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Transcrição:

Página1 TODOS DEVEM ASSUMIR UMA PARTE DO ENFRENTAMENTO AO TRABALHO INFANTIL Maria Magdalena Alves 1 Este texto é fruto da minha preocupação em me preparar para atender a um convite da FAPSS, Faculdade Paulista de Serviço Social que, na Semana do Serviço Social de 2014 pautou uma reflexão com seus alunos tematizando o Trabalho Infantil: Políticas Públicas, Práticas e a Rede de Atendimento. Ainda que pareça desnecessário,achei importante começar esta conversa pontuando meu entendimento do que é Trabalho Infantil. Trabalho infantil é toda forma de trabalho exercido por crianças e adolescentes, abaixo da idade mínima legal permitida para o trabalho, conforme a legislação de cada país. Esta reflexão está dividida em seis blocos na medida em que, antes de pensarmos o que fazer, temos que entender a gravidade desta problemática no Brasil e no mundo. 1 Maria Magdalena Alves, 72, doutora em Serviço Social pela PUCSP desde 2001 com especialização em Ontologia da Linguagem, diploma concedido pela Newfield Consulting e pela Universidade Católica de Brasília também em 2001. Sua Dissertação de Mestrado, 1995, versou sobre os Vínculos Afetivos e Familiares dos Homens de Rua com os quais iniciou trabalho de campo em 1978. Sua Tese de doutorado: Trabalhador-empresário, empresário-trabalhador: um cotidiano construído passo a passo. Atuou na área de Direitos Humanos, tendo sido conselheira do CONDECA em seu primeiro mandato (1993/1995). Na Prefeitura de Santo André foi assessora da Secretaria de Inclusão Social e Cidadania, trabalhando na construção e coordenação de políticas públicas. Entre 2003 e 2004, coordenou o Projeto Oficina Boracea que atuava junto a pessoas em situação de rua. Tem atuado como professora universitária desde 2011, tendo trabalhado no Centro Universitário Sul de Minas (2011) e na Faculdade Paulista de Serviço Social (cursos breves em 2012). Hoje, atua como consultora independente de políticas públicas e está iniciando um pós-doutorado numa proposta de Estudo relativa à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/8811686339328172 Emails: madalena@uol.com.br e magdalves@mmaconsultoria.com Blog: mmaconsultoria.com

Página2 É necessário entender a Extensão do Trabalho infantil como primeiro ponto, ou seja, qual o tamanho desta encrenca? Na sequência, refletimos sobre a Intensidade do trabalho infantil: ou seja, apesar da previsão legal, como esta problemática impacta a vida de crianças e adolescentes. Pasmem, em pleno século XXI, temos crianças de 5 anos que não tem infância porque sua vida é toda ela ocupada por trabalhos de diversas naturezas. Para podermos atacar este problema, é importante entendermos onde ele se manifesta com maior intensidade, ou seja, qual a sua Localização. O universo do trabalho infantil no mundo é de duzentas milhões de crianças e adolescentes, das quais três milhões e setecentas mil são brasileiras. Este male atinge todas as regiões do país. Mas, o que fazem estas crianças e adolescentes? Precisamos nos deter no Ambiente de trabalho perverso que vem prejudicando nossa infância e juventude. Uma das maiores dificuldades é mensurar o universo de crianças e adolescentes envolvidos em trabalho doméstico. Considerado uma das piores formas de trabalho infantil, este ambiente tem menos fiscalização em virtude do princípio da inviolabilidade do lar... e há lares onde as pessoas se aproveitam disso para garantir a sua perversidade. Esta história não é nova. Pelo menos desde a década de 90, há movimentos de enfrentamento desta situação, e as coisas estão mudando ainda que num ritmo aquém do que seria necessário. Precisamos nos apropriar da Nocividade disto que estamos fazendo com nossas crianças e adolescentes. Aqui vamos pensar um pouco nesta cultura de aceitação, na leitura de que trabalho faz bem, de que eu trabalhei desde pequeno e estou aqui... e buscar argumentos para estar juntos neste convencimento que pode devolver estas crianças e adolescentes para o estudar e brincar que são próprios da infância. Por fim, refletimos sobre os Mecanismos e instrumentos existentes para assumirmos como nossa esta luta. Primeiro, precisamos conhecer a evolução desta luta, no Brasil, e nos apropriarmos dos Desafios que estão postos para que possamos fazer a nossa parte.

Página3 EXTENSÃO A OIT Organização Internacional do Trabalho informa que existem 168 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, em situação de trabalho infantil no mundo (OIT, 2013) Destes 168 milhões, sete milhões tem idades entre 5 e 14 anos, atuam no trabalho doméstico e tem jornada dupla: trabalham, estudam e ajudam em casa. Aprofundar nossos conhecimentos sobre a extensão do trabalho infantil, nos leva à necessidade de diferenciar o que é criança em atividade econômica, o que é trabalho infantil e o que é trabalho perigoso, nele incluídas outras piores formas de trabalho infantil. Crianças em atividade econômica, ou crianças trabalhadoras são aquelas ocupadas em atividade econômica de qualquer natureza, ainda que por curtos períodos de tempo. Inclui produção comercial e não comercial e mesmo a produção de bens e serviços para uso próprio. (OIT, 2013) Este trabalho pode ser formal ou informal, dentro ou fora do contexto familiar, remunerado ou não, assim como o trabalho doméstico fora do próprio lar da criança. Crianças em trabalho infantil são um subconjunto das crianças em atividade econômica, e incluem as piores formas de trabalho infantil e as crianças em

Página4 atividade econômica abaixo da idade mínima, mas não incluem as crianças em trabalhos ligeiros autorizados. (OIT, 2013) Neste conceito de trabalho infantil estão excluídas as crianças que trabalham apenas algumas horas por semana e as crianças com idade superior à idade mínima, cujo trabalho não seja classificado como uma pior forma de trabalho infantil, incluindo, de modo particular o trabalho perigoso. O trabalho perigoso realizado por crianças é definido como qualquer atividade ou ocupação que, pela sua natureza ou tipo, tenha ou conduza a efeitos nocivos na segurança, saúde, desenvolvimento ou moral da criança. Isto significa que pode incluir o trabalho noturno e com horários prolongados, a exposição a maus-tratos ou abusos físicos, psicológicos ou sexuais, o trabalho subterrâneo, subaquático, em alturas perigosas ou em espaços confinados, o trabalho com maquinaria, equipamento ou ferramentas perigosas, ou que envolva o manuseio ou transporte de cargas pesadas e o trabalho em ambientes insalubres que possa, por exemplo, expor as crianças a substâncias, agentes ou processos perigosos, ou a temperaturas, níveis de ruído ou vibrações nocivas para a sua saúde. Quadro 1. Envolvimento de crianças em atividade econômica, trabalho infantil e trabalho perigoso, grupo etário 5-17 anos, 2000-2012 Crianças em atividade econômica Trabalho infantil Trabalho perigoso números % números % números % 2000 351.900 23,0 245.500 16,0 170.500 11,1 2004 322.729 20,6 222.294 14,2 128.381 8,2 2008 305.669 19,3 215.209 13,6 115.314 7,3 2012 264.427 16,7 167.956 10,6 85.344 5,4 Fonte: OIT, 2013 Entre 2000 e 2012, a queda dos números dos três modos foi da ordem de 43,0%. Houve uma queda maior no trabalho perigoso (51,3%) do que no trabalho infantil (33,8%) e nas crianças em atividade econômica.

Página5 No quadro 2, temos números das regiões do mundo onde a situação do Trabalho Infantil apresenta maiores universos de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. Segundo a OIT, a maior gravidade é encontrada na Asia-Pacífico, América Latina e Caraibas, África Subsariana e Oriente... Em todas estas regiões, a extensão do trabalho infantil vem diminuindo, mas os ritmos ainda são muito lentos. Quadro 2. Envolvimento de crianças em atividade econômica, trabalho infantil e trabalho perigoso por região, grupo etário 5-17 anos, 2000-2012 População Crianças em de atividade Trabalho infantil Trabalho perigoso Crianças econômica números % números % números % Ásia- Pacífico América Latina e Caraibas África Subsariana 2008 853.895 174.460 20,4 113.607 13,3 48.164 5,6 2012 835.334 129.358 15,5 77.723 9,3 33.860 4,1 2008 141.043 18.851 13,4 14.125 10,0 9.436 6,7 2012 142.693 17.843 12,5 12.505 8,8 9.638 6,8 2008 257.108 84.229 32,8 65.064 25,3 38.736 15,1 2012 275.397 83.570 30,3 59.031 21,4 28.767 10,4 Fonte: OIT, 2013. No Brasil, os dados do trabalho infantil foram obtidos nas PNADs Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, realizada ano a ano, pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Temos dados de 2007 a 2011, com exceção de 2010, quando não houve PNAD. Em 2007, o trabalho infantil envolve 10,79% do universo de crianças e adolescentes brasileiros, e vem caindo, estando em 2011 8,6%.

Página6 Trabalho Infantil números % 2007 2 4.824.849 10,79 2008 4.476.631 10,3 2009 4.270.999 9,8 2010 Não houve PNAD 2011 3.673.898 8,6 Fonte: IBGE/PNAD. O universo de crianças e adolescentes brasileiros em situação de trabalho infantil era da ordem dos 8.312 mil, em 1990. Entre 1992 e 2002, houve uma queda de 34,91% ficando em 5.411 mil. Entre 2002 e 2009 a queda foi de 22,44% chegando aos 4.270 mil. Esta queda nunca é uniforme, e há anotações de que entre 2004 e 2005 este número cresceu em 10,32%. Entre 2011 e 2012, este universo diminuiu em 14,30%. Dados do Fórum Nacional para Erradicação do Trabalho Infantil informam que entre 2008 e 2011 o trabalho infantil (5 a 17 anos) diminuiu em 17,9% - ficando em 3,6 milhões. Segundo avaliação da OIT, entre 1996 e 2012, o Brasil reduziu em 54% a incidência de trabalho infantil. Importante salientar que 1996 foi o ano de implantação do PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. 57,5% destes 3,6 milhões (2,1 milhões) fazem trabalho doméstico, muitas vezes em jornada dupla (no trabalho e em casa). A extensão, segundo o sexo e a cor Analisando os dados, a partir da perspectiva de gênero, vemos que, ainda que em 2000 os índices mundiais para meninos e meninas fossem bem próximos, em 2012 temos cerca de 20% a menos de meninas em relação aos meninos. Quadro 3 Envolvimento de crianças em atividade econômica, trabalho infantil e 2 Até 2006, a faixa considerada para apuração do trabalho infantil era de 5 a 15 anos e não 5 a 17 anos.

Página7 trabalho perigoso por sexo, grupo etário 5-17 anos, 2000-2012 Crianças em atividade econômica Trabalho infantil Trabalho perigoso números % números % números % 2000 184.200 23,4 132.200 16,8 95.700 12,2 Meninos 2004 171.150 21,3 119.575 14,9 74.414 9,3 2008 175.777 21,4 127.761 15,6 74.019 9,0 2012 148.327 18,1 99.766 12,2 55.048 6,7 2000 167.700 22,5 113.300 15,2 74.800 10,0 Meninas 2004 151.579 19,9 102.702 13,5 53.966 7,1 2008 129.892 16,9 87.508 11,4 41.296 5,4 Fonte: OIT, 2013. 2012 116.100 15,2 68.190 8,9 30.296 4,0 As meninas podem estar mais presentes em formas menos visíveis de trabalho infantil, por isso menos registradas pelas estatísticas. Quadro 4 - Envolvimento de crianças brasileiras em trabalho infantil por sexo, 2000-2012 Dados IBGE/ PNAD 2008 2009 2011 números % números % números % Meninos 2.949.382 13,2 2.817.067 12,6 2.442.295 11,2 Meninas 1.527.249 7,2 1.453.932 6,9 1.231.603 5,9 TOTAL 4.476.631 4.270.999 3.673.898 Dentre as crianças e adolescentes brasileiros, tanto em 2008 quanto em 2011, temos mais meninos do que meninas, se considerarmos o percentual em relação ao número de meninos/as existentes. A diferença entre meninos e meninas 2008 e 2012 é de aproximadamente 4,5%.

Página8 Em 2011, as meninas brasileiras em situação de trabalho infantil eram 93,7% e os meninos 6,3%. Quadro 4 - Envolvimento de crianças brasileiras em trabalho infantil por cor, 2000-2012 Dados IBGE/ PNAD Não Negros 2008 2009 2011 números % números % números % 1756.355 9,1 1.674.160 8,8 1.468.121 7,8 Negros 2.720.276 11,2 2.596.839 10,6 2.206.777 9,2 TOTAL 4.476.631 4.270.999 3.673.898 Fonte: OIT, 2013. No que se refere à cor, a diminuição havida entre 2008 e 2011 é proporcional se considerarmos crianças e adolescentes negros e não negros. Em 2011, crianças e adolescentes negros eram 67% do universo de trabalho infantil. INTENSIDADE As crianças de 5 a 11 anos representam a ampla maioria das crianças trabalhadoras no mundo. Elas são 73 milhões representam 44% das crianças em situação de trabalho infantil. Para analisar da intensidade do trabalho de crianças e adolescentes no mundo, uma possibilidade é olharmos a evolução destes números nos três modos em que este problema aparece. Em termos mundiais, nas crianças em atividade econômica, na faixa de idade entre 5 e 14 anos, em 2012, podemos observar uma diminuição de cerca de 65 mil crianças. As crianças trabalhadoras entre 5 e 14 anos, em 2012 eram da ordem de 11,8%. As crianças em situação de trabalho infantil entre 5 e 14 anos, em 2012 eram da ordem de 9,9%, o que significa que entre 2000 e 2012 de cerca de 65 mil. Para as crianças e adolescentes envolvidos em trabalho perigoso, na faixa de 5 a 14 anos, tivemos um ir e vir de números, um crescimento exponencial entre 2000 e 2004 e depois uma queda entre 2004 e 2012.

Página9 Quando isolamos a faixa de idade de 5 a 11 anos, vemos que se nos modos de crianças em atividade econômica e trabalho perigoso há um número aproximado entre 5 a 11 e 12 a 14 anos, quando se trata de trabalho infantil, temos um valor 50% maior quando focamos em crianças de 5 a 11 anos. Na faixa de idade de 15 a 17 anos, houve diminuição do universo quando focamos em crianças em atividade econômica, trabalho infantil e trabalho perigoso. Quadro 5 Envolvimento de crianças em atividade econômica, trabalho infantil e trabalho perigoso por faixa etária, 2000-2012 Crianças em atividade econômica Trabalho infantil Trabalho perigoso números % números % números % 5-11 anos 2012 73.072 8,5 73.072 8,5 18.499 2,2 12-14 anos 2012 70.994 19,6 47.381 13,1 19.342 5,3 5-14 anos 15-17 anos Fonte: OIT, 2013. 2000 211.000 17,6 186.300 15,5 11.300 9,3 2004 196.047 16,2 170.383 14,1 76,470 6,3 2008 176.452 14,5 152.850 12,6 52.895 4,3 2012 144.066 11,8 120.453 9,9 37.841 3,1 2000 140.900 42,4 59.200 17,8 59.200 17,8 2004 126.682 35,2 51.911 14,4 51.911 14,4 2008 129.217 35,0 62.419 16,9 62.419 16,9 2012 120.362 33,0 47.503 13,0 47.503 13,0 A mesma análise voltada para crianças brasileiras, e aqui somente temos dados de trabalho infantil, temos redução dos índices entre 2008 e 2011 cujo índice passou de 10,3% para 8,6%. Para crianças de 5 a 9 anos, de 10 a 13 anos, e de 14 a 15 anos, houve diminuição. Na faixa de 16 e 17 anos, houve um aumento percentual de 2,9% entre 2008 e 2012. Quadro 6 - Envolvimento de crianças brasileiras em trabalho infantil por faixa etária, 2000-2012 2008 2009 2011 números % números % números %

Página10 5 a 9 anos 144.211 3,2 126.487 3,0 89.072 2,4 10 a 13 anos 862.102 19,3 793.361 19,0 614.832 16,7 14 e 15 anos 1.157.534 25,9 1.157.615 27,0 962.846 26,2 16 e 17 anos 2.312.784 51,7 2.193.528 51,0 2.007.148 54,6 TOTAL 4.476.631 10,3 4.270.999 9,8 3.673.898 8,6 Fonte:IBGE/PNAD Previsão Legal no enfrentamento ao Trabalho Infantil no Brasil A constituição brasileira (1988) considera crime o trabalho infantil : Art.7º. Inciso XXXIII proíbe, exceto na condição de aprendiz; Art.227, incisos I a III idade mínima de 14 anos, direitos previdenciários, e garantia de acesso à escola O código penal (art. 149) proíbe trabalho infantil escravo ( 2º., item I). Lei 15803/2003 aumentou a pena. O código penal proíbe,ainda, os Maus-tratos (artigo 650), principalmente se aplicado a crianças e adolescentes: Expor a perigo a vida ou a saúde de criança ou adolescente, sob sua autoridade, guarda ou vigilância, sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado. Se a pessoa for menor de 14 anos, há ainda a agravante do 3º, introduzida pelo ECA (lei 8.069/90), que aumenta a pena em mais um terço. O ECA (art. 294) aponta como crime a exploração da prostituição infantil, considerada pela OIT como uma das piores formas de trabalho infantil. Além disso, aponta como crimes a pornografia infantil (arts. 260 e 241) e a venda ou tráfico de menores (art. 239).

Página11 Relação entre trabalho infantil e escolaridade no Brasil 86,9% das crianças e adolescentes brasileiras (5 a 17 anos) estudavam em 2011 (37,1 milhões). 6,9% trabalhavam e estudavam (721 mil). 4,5% nem trabalhavam e nem estudavam (2 milhões), realizando outras atividades. Das 3,6 milhões de crianças brasileiras em situação de trabalho infantil (2011), 400 mil estavam fora da escola. Das que estavam na escola, 90% apresentavam defasagem idade/série. Quadro 7 - Envolvimento de crianças brasileiras em trabalho infantil por alfabetização, censo 2010. 10 a 13 anos 14 ou 15 anos 16 ou 17 anos Alfabetizadas Não alfabetizadas Alfabetizadas Não alfabetizadas Alfabetizadas Não alfabetizadas 5,11 7,36 12,55 13,12 26,78 19,76 Fonte: Censo 2010/IBGE. Nas duas primeiras faixas etárias (10 a 13 anos e 14 ou 15 anos), a ocupação entre crianças não alfabetizadas é maior do que entre as alfabetizadas. Apenas na última faixa etária (16 ou 17 anos), a ocupação entre alfabetizados se torna maior que entre não alfabetizados. Na faixa de 14 ou 15 anos, principalmente nos grandes centros, a ocupação dos não alfabetizados é muito menor, quem sabe pelas exigências de qualificação. LOCALIZAÇÃO Em 2011, 62,8% das crianças e adolescentes trabalhadores (5 a 17 anos) se encontravam em áreas urbanas. A população infantojuvenil no urbano representa 6,6% e no rural 17,5%. Isso significa que no rural, de cada 10 crianças, duas trabalhavam.

Página12 Gráfico 1 - Crianças e adolescentes brasileiras, em trabalho infantil, por região geográfica/ 2011 23,7% 20,8% 19,0% 17,9% 13,3% 21,7% 19,1% 17,8% 15,8% 13,8% 21,0% 18,9% 17,6% 14,6% 9% 8% 9% 7% 7% 9,5% 9,3% 8,3% 6,8% 6,9% 9,1% 6,8% 7,2% 6,1% 6,0% 9,6% % % % % % % urbano rural urbano rural urbano rural 2008 2009 2011 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Fonte: IBGE/Censo 2010. O maior percentual de trabalho infantil (5 a 17 anos) se encontrava na região Nordeste (14,4%). Seguiam-se as regiões Sul (13,6%), Norte (12,4%), Centro- Oeste (9,9%) e Sudeste (8,4%); O estado com o maior percentual de trabalhadores infantis (na faixa etária de 5 a 17 anos) era o Piauí, com 17,4%. O menor percentual encontrava-se no Distrito Federal, com 3,9%. Os estados com o maior número de trabalhadores infantis, em termos absolutos eram, respectivamente, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Maranhão. Gráfico 2 Taxas de Ocupação de Crianças e Adolescentes, por faixa etária no estado de São Paulo

Página13 28% 27% 24% 23% BRASIL 5% 3% 3% 3% 13% 9% 8% 8% Estado de São Paulo RMSP Município de São Paulo 10 a 13 anos 14 ou 15 anos 16 ou 17 anos Fonte: IBGE/Censo 2010. Salientamos que o índice do estado de São Paulo é maior do que o nacional na faixa de 16 ou 17 anos. Quadro 8 Crianças e adolescentes brasileiras envolvidas em trabalho infantil, por idade e urbano e rural, Brasil e São Paulo (%) 10 a 13 anos 14 ou 15 anos 16 ou 17 anos urbano rural urbano rural urbano Rural Brasil 3,28 13,56 10,12 23,18 25,16 33,53 Estado SP 2,55 5,44 8,82 14,70 27,27 31,84 RMSP 2,68 4,77 7,96 9,70 24,35 24,17 Mun.SP 2,94 4,03 7,87 7,88 23,38 22,46 Fonte: IBGE/Censo 2010.

Página14 Quando separados dados das zonas rurais e urbanas, percebe-se que a entrada no trabalho de crianças no meio rural é ainda mais precoce do que no meio urbano tanto no Brasil, como no estado, região metropolitana e município. AMBIENTE Nos grupos socioeconômicos mais vulneráveis (os 10% mais vulneráveis), a ocorrência do trabalho infantil é de 20%, cerca de quatro vezes a média nacional. Neste grupo de alta vulnerabilidade, 71% das crianças são negras, contra 58% na população total; 69% vivem em áreas rurais, contra 18% na população total; 68% vivem na região Nordeste, contra 33% na população total. A renda per capita no grupo de alta incidência do trabalho infantil é apenas 44% da média para todas as famílias com crianças, e o grau de pobreza, duas vezes o verificado para o conjunto das crianças. Na análise do ambiente de trabalho, os diversos estudos salientam trabalhos na agricultura, em trabalho informal e principalmente no trabalho doméstico. Trabalho Infantil Doméstico Trabalho Infantil Doméstico é toda prestação de serviços continuada, remunerada ou não, realizada por pessoa com idade inferior a 18 anos, para terceiros ou para a sua própria família. São atividades que mesmo realizadas no âmbito do lar, violam direitos de crianças e adolescentes à vida, à saúde, à educação, ao brincar, ao lazer e ainda, acarretam prejuízos que comprometem o seu pleno desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e moral. O trabalho infantil doméstico compõe, no Brasil, a lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Decreto Nº 6.481, 12/06/2008). Dos 3,7 milhões de crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, envolvidos em trabalho infantil (2011) no Brasil, 258 mil (7%) estavam ocupados em serviços domésticos. O trabalho infantil doméstico representa 3,9% do total de empregados domésticos do Brasil (6,7 milhões).

Página15 Quadro 9 Crianças e adolescentes brasileiras envolvidos em trabalho infantil doméstico, por região geográfica REGIÃO Números % Nordeste 102.668 39,8 Sudeste 66.663 25,9 Sul 34.755 13,5 Centro Oeste 18.015 7,0 Norte 35.590 13,8 Fonte: IBGE/PNAD, 2011. Segundo informações do IBGE/PNAD, entre 2008 e 2011, houve redução nos números globais de trabalho infantil doméstico no Brasil. Os estados com números mais expressivos nesta redução foram Distrito Federal (-73,0%), Roraima (-68,6%), Santa Catarina (-82,2%) e Pernambuco (-55,92%). Sete outros estados tiveram aumento nestes números, sendo as situações mais graves a do Piauí (+122,0%, em quatro anos), e a do Rio Grande do Norte (que passou de 6% para 15,1%). Os outros estados que tiveram aumento nestes números foram Pará, Alagoas, Maranhão, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As maiores frações estão na faixa etária de 14 a 15 anos, em meninas (93,7%) e entre as crianças negras (67%). 79,3% estão na zona urbana,sendo 11,6% nas Regiões Metropolitanas. Setores de Trabalho com maior incidência de Trabalho Infantil Setor Agrícola e Extrativista

Página16 O setor agrícola e extrativista concentra mais da metade dos meninos e meninas de 5 a 13 anos que trabalham no Brasil. Por isso, deveria ser uma das áreas prioritárias para eliminar esse tipo de trabalho infantil. As ações, porém, carecem de medidas específicas para a população e economia rural. MECANISMO ATUAL: agricultura familiar PROPOSTA: (movimento) cobrar das empresas que compram dos produtores rurais manter as cadeias produtivas sem trabalho infantil. Trabalho Infantil Doméstico O trabalho infantil doméstico em casa de terceiros atingia 258 mil brasileiros dos 10 aos 17 anos, em 2011. Considerada entre as piores formas de trabalho infantil, a atividade só é permitida a partir dos 18 anos. MECANISMO ATUAL: Fiscalização pelo MTE (em 2012, somente 9 fiscalizações, num total de 7.225 ações. Uma das dificuldades é o princípio da inviolabilidade do lar fiscais só podem entrar com mandato judicial) PROPOSTA: Ratificação da Convenção (189) sobre o Trabalho Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos, que se encontra esperando ser encaminhada pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso Nacional. Trabalho Infantil nos Centros Urbanos Muitas crianças vendem bala no farol a meninos que ajudam a carregar produtos nas feiras, e a sociedade brasileira convive passivamente com este trabalho infantil nos centros urbanos. Há ainda os serviços informais e o tráfico de drogas que parecem atrair meninas e meninos com menos de 16 anos. A coleta e seleção de lixo, assim como o comércio ambulante e serviços em feiras livres estão entre as piores formas de trabalho infantil. Cada vez mais cai a idade das crianças arregimentadas para o tráfico de drogas. No início dos anos 1990, a idade média de ingresso na cidade do Rio de Janeiro era aos 15 e 16 anos. Dez anos depois, havia caído para 12 e 13 anos. MECANISMO: O Brasil assumiu o compromisso de erradicar essa prática até 2015.

Página17 PROPOSTA : A erradicação passa pelas diretrizes da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude, lançada em 2006 e que requer um plano com ações, metas e indicadores. Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes A exploração sexual de crianças e adolescentes para fins comerciais é crime associado a redes de prostituição, pornografia, turismo sexual e tráfico de pessoas. Entidades ligadas à rede de enfrentamento alertam para a intensificação desse tipo de violação nas regiões onde estão sendo construídas as grandes obras de infraestrutura e para os megaeventos, como a Copa Mundial. MECANISMO: Foi recomendado que as ações de processos de licenciamento das obras. prevenção figurem nos PREOCUPAÇÃO: Qual vai ser o cuidado com atividades de turismo sexual infantil durante a Copa? NOCIVIDADE Dentre os efeitos perversos do trabalho infantil, podemos salientar (1) a entrada tardia na escola, (2) a evasão escolar, (3) as enfermidades contraídas em função do trabalho realizado. Pensando-se em cada um dos ambientes, salientamos: A comercialização informal e precária de produtos (semáforos e outros) gera um agravo de caráter social. Atuando a margem da lei (trabalho infantil é proibido),estas crianças e adolescentes ficam privadas de seus direitos educacionais básicos; A submissão exigida de crianças/adolescentes ocupadas em serviços domésticos em casas de estranhos, muitas vezes, leva a assédio moral e sexual para os quais este ser em formação não tem defesa; A ausência da escolarização leva ao condicionamento como subempregados numa postura aparentemente comodista, ou a adesão ao mundo do crime, como resposta a suas necessidades.

Página18 Efeitos Perversos do trabalho infantil Enquanto 3,8% das crianças de 5 a 14 anos encontram-se fora da escola, entre aquelas que trabalham esta porcentagem sobe para 4,9%. Com respeito à saúde, cerca de 5% das crianças que trabalham (cerca de 100 mil) declaram terem ficado doentes em decorrência do trabalho realizado ao menos uma vez durante o último ano. Cultura de Aceitação A necessidade de complementação da renda dos pais leva a um discurso de que isso é bom como se o adestramento substituísse a educação que acaba ficando em segundo plano. Durante todo o processo de evolução humana, crianças estiveram ligadas ao trabalho de seus pais, ajudando a buscar elementos de sobrevivência ou fazendo trabalhos domésticos e mesmo realizando atividades profissionais, em nome de um pseudo aprendizado. É antigo o costume de se empregar os filhos em casas de família para que sejam educados. Lá, eles realizam atividades subalternas (trabalho doméstico) ou se ocupam dos cuidados com outras crianças (nível de responsabilidade). Na evolução da industria, os menores de idade inserem-se na industria muitas vezes acompanhando seus pais, nas companhias de ofício como ajudantes e aprendizes, este servindo de base até os dias de hoje como uma excepcionalidade a proibição do trabalho de menores de idade. A população precisaria introjetar a mesma indignação que sente em relação à exploração sexual quando se depara com o trabalho infantil, principalmente em suas piores formas.

Página19 MECANISMOS Para pensarmos em mecanismos de enfrentamento do Trabalho Infantil, é importante levar em conta que, do inicio dos anos 90 até os dias atuais, mudou muito o perfil do trabalho infantil no Brasil. Hoje ele é mais urbano e menos rural, atingindo crianças mais velhas do que há 20 anos. Estas crianças enfrentam, na sua maioria, uma dupla jornada de escola e trabalho com a própria família, e nem sempre isso é fruto da situação de pobreza. 40% destas crianças e adolescentes não estão em famílias vivendo abaixo da linha da pobreza. Eles já não trabalham para complementar a renda, mas para ter acesso aos bens resultantes do desenvolvimento, como um celular ou uma roupa de marca. Faltam atividades socioculturais para crianças e jovens. Existe uma visão equivocada por parte de muitos pais - de que crianças e adolescentes têm que trabalhar. É melhor a criança trabalhar do que roubar. Os pais não parecem ver outra opção.

Página20 Fonte: OIT, palestra proferida pela Lais Abramo... Na conferência Global contra o trabalho infantil, realizada no Brasil,em 2013, o governo brasileiro assumiu um compromisso com a erradicação do trabalho infantil. A Declaração de Brasília, reafirma o objetivo de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016 e todas as formas de trabalho infantil ate 2020, propondo o aumento imediato dos esforços em nível nacional e internacional. O carro chefe deste esforço de enfrentamento é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PETI que tem como principal característica a transferência direta de renda do governo para famílias que apresentem, em sua composição, crianças e adolescentes em situação de trabalho. Além do benefício de transferência de renda, organiza ações socioeducativas e de convivência, de forma a manter crianças e adolescentes na escola e prover lhes articulação dos serviços da rede de proteção social básica e especial. Os beneficiários do programa devem ter idade igual ou inferior a 16 anos. O principal objetivo do PETI (MDS, 2008) é erradicar toda e qualquer forma de trabalho infantil no Brasil, permitindo que os beneficiários do programa possam voltar a exercer sua cidadania plenamente. Principais ações do PETI a) Apoio aos fóruns de Erradicação de Trabalho Infantil; b) Concessão de bolsa a crianças em situação de trabalho; c) Ações sócio-educativas para crianças e adolescentes em situação de trabalho; d) Fiscalização para erradicação do trabalho infantil; e) Publicidade de utilidade pública; f) Atualização do mapa de foco do trabalho infantil; g) Apoio técnico à Escola do Futuro Trabalhador.

Página21 Observação: o caminho para acessar o PETI é o CadÚnico. Segundo uma análise feita pela OIT e expressa na mesma Conferência, os Elementos Chaves na Experiência Brasileira são: 1. Reconhecimento oficial da existência do problema (desde meados dos anos 1990); 2. Compromisso com o enfrentamento no mais alto nível: prioridade nacional; 3. Desenvolvimento da base de conhecimentos: Estudos e diagnósticos Estatísticas sistemáticas desde 1992- PNAD o Criação do Mapa do Trabalho Infantil, desenvolvido pelo IBGE, com base no Censo 2010, disponibilizando diversos indicadores municipais (em consulta com MDS, MPT e OIT) Aprimoramento da medição com a implantação da PNAD Contínua, mediante consulta aos usuários 4. Existência do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador (2004, revisto em 2010) 5. Criação de mecanismos nacionais de coordenação (FNPETI, CONAETI): Intersetorialidade no âmbito governamental: MTE, MDS, MEC, SDH, MS, MDA, ME, MJ, MP, MTur, MinC Tripartismo + Sociedade Civil, Outros poderes/instâncias do Estado (PGU, MPT, JT, PF, PRF, Parlamento) - Organismos Internacionais 6. Reprodução nos estados e municípios 7. Papel da inspeção do trabalho 8. Políticas públicas: Bolsa Escola, PETI, Bolsa Família, Brasil sem Miséria 9. Campanhas de mobilização e sensibilização: fundamentais para desnaturalizar o problema

Página22 10. Prioridades na Agenda Nacional de Trabalho Decente (2006), no Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (2010) e nas Agendas Estaduais de Trabalho Decente da Bahia (2007) e Mato Grosso (2009) 11. Cooperação Sul-Sul Demanda constante de outros países em relação às boas praticas brasileiras de prevenção e eliminação do trabalho infantil. Programa de Cooperação Triangular entre OIT e Brasil em 13 países em desenvolvimento. Principais Desafios 1. Acelerar o ritmo de redução; 2. Entender melhor as características atuais do trabalho infantil e seus determinantes, inclusive com estudos qualitativos; 3. Desenvolver estratégias para monitorar as piores formas de trabalho infantil; 4. Aprimorar as políticas para o campo; 5. Municipalizar políticas de prevenção e eliminação do trabalho infantil, fortalecendo a gestão municipal; 6. Aprimorar e ampliar a inserção de adolescentes na aprendizagem; 7. Implementar escola em tempo integral atrativa e de qualidade em todos os municípios; 8. Desenvolver estratégias de transição escola-trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IBGE/PNAD - O TRABALHO INFANTIL DOMÉSTICO NO BRASIL: AVALIAÇÃO A PARTIR DOS MICRODADOS DA PNAD/IBGE (2008-2012) OIT/IPEC - MEDIR O PROGRESSO NA LUTA CONTRA O TRABALHO INFANTIL: ESTIMATIVAS E TENDÊNCIAS MUNDIAIS 2000-2012, 2013.

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