A COOPERATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE BEBEDOURO SP



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Transcrição:

426 A COOPERATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE BEBEDOURO SP Marcus Lúcius de Carvalho Corrêa Uni-FACEF Hélio Braga Filho Uni-FACEF Introdução O propósito deste trabalho é demonstrar a relevância da cooperativa agrícola como uma oportunidade de negócios, que promova o desenvolvimento para o município de Bebedouro SP. Desta forma, a cooperativa surge como uma possibilidade de beneficiar a comunidade local, uma vez que contribuirá para o fortalecimento da economia gerando emprego e renda. Neste sentido, cada vez mais os municípios e regiões constituem-se em um espaço estratégico para o desenvolvimento, muitas vezes, com profundas consequências econômicas, sociais e espaciais. O objetivo está na busca por alternativas para a manutenção e criação de postos de trabalho; início de novas atividades econômicas, estabilidade de rendas, entre outros. Para Brose (1999) o desenvolvimento visa atingir também a pluriatividade na agricultura familiar, manutenção de uma paisagem rural equilibrada, ativa participação da população nas decisões, nos seus espaços econômicos, como também, novas formas de gestão pública. Segundo Furtado (1961) do ponto de vista econômico, o desenvolvimento representa um aumento do fluxo de renda real, ou seja, concentrado em alternativas que possam aumentar a capacidade produtiva e os efeitos desse aumento sobre o comportamento do fluxo da renda na sociedade. Em uma economia que haja alcançado certo grau de desenvolvimento, a produção apresenta uma estrutura tal que a acumulação se torna um processo quase automático. Destarte, para que o aparelho produtivo funcione normalmente é indispensável que também a procura apresente certa composição. Ora a composição da procura esta determinada pela distribuição da renda, isto é, pela forma como os distintos grupos se apropriam do produto (FURTADO 1961. p. 121-122).

427 Para Veiga (1998) um país com vocação para ser semiperiférico como o Brasil, a ideia de desenvolvimento não pode significar ilusão sobre a ascensão para o primeiro mundo, ou a generalização dos padrões de consumo dos países centrais. O desenvolvimento brasileiro exige mais uma agenda centrada na distribuição de renda que uma agenda centrada na erradicação da pobreza pelo crescimento econômico sem alteração da concentração de poder e riquezas na sociedade, pois o potencial de crescimento econômico depende fundamentalmente da redução das desigualdades. A redução das desigualdades é vista não só como básica para a consolidação da democracia, mas é a principal estratégia para um desenvolvimento real e sustentado (BROSE 1999, p. 49). Desta forma, podemos entender que para uma localidade conseguir se desenvolver, deve-se primeiramente investir em uma política que favoreça a distribuição de renda entre os seus habitantes. A diversificação econômica surge como uma alternativa de impedir que somente um segmento domine a cultura local. Para isso é importante fortalecer a cidadania, trabalhar com a cultura e fazer com que as pessoas possam se envolver mais. De acordo com Becker as regiões que conseguem se desenvolver mais em relação às outras, são as que participam ativamente dos processos, há envolvimento, confiança e a vontade de mudar, de buscar alternativas que possam melhorar a condição social e que as lideranças políticas junto com a comunidade sejam os principais atores do processo. (...) As regiões ganhadoras são aquelas que conseguem transformar a ação cooperativa intrarregional e inter-regional no principal elemento integrador do seu processo de desenvolvimento regional. Ou melhor, as regiões ganhadoras ou perdedoras resultam, diretamente, do dinamismo da interação/integração dos seus agentes regionais de desenvolvimento em torno de um projeto/modelo próprio de desenvolvimento regional (BECKER 2010, p. 38). Para que aja desenvolvimento, além das fundamentações já citadas, faz-se necessário que exista um potencial de recursos naturais; capacidade empreendedora das pessoas; acesso a informação, conhecimento e novas tecnologias, aceitabilidade a investir em mudanças e um mercado que consuma novos produtos, criando assim, novos mercados.

428 1. A agricultura familiar no Brasil A produção familiar na agricultura faz dela um setor único no capitalismo contemporâneo. Não há atividade econômica em que o trabalho e a gestão estruturem-se tão fortemente em torno de vínculos de parentesco e onde a participação de mão de obra contratada seja tão importante (ABRAMOVAY 1998, p. 209). Segundo Brose (1999) a agricultura familiar no Brasil é caracterizada pela produção de alimentos básicos (mandioca, feijão, arroz) ou insumos básicos (milho) que tem baixo preço de mercado, baixa rentabilidade, pouco valor agregado. Já a agricultura patronal se especializou em produtos de mercado, matérias primas com estímulos oficiais (cana, borracha), alimentos de alto valor (leite B, camarão) ou produtos de exportação (uva, manga, laranja, cacau) que possibilitam agregação de valor. Abaixo o quadro apresenta as diferenças entre agricultura familiar e agricultura patronal: Agricultura Patronal Completa separação entre gestão e trabalho. Organização centralizada. Ênfase em práticas agrícolas padronizáveis. Trabalho assalariado predominante. Tecnologias dirigidas à eliminação das decisões de terreno e de momento Tecnologias voltadas principalmente à redução das necessidades de mão-deobra. Pesada dependência de insumos comprados Agricultura Familiar Gestão e trabalho infimamente relacionados Direção do processo produtivo assegurada diretamente pelos proprietários. Ênfase na durabilidade dos recursos naturais e na qualidade de vida. Trabalho assalariado complementar. Decisões imediatas ligadas ao alto grau de imprevisibilidade dos processos produtivos Tomada de decisão in locu, condicionada pelas especificidades do processo produtivo. Ênfase no uso de insumos internos. Fonte: INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA)

429 Assim as políticas agrícolas atingem os produtores de forma diferenciada, o que faz com que a representação política do setor na mão dos produtores patronais não inclua os interesses dos produtores familiares (BROSE, 1999, p. 60). O estudo referido apresenta algumas exceções, como a pimenta na região nordeste do PA, flores e plantas no interior de SP, laticínios e cevada no PR, agricultura associada ao trabalho na indústria em SC e turismo rural no sul do Brasil que representam culturas de alto valor comercial. Em 1991 foi criada a Leí Agrícola (8.171/91) consagrando assim o princípio de uma política diferenciada ao pequeno produtor, porém, em 1995 foi criado o Banco Nacional da Agricultura Familiar e o projeto Lumiar que tiveram como objetivo o fortalecimento da agricultura familiar com iniciativas inovadoras que culminaram com o Decreto 1.946, de 28 de junho de 1996, criando o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). O surgimento, em 1995, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar marca, indiscutivelmente, um divisor de águas no processo de intervenção estatal na agricultura e no mundo rural brasileiro. Tal assertiva prende-se muito mais ao caráter desta mudança e dos objetivos implicados, do que propriamente no volume de recursos efetivamente disponibilizados para apoiar este setor, haja vista o fato da agricultura patronal concentrar nada menos que 76% do crédito atualmente disponibilizado para financiar a agricultura nacional (ANJOS et al. 2004, p. 530). Desde a década de 90 quando a agricultura familiar começou a ter relevância no Brasil, muitos autores tem discutido o papel do agricultor frente ao novo desafio, de congregar-se em cooperativas e a investir na produção com o intuito de promover a agricultura familiar. Segundo Didonet (2004, p.11): O conceito de agricultor familiar é estabelecido pelo decreto de número 3.991, de 30 de outubro de 2001, e, de acordo com a classificação adotada na política nacional de assistência técnica e extensão rural (ATER), pode ser definido como: agricultores familiares são aqueles que exploram e dirigem estabelecimentos rurais, tendo o trabalho familiar como base da exploração da unidade produtiva, na condição de proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros, comodatários ou parceleiros, desenvolvendo, nos estabelecimentos, atividades agrícolas ou não agrícolas. São considerados ainda como agricultores familiares, os produtores familiares tradicionais e assentados da reforma agrária, os aquicultores, pescadores artesanais, silvicultores, extrativistas florestais, entre outros.

430 Ainda segundo o autor para que os mesmos possam ser caracterizados como agricultor familiar deve atender aos seguintes requisitos: residir na propriedade ou em local próximo; utilizar predominantemente mão de obra da família nas atividades do estabelecimento ou empreendimento e obtenham renda familiar originária, predominantemente de atividades vinculadas ao estabelecimento ou empreendimento. Desta forma para que o governo possa conceder benefícios aos agricultores os mesmos devem obedecer aos requisitos elencados acima. Para tanto se pode também utilizar mão de obra terciária para alguns períodos sazonais, quando a produção atinge o seu ápice. Com base no Censo Agropecuário (IBGE, 2006) foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar. Eles representavam 84,4% do total, mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Já os estabelecimentos não familiares representavam 15,6% do total e ocupavam 75,7% da sua área. Dos 80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45% eram destinados a pastagens, 28% a florestas e 22% a lavouras. Ainda assim, a agricultura familiar mostrou seu peso na cesta básica do brasileiro, pois era responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuária, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos. Tais dados refletem que a agricultura familiar vem crescendo em relação à agricultura patronal, apresentando assim, como uma forma alternativa de desenvolvimento local. 2. A importância de cooperativas no desenvolvimento local Surgido no século XIX por iniciativa dos trabalhadores para se contrapor à exploração da mão de obra durante a Revolução Industrial, o cooperativismo se desenvolveu de forma extraordinária em todo o mundo. O que difere o cooperativismo de outras formas de empreendimento é o trabalho associativo, no

431 qual produtores de diferentes atividades econômicas se unem em torno de seus interesses de produção. No Brasil, o cooperativismo foi implantado em 1847, quando o médico francês Jean Maurice Fraive inaugurou a colônia Teresa Cristina, junto com outros colonos europeus no Paraná. O movimento serviu de referência para iniciativas do gênero. Segundo Gerlach e Batalha (apud ROMEIRO, 2003), Bebedouro mantém laços fortes com o cooperativismo tendo grandes empresas com experiências de sucesso que impulsionaram outras organizações, por meio de uma estrutura organizacional própria à autogestão, e desenvolvida a partir de processos sociais de participação coletiva, que muito tem contribuído nas mudanças da ordem econômica, como alternativa capaz de responder aos desafios propostos pela sociedade moderna. 2.1 O papel da COAF junto aos produtores A Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) surgiu em 2003 da união de um grupo de micro e pequenos agricultores da região norte do estado de São Paulo, com o objetivo de comercializar sua produção em conjunto, garantindo benefícios mútuos, como melhores preços e capacidade de negociação. Localizada na cidade de Bebedouro, a cooperativa é um exemplo de como o mercado interno, especialmente, o da merenda escolar pode absorver a produção de safra de centenas de pequenos produtores, através da Resolução nº 38 (2009) do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional - FNDE, que incentiva os municípios brasileiros a comprar 30% dos alimentos produzidos pela agricultura familiar para merenda escolar. Mediante essa demanda, a Coaf firmou parceria com diversas prefeituras do estado de SP para fornecer suco de laranja que é consumido na merenda escolar, permitindo aos pequenos produtores de laranja uma excelente oportunidade de escoamento para sua produção. Além da compra da produção agrícola de pequenos produtores: frutas, verduras, legumes e outros em parceria com a Conab (Companhia Nacional de

432 Abastecimento), a Coaf atua no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), os produtos são doados a diversas instituições da região, cadastradas no programa Fome Zero do governo federal, a cooperativa implantou em 2011 um novo serviço aos produtores: o barracão do produtor, que tem como objetivo melhorar a qualidade dos alimentos abrindo novas possibilidades de negócios. O local é equipado para receber e agregar valores e frutas, verduras e legumes antes de seguirem para o mercado. A principal diferenciação é que a Coaf oferece orientação aos produtores sobre normas pós-colheita, como rotulagem, embalagem e classificação de frutas e hortaliças. A cooperativa busca a sustentabilidade dos pequenos produtores, com incentivos a produção orgânica, ecológica e agroecológica, visando à certificação dos produtores para atender uma demanda já identificada na região. No local há também a venda de produtos higienizados e embalados diretamente ao consumidor. 3 - Metodologia A metodologia adotada será a de natureza exploratória, com acompanhamento, observação e realização de pesquisa qualitativa junto à cooperativa que atua na agricultura familiar, com o objetivo de identificar o funcionamento e as formas de atuação. Para Lakatos e Marconi (2001) a pesquisa tem como objetivo analisar e identificar as características da realidade, para que através da ciência possamos conhecer sua essência, seja de forma parcial ou real. Na pesquisa qualitativa o resultado não é o mais importante, mas sim, toda a sua trajetória, o conhecimento que a mesma agrega durante todo o percurso da pesquisa. Para Triviños (1995, p.129): A investigação aprecia o desenvolvimento do fenômeno não só em sua visão atual que marca apenas o início da análise, como também, penetra em sua estrutura íntima, latente, inclusive não visível ou observável à simples observação ou reflexão, para descobrir suas relações e avançar no conhecimento de seus aspectos evolutivos, tratando de identificar as forças decisivas responsáveis por seu desenrolar característico.

433 Através da observação em campo, analisando a estrutura da cooperativa será possível identificar os fatores positivos que levam os agricultores a se reunirem em cooperativa, apresentando os benefícios e os ganhos que os mesmos poderão ter. O pesquisador tem um papel fundamental na pesquisa, pois deverá atuar de forma imparcial, livrando-se de todos os preconceitos, estando aberto aos obstáculos e a realidade que encontrará em campo. Para Chizzotti (2001, p. 82): O pesquisador não se transforma em mero relator passivo: sua imersão no cotidiano, a familiaridade com os acontecimentos diários e a percepção das concepções que embasam práticas e costumes supõem que os sujeitos da pesquisa têm representações parciais e incompletas, mas construídas com relativa coerência em relação a sua visão e à sua experiência. A descrição minudente, cuidadosa e atilada é muito importante: uma vez que deve captar o universo das percepções, das emoções e das interpretações dos informantes e seu contexto. Em um segundo momento, serão realizadas visitas com os agricultores que já atuam com a agricultura familiar e, aplicar uma pesquisa quantitativa, com o objetivo de apurar sua produção, como também, a satisfação dos mesmos junto à cooperativa. O último passo está na apuração dos dados que demonstrará o cenário da agricultura familiar em Bebedouro SP, apontando os pontos fortes e fracos e as alternativas para aprimorar e efetivar a cultura como uma forma de desenvolvimento. 3.1 - O Locus da Pesquisa A pesquisa será realizada no município de Bebedouro, estado de São Paulo, junto a Cooperativa Agrícola Familiar (Coaf) e os produtores que investem na agricultura familiar. Possuindo localização geográfica privilegiada, de acordo com Mombeig (apud. BRAY, p.1, 1974) Bebedouro esta localizado na província fisiográfica do Planalto Ocidental Paulista, na borda do Médio Planalto. Num raio que engloba até 150 km encontram-se cidades que participam da economia e estão ligadas ao fluxo industrial e de transporte, como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Franca,

434 Barretos, Araraquara, Sertãozinho e Catanduva; e num raio de até 250 km, estão grandes centros produtivos, como Campinas, Marília, Araçatuba e Uberlândia. Existem três importantes rodovias que atravessam o município e por onde escoam a safra de diversos produtos, a rodovia Brigadeiro Faria Lima, pista dupla, interligando Bebedouro a Barretos e servindo como elo até a rodovia Washington Luiz, principal caminho para a capital paulista. A Rodovia Comendador Pedro Monteleone dá acesso à cidade de Catanduva, e a Rodovia Armando Salles Oliveira, a qual interliga Bebedouro a Ribeirão Preto e Bebedouro à Rio Preto, por intermédio da rodovia Assis Chateaubriand. Esses municípios são dois dos principais pólos comerciais do Estado. Assim sendo, Ribeirão Preto fica situado a 78 quilômetros de Bebedouro e São José do Rio Preto a 108 quilômetros, estando a cidade, portanto no centro da microrregião com três milhões de habitantes a 100 km e num raio de 250 km 12 milhões de habitantes, transformando a cidade num excelente centro de distribuição em logística. 4 - Considerações Iniciais O objeto de estudo proposto pelo referido trabalho, visa acompanhar os projetos desenvolvidos pela Cooperativa Agrícola Familiar (Coaf), localizada no município de Bebedouro, interior do estado de São Paulo, como também, entrevistar agricultores que já investem na agricultura familiar. Através deste estudo, poderemos desenvolver estratégias de incentivo para que mais produtores possam investir na agricultura familiar, desenhando assim, um novo modelo de negócio para a cidade, que há tempos sofre com a falta de planejamento e foco na questão do desenvolvimento. Com a execução e a implantação do projeto, conseguiremos nortear o desenvolvimento local, trabalhando com a autoestima, a história e o desenvolvimento sustentável tendo como base a agricultura que um dia fez a cidade progredir a passos largos.

435 5 Referências Iniciais ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2 edição. Ed. Unicamp, 1998. ANJOS, Flávio Sacco; GODOY, Wilson Itamar; CALDAS, Nadia Velleda; GOMES, Mário Conil. Agricultura familiar e políticas públicas: o impacto do PRONAF no Rio Grande do Sul. Rev. Econ. Sociol. Rural, Brasília, v.42, n. 3, p. 529-548, set. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-20032004000300007&lang=pt. Acesso em 20 de maio 2013. BRAY, S. C. A utilização da terra em Bebedouro e o papel atual da cultura de laranja. São Paulo. 1974. 107f.:il. Dissertação (Mestrado em Geografia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001. (Biblioteca da educação; série 1. Escola, v.16) BECKER, Dinizar F; WITTMANN, Milton Luiz. Desenvolvimento Regional: abordagens interdisciplinares. 2 edição, Santa Cruz do Sul, Edunisc 2008. BROSE, Markus. Agricultura familiar, desenvolvimento local e políticas públicas. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 1 edição 1999. DIDONET, Agostinho Dirceu. Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Familiar na Embrapa Arroz e Feijão Santo Antônio de Goiás. Disponível em http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/213618 Acesso em 20 de maio 2013. FURTADO, Celso. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1961.

436 GERLACH, F.R.; BATALHA, M.O. Organização da produção e perfil das associações paulistas de produtores de leite. Anais... Ouro Preto, 2003. p.221. In: ROMEIRO, Vanda M. B; COSTA, Vera M. H. M. Os impactos de uma associação sobre a agricultura organizacional de produtores de citros o caso Associtrus. Revista UNIARA, n. 20, 2007. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 4. Ed. São Paulo: Atlas 2001. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1995. VEIGA, José Eli. Desenvolvimento Rural. O Brasil precisa de um projeto. USP, 1998. Mimeo.