelo estado, mas que devido à sua condição particular relacionada à idade, obriga a gerar reflexões e a estabelecer ações que permitam fazer visível e real sua participação como direito. Direito a participação de crianças e adolescentes 3

Diversos autores tem abordado, a partir da Convenção dos Direitos da Criança, a participação infantil. Roger Hart, por exemplo, tem divulgado uma escala de participação em que identifica diferentes formas que vão desde a manipulação à decoração e o simbolismo, que não podem ser reconhecidos como participação. Mesmo outras em que crianças e adolescente contam com informações, são consultados e tomam decisões compartidas com os adultos. Enfim, Hart tem definido a participação como: relação com os processos de compartilhar as decisões que afetam sua vida e a vida da comunidade em que vive. É o meio pelo qual se constroem a democracia e é um critério com o qual se deve julgar a democracia. A participação é um direito fundamental da cidadania: É a força mobilizadora para a construção de ideais de mudanças. É um elemento chave para o exercício de outros direitos. É um pré-requisito para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade. É um direito que se conquista por meio de um processo de construção de luta individual e coletiva, com responsabilidade e organização para garantir que a opinião e expressão de crianças e adolescentes sem distinção de raças, religião, capacidades físicas, sexo, opinião política ou outros, incidam de forma propositiva na tomada de decisões em todos os âmbitos. Esse processo de construção deve fundamentar-se em relações horizontais com respeito, solidariedade e excelência, deixando de lado as formas decorativas, enunciativas e manipuladoras. A participação está estritamente vinculada à cidadania e à democracia. 4 Direito a participação de crianças e adolescentes

É quase impossível na atualidade concebê-las separadas. No caso da participação de criança e adolescente, suas vozes ou outras formas de expressão, começam a ter presença efetiva quando a condição de ator social se faz legítima, sentido básico da cidadania. O protagonismo mesmo é uma mostra importante de fazer visível a presença da criança e do adolescente nos cenários públicos de contribuir com a redistribuição do poder político e social com os adultos e o cumprimento de dívidas sociais históricas baseadas na exclusão que ainda persiste. A participação não se dá por si só. É um processo de desenvolvimento de maneira gradual. Requer atitudes particulares e aprendizagens, evoluindo com a idade e experiência e está presente nas complexas e diversas relações de poder em todos os espaços onde se desenvolvem a pessoa e que se configuram a sociedade. O conceito de participação põe em pauta que incluir as crianças e adolescentes não deve ser um ato momentâneo, sem ponto de partida, deve ser um intenso intercâmbio de visão e opinião entre criança e adolescente em todos os aspectos e contextos pertinentes a sua vida. A capacidade de expressão, de buscar e propiciar informação, de ser ouvido, de organizar e principalmente de serem levando em conta no momento de construir decisões que lhes afetam são componentes da participação de crianças e adolescentes. Direito a participação de crianças e adolescentes 5

Enfoque Teórico da Participação Infantil Convenção da ONU sobre Direitos da Criança (1989) Escada da Participação Roger Hart (1992) Teoria da Precidadania García y Mico (1997) Direito Facilitador Peter Crowley (1998) Protagonismo Infantil (Anos 70) Sujeitos de direitos (opinar, acesso à informação, liberdade de pensamento, associação, etc.). Grau de amadurecimento e desenvolvimento. Interesse superior da criança. Relacionado com Projetos. Condição de cidadania. Processo e meio para construir a democracia. Parte de papéis predefinidos até a tomada de decisões. Bases filosóficas, morais e jurídicas. Cidadania em potência. Socialização e tempo prévio para habilitação política. Moral em formação e trânsito para autonomia. Caráter civil e político. Um fim em si mesmo. Direito facilitador, permite lograr outras metas. Abarca todos os assuntos e âmbitos. Base ideológica, educativa e ética política. Ator social e construção de identidade. Exercício de cidadania e de poder. Ligado a organizações infantis. A PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA- CDC A participação é uma ação que legitima as perceptivas éticas, normativas e de desenvolvimento humano prevista na Convenção sobre os Direitos da Criança- CDC de 1989, e deve ser incorporada nas agendas nacionais, estaduais e municipais e no cotidiano das próprias crianças e adolescentes que individualmente ou organizadamente se apropriam e a seguem exercendo. 6 Direito a participação de crianças e adolescentes

Há quase 24 anos, depois de ter sido proclamada de modo universal e ratificada por quase todos os estados, inclusive o Brasil, a CDC é uma bandeira de promoção dos direitos de crianças e adolescentes e de sua inclusão como atores sociais e cidadãos. Esse documento apresenta um conjunto específico de artigos que juntos dão conta da faculdade diversificada da participação, que não pretende ser diferente da adulta ou excludente das decisões públicas em que busca ser protegida e promovida, precisamente para que seja legitima pela visão adulta. Contudo, é o artigo 12 da CDC que propõe a essência mobilizadora do que se relaciona com participação: Artigo 12 1. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em consideração essas opiniões, em função da sua idade e da sua maturidade. 22. Com tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a oportunidade de ser ouvida em todo processo judicial ou administrativo que afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional. Este artigo se articula diretamente com: Artigo 13 Propõe que terá direito a liberdade de expressão, que inclui buscar, receber e difundir informações e ideias de todo tipo, sem consideração de fronteiras, que seja oralmente, por escrito ou impressa, em forma artística ou por qualquer outro meio elegido pela criança e adolescente. Direito a participação de crianças e adolescentes 7

Artigo 14 Propõe que os estados devem respeitar o direito a liberdade de pensamento, de consciência e de religião das crianças e adolescente. Artigo 15 Estabelece que os estados devam reconhecer os direitos de criança e adolescente à liberdade de associação e de celebrar reuniões pacíficas. Artigo 17 Assinala que as crianças e adolescentes tem direitos à informação, o qual é coerente com o artigo 12, porque para a realização efetiva do direito a expressar as opiniões é necessário que tenham acesso à informação, em formatos e espaços adaptados a sua idade e capacidade, respeito de todos os aspectos que lhes concernem. Artigo 30 Faz menção do direito em estados que contam com minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, a ter sua própria vida cultural, a professar e praticar sua própria religião e empregar seu próprio idioma. Artigo 31 É o único que faz menção diretamente a participação para referirse ao esporte, arte, a recreação, e a vida cultural. Princípios da Convenção Interesse superior da criança e do adolescente Implica reconhecer que em qualquer circunstância as instituições públicas e privadas, os tribunais e qualquer outra autoridade administrativa e os responsáveis legais, devem assegurar 8 Direito a participação de crianças e adolescentes

que se elejam sempre critérios que responda ao melhor benefício e proteção das crianças e dos adolescentes. Sujeito de direitos A CDC traz uma nova concepção de infância, totalmente distinta daquela que se via refletida nos primeiros documentos jurídicos nacionais e internacionais prévios à ela, nos quais crianças e adolescentes eram vistos como objeto de proteção, causa de imaturidade, pobres, perigosos para a sociedade, e, portanto, passíveis de institucionalização de acordo com a doutrina da situação irregular. DESTAQUE Ter introduzido na CDC artigos relacionados com o interesse superior de crianças e adolescentes e seu reconhecimento como sujeito de direitos e incluir a participação como um princípio transversal com relação a todos os direitos, contribui para seu desenvolvimento como pessoa. A PARTICIPAÇÃO COMO UM DIREITO HUMANO A participação enquanto um direito humano garante que as visões das crianças e adolescentes sejam levadas em conta como elemento central das decisões que os afetam. A participação está condicionada pelo grau de autonomia que as pessoas menores de 10 anos vão alcançando: suas formas e processos serem progressivos e estabeleçam vínculos variantes com seus pares e adultos. A participação deve se promover em ambientes protetores, em base a relações facilitadoras de aprendizagem e cuidado perante situações de abuso e manipulação. Direito a participação de crianças e adolescentes 9

QUE CONDIÇÕES DEVEM EXISTIR PARA QUE A PARTICIPAÇÃO SEJA REAL? Reconhecimento do direito a participação Existência dos meios e os espaços para realizá-la Presença da capacidade necessária para exercê-la Reconhecimento do direito à participação É o reconhecimento de que crianças e adolescentes gozam da capacidade genérica de participar num contexto que promova o seu desenvolvimento. A mais eficaz formação para a participação é aquela que se consegue mediante a própria prática, pois a participação se aprende participando. Presença da capacidade necessária para exercê-la É a inserção no processo formativo de participação, as competências e habilidades das dimensões da educação, coerente com proposta da CDC. 10 Direito a participação de crianças e adolescentes

Existência dos meios e os espaços para realizá-la É quando família, escola e sociedade, que promovem a participação, respeitam o caráter voluntário e que respondam às condições e características da idade, amadurecimento, meio sociocultural e desenvolvimento peculiar. A INCIDÊNCIA POLÍTICA COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO QUEREMOS PARTICIPAR E SERMOS ESCUTADOS! A incidência, através da participação cidadã, é um processo proposto para buscar transformações ou melhorias públicas por meio de influência nas politicas: processo dinâmico que se realiza por organizações que podem acompanhar a evolução política, determinando assim resultados e retrocessos nas metas ou linhas de ações. Faz-se necessário defender a importância da participação de criança e adolescente como força que propicia mudanças, que por sua vez, gera impactos em suas vidas e aporta a reivindicação de sua cidadania. As desigualdades na distribuição do poder e a necessidade de gestar novas formas de relacionamento entre adultos, crianças e adolescentes são desafios importantes. As diferentes formas de organização de crianças e adolescentes devem buscar que se construam objetivos, agendas e dinâmicas de relacionamento de modo rápido, concreto e de fácil acompanhamento, de modo tal que a mudança possa ser natural e Direito a participação de crianças e adolescentes 11

estimule alianças com grupos de pares, adultos e organizações sociais e instituições públicas. AS CONTRIBUIÇÕES DA PARTICIPAÇÃO PARA AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES Desenvolvimento como pessoa Contribui no reconhecimento como ser político e sujeito social, na construção do projeto de vida e como fonte de iniciativa, compromisso e autonomia. Visibiliza a infância como ator social e potencializa o impacto de suas ações Na América Latina e no Caribe, crianças e adolescentes constituem aproximadamente 38% do total da população e se tem produzido avanços relativos a respeito dos seus direitos e especificamente a sua participação, a atenção a infância enquanto a sua historia, investigação de políticas públicas, programas e ações, todavia continuam excluídas dos processos de tomada de decisões dos assuntos que lhes afetam. As experiências reconhecidas pelas organizações que promovem a participação de crianças e adolescentes podem aportar, entre outras, as seguintes vantagens (Gaitán y Martínez, 2006): Aumenta a eficácia das intervenções para e com as crianças e adolescentes. Sensibiliza e aumenta a visão social da infância, melhorando a presença real de criança e adolescentes na sociedade. Potencializa a integração e reconhecimento da infância como grupo, observando a singularidade de cada criança e adolescente. 12 Direito a participação de crianças e adolescentes

Promove a visão de criança e adolescente como atores sociais em contraste com a imagem de ser só beneficiário das intervenções dos adultos. Assegura o impacto não só local e regional como também, nacional e internacional de suas ações. As crianças e adolescentes apreendem sobre como influir nas decisões, de modo que eles, a sua vez, serão adultos mais responsáveis e usarão essas habilidades para melhorar sua sociedade no futuro. A SOCIEDADE ESTABELECE UMA INTERLOCUÇÃO DIRETA COM A INFÂNCIA O aumento e progresso da participação das crianças e adolescentes nos últimos anos tem dado lugar a um processo novo e mais dinâmico no qual se reconhece a capacidade desses atores em contribuir com o conhecimento, difusão, incidência, controle social do cumprimento de seus direitos. Muitas iniciativas desenvolvidas são testemunhas inegáveis da capacidade de crianças e adolescentes, incluindo os mais pequenos, de atuar como organizadores de campanhas, defensores de direitos e analistas de politicas, áreas que, sem exceção, tradicionalmente se consideravam fora do alcance de sua competência. É interessante destacar que as principais ações e o maior impacto da participação de crianças e adolescentes se alcançam por intermédio de suas organizações e redes de organizações, como é o exemplo da Rede de Adolescentes Protagonistas do Estado do Tocantins, a qual logra representação nas estruturas de governo, de suas escolas, suas comunidades e municipalidades locais. Direito a participação de crianças e adolescentes 13

REDE DE ADOLESCENTES PROTAGONISTAS DO ESTADO DO TOCANTINS A Rede Estadual de Adolescentes Protagonistas foi criada em Palmas-TO, por iniciativa de adolescentes oriundos das oficinas de participação e protagonismo juvenil desenvolvidas pelo Cedeca Glória de Ivone. A princípio, os adolescentes se organizaram apenas em Palmas com o propósito de lutar pelos seus direitos. No entanto, com o passar do tempo perceberam que convocar meninos e meninas de outros municípios do estado se fazia imprescindível para o fortalecimento e mobilização da incidência política. Atualmente os adolescentes que integram esta rede, participam ativamente de espaços de discussão e deliberação de políticas públicas e representação política, dos grupos e coletivos de adolescentes e nos demais espaços em que estão inseridos como na família, na escola e na comunidade e, sobretudo, fazem ecoar suas vozes nas redes sociais em torno dos seus direitos humanos. 14 Direito a participação de crianças e adolescentes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069/90. Brasília: Senado Federal, 1990.. Convenção sobre os Direitos da Criança. Decreto nº 99.710, Presidente da República, 21 de nov. de 1990. HERAZO, Alfonso Gutiérrez (Org.). ALFAGEME, Erika. FREYRE, Jorge. Giorgi, Víctor. La partipación de niños, niñas y adolescentes espacios de incidencia regional. Montevideo: junho de 2013. SOLARI, Gina (Org.). ALFAGEME, Erika. FREYRE, Jorge. Promoción de la participación de niños, niñasy adolescentes: Experiencias em Ecuador, Paraguay, Perú y Uruguay. Montevideo: junho de 2013. Direito a participação de crianças e adolescentes 15

Ficha Catalográfica Organização e Sistematização Mônica Brito Simone Brito Ilustração Cleonise de Lourdes Teles Soley Padilha

CEDECA GLÓRIA DE IVONE Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Tocantins