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Oficina: Articulação de propostas de políticas públicas para inclusão escolar de alunos portadores de deficiência Proponentes: - ABAED - Associação Brasileira de Apoio Educacional ao Deficiente; - SEFP - Secretaria De Educação E Formação Profissional Da Prefeitura Municipal De Santo André. Linhas gerais da oficina: A oficina teve por objetivo discutir a necessidade de construção de políticas públicas consistentes que envolvam prioritariamente o poder público e as organizações da sociedade civil. Urge que os poderes locais assumam o compromisso de democratização do acesso e qualidade social de educação para pessoas portadoras de deficiência, que historicamente foram segregadas do processo de inclusão social. A educação é um eixo fundamental que garante um projeto político de inclusão. É lógico que esta não deve assumir unicamente esta responsabilidade. Faz-se necessário que se construa um eixo matricial envolvendo saúde, inclusão social, participação cidadã, justiça, desenvolvimento econômico e geração de trabalho e renda, associados aos conselhos e organizações que lutam por esta parcela. Segundo dados do IBGE do censo de 2000, a população que é portadora de deficiência soma 14,5% do total da população brasileira e, segundo a OMS, em torno de 10% da população mundial. Em termos de legislação já avançamos muito, haja visto os textos das leis 7853/89, 8213/91, 10098/00 e o decreto 3298/98. Porém somente este esforço legal não garante a democratização do direito. Um exemplo claro e triste desta não democratização está sendo visto no FSM 2003 que, apesar de ser o espaço de discussão de uma política que Memória FSM memoriafsm.org 1
respeite os direitos humanos, a diversidade e as minorias, não foi pauta, com a força que deveria, o tema da exclusão das pessoas portadoras de deficiência. A exclusão dos PPDs se deve a uma complexidade de fatores, inacessibilidade das cidades e dos logradouros públicos, desorganização e alienação da sociedade civil, aliada a disresponsabilidade do poder público O que temos então é, em vez de um processo de inclusão que respeite as diferenças, a diversidade e que tenha como princípio a heterogênese, caímos na exclusão solidária. Exclusão solidária vem a ser uma exclusão pela solidariedade, uma vez que os PPDs dependem desta solidariedade para construir sua história quando deveriam ser os protagonistas. A ABAED, vem prestando assessoria à Secretaria de Educação e Formação Profissional (SEFP) da Prefeitura Municipal de Santo André (PMSA), na inclusão escolar de alunos portadores de deficiência física, auditiva, mental, multipla e disturbios globais do desenvolvimento. O projeto de inclusão no ensino regular faz parte do plano de governo, onde o eixo principal é a inclusão social. A SEFP é responsável pela educação infantil, ensino fundamental (ciclo básico ), educação de jovens e adultos (EJA), Movimento de Alfabetização (MOVA) e ensino profissionalizante, abragendo 25.000 alunos, destes, 500 portadores de deficiência além de 2.500 educadores distribuídos em 63 unidades de ensino. O processo de inclusão aparentemente acontece de forma tranquila no que diz respeito à postura ética de professores e alunos, porém quando passamos a conhecer a realidade do contexto que engloba os PPDs, família, classe social, comunidade, qualidade de vida, notamos que eles estavam apenas sendo socializados, não aprendiam mas eram felizes. A inclusão de PPDs nao significa somente garantir acesso aos alunos, nem tampouco satisfazer-se com a socialização e menos ainda propagar que a inclusão está resolvida. Este modelo que presenciamos ratifica mais uma vez um mecanismo de exclusão. É preciso olhar para a diferença, perceber cada sujeito como único. Memória FSM memoriafsm.org 2
Assumir um projeto político pedagógico de inclusão requer a implicação de toda a comunidade, a ampliação das práticas pedagógicas e a revisão dos tempos e dos espaços escolares. Neste sentido, várias ações estão sendo desencadeadas no projeto da SEFP. A acessibilidade, que garante o direito de ir e vir, está sendo ampliada nas esolas. Foi criado um instrumento de diagnóstico das condições de acessibilidade físicas e pedagógicas de todas as escolas e de seu entorno. A partir destes dados, fez-se um estudo da realidade e das prioridades para eliminação de todas as barreiras e a aquisição de materiais de mediação pedagógica. A formação dos professores e gestores da rede foi reorganizada e o foco da inclusão passou a ser trabalhado sistematicamente. Foi feito um mapeamento da demanda de formação. A flexibilidade curricular, o conhecimento específico das deficiências e a inclusão digital também tem sido questões de pauta. Existe uma assessoria aos professores no dia a dia da sala de aula (formação em serviço), para garantir a construção da aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos.o trabalho com as famílias é outro quesito fundamental para que se pense em uma inclusão de fato. Grupos discutem a realidade, a contextualização de problemas e a busca de alternativas conjuntas. É na articulação destes processos junto com outras secretarias do município estamos obtendo resultados positivos. que Porém, construir um plano de inclusão escolar não garante a inclusão econômica das pessoas portadoras de deficiência. Assim, estamos propondo um projeto de política pública que visa, através do cumprimento da legislação existente, promover a inclusão dos PPDs na empresas privadas com mais de 100 funcionários, que consequentemente se enquadram na lei de cotas. O projeto em questão tem sido chamado de PREPARI, Plano de Reestruturação do Estado para a Inclusão. Através de um termo de ajustamento de conduta firmado entre o governo e as empresas privadas, tendo visto que estas não estão cumprindo a lei, será destinando um valor ainda não estipulado (ex: um salário mínimo/vaga/mês) por vaga Memória FSM memoriafsm.org 3
não preenchida pré definida pela lei de cotas, para um fundo de amparo à pessoa portadora de deficiência. Esta verba será aplicada na capacitação e qualificação profissional dos PPDs, na adaptação das cidades e equipamentos urbanos, na sensibilização de funcionários e educação corporativa. Deverá ser aplicado na esfera federal através da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, porém está sendo desenhado de forma flexível, podendo enquadrar-se também em outras esferas de governo. Este plano deve ser viabilizado pela catálize de esforços de toda a sociedade, governo, organizações da sociedade civil, universidades, sistema S, empresas privadas e comunidade em geral. A ABAED e seus assessores tem feito um esforço contínuo no processo de construção, divulgação e articulação do projeto em todas estas esferas da sociedade. O problema da exclusão e o silêncio com que se tem tratado esta questão vivida por esta minoria é insustentável. É preciso um posicionamento concreto e comprometido do governo e da sociedade civil e não mais ações paleativas e assistenciais, que reforçam a exclusão solidária. ACREDITAMOS SIM, QUE UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL! Encaminhamentos: - Divulgação do projeto de inclusão de pessoas portadoras de deficiência no ensino regular do município de Santo André -SP para que outras prefeituras também possam implantar este projeto piloto que vem alcançando exelentes indicadores de resultados. - Necessidade de comprometimento das universidades com o processo de inclusão no ensino superior. - Apresentação do PREPARI buscando a articulação com outras eferas da sociedade. -Viabilização do PREPARI de acordo com o contexto e especificidades de cada município. Memória FSM memoriafsm.org 4
-Organização da sociedade para cobrar do governo uma fiscalização e aplicação das leis existentes. - Mapeamento quantitativo, social e econômico do número de PPDs no país. - Criação de rede de discussão entre os participantes da oficina para que estes possam contribuir construtivamente com o projeto, legitimando seu propósito e tornando-se agentes multiplicadores para sociedade. Memória FSM memoriafsm.org 5