Leia o seguinte texto: Verão excessivo



Documentos relacionados
MÓDULO 5 O SENSO COMUM

Respostas: º P34 M B 27/08/2008. Esta prova contém 10 questões.

COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION LIÇÕES DE MATEMÁTICA E CIÊNCIAS - 3 ano Semana de 23 a 27 de março de 2015.

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:...

Sugestão de avaliação

Verão excessivo. a) Com base na queixa da andorinha-de-barriga-branca, reformule o provérbio Uma andorinha não faz verão.

Transcriça o da Entrevista

Página a) Porque concordam com o substantivo tarefas (plural). b) Porque concorda com extinção (singular).

Goiânia, de de Nome: Professor(a): Elaine Costa. O amor é paciente. (I Coríntios 13:4) Atividade Extraclasse. O melhor amigo

Centro Educacional Souza Amorim Jardim Escola Gente Sabida Sistema de Ensino PH Vila da Penha. Ensino Fundamental

Duplo sentido e ironia / Maria Irma Hadler Coudry. Caro Aluno:

Educação Ambiental: uma modesta opinião Luiz Eduardo Corrêa Lima

5 Dicas Testadas para Você Produzir Mais na Era da Internet

A origem dos filósofos e suas filosofias

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO II ETAPA LETIVA HISTÓRIA 3.º ANO/EF 2015

A fala freada Bernard Seynhaeve

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

Desafio para a família

Disciplina: Matemática Data da realização: 24/8/2015

Provão. Português 4 o ano. Vida da gente. Texto

Top Guia In.Fra: Perguntas para fazer ao seu fornecedor de CFTV

Objetivo principal: aprender como definir e chamar funções.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Entrevistado por Maria Augusta Silva. Entrevista realizada na ocasião em que recebeu o Prémio Nacional de Ilustração.

LÍNGUA INTERATIVIDADE REVISÃO 2 INTERATIVIDADE. Unidade II. Cultura- A pluralidade na expressão humana. Aula 20. Revisão e avaliação da unidade II.

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega.

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

4 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Nome:

Mostra Cultural 2015

LIÇÃO 2 AMOR: DECIDIR AMAR UNS AOS OUTROS

1) Observe a fala do peru, no último quadrinho. a) Quantos verbos foram empregados nessa fala? Dois. b) Logo, quantas orações há nesse período? Duas.

este ano está igualzinho ao ano passado! viu? eu não falei pra você? o quê? foi você que jogou esta bola de neve em mim?

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

Veículo: Jornal de Brasília Data: 19/10/2014 Seção: Capa Pág.: 01 Assunto: Reajuste

Parábolas curtas de Jesus: 3 - Vinho novo em odres velhos Lc 5,37-39

Resultado da Avaliação das Disciplinas

PREFÁCIO DA SÉRIE. estar centrado na Bíblia; glorificar a Cristo; ter aplicação relevante; ser lido com facilidade.

O menino e o pássaro. Rosângela Trajano. Era uma vez um menino que criava um pássaro. Todos os dias ele colocava

As crianças adotadas e os atos anti-sociais: uma possibilidade de voltar a confiar na vida em família 1

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Distintos convidados e demais pessoas nesta sala, é uma grande honra

A menina que queria visitar a tia

A.C. Ilustrações jordana germano

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1

A Torre de Hanói e o Princípio da Indução Matemática

Memórias do papai MEMÓRIAS DO PAPAI

Manoel de Barros Menino do mato

GEOGRAFIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. 2 a Etapa SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO. FAÇA LETRA LEGÍVEL. Duração desta prova: TRÊS HORAS.

Entrevista Noemi Rodrigues (Associação dos Pescadores de Guaíba) e Mário Norberto, pescador. Por que de ter uma associação específica de pescadores?

1.000 Receitas e Dicas Para Facilitar a Sua Vida

NAP NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO I

GRUPO VI 2 o BIMESTRE PROVA A

Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava

Desvios de redações efetuadas por alunos do Ensino Médio

POR QUE O MEU É DIFERENTE DO DELE?

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

Elaboração e aplicação de questionários

Unidade I Tecnologia: Corpo, movimento e linguagem na era da informação.

SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO.

SALVAÇÃO não basta conhecer o endereço Atos 4:12

Para gostar de pensar


MATERIAL DE AULA CURSO DE PORTUGUÊS APLICADO PROF. EDUARDO SABBAG REDE LFG

Papo com a Especialista

Nome: N.º: endereço: data: telefone: PARA QUEM CURSARÁ O 8 Ọ ANO EM Disciplina: português

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro com a delegação de atletas das Paraolimpíadas de Atenas-2004

2015 O ANO DE COLHER JANEIRO - 1 COLHER ONDE PLANTEI

LIÇÃO 8 Respeitando as diferenças uns dos outros

Palavras do autor. Escrever para jovens é uma grande alegria e, por que não dizer, uma gostosa aventura.

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE LINGUA PORTUGUESA

SAMUEL, O PROFETA Lição Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil.

Sistema de signos socializado. Remete à função de comunicação da linguagem. Sistema de signos: conjunto de elementos que se determinam em suas inter-

MALDITO. de Kelly Furlanetto Soares. Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012.

Desvios de redações efetuadas por alunos do Ensino Médio

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

Casa Templária, 9 de novembro de 2011.

Exercícios Complementares Língua Portuguesa Profª Ana Paula de Melo. Hora de brincar!

PREGAÇÃO DO DIA 08 DE MARÇO DE 2014 TEMA: JESUS LANÇA SEU OLHAR SOBRE NÓS PASSAGEM BASE: LUCAS 22:61-62

GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA A

Cópia autorizada. II

INDICE Introdução 03 Você é muito bonzinho 04 Vamos ser apenas amigos dicas para zona de amizade Pg: 05 Evite pedir permissão

Semeadores de Esperança

Os dois foram entrando e ROSE foi contando mais um pouco da história e EDUARDO anotando tudo no caderno.

Aula 05 - Compromissos

STEVEN CARTER. Sou uma. mulher inteligente. porque... Dicas para você se valorizar e transformar sua vida amorosa

Imagens Mentais Por Alexandre Afonso

Direitos Humanos em Angola: Ativista é detido na entrada do Parlamento

Volte a ter o corpo que tinha antes da gravidez em 60 dias...

DESIGN DE MOEDAS ENTREVISTA COM JOÃO DE SOUZA LEITE

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

Conteúdos: Pronomes possessivos e demonstrativos

Anna Júlia Pessoni Gouvêa, aluna do 9º ano B

Educação Patrimonial Centro de Memória

Mensagem Pr. Mário. Culto da Família Domingo 06 de abril de 2014

Ambientes acessíveis

Luís Norberto Pascoal

o coração ruge como um leão diante do que nos fizeram.

Deus: Origem e Destino Atos 17:19-25

CADERNO DE ATIVIDADES DE RECUPERAÇÃO

Transcrição:

1 Leia o seguinte texto: Verão excessivo Eu sei que uma andorinha não faz verão, filosofou a andorinha-de-barriga-branca. Está certo, mas agora nós somos tantas, no beiral, que faz um calor terrível, e eu não agüento mais! (Carlos Drummond de Andrade Contos plausíveis) a) Com base na queixa da andorinha-de-barriga-branca, reformule o provérbio Uma andorinha não faz verão. b) Está adequado o emprego do verbo filosofou, tendo em vista que ele se refere ao provérbio citado no texto? Justifique sucintamente sua resposta. a) Uma andorinha não faz verão; muitas, porém, produzem juntas um calor terrível. b) O emprego do verbo filosofar se justifica por ter ele, no texto, o sentido coloquial de meditar, raciocinar, formular uma reflexão de sentido geral ou, para usar um brasileirismo, matutar. O provérbio citado exprime o conteúdo da reflexão da andorinha.

2 Leia o seguinte texto: Os irmãos Villas Bôas não conseguiram criar, como queriam, outros parques indígenas em outras áreas. Mas o que criaram dura até hoje, neste país juncado de ruínas novas. a) Identifique o recurso expressivo de natureza semântica presente na expressão ruínas novas. b) Que prática brasileira é criticada no trecho país juncado (=coberto) de ruínas novas? a) A expressão ruínas novas parece conter um paradoxo ou, em outros termos, parece confirmar um oxímoro. Com efeito, ruínas é palavra que conota antigüidade ou, em outro registro, velharia, o oposto do adjetivo nova. O oxímoro consiste, justamente, na relação contraditória entre palavras de sentido antitético ou conflitivo. Ocorre, porém, que a expressão pode ser entendida de outra forma, literal, pois uma ruína pode ser recente, nova, como foram as ruínas de Tróia logo após a destruição da cidade pelos gregos e como são tantos prédios que embrutecem uma cidade como São Paulo. b) Critica-se, no texto, a incúria brasileira que leva à falta de conservação tanto do patrimônio material do país (edificações, monumentos, cidades inteiras) quanto de suas instituições.

3 Costuma-se exaltar a cabeça como fonte da razão e denunciar o coração como sede da insensatez, como músculo incapaz de ter autocrítica e de ser original. Que seja assim. E daí? Nada pior do que uma idéia feita, mas nada melhor do que um sentimento usado. A cabeça pode gostar de novidade, mas o coração adora repetir o já provado. Se as idéias vivem da originalidade, os sentimentos gostam da redundância. Não é por acaso que o prazer procura repetição. (Zuenir Ventura. Crônicas de fim de século) a) Substitua a expressão Que seja assim por outra de sentido equivalente, tendo em vista o contexto. b) Explique por que o autor considera que tanto a novidade quanto a redundância podem ser desejáveis. a) O sentido da frase Que seja assim, no texto, é concessivo, equivalente a Admitase que seja assim. b) A novidade é desejável no que se refere às idéias, pois lhes confere originalidade; a redundância, por sua vez, é desejável no âmbito dos sentimentos, pois estes tenderiam a reforçar-se ou a comprazer-se com a repetição. Nos termos do texto, o coração adora repetir o já provado e o prazer procura repetição.

4 Sobre o emprego do gerúndio em frases como Nós vamos estar analisando os seus dados e vamos estar dando um retorno assim que possível, um jornalista escreveu uma crônica intitulada Em 2004, gerundismo zero!, da qual extraímos o seguinte trecho: Quando a teleatendente diz: O senhor pode estar aguardando na linha, que eu vou estar transferindo a sua ligação, ela pensa que está falando bonito. Por sinal, ela não entende por que eu vou estar transferindo é errado e ela está falando bonito é certo. a) Você concorda com a afirmação do jornalista sobre o que é certo e o que é errado no emprego do gerúndio? Justifique sucintamente sua resposta. b) Identifique qual de seus vários sentidos assume o sufixo empregado na formação da palavra gerundismo. Cite outra palavra em que se utiliza o mesmo sufixo com esse mesmo sentido. a) Melhor do que errado, o emprego do gerúndio exemplificado na fala da moça e hoje lamentavelmente freqüente em pessoas de escolaridade deficiente que tentam falar bem poderia ser apodado de inadequado ou impreciso. A construção do auxiliar estar seguido do gerúndio do verbo principal justifica-se quando se trata de enfatizar o aspecto contínuo da ação, como em ela está falando bonito. Já em vou estar transferindo o emprego da perífrase verbal, em lugar do infinitivo simples (vou transferir), é inepto, pois o que vem ao caso é o caráter futuro da ação (vou transferir = transferirei), e não seu aspecto contínuo. b) O sufixo -ismo, em gerundismo, tem o sentido de prática, hábito, no caso, prática ou hábito de uso abusivo do gerúndio, pois, no contexto, pode haver também uma nuance pejorativa neste sufixo. O mesmo sentido do sufixo se encontra em modismo, alcoolismo, clientelismo.

5 Graciliano Ramos, em seu livro INFÂNCIA, reflete sobre uma de suas marcantes impressões de menino. Bem e mal ainda não existiam, faltava razão para que nos afligissem com pancadas e gritos. Contudo as pancadas e os gritos figuravam na ordem dos acontecimentos, partiam sempre de seres determinados, como a chuva e o sol vinham do céu. E o céu era terrível, e os donos da casa eram fortes. Ora, sucedia que a minha mãe abrandava de repente e meu pai, silencioso, explosivo, resolvia contar-me histórias. Admirava-me, aceitava a lei nova, ingênuo, admitia que a natureza se houvesse modificado. Fechava-se o doce parêntese e isso me desorientava. a) Ao se referir às violências sofridas quando menino, o autor compara-as a elementos da natureza (chuva, sol, céu). O que mostra ele, ao estabelecer tal comparação? b) Esclareça o preciso significado, no contexto, da expressão fechava-se o doce parêntese. a) A comparação exprime a concepção infantil para a qual bem e mal ainda não existiam e, portanto, as pancadas e os gritos pareciam tão imotivados e incompreensíveis quanto fenômenos naturais como a chuva. b) A expressão refere-se a alterações na atitude dos pais, que se tornavam subitamente brandos e afáveis. O doce parêntese, portanto, era o momento de afabilidade que funcionava como interrupção incompreensível da também incompreensível seqüência de punições ( pancadas e gritos ) infligida às crianças.

6 Às seis da tarde Às seis da tarde as mulheres choravam no banheiro. Não choravam por isso ou por aquilo choravam porque o pranto subia garganta acima mesmo se os filhos cresciam com boa saúde se havia comida no fogo e se o marido lhes dava do bom e do melhor choravam porque no céu além do basculante o dia se punha porque uma ânsia uma dor uma gastura era só o que sobrava dos seus sonhos. Agora às seis da tarde as mulheres regressam do trabalho o dia se põe os filhos crescem o fogo espera e elas não podem não querem chorar na condução. (Marina Colasanti Gargantas abertas) Basculante = um tipo de janela. Gastura = inquietação nervosa, aflição, mal-estar. a) O texto faz ver que mudanças históricas ocorridas na situação de vida das mulheres não alteraram substancialmente sua condição subjetiva. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente. b) No poema, o emprego dos tempos do imperfeito e do presente do indicativo deixa claro que apenas um deles é capaz de indicar ações repetidas, durativas ou habituais. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente. a) Sim. Em que pesem mudanças históricas importantes, as mulheres de antes e de agora mantêm a mesma condição subjetiva. Apesar de condições objetivas opostas antes, eram submetidas a uma vida fami-

liar castradora; agora, são figuras ativas em âmbito social mais amplo (trabalham fora ) as mulheres cumprem um cotidiano que não satisfaz suas expectativas essenciais, suas necessidades subjetivas. b) Não, a afirmação não se justifica porque os verbos no presente, no texto, também são indicativos de ações repetidas e habituais, sugerindo que a condição feminina, no que diz respeito ao aspecto tratado, não sofreu nenhuma alteração significativa do passado ao presente.

7 Leia o seguinte poema de Manuel Bandeira: PORQUINHO-DA-ÍNDIA Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do [fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas [ternurinhas... O meu porquinho-da-índia foi a minha [primeira namorada. a) Aponte, no poema, dois aspectos de estilo que estejam relacionados ao tema da infância. Explique sucintamente. b) Qual é o elemento comum entre a experiência infantil e a experiência mais adulta presentes no poema? Explique sucintamente. a) Entre os aspectos de estilo relacionados ao tema da infância, podem ser apontados a utilização do diminutivo ( bichinho, limpinhos, ternurinhas ), a repetição de termos que simula uma redação primária e certos desvios da norma culta, como Levava ele pra sala. b) O elemento comum entre a experiência infantil e a adulta é a frustração afetiva. O eu-lírico realiza um amplo exercício de ternurinhas, de demonstrações afetivas que não foram valorizadas pelo porquinho-daíndia quando criança e assim como não o seriam, depois, por suas namoradas.

8 Considere os seguintes versos, que fazem parte de um poema em que Carlos Drummond de Andrade fala de Guimarães Rosa e de sua obra: (...) ou ele mesmo [Guimarães Rosa] era a parte de gente servindo de ponte entre o sub e o sobre que se arcabuzeiam de antes do princípio, que se entrelaçam para melhor guerra, para maior festa? (arcabuzeiam = lutam com arcabuzes, espingardas) a) A luta entre Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem (do conto A hora e vez de Augusto Matraga ) apresenta, conjugados, os aspectos de guerra e de festa referidos nos versos de Drummond. Você concorda com esta afirmação? Justifique sucintamente. b) O conflito entre Turíbio Todo e Cassiano Gomes (do conto Duelo ) apresenta essa mesma junção de aspectos de guerra e de festa? Justifique sucintamente. a) Esta afirmação se justifica ao considerarmos a passagem em que Augusto Matraga, não conseguindo deter a ação violenta de Joãozinho Bem-Bem contra uma família inocente, começa a enfrentar o bando de Joãozinho com o grito festivo e entusiástico: Ô gostosura de fim-demundo! b) Sim, pois, no conflito entre o marido traído, Turíbio Todo, e o amante de Silivana, Cassiano Gomes, estão conjugados aspectos de guerra e de festa. Os aspectos de guerra estão no próprio jogo que envolve o perseguidor (Turíbio) e o perseguido (Cassiano). Os aspectos de festa estão na relação amorosa com Silivana e na aparente vitória de Turíbio.

9 Leia este trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, no qual Macabéa, depois de receber o aviso de que seria despedida do emprego, olha-se ao espelho: Depois de receber o aviso foi ao banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso a sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário, o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem. a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa, não se ver refletida no espelho liga-se imediatamente ao aviso de que seria despedida. Projetando essa ausência de reflexo no contexto mais geral da obra, como você a interpreta? b) Também no contexto da obra, explique por que o narrador diz que Macabéa pensou levemente. a) A ausência da reflexão de Macabéa no espelho simboliza a insignificância existencial e social dessa personagem alheia a tudo e a si mesma. É um ser de existência rala, metaforizada nas expressões: capim, feto jogado no lixo, café frio. b) Macabéa, moça que representa a inocência pisada e a miséria anônima, não tem consciência da sua condição. Ela não reflete sobre a precariedade da sua vida, relacionada, no fragmento, à pia imunda e rachada. Daí a expressão levemente pensou, indicando a fragilidade da sua constatação.

10 Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro: Ponham na minha sepultura Aqui jaz, sem cruz, Alberto Caeiro Que foi buscar os deuses... Se os deuses vivem ou não isso é convosco. A mim deixei que me recebessem. a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa que o poeta rejeita e aquela com que tem maior afinidade. Explique sucintamente. b) Relacione a referência a deuses (plural), no poema, com o seguinte verso, extraído de outro poema de Alberto Caeiro: A natureza é partes sem um todo. a) Ao pedir que o sepultem sem cruz, Alberto Caeiro explicita sua rejeição ao Cristianismo, do qual a cruz é símbolo e metonímia (o símbolo pela coisa simbolizada). Ao dizer, na seqüência, que foi buscar os deuses, a pluralização da palavra deus implica uma recusa do monoteísmo e uma aceitação implícita do paganismo, mas de um paganismo atípico, relativizado pelo verso Se os deuses vivem ou não isso é convosco, que transfere para o hipotético leitor a questão da existência ou inexistência dos deuses. Caeiro professa um paganismo essencial, anterior à cultura, ou à formulação das representações dos deuses pagãos da Antigüidade. b) A palavra deuses, além da aproximação politeísta e pagã a que fizemos menção na resposta ao quesito anterior, envolve também a recusa de Caeiro à noção de um princípio unitário, abstrato, antecedente. Vai nessa mesma direção o sentido do verso A natureza é partes sem um todo. Vale dizer, Caeiro recusa a própria idéia de natureza como formulação da mente humana, como abstração indicadora do conjunto das coisas naturais. O que interessa a Caeiro são as coisas em si, concretas e singulares, as flores, as árvores, os rios, e não o conceito generalizante que as engloba sob o nome de natureza.

Redação Considere a foto e os textos abaixo: Catraca invisível ocupa lugar de estátua Sem que ninguém saiba como e muito menos o por quê uma catraca enferrujada foi colocada em cima de um pedestal no largo do Arouche (centro de São Paulo). É o monumento à catraca invisível, informa uma placa preta com moldura e letras douradas, colocada abaixo do objeto, onde ainda se lê: Programa para a descatracalização da vida, Julho de 2004. (Foto acima) (Adaptado de Folha de S. Paulo, 04 de setembro de 2004) [Catraca = borboleta: dispositivo geralmente formado por três ou quatro barras ou alças giratórias, que impede a passagem de mais de uma pessoa de cada vez, instalado na entrada e/ou saída de ônibus, estações, estádios etc. para ordenar e controlar o movimento de pessoas, contá-las etc.] Grupo assume autoria da catraca invisível Um grupo artístico chamado Contra Filé assumiu a responsabilidade pela colocação de uma catraca enferrujada no largo do Arouche (região central). A intervenção elevou a catraca ao status de

monumento à descatracalização da vida e fez parte de um programa apresentado no Sesc da Avenida Paulista, paralelamente ao Fórum das Cidades. No site do Sesc, o grupo afirma que a catraca representa um objeto de controle biopolítico do capital e do governo sobre os cidadãos. (Adaptado de Folha de S. Paulo, 09 de setembro de 2004) Em site sobre o assunto, assim foi explicado o projeto do grupo Contra Filé : O Contra Filé desenvolveu o PROGRAMA PARA A DESCATRACALIZAÇÃO DA PRÓPRIA VIDA. A catraca representa um signo revelador do controle biopolítico, através de forças visíveis e/ou invisíveis. Por quantas catracas passamos diariamente? Por quantas não passamos, apesar de termos a sensação de passar? (http://lists.indymedia.org/pipemail/cmi-brasilvideo/2004-july/0726-ct.html) INSTRUÇÃO. Como você pôde verificar, observando o noticiário da imprensa e o texto da Internet aqui reproduzidos, a catraca que apareceu em uma praça de São Paulo era, na verdade, um Monumento à catraca invisível, ali instalado pelo grupo artístico Contra Filé, como parte de seu Programa para a descatracalização da vida. Tudo indica, portanto, que o grupo responsável por este programa acredita que há um excesso de controles, dos mais variados tipos, que se exercem sobre os corpos e as mentes das pessoas, submetendo-as a constantes limitações e constrangimentos. Tendo em vista as motivações do grupo, você julga que o programa por ele desenvolvido se justifica? Considerando essa questão, além de outras que você ache pertinentes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo a apresentar seu ponto de vista sobre o assunto. Comentário sobre a Redação Oferecendo como ponto de partida uma foto, seguida de três textos, a Banca Examinadora solicitou ao candidato que se posicionasse em relação a um projeto denominado Programa para a descatracalização da vida, simbolizado por uma catraca enferrujada que foi colocada, em setembro do ano pas-

sado, em cima de um pedestal, na região central da capital paulista, em que se podia ler: Monumento à catraca invisível. O próprio enunciado da Banca induziu o candidato a refletir sobre a existência de vários tipos de catraca no espaço urbano contemporâneo, representando diversas formas de controle sobre os corpos e as mentes das pessoas. Para ilustrar suas considerações, o candidato poderia mencionar as restrições econômicas, políticas ou sociais a que os cidadãos vêm sendo submetidos, e que, em maior ou menor grau, cerceiam sua liberdade. Também os sistemas de vigilância evidentes ou velados instalados em espaços públicos e privados, constituiriam um exemplo de constrangimento cada vez mais freqüente no cotidiano. Ontem, o totalitarismo, tão bem descrito em ficções como 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley; hoje, o controle exercido por um sistema globalizado e informatizado, no qual Governo e capital controlam os cidadãos, cerceando, muitas vezes de forma sutil, suas ações.

Comentário A prova de Português da 2ª Fase é, em 2005, uma reafirmação do que a Fuvest tem adotado como norma e tradição nos últimos anos: exigir, sem exorbitar. É uma prova que não se pode rotular como fácil, pois exigiu a compreensão clara dos enunciados e dos textos envolvidos, a observação de alguns fatos lingüísticos essenciais e a capacidade de articular uma resposta pertinente qualidades mínimas que se esperam de um aspirante ao grau universitário. As questões de teor lingüístico ou estilístico terão oferecido menor dificuldade ao candidato bem preparado. Já as questões de interpretação de texto e literatura requereram, além do conhecimento, alguma sensibilidade para a leitura do texto literário, o que premia os candidatos com melhor repertório de leitura e experiência literária.