Cenários de um novo mercado



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SUPLEMENTO ESPECIAL SEGUNDA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2008 D1 ROGÉRIO MONTENEGRO/GAZETA MERCANTIL RETOMADA Total de empresas registradas na Bovespa 559 1998 468 2001 447 2008* 410 2003 Fonte: Bolsa de Valores de São Paulo 381 2005 * Até maio Cenários de um novo mercado Com a conquista do grau de investimento, o Brasil atrairá novos investidores e os profissionais de RI ganham relevância como interlocutores entre as empresas e o mercado NELSON ROCCO A estabilidade econômica e a conquista do grau de investimento pelo Brasil têm estimulado o apetite dos investidores no mercado acionário. Prova disto é que em maio o volume médio negociado no pregão paulista esteve na casa dos R$ 7 bilhões. A capitalização das companhias com ações em bolsa acompanhou a evolução do mercado. Levando-se em conta as 398 empresas com negócios em maio, o valor chegou a US$ 1,58 trilhão. Esse desempenho do mercado acionário reflete a importância dos profissionais de Relações com Investidores (RI). Hoje, o mercado brasileiro de capitais é outro em comparação com onze anos atrás, exatamente o período de existência do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), fundado em junho de 1997. A instituição reúne profissionais que, no dia-a-dia, traduzem os números das companhias abertas para os acionistas, tiram dúvidas e explicam o que acontece com as ações e os balanços das empresas. Com uma volta no tempo, pode-se constatar que nesses dez anos o total de companhias abertas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo revelou uma nova tendência. Em 1998, eram 559 companhias. E as notícias eram apenas de fechamento de capital. Muitas empresas, compradas por multinacionais, preferiam pedir recursos às matrizes a buscá-los no mercado acionário. Esse movimento se intensificou até que o espaço do pregão ficou amplo demais para as 381 empresas existentes em 2005. O próprio mercado, no entanto, mudou de tônica. Novas empresas começaram a enxergar na Bovespa uma alternativa de capital para bancar seus investimentos. Os IPOs (ofertas públicas iniciais, na sigla em inglês) tomaram conta do noticiário. No ano passado, 64 empresas abriram capital, com uma capitalização de R$ 55,6 bilhões. Alguns críticos disseram que os empresários e os bancos de investimento estavam exagerando, levando ao mercado algumas empresas que ainda não estavam preparadas. Se os críticos estavam certos, só o tempo dirá. Neste ano, o movimento já está mais contido. Muito foi feito pelos agentes do mercado nesse período para seu amadurecimento. A Bovespa pode ser responsabilizada ao menos por dois fatores. A campanha de popularização do mercado de ações é uma delas, com visitas a empresas e pontos turísticos. A ação trouxe uma gama de investidores pessoa física para o pregão que, aliás, não é mais realizado viva-voz, mas apenas eletronicamente. A outra atitude foi a criação do Novo Mercado e os níveis diferenciados de negociação 1 e 2, no final de 2001. O segmento de listagem chamado Novo Mercado introduziu no pregão uma série de regras mais rígidas de governança corporativa, como ter o capital dividido apenas em ações ordinárias aquelas que dão direito de voto nas assembléias, tag along de 100% aos minoritários em caso de venda de controle da empresa e a exigência de contratação de conselheiros independentes, entre outros itens. O mais importante: aderir a essas regras não é obrigatório, cada empresa decide se vai ou não ao Novo Mercado. Esse novo ambiente foi fundamental para a atração de capital estrangeiro. No ano de sua criação, o Novo Mercado ajudou a Bovespa a atrair R$ 815 milhões em dinheiro de fora. Em abril passado esse saldo foi positivo em R$ 6 bilhões. Novo País O Brasil também mudou em dez anos. Conseguiu debelar a inflação, tem se mostrado um destino confiável para os investidores estrangeiros, mantido superávit fiscal sob controle e passou a ser exportador líquido de capital neste ano, deixando muito distante os tempos da dívida externa inadministrável e o calote nos credores externos. Com esse novo perfil, o País conquistou a confiança das agências de classificação de risco. No dia 30 de abril, a Standard & Poor s concedeu o grau de investimento aos títulos de dívida emitidos pelo Brasil no exterior. Menos de um mês depois foi a vez da Fitch Ratings conceder a nota BBB- aos papéis do Brasil. Com dois selos de garantia, o País deve se tornar um novo destino para os recursos externos, principalmente de fundos de pensão e de investimentos, que antes o olhavam com desconfiança. Na bolsa, o reflexo do novo status brasileiro foi imediato. O Ibovespa, índice que mede a variação dos preços das ações mais negociadas, bateu o recorde de 73,5 mil pontos em 20 de maio. Apenas como referência, há dez anos, o índice estava em 6,7 mil pontos. Ou seja, evoluiu mais de dez vezes no período.

D2 Segunda-feira, 9 de junho de 2008 GAZETA MERCANTIL Evento destaca a importância dos profissionais VENCEDORES As melhores práticas e estratégias Vale recebe sete prêmios na edição 2008 do IR Magazine Brazil Awards FOTOS ROMUALDO RIBEIRO/GAZETA MERCANTIL REDAÇÃO Para reconhecer a importância da atividade exercida pelos profissionais de relações com o mercado a IR Magazine Brazil Awards realizou no dia 2 de junho o evento de premiação da edição 2008 do prêmio IR Magazine Brazil Awards que mostrou as melhores práticas de relações com investidores e de comunicação com os acionistas. Este ano o destaque ficou com a Companhia Vale do Rio Doce, que sete prêmios. A atividade de Relações com Investidores no Brasil vem ano a ano ganhando relevância por sua missão de ser a voz das empresas para os acionista e o mercado. Borges Pacheco - Odontoprev Roberto Castelo Branco - Vale do Rio Doce Daniela Tinoco - Login Helmut Bossert - Natura Edina Biava, Marco França e Leopoldo Saboya - Perdigão Janaina São Felicio - Vivo Rosangela Sutil de Oliveira - GVT Tarcisio Beuren - Gerdau

GAZETA MERCANTIL Segunda-feira, 9 de junho de 2008 D3 Uma das dificuldades dos profissionais de RI é a comunicação C O N TA B I L I D A D E Conversão à lei fortalece profissionais Novos papéis foram dados aos RIs com 11.638, cujo conteúdo aproxima País do IFRS LUCIANO FELTRIN Os departamentos de Relações com Investidores (RI) das principais empresas brasileiras ganharam novos desafios a partir deste ano. O maior deles está ligado ao processo de convergência contábil a que as companhias estão sendo submetidas desde a aprovação, no fim do ano passado, da Lei 11.638, cujo conteúdo deverá aproximar as normas praticadas no País àquelas aceitas nas principais praças acionárias mundiais:o IFRS (International Financial Reporting Standards). Uma das maiores dificuldades dos profissionais de RI ao longo da adaptação será comunicar-se adequadamente com analistas, investidores e imprensa. Somente assim os efeitos causados pelas alterações poderão ser mensurados e a cobertura das ações no mercado ser a mais próxima possível da realidade das companhias. Empresas de setores que fizeram diversos IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês) nos últimos anos estão atentas a essa oportunidade. E querem destacar-se com a adoção da nova métrica. É o caso da consultoria de imóveis Lopes, que quer aproveitar a adoção do IFRS para mostrar suas diferenças em relação à concorrência. A convergência contábil fez com que os RIs ganhassem uma responsabilidade adicional. Desde quando foi decidido que as empresas brasileiras teriam de adequar-se reforçamos o comprometimento de comunicação com investidores e mercado. É um processo de alinhamento assumido pela alta administração e será muito útil para mostrar nossas estratégias para os interessados pela empresa. A grande vantagem que o IFRS agrega às empresas é a possibilidade de comparação de balanços, diz o coordenador da área de RI da Lopes, Diego Barreto. De acordo com o executivo, a companhia está na 1ª fase da conversão contábil. Dela devem constar uma avaliação sobre os principais impactos no balanço. As próximas etapas envolverão alterações em sistemas de tecnologia da informação e capacitação de pessoal. A Lopes decidiu que, ao avançar em cada um desses passos, comunicará imediatamente ao mercado, exemplifica. Diferenças Companhias que têm pouca ou nenhuma concorrência em seu segmento de atuação dentro da Bovespa também vêem no IFRS um bom instrumento de governança corporativa. Trata-se de uma linguagem contábil universal e que nos será de grande utilidade, principalmente quando outras empresas do setor passarem a negociar ações na bolsa, projeta Claudio Ely, diretor-executivo e de relações com investidores da Drogasil, 2ª maior rede de drogarias de São Paulo e 4ª do País, com mais de 240 lojas. Estamos naquele que é considerado o 2º passo do processo de convergência, que é aquele que envolve a capacitação de nosso pessoal e de sistemas de TI (Tecnologia da Informação) da empresa, relata. A rede de farmácias, cujo ingresso no Novo Mercado da bolsa ocorreu em julho de 2007, não prevê alterações relevantes em seus balanços durante o processo de convergência. Percebemos que, quanto mais longo o prazo das operações financeiras nas contas, maiores podem ser os impactos. Como nossa atividade envolve geração de fluxo de caixa de curto prazo, não devemos sofrer com isso, afirma Ely. As grandes empresas de auditoria e contabilidade com atuação no País têm procurado aproveitar experiências de implemantação do IFRS ao redor do globo para evitar os erros já cometidos. Em especial na comunicação. A adaptação traz como imperativo a transferência de conhecimento. É um exercício contínuo que tem de ocorrer ao longo do processo da coleta das informações contábeis que serão alteradas, explica o sócio da PriceWaterhouseCoopers de Londres, Alex Finn. Na avaliação do executivo, a comunicação inadequada causou a queda de até 25% no valor das ações de algumas empresas eu ropéias. Houve um ou dois exemplos catastróficos, quando a má qualidade das informações fornacidas não deu boas condições de análise ao mercado, diz Finn. O especialista, que está envolvido no processo de introdução do IFRS no Canadá, cita aquele que considera ser o erro mais comum cometido naquele país durante a adequação contábil. Muitas empresas européias acreditaram que, em meio período, os funcionários de contabilidade dariam conta da tarefa, lembra. A comunicação eficaz dependerá de uma visão estratégica do RI. A opinião é da presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Maria Helena Santana. As principais decisões do núcleo administrativo das companhias têm de ser compartilhadas com os profissionais de RI, afirma. ROMUALDO RIBEIRO/GAZETA MERCANTIL Diego Barreto, coordenador de relações com investidores da Lopes: alinhamento é essencial A adaptação nos bancos Os bancos com atuação no mercado brasileiro começaram a preparar-se antes para o IFRS. Afinal, um comunicado emitido em 2006 pelo (BC) Banco Central já previa a necessidade de conversão. As normas de Basiléia 2, que referem-se a riscos operacionais das instituições financeiras, já citavam a qualidade das elaborações financeiras como algo extremamente importante, afirma o chefe do departamento de normas do sistema financeiro do BC, Amaro Luiz Gomes. O IAS 39 (capítulo do IFRS que trata da mensuração e reconhecimento de instrumentos financeiros), é o normativo que terá os maiores impactos para o setor, embora muitos bancos do País já adotem várias de suas diretrizes, afirma. A necessidade de adequação iniciada pelo BC foi reforçada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no caso de bancos cujas ações são listadas na Bovespa. Somente durante o ano passado, 10 bancos de médio e pequeno portes fizeram IPO. O último deles foi o Panamericano, controlado pelo empresário e apresentador de TV Silvio Santos. Hoje, sua a base de investidores é formada em grande maioria 85% de estrangeiros, que demandam a maior parte da atenção do departamento de RI. Em média, todas as semanas dois ou três desses investidores são atendidos pelos profissionais da área. Eles mantêm um contato bastante ativo com a instituição. Sempre que estão no Brasil fazemos o possível para que venham até nossa sede, o que é muito saudável, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Wilson de Aro, que também frequenta eventos com os principais bancos de investimentos, cujos participantes são investidores ou potenciais investidores do Panamericano. A agenda da adaptação ao IFRS no Brasil será bastante movimentada até 2010. Até lá, diversos temas serão colocados em período de audiência pública pela CVM e o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), órgão que congrega diversas entidades do setor e entre cujas principais funções estão o estudo, preparação e emissão de pronunciamentos técnicos sobre o tema. O calendário é bastante apertado, reconhece o coordenador de relações institucionais do CPC, Alfried Plöger. O pronunciamento sobre a estrutura conceitual que traz as diretrizes sobre a conversão foi aprovado em março. Uma minuta sobre como deverão ser as demonstrações de fluxos de caixa das companhias com as novas regras está em audiência pública. Os novos princípios contábeis fortalecerão o papel da contabilidade como instrumento de informação e governança corporativa, projeta o vice-coordenador técnico do CPC, Eliseu Martins. A REVISTA RI parabeniza a todos os indicados e vencedores do IR Magazine Awards Brazil 2008, e se orgulha de patrocinar este importante - evento que celebra a excelência da comunicação e as boas práticas de relações com investidores no Brasil. www.revistari.com.br

D4 Segunda-feira, 9 de junho de 2008 GAZETA MERCANTIL O País poderia ser melhor com a redução de gastos públicos ENTREVISTA Geraldo Soares A hora e a vez dos profissionais de RI Com a crescente oferta de ações por empresas de diferentes tamanhos e o fortalecimento da área de Relações com Investidores, profissionais desse segmento se tornaram peças fundamentais ROMUALDO RIBEIRO/GAZETA MERCANTIL IVONÉTE DAINESE O recente grau de investimento concedido ao Brasil pelas agências de classificação de risco Standard & Poor s e Fitch Ratings é um dos principais indicadores de que a economia brasileira está fortalecida. Com o anúncio dessa nova classificação, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) viveu momentos de euforia, registrando altas nos fechamentos e voltando a bater recordes. Isso tudo em meio às atuais incertezas sobre a economia global, que enfrenta a crise nos Estados Unidos decorrente de empréstimos imobiliários (a crise do subprime) e a alta das taxas de inflação nos quatro cantos do mundo. Com esse selo de garantia dado ao País pelas classificadoras de risco, mais empresas, mesmo as pequenas e médias, passaram a olhar o mercado de capitais de outra maneira e, por conta disso, os profissionais da área de Relações com Investidores (RI) - poucos ainda em atividade no Brasil - terão muito trabalho pela frente. Essa é a expectativa do presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), Geraldo Soares. Abaixo, trechos da entrevista concedida por Soares à G az et a Mercantil. Gazeta Mercantil Qual é o papel e o valor da área de Relações com Investidores para as empresas? É muito importante, porque se consideramos que para uma empresa o valor de mercado que ela tem em bolsa, ou em várias bolsas, é um diferencial competitivo, ela consegue ser uma empresa melhor, mais eficaz, mais competitiva tendo um valor de mercado alto com a RI. Esta área serve como interlocutor entre a empresa, os investidores e analistas porque faz a comunicação da empresa com o mercado. Portanto, é uma peça fundamental para se entender o que está acontecendo com a empresa, suas as operações e as estratégias. Ao mesmo tempo, o profissional ouve o que o mercado deseja, as reclamações e as críticas. Ele é quem traz as sugestões para a companhia. GZM Quais as competências exigidas de um profissional de RI e como as empresas escolhem o executivo exercerá essa função? Posso classificar duas competências. Primeiro, o profissional tem que ser muito bom na comunicação, porque vai ter que interagir com investidores pessoa física e acionistas minoritários que conhecem muito pouco de mercado de capitais. Ao mesmo tempo, terá que tratar com especialistas no tema, ou o trader de Londres, por exemplo. Sempre faço uma comparação com o aposentado de Peruíbe (cidade do litoral paulista), que tem suas ações, e de um "trader que recebe dividendos de uma empresa londrina. Para esse último tudo tem que ser rápido, instantâneo, enquanto o aposentado, quando liga, tem tempo para ficar ao telefone discutindo o assunto. Por isso, o profissional de RI precisa ter uma comunicação muito boa e interpessoal. A segunda questão: tem que conhecer finanças, porque o público com o qual ele lida são contadores e analistas de finanças e que conversam muito sobre isso. E tem de saber línguas estrangeiras. Eu diria então que tem que saber contabilidade, finanças e uma língua estrangeira, no mínimo o inglês. GZM Essas exigências têm aumentado, já que muitas empresas estão abrindo capital? Na verdade essa é uma profissão nova no País. Temos o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) como parâmetro, porque ele só tem 11 anos e por isso, existem poucos profissionais. Os mais experientes são poucos, infelizmente, mas esse número está crescendo. GZM De que forma o IBRI mostra para as empresas a importância do profissional de Relações com Investidores? Estamos tomando várias iniciativas. Para se ter uma idéia, há dois anos, quando assumi a presidência, eram apenas 250 associados e agora são 550. Fizemos um evento nos dias 2 e 3 de junho último em que houve recorde de inscrições, de cobertura pela mídia especializada e de patrocinadores, porque o mercado está crescendo e o profissional está assumindo uma posição estratégica dentro da empresa. Uma das estratégias de sucesso do IBRI foi a parceria com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para montar o Guia de Relações com Investidores, que é distribuído para a empresa que pensa em abrir capital, no qual constam informações básicas e o mínimo que uma empresa precisa ter para se relacionar com o mercado. Uma outra ação que fizemos com a Bovespa, neste ano, foi um curso em que convidamos empresas que recentemente abriram capital e outras que pretendem abrir. É fundamental que o profissional tenha um bom conhecimento da empresa e do mercado balhando e procurando o aperfeiçoamento, melhorando assim a qualidade do profissional da área. Este ano vamos lançar mais um livro voltado para a relação com investidores no Brasil, e nele vamos mostrar quais são as melhores práticas. GZM Atualmente, quais são os principais desafios do profissional de RI? É sempre bom lembrar que no passado, o departamento de Relações com Investidores não era importante, o empresariado não via uma empresa como competitiva, com valor de mercado diferenciado na comparação com outras empresas. Hoje, há esse diferencial, com algumas empresas comprando outras e usando como base a troca de ações, ou seja, eu compro uma empresa e troco ações, não há desembolso de dinheiro, capital etc. GZM Apesar da obrigatoriedade de as empresas de capital aberto constituirem um departamento de RI, algumas ainda preferem a contratação de empresas de consultoria. Qual sua avaliação sobre isso? A terceirização é uma questão inexorável, vai existir sempre nas relações com investidores, porque a questão é muito técnica e estratégica. Você sempre contrata empresas para ajudar a fazer um relatório. O que acho positivo é que a terceirização pode ajudar em muitas questões e uma delas é quando é necessário Geraldo Soares, presidente-executivo do IBRI, lembra que o mercado precisa de profissionais com potencial e motivação GZM Quais os temas que o IBRI pretende colocar em discussão neste ano? Um dos temas importantes é o da padronização contábil, a IFRS (International Financial Reporting Standard). O Brasil vai ter que se adaptar ao padrão europeu, o que vai mexer muito nas demonstrações contábeis e, justamente por isso, estamos desenvolvendo também outros cursos para discutir essa padronização. Essa mudança é muito boa para o País, é mais um marco que interessa a todos, porque vai nos colocar em igualdade com outros países. Com isso, qualquer investidor vai conseguir, através de dados contábeis, comparar uma empresa brasileira com uma estrangeira. É um grande desafio que nós temos para os próximos anos e evidentemente para a formação do profissional. O IBRI sempre está trafazer pesquisa de mercado, porque é muito ruim a empresa fazer isso. Se eu perguntar diretamente sobre minha empresa, é claro que a resposta é que estamos bem, que tudo está ótimo sempre, só para haja um bom relacionamento comigo. Mas se eu contrato uma consultoria, ela vai me dizer exatamente a verdade. O que eu acho negativo é que pelo menos cem empresas brasileiras têm uma postura de companhia aberta e as demais utilizam muito o serviço terceirizado para tratar do relacionamento delas com o mercado. Isso eu acho ruim. Informação não é commodity, informação é algo elaborado, algo criativo. Se terceirizar a comunicação da empresa com o mercado você não está criando, você não está repetindo a identidade que a empresa tem no seu marketing, no relacionamento com o mercado. Terá uma outra identidade, ou seja, é a identidade da empresa que foi contratada. É justamente por isso que é preciso tomar muito cuidado, porque a informação a ser passada para o mercado tem que ser elaborada, sofisticada e tem que refletir a identidade da empresa. GZM Qual é o percentual das empresas que ainda recorrem à consultoria? Toda empresa depende de algum tipo de consultoria ou de serviços, sendo que as grandes empresas usam mais os serviços de relações com investidores, utilizam para uma pesquisa, ou a impressão de material, uma consulta de uma ferramenta no site. Um exemplo, do que elas não fazem é um mailing list, que é um dos principais documentos de uma empresa. Hoje encontramos empresas novas que estão deixando o mailing list nas mãos de terceiros e isso é um risco. Podemos considerar um mailing list como um ativo de uma empresa GZM Qual a maior dificuldade enfrentada pelas empresas para montar a área de RI? É importantíssimo que os profissionais sejam dinâmicos porque o mercado de capitais é dinâmico. Para montar um departamento de RI é preciso conhecer muito a empresa e o seu setor de atuação. É fundamental que o profissional tenha um bom conhecimento do mercado. GZM Quais são as ferramentas de comunicação que o RI deve utilizar para manter um canal de comunicação com os acionistas? Hoje, um dos principais é um website de relações com investidores, que é um canal de comunicação essencial, fundamental para a área. Outro canal utilizado pelas grandes empresas é um informativo trimestral, usando uma linguagem didática com os seus acionistas. O terceiro canal, e que está em expansão, são as reuniões promovidas pelo mercado de capitais. GZM Atualmente, no mercado brasileiro, apenas a Fipecafi tem um MBA específico para RI. É pouco, não? O mercado está crescendo e nós temos na Fundação de Pesquisas Contábeis, Atuarias e Financeiras (Fipecafi) um MBA, pelo qual já foram formadas nove turmas e a oitava está cursando agora. Isso vem ajudando no desenvolvimento desses profissionais. Com relação ao aumento da qualificação desse profissional, o mercado está se sofisticando. O profissional enfrenta novos desafios, principalmente agora com o grau de investimento do Brasil e com a padronização das informações contábeis. Esse processo já está em curso. Até 2010, as empresas terão que divulgar as informações contábeis pelo novo modelo europeu, o que vai exigir do profissional um grande conhecimento desses novos mecanismos. O grau de investimento está atraindo um público novo para o mercado brasileiro, que são os A IFRS exigirá do profissional um grande conhecimento dos novos mecanismos investidores estrangeiros. Muitos não aplicavam num país que não tinha grau de investimento. A tendência é crescente para que venha um novo tipo de investidor e um, que considero importante, é o da pessoa física. Então há dois públicos que precisam interagir: de um lado existe o profissional especializado e do outro lado essa pessoa que não é especializado. São novas linguagens, ou seja, desafios que precisam ser aprimorados. GZM Como e onde o profissional de RI busca formação? Existem cursos no exterior? O próprio IBRI faz eventos para aperfeiçoar os profissionais com temas e desafios da profissão. Este ano já fizemos um debate técnico que muito contribuiu para esses profissionais. E pretendemos ainda realizar muitos trabalhos com relação a temas de in- teresse de mercado. Em junho, por exemplo, vamos discutir sustentabilidade no mercado de capitais, que é uma questão importantíssima e que será um tema recorrente daqui para frente. GZM Com o grau de investimento, o que muda nas atribuições do RI? Vem por aí um novo público de investidores, principalmente, do exterior, como grandes fundos de pensão internacionais e que não podiam investir no País porque seus estatutos não permitiam investir em países que não tinham grau de investimento. Agora vamos ter um grande número de investidores que vão olhar para o País com mais carinho, pensando em alocar capital aqui. Outra questão é que nos países que tiveram grau de investimento a taxa de juros caiu 2 pontos percentuais no prazo de um ano. É apenas uma média, eu não estou dizendo que no Brasil essa taxa poderá cair dessa forma, mas o estudo mostra que há uma tendência nesse sentido. Se isso ocorrer, as pessoas físicas começarão a olhar com mais atenção para o mercado de capitais, porque vão ver a rentabilidade. A possibilidade de você aumentar essa migração é uma perspectiva do futuro próximo. GZM Há espaço para jovens recém-formados na área de RI? Com certeza. O mercado precisa de profissionais com potencial e motivação. E dou um conselho: aprenda tudo sobre o mercado de capitais, estude, se informe, conheça tudo sobre a empresa em que trabalha, monte sua estratégia e leia balanços. Hoje existe espaço para esse profissional, mas com potencial. GZM Quais as vantagens para os pequenos e médios empreendedores abrirem capital? Nos últimos IPOs (ofertas iniciais públicas, na sigla em inglês), que aconteceram em 2007, já pudemos perceber empresas de menor porte entrando nesse mercado. Essa decisão é muito boa para o empresário que pretende capitalizar uma empresa desse porte. Ao tomar dinheiro no mercado, investir, adquirir outras empresas e se consolidarem elas podem sair desse patamar para outro mais alto. Sabemos de algumas que estão obtendo grandes rendimentos. É muito bom utilizar o mercado de capitais, porque vai conseguir recursos mais baratos para investir nos projetos da sua empresa. Se o mercado acreditar em seus projetos, com certeza eles vão crescer. Para pequenas empresas, um dos melhores mecanismos é o modelo Bovespa Mais, que vem acontecendo como se fosse uma participação, uma joint venture, iniciando por vários caminhos. Hoje, existe uma pesquisa sendo realizada no Brasil que visa mostrar para o empresariado o potencial do mercado e o que ele pode ganhar com isso. Sempre gosto de frisar que, se for abrir capital, o empresário deve pensar muito, estruturar sua empresa, porque é um enorme compromisso. GZM Qual a importância da Apimec para RI? As reuniões da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) são importantes e passaram a ser mais importantes ainda com a interiorização da localização dos investimentos. A expansão já se estendeu para várias regiões do País como Ribeirão Preto (SP), Florianópolis, Belo Horizonte, Recife e Salvador. No ano passado foram quinze reuniões. As apresentações nessas cidades ajudaram muito o empresariado, que está diretamente em contato com os acionistas, porque expande o conhecimento deles. O foco é apenas a relação com investidores, porém, é interessante porque qualquer um pode participar. É um ótimo canal de discussão apropriado para se participar. GZM Que avaliação o senhor faz sobre a sinalização das principais consultorias internacionais de que o Brasil é um dos melhores países, pelo menos no momento, para investir? É um momento bom e poderia ser melhor se o gasto público fosse discutido. Mas se olharmos para o mercado de capitais, podemos considerar que é um dos melhores momentos que já vivemos no Brasil. Acreditamos que no segundo semestre deste ano muitas empresas deverão voltar a abrir capital. Passamos pelo pior da crise mundial, principalmente do setor imobiliário norte-americano, e isso não afetou o Brasil. Porém, temos duas preocupações na linha de frente: o gasto público do governo e a inflação mundial. Neste momento estamos importando inflação, de commodity, de petróleo e de todas as preocupações. O Banco Central está fazendo um ótimo trabalho, porém, ressalto que a questão que precisa ser discutida é a dos gastos públicos. Isso é uma preocupação e precisamos ficar atentos a ela, pois têm que ser minimizados, porque o Brasil precisa consolidar esse grande momento pelo qual está passando.

GAZETA MERCANTIL Segunda-feira, 9 de junho de 2008 D5 A visão global de negócios é prioridade dos empregadores TRABALHO Ofertas de emprego sinalizam que o mercado está aquecido Com demanda maior do que a oferta, nunca um profissional foi tão disputado CINTIA SHIMOKOMAKI Com a chegada das companhias à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), surgiu um novo filão que ainda não mostra sinais de esgotamento no mercado de trabalho: o profissional de Relações com Investidores (RI). Numa área onde a demanda é maior do que a oferta, nunca um profissional foi tão disputado. As oportunidades são imensas, mas vale destacar: mais do que um mero passador de informações, é preciso ser altamente especializado para ter sucesso na carreira. Considerado o elo de ligação entre o mercado e a empresa, o profissional de RI ocupa uma posição cada vez mais estratégica. Ele é responsável por manter a imagem de sucesso da empresa, explica Marina Yamamoto, coordenadora do MBA de Mercados de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Segundo Marina, o mercado de trabalho para o setor vem despontando desde 1999, quando departamentos de RI foram criados em empresas brasileiras para atender às demandas para emitir American Depositary Receipts (ADRs, ou recibos de ações) nos Estados Unidos. Desde então, as ofertas de emprego não param de crescer, especialmente a partir da onda de abertura de capitais em 2004. Para se ter uma idéia, somente em 2007, 63 empresas realizaram ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês) na Bovespa. Além disso, o surgimento João Pinheiro Nogueira Batista, do Ibri de novos concorrentes obrigou as empresas que já possuíam um departamento de RI a injetarem mais recursos na área. Em 2003, 52% das empresas possuíam até dois funcionários de RI, segundo pesquisa mais recente do Ibri/Fipecafi sobre o profissional de RI. As empresas começaram a contratar mais e, em 2006, 5% já possuíam mais de dez funcionários em seus quadros - faixa até então inexistente. O mercado está aquecido, mas para se destacar na área, é preciso ter jogo de cintura para lidar com os diferentes agentes do mercado de capitais: investidores institucionais e individuais, analistas e os órgãos reguladores. O profissional de RI é multifacetado, explica João Nogueira, presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Um dos requisitos mínimos para qualquer profissão - a fluência em inglês - pesa ainda D I V U LG A Ç Ã O mais no caso de RI, que lida com capital estrangeiro. Além disso, o setor exige conhecimentos em diversas áreas, como contabilidade, mercado financeiro, comunicação e direito. A abrangência de conhecimentos reflete a diversidade nas origens do profissional de RI. Apesar da predominância de pessoas formadas em economia e administração, é cada vez maior a presença de advogados e jornalistas na área. A visão global de negócios é uma das habilidades procuradas pelos empregadores - e também uma das mais difíceis de se encontrar. Ao sair da graduação, não existe uma pessoa completa (para fazer o trabalho de RI), diz Marina. É preciso ter treinamento à parte, acrescenta. Além da experiência obtida no dia-a-dia, os profissionais recorrem a cursos para se aperfeiçoar. Segundo pesquisa do Ibri/Fipecafi de 2007, mais de 80% do setor possui pós-graduação. Pioneira no setor, a Fipecafi oferece um MBA voltado a RI desde 2001. A demanda pelo curso só tem crescido: em 2008, a fundação foi obrigada a abrir duas turmas pela primeira vez. A procura por cursos de pós-graduação também reflete o desconhecimento da carreira entre os alunos de graduação. Segundo Nogueira, o interesse por RI é adquirido dentro da empresa e o remanejamento interno de profissionais é comum. É o caso de Leticia Wrege, superintendente de RI do Banco Pine. Formada em administração de empresas, Leticia trabalhou em várias áreas do setor bancário e se interessou por RI após trabalhar na área de Planejamento e Controladoria. A ligação com RI é muito próxima, explica. A experiência foi adquirida ao longo de sete anos, mas Leticia também buscou se qualificar com um MBA em Finanças. Com a demanda por gente especializada em alta, crescem também os salários. Em 2003, 53% dos entrevistados pela pesquisa Ibri/Fipecafi recebiam de R$ 8 mil a R$ 12 mil por mês. Já em 2006, 33% recebiam entre R$ 12 mil e R$ 16 mil e 16% já ultrapassavam a faixa de R$ 16 mil mensais. O aperfeiçoamento constante também é uma exigência do mercado. Quando comecei na área, em 2001, a procura por informação era menor, diz Leticia. Hoje, as pessoas acessam mais o mercado de ações e o nível de informação é muito superior, afirma. A professora da Fipecafi também destaca a importância das informações. Com a procura cada vez maior por dados, Marina aponta uma recente tendência no setor: a segmentação da informação. É preciso direcionar a informação de acordo com o interessado: analistas, pessoas físicas ou institucionais, diz. Para Marina, um bom profissional de RI é ser fundamental para o sucesso da empresa, podendo, inclusive, influenciar o preço de suas ações. Um dos maiores desafios, diz Marina, é transmitir aos investidores uma imagem fidedigna da empresa. Outro desafio ocorre dentro das próprias empresas. A área de RI pode contribuir para o sucesso da empresa, mas ela não é a única responsável. RI não é milagreiro. Não há milagre que venda produtos ruins, acredita. GOVERNANÇA CORPORATIVA Transparência, a nova alma dos negócios LUCIA REBOUÇAS Nos últimos anos, as empresas vêm se deparando com novos desafios ao seu crescimento e consolidação no mercado. Um desses desafios é a comunicação se destaca. De alma do negócio, a comunicação passou a ser a alma da transparência, um dos quatro pilares das boas práticas de governança, o caminho para assegurar a viabilidade e perpetuidade dos negócios. Essa situação ficou bem visível este ano no comportamento dos preços das ações negociadas na Bovespa. Embora o mercado brasileiro tenha sofrido com crise do crédito hipotecário americano (subprime), que derrubou as bolsas ao redor do mundo, parte das perdas registradas pelas companhias brasileiras foi creditada a problemas de comunicação. Segundo agentes do mercado, investidores têm reclamado que não conseguem obter das companhias as informações solicitadas. Na cabeça do investidor, se a comunicação falha é sinal de que outras coisas na empresa não andam bem. Essa percepção levou a um movimento de vendas de ações, com quedas nos preços. Foram mais afetadas ações de empresas que abriram o capital nos últimos dois anos, que têm entre seus acionistas uma grande massa de estrangeiros. Em 2007, os estrangeiros compraram entre 70% e 80% das ações das empresas que abriram o capital. Hoje não basta uma boa comunicação com os principais clientes, todos os stakeholders precisam de atenção. Para atender a esse requisito, as companhias têm procurado repaginar sua comunicação e valorizar a figura do profissional de RI (Relações com os Investidores). Introduzida no Brasil, pela Aracruz, em 1992, a atividade de RI cresceu muito nos últimos dois anos acompanhando, o crescimento e a sofisticação do mercado de capitais. Atualmente, a contratação de RI é uma das exigências do Novo Mercado, o nível mais exigente de governança corporativa da Bovespa. Todo RI, hoje, no Brasil está pensando cada vez mais em governança corporativa. Antes a preocupação principal eram as questões financeiras e de contabilidade. Agora, além de conhecer muito de finanças, contabilidade e marketing, o RI tem que ser um comunicador capaz de atender tanto um fazendeiro do interior do Brasil, quanto um investidor em Nova York. Para isso, o RI precisa conhecer profundamente não só a empresa como os mercados onde ela atua. O aumento da presença das pessoas físicas na bolsa também impôs uma nova postura ao profissional de RI. Numa reunião de acionistas ele não pode mais falar no dialeto do mercado. Não pode simplesmente falar tag along, sem dizer o que é isso (direito dos acionistas de receber valor semelhante ao dos donos no caso de venda da empresa), afirma Geraldo Soares presidente executivo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). Não opinião de profissionais do mercado, a principal dificuldade que o RI enfrenta no momento é a dinâmica complexa da atividade, que foi amplificada com a discussão das questões sobre comunicação em sustentabilidade. As questões ligadas ao tema passaram a ser discutidas no dia a dia da empresa e o RI é um agente fundamental dessa discussão porque ele é o porta-voz da empresa no mercado e o porta-voz do mercado na empresa, afirmam.

GAZETA MERCANTIL Segunda-feira, 9 de junho de 2008 D6 A chegada de novos empreendedores exige nova linguagem CARREIRA Qualificação e versatilidade são os grandes desafios profissionais Os cursos nas áreas de Avaliações das Empresas e IPOs têm sido os mais procurados VÍVIAN TEIXEIRA Executivo experiente, com sólidos conhecimentos em finanças, bom comunicador e versátil. Esse é o currículo ideal de um profissional de Relações com Investidores (RI), profissão que exige uma formação generalista, mas focada na área de atuação da empresa e sempre de olho na linguagem do mercado. Investir na carreira, para o RI, nem sempre significa fazer um MBA ou uma especialização na área de relações com o mercado. Isso porque, enquanto uma qualificação específica é um diferencial essencial para a maior parte das carreiras, para o profissional de Relações com Investidores ela é apenas mais um item da lista de habilidades. Para os especialistas de mercado, uma atividade relativamente nova como a de RI nem mesmo pode ser considerada uma profissão, no sentido estrito da palavra. É o que afirma o diretor de comunicação do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), Luís Fernando Moran de Oliveira. "Não dá para exigir uma formação acadêmica específica desse profissional. É muito mais uma função de comunicação do que uma profissão", explica. Por este motivo, o único curso no mercado com foco especializado em Relações com Investidores é oferecido pelo próprio IBRI, em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). O MBA em Finanças, Comunicação José Rogério Luiz considera saudável o acúmulo de funções e Relações com Investidores, segundo Oliveira, possui uma estrutura que confirma a tendência do mercado. O curso fortalece o treinamento generalista, oferecendo um programa variado e extenso, passando por disciplinas na área de comunicação, contabilidade e legislação, enumera. Mesmo apontando um perfil generalista, uma pesquisa do próprio IBRI, realizada em 2006 com profissionais de RI, confirma que a grande maioria das posições de relacionamento com o mercado nas empresas é ocupada por profissionais formado em economia e administração. Sólidos conhecimentos em finanças são imprescindíveis, afirma o superintendente da FGV Management, Paulo Mattos. Para ele, a maior demanda dos profissionais de RI é por cursos de curta D I V U LG A Ç Ã O duração na área de economia e finanças e de comunicação. Por este motivo, muitos vice-presidentes e diretores financeiros de empresas brasileiras acabaram acumulando também o cargo de RI, graças a seus conhecimentos especializados nessas áreas. É o caso do vice-presidente executivo e financeiro e também diretor de RI da Totvs, José Rogério Luiz, que considera saudável o acúmulo de funções. Isso é uma tendência mundial. Nos EUA, os presidentes de empresas gastam mais de 40% do seu tempo falando com o mercado, afirma. Luiz, que tem formação de economista pela USP e pós-graduação internacional em Gerenciamento Geral, acredita que a formação do profissional de RI se dá muito mais pela experiência e conhecimento do setor do que pelas horas gastas em uma especialização. Um curso na área de RI é muito valioso, mas tanto quanto na área de contabilidade ou na área de atuação da empresa, por exemplo, acredita. É o que confirma o diretor financeiro e de RI da Equatorial Energia, Leonardo Dias. Com formação em Economia pela UnB e MBA internacional em Finanças, ele atua como profissional de RI há oito anos. E acredita que um bom RI deve ter, prioritariamente, conhecimento do setor em que atua. A especialização tem um peso importante, mas não o suficiente. A capacidade analítica e de planejamento, por exemplo, são essenciais e estão presentes na maioria dos especialistas da área, argumenta. Para Valter Faria, professor de Marketing do IPO da Fundação Instituto de Administração (FIA) e diretor-presidente da Total RI, empresa especializada no setor, os profissionais da área tendem a procurar cada vez mais qualificação. Apesar de ser uma função que envolve muitas habilidades pessoais, o interesse por conhecimento na área é cada vez maior, diz. Inteligência de mercado Com o crescimento do setor e da remuneração desse profissional, a procura por cursos na área de Avaliações de Empresas ou de IPOs está cada vez maior. Com um mercado cada vez mais exigente, a tendência é que os investidores não se contentem somente com informações financeiras, mas cobrem também dados sobre o valor futuro das empresas. O profissional de RI precisará, a partir de agora, extrair inteligência do mercado. Esse é o novo desafio de qualificação, prevê. ÉTICA Marina Mitiyo Yamamoto* Desafio do Profissional de RI e Gerenciamento O grande desafio do mercado de capitais brasileiro e dos profissionais de Relações com Investidores é identificar os limites em que a utilização do gerenciamento de resultados é responsável e a partir de que momento se torna nociva, constituindo na tênue separação do comportamento ético e não ético dos executivos das empresas. Gerenciamento de resultados contábeis constitui um conjunto de ações intencionais, com impactos sobre a situação patrimonial, econômica e financeira das empresas dentro dos limites permitidos pelas normas e padrões contábeis com o objetivo de atender os interesses dos gestores. Inclui tanto esforços legítimos quanto medidas menos lícitas para ajustar os resultados ao longo do período contábil ou obter um resultado esperado. Alguns exemplos de técnicas legítimas de gerenciamento de resultados incluem adiar uma aquisição ou venda de ativos, ou acelerar o ritmo de gastos em momentos de alta de lucros e postergar as despesas quando o faturamento cai (adiantando ou atrasando gastos com reorganização). Como exemplo de práticas permitidas, mas não adequadas têm-se, superestimar deliberadamente despesas de reestruturação para gerar gordura financeira e confirmar estimativas de ganhos feitas por analistas e uso excessivo de provisões no passivo quando a empresa apresenta-se rentável para manter os lucros lineares, quando a situação se inverter - técnica conhecida como cookie jar reserves. As expectativas do mercado, analistas e investidores institucionais em relação aos resultados das empresas exercem forte pressão sobre os executivos, que em alguns casos, recorrem a uma série de técnicas de gerenciamento de resultados para produzir números e conseqüentemente demonstrações financeiras publicadas que não refletem uma visão "real e justa" da situação da empresa. A tentação de administrar os resultados sempre existirá, uma vez que a confirmação de projeções favorece a todos, de executivos a titulares de opções e analistas de mercado que ratificam suas projeções e valor da empresa. A dificuldade está em encontrar o limite entre aquilo que é justo e lícito e o que é prejudicial para o mercado. Os esforços de gerenciamento de resultados não são realizados apenas pelos contadores, exigem cooperação de outros executivos e, muitas vezes, incluem o Conselho e a direção da companhia. No recente escândalo da WorldCom, o ex-diretor financeiro da empresa admitiu ter falsificado as demonstrações financeiras para poder acompanhar as expectativas de analistas e, segundo um ex-funcionário de baixo escalão da empresa, preso por fraude, "quando o Conselho abre a porta para o comportamento não ético... deixa espaço para interpretações variadas para quem está abaixo na hierarquia" * Coordenadora de MBA - FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e Professora da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo)