CADERNOS DIREITO GV V. 2, N. 1 janeiro 2006



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Transcrição:

CADERNOS DIREITO GV V. 2, N. 1 janeiro 2006 ISSN 1808-6780 Janeiro 2006 São Paulo SP Publicação Bimestral da Fundação Getúlio Vargas Escola de Direito de São Paulo (DIREITO GV) TIRAGEM: 600 EXEMPLARES CDG - Cadernos Direito GV, JANEIRO 2006 São Paulo Ed. Fundação Getúlio Vargas ISSN 1808-6780 BIMESTRAL Revista da Escola de Direito de São Paulo (DIREITO GV) da Fundação Getúlio Vargas CADERNOS DIREITO GV 1

EDITORES Janeiro, 2006, José Rodrigo Rodriguez. INCLUI BIBLIOGRAFIA 1. DIREITO PERIÓDICOS. I. São Paulo. DIREITO GV Todos os direitos desta edição são reservados à ED. FGV. DISTRIBUIÇÃO Comunidade científica: 600 exemplares REVISÃO Ana Mara França Machado (estagiária) DEG-FGV-EAESP PRODUÇÃO INDUSTRIAL Impressão e acabamento: Gráfica FGV Data da Impressão: Janeiro/2006 Tiragem: 600 PERIODICIDADE Bimestral CORRESPONDÊNCIA Rua Rocha, 233, 7º andar Bela Vista CEP 01331-050 São Paulo SP - Brasil Tel: (11) 3281-3304 / 3310 www.edesp.edu.br Email: revistadireitogv@fgvsp.br CADERNO DIREITO GV V. 2, N. 1 Janeiro 2006 CADERNOS DIREITO GV 2

ÍNDICE I. Introdução...04 II. Objetivos...05 III. Metodologia para a Formação do Banco de Dados...06 IV. Resultados...09 IV.1. Divisão dos Resultados...09 IV.2. Direito Societário...10 IV.3. Mercado de Capitais...22 IV.4. Superior Tribunal de Justiça...32 V. Considerações Conclusivas...36 VI. Anexos...39 Anexo I - Banco de Dados sobre Direito Societário...39 Anexo II - Banco de Dados sobre Mercado de Capitais...69 Anexo III - Banco de Dados STJ...105 CADERNOS DIREITO GV 3

RELATÓRIO DA PESQUISA DE JURISPRUDÊNCIA SOBRE DIREITO SOCIETÁRIO E MERCADO DE CAPITAIS NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO Viviane Muller Prado 1 Vinícius Correa Buranelli 2 I. INTRODUÇÃO Em matéria de mercado de capitais e direito societário, duas afirmações são lugar comum para aqueles que estudam e trabalham nesta área: 1) a complexidade das estruturas societárias e do mercado de capitais, bem como as particularidades da legislação e da regulamentação dificultam a atuação do Poder Judiciário, na medida em que os juízes não conseguem acompanhar as especificidades e a dinâmica das questões empresariais; e 2) as partes interessadas, em especial investidores e acionistas minoritários, a princípio, não recorrem ao Poder Judiciário em virtude da demora da prestação jurisdicional e das incertezas sobre a decisão. Por outro lado, estudos 3 apontam que, em sistemas jurídicos nos quais há insuficiente proteção aos investidores, o mercado de capitais é menos desenvolvido se comparados com outros sistemas nos quais os seus direitos são respeitados. Esta falta de tutela não é 1 Professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EDESP/FGV). Doutora pela Universidade de São Paulo, Departamento de Direito Comercial. 2 Pesquisador júnior da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EDESP/FGV). Graduando da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 3 La Porta, Rafael. Lopez de Silanes, Florêncio. Shleifer, Andrei. Vishny, Robert. Investor Protection: Origins, Consequences and Reform. NBER Working Paper, n. W7428, Dezembro de 1999; Shafter, Gregory. Three Developing Country Challenges in WTO Dispute Settlement: some strategies foradaptation. Reform and Development of the WTO Dispute Settlement System (working title), Dencho Georgiev & Kim Van der Borght, eds. (forthcoming, Cameron May, UK, 2005); Black, Bernard. Strengthening Brazil s Securities Markets. Stanford Law School, working paper n. 205; e Rocca, Carlos Antônio. Soluções para o desenvolvimento do Mercado de capitais: um balanço preliminar. Revista da CVM, pp. 26-32. CADERNOS DIREITO GV 4

analisada apenas sob o ponto de vista do direito material vigente, mas é principalmente considerada a ausência de enforcement das leis societárias e de mercado de capitais. No Brasil, até onde sabemos, não existe pesquisa cujo resultado é a sistematização de informações da atuação do Poder Judiciário sobre o assunto, tais como tempo da decisão, quais são as matérias levadas para a apreciação do Estado, quem são as partes litigantes etc. Em vista disto, justifica-se a realização desta pesquisa, cujo objetivo é melhor conhecer o posicionamento e funcionamento do Poder Judiciário sobre matérias relacionadas com direito societário e mercado de capitais. A pesquisa iniciou-se com o pedido do Prof. Ary Oswaldo Mattos Filho de elaboração de banco de dados de decisões judiciais sobre o mercado de capitais. No início de 2005, iniciamos a investigação no Tribunal de Justiça de São Paulo e no Superior Tribunal de Justiça, conforme metodologia apontada abaixo. II. OBJETIVOS São dois os objetivos desta pesquisa: 1) apontar uma metodologia para sistematizar jurisprudência sobre determinada matéria, cujos resultados sejam lidos de forma estatística; e 2) sistematizar informações sobre as decisões em matéria de direito societário e mercado de capitais no Tribunal de Justiça de São Paulo e recursos relacionados no Superior Tribunal de Justiça. Para atingir tais objetivos, o trabalho dividiu-se em duas etapas: 1) Na primeira etapa, houve a elaboração de banco de dados, no qual foram organizadas as decisões judiciais sobre direito societário e mercado de capitais e informações correlatas, tais como tempo da decisão, nome das partes e conteúdo da decisão; e CADERNOS DIREITO GV 5

2) Na segunda etapa, 4 utilizando variáveis binárias e o programa SPSS, 5 analisamos os dados levantados e organizados, com o objetivo de trazer informações sobre o funcionamento do Poder Judiciário, tais como quem são as partes litigantes, qual é o tempo da decisão, quais matérias são levadas para apreciação do judiciário, etc. Com esta pesquisa, não tivemos a pretensão de realizar um compêndio de jurisprudência com o fim de ser utilizado por advogados e juízes em suas tarefas cotidianas, mas sim fornecer um estudo para melhor conhecimento do nosso Poder Judiciário. III. METODOLOGIA PARA A FORMAÇÃO DO BANCO DE DADOS A instituição selecionada para a elaboração da pesquisa foi o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP). Os dados levantados referem-se ao período de 1998 a 2005, especificamente, até o mês de setembro de 2005. Os motivos desta delimitação, tanto do tribunal quanto do período da pesquisa, são os seguintes: (i) importância do Tribunal de Justiça de São Paulo em matéria societária e de mercado de capitais; (ii) facilidade de acesso às informações; e (ii) completude do repertório de acórdãos disponíveis on line, no período ali disponível 6. Continuamos a pesquisa no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo de verificar os recursos existentes nesta última instância, nos casos encontrados no TJSP. Assim, utilizamos como parâmetro de pesquisa somente os números das Apelações Cíveis com acórdão disponíveis no banco de dados obtidos no TJSP. Inicialmente, foi realizada uma pré-pesquisa em ementas, para verificar a viabilidade do trabalho no TJSP. Neste primeiro momento, utilizamos os seguintes termos bastante abrangentes: sociedade anônima S.A. 4 5 6 Agradecemos a colaboração, na parte de estatística, de Alexandre Di Miceli Silveira, sobre as variáveis binárias, e de Paulo Henrique Muller Prado, na utilização do programa SPSS. Software utilizado para análises estatísticas. Informação obtida na Biblioteca do TJSP. CADERNOS DIREITO GV 6

acionista minoritário investidor poder de controle Constatada a viabilidade da pesquisa direta em acórdãos do TJSP disponíveis no site, o passo seguinte foi a seleção de termos para a busca. Na primeira fase da pesquisa, selecionamos as seguintes palavras-chave: acionista sociedade anônima companhia aberta valor(es) mobiliário(s) controlador acionista minoritário CVM Comissão de Valores Mobiliários bolsa de valores BOVESPA fundo de investimento. Como o número de acórdãos encontrados com a utilização destes termos foi muito alto, passando de 1.000 em algumas palavras, como acionista, outros critérios foram agregados à busca. Foram feitas as seguintes combinações: Acionista majoritário Acionista controlador Acionista e sociedade anônima Acionista e companhia aberta Acionista (minoritário ou majoritário) e sociedade (anônima) Poder de controle CADERNOS DIREITO GV 7

Poder de controle e sociedade anônima Poder de controle e companhia aberta Abuso de poder Abuso de poder e sociedade anônima Controlador e sociedade anônima Controlador e companhia aberta Abuso do poder de controle Insider trading Informação privilegiada Lei das S.A. Lei 6.404 Lei 6.385 Taxa de fiscalização Taxa de fiscalização e CVM Taxa de fiscalização e Comissão de Valores Mobiliários Interesse societário Interesse social Interesse social e sociedade anônima. Posteriormente, seguimos a busca com os seguintes termos: Companhia e responsabilidade e administrador Companhia e administrador Sociedade anônima e administrador Sociedade anônima e responsabilidade administrador S.A. e responsabilidade administrador S.A. e administrador Conselho de administração Acionista e administrador Acionista e responsabilidade administrador Acionista e Conselho de Administração. CADERNOS DIREITO GV 8

A partir dos resultados das buscas, que seguiu os critérios acima apontados, montamos uma tabela, contendo as seguintes informações sobre os acórdãos encontrados: tipo e número do recurso, data de entrada e de saída em primeira instância, data de entrada e de saída do TJSP, nome das partes, catalogado considerando a posição na primeira instância, isto é, se autor ou réu da ação, tema do litígio referente ao direito material, e decisão. Estes dados, salvo as datas, estão nas tabelas anexas. Além disto, nas informações contidas no site relacionadas a cada caso, constatou-se que havia alguns recursos conexos aos já encontrados. Tais recursos foram acrescentados ao banco de dados, sempre fazendo referência à sua relação com outros. Por exemplo, por vezes, tínhamos cadastrado um Agravo de Instrumento, mas, ao refazer a busca pelo número do processo, foram encontrados outros recursos sobre o mesmo litígio como Embargos de Declaração ou Apelação. IV. RESULTADOS IV.1. DIVISÃO DOS RESULTADOS Após a elaboração descritiva dos dados, passamos à análise das informações já organizadas. Neste momento, constatamos a necessidade de dividir o banco de dados obtido no TJSP em dois: 1) um deles apenas com os casos referentes às controvérsias de direito societário, entre companhia, acionistas, investidores e administradores; 2) outro agrupando os casos que discutem a atuação dos agentes do mercado de capitais, como corretora, investidor, instituição financeira e Bovespa. CADERNOS DIREITO GV 9

Há ainda uma terceira parte referente ao STJ. A escolha da sua elaboração em separado e unindo as suas matérias dos outros dois bancos de dados (mercado de capitais e direito societário) foi uma escolha tendo em vista a instância ser diferente e os tipos de recursos também serem diversos. Em vista disto, seguem abaixo três relatórios que explicitam a metodologia utilizada para a leitura dos dados levantados e os resultados obtidos com a pesquisa. IV.2. DIREITO SOCIETÁRIO 1. Metodologia para a leitura do banco de dados em matéria de direito societário Inicialmente, foi preciso agrupar os recursos encontrados em, o que denominamos nesta pesquisa, casos. Um caso representa um litígio que pode ter dado origem a mais de um recurso. Por exemplo, uma mesma questão controvertida envolvendo da companhia A e o investidor X pode ter originado Agravo de Instrumento, Embargos de Declaração e Apelação. Para a nossa organização, estes três recursos estão agrupados em um caso. Esta divisão foi necessária para a análise de algumas informações, como característica das partes e matéria discutida. Em outros momentos, por exemplo, para a verificação do tempo no TJSP, foi considerado o banco de dados com o total de recursos. O banco de dados utilizado para a elaboração deste relatório em matéria de direito societário é formado por uma amostra de 50 casos, que envolvem 92 recursos. Criamos as classificações abaixo apontadas, para que, em tabela de Microsoft Excel, fosse possível analisar os dados mediante variáveis binárias (do tipo 0 = não e 1 = sim). Para tanto, elaboramos uma nova tabela, com as seguintes variáveis: a) Caso Os casos foram identificados apenas por letras em ordem alfabética, sem referência às partes ou ao número dos autos (a, b, c,..., aa, ab, ac,..., etc.). CADERNOS DIREITO GV 10

b) Tipo do recurso Os recursos foram divididos em: Agravo de Instrumento, Apelação, Embargos de Declaração, e Outros: Agravo Regimental e Embargos Infringentes. c) Tutela antecipada/medida cautelar Levando em conta os recursos cadastrados em nossa base de dados, fizemos uma busca dos casos nos quais houve pedido de tutela antecipada ou referentes a medidas cautelares. O objetivo é saber se tal pedido de tutela antecipada ou a medida cautelar foi deferida ou não em primeira instância e se a decisão monocrática foi reformada ou confirmada pelo TJSP. Assim, as variáveis binárias foram três: Existência de pedido Deferimento em 1 a instância Deferimento em 2 a instância. Neste item, o ponto de partida da nossa análise foram os recursos existentes no TJSP (nossa fonte de pesquisa). Em virtude disto, não é possível afirmar que a nossa amostra representa a totalidade dos pedidos de tutela antecipada e medidas cautelares que envolvem matérias societárias, uma vez que não foi feita a pesquisa a partir dos pedidos de primeira instância. 7 d) Tempo da decisão A classificação do tempo da decisão foi dividida em 3 grandes grupos: Período 1, que representa o período entre a data de ajuizamento da ação em primeira instância e a data da sentença; Período 2, que representa o período entre a data de entrada do recurso no TJSP até a data do acórdão; e Tempo total, referente ao tempo que o caso levou para ser decidido em primeira e segunda instâncias. 7 Não é possível a pesquisa temática em primeira instância, no Estado de São Paulo. As buscas se dão apenas pelo nome das partes ou pelo número dos autos. Assim, torna-se inviável fazer o levantamento nos juízos monocráticos. CADERNOS DIREITO GV 11

Considerou-se também a possibilidade de acordo entre as partes. Neste caso, foi possível encontrar esta informação apenas nos casos em que tal acordo foi homologado pelo Tribunal. Sobre este tópico, é preciso fazer dois apontamentos: 1) Embora classificado como tempo total, o número obtido como tempo de duração do processo até decisão em segunda instância não pode ser confundido com o tempo total do processo, vez que, em muitos casos, ainda há Recurso Especial pendente de decisão pelo Superior Tribunal de Justiça. Esse terceiro período (STJ) está apontado no terceiro relatório deste trabalho; e 2) Não foi possível a obtenção da completude dos dados referentes a datas de entrada e saída, em ambas as instâncias, de todos os processos. Em alguns casos, a falta de dados impossibilitou a obtenção da variável tempo total. Em outros ainda não havia a sentença de primeira ou o acórdão na apelação de segunda instância. Desse modo, só foram utilizados, para a obtenção da média, casos nos quais já havia acórdão da apelação e dos quais obtivemos, via busca no website do TJSP e visitas ao prédio do mesmo e às varas da 1 a instância, todas as datas necessárias. e) Partes As partes foram classificadas tendo em vista as posições em relação à ação e não ao recurso, isto é, à qualidade de autor ou réu. Em ambos os pólos da relação jurídica processual, foi feita a seguinte divisão: Investidor Institucional 8 Pessoa jurídica Pessoa física Ministério Público Acionista controlador Bolsa de Valores Administrador. 8 Nesta categoria, foram considerados os bancos de investimentos, instituições de seguridade e fundos. CADERNOS DIREITO GV 12

f) Natureza da Controvérsia Com vistas a conhecer quais as matérias são levadas à apreciação do Poder Judiciário, os litígios foram classificados, em até três níveis, seguindo o seguinte critério: coletivo 9 responsabilidade do controlador Direitos patrimoniais responsabilidade do administrador valor do valor mobiliário individual 10 dividendo recesso exibição de documentos direito de informação prestação de contas Direitos instrumentais (não patrimoniais) voto direitos de participação Conselho Fiscal (instalação ou indicação) Conselho de Administração (indicação de membros 9 O titular do direito é a própria companhia. 10 O titular do direito é o acionista. CADERNOS DIREITO GV 13

fechamento Capital social diluição injustificada aumento direito de preferência procedimento Bônus de subscrição Telefonia Debêntures Incorporação de sociedade 2. Resultados Obtida tabela com as variáveis binárias das informações acima enumeradas, passamos ao estudo dos dados numéricos obtidos, através de sistemas de análise estatística, utilizando o programa SPSS. Foram observadas as freqüências, porcentagens, médias e inter-relações existentes ou não entre as variáveis criadas, bem como o cruzamento das mesmas, apontando os resultados abaixo descritos. A. Tipos de recursos A.1. Divisão de recursos Tabela 1. Divisão dos Recursos Tipo de Recurso Freqüência Percentual Agravo de Instrumento 18 19,6 Apelação Cível 28 30,4 Embargos de Declaração 34 37,0 Outros 12 13,0 Total 92 100,0 CADERNOS DIREITO GV 14

13,0% 19,6% Agravo de Instrumento Apelação 37,0% 30,4% Embargos de Declaração Outros B. Tempo da decisão Quanto ao tempo de duração dos processos, observamos que há uma sensível variação no número de dias. Os números podem ser observados abaixo. a) 1 a instância: Média de duração de 886,55 dias, com máxima de 3287 dias e mínimo de 3 dias. b) 2ª instância: Tabela 2. Tempo dos recursos no TJSP Tipo do Recurso Tempo no Tribunal Std. Error 11 Máximo Mínimo (em dias) Agravo de Instrumento 101,94 274 15 15,27 Apelação 504,93 1547 15 57,71 Embargos de 994 104,03 Declaração 15 31,08 Outros 103,00 239 15 29,31 A análise dos tempos de duração dos recursos no Tribunal de Justiça de São Paulo nos revelou, pois, uma grande variância entre o número de dias mínimo e máximo. Com vistas a melhor analisar a distribuição dos tempos de duração no universo de que dispúnhamos foi necessária a obtenção da moda estatística 12. 11 O standard error (erro padrão) é uma medida estatística que dá a idéia do intervalo padrão (distância da média para cima ou para baixo) em que os dados da amostra se encontram. 12 Ferramenta estatística que permite averiguar o valor que tem maior verificação em um determinado intervalo. CADERNOS DIREITO GV 15

Quanto aos Agravos de Instrumento, observa-se uma distribuição bastante variada, sendo que a maioria (9 casos) teve tempo de duração superior a 6 meses. Ocorre que há uma grande distribuição, também, nos tempos de duração de 1 a 2 meses (5 casos), de 2 a 3 meses (4 casos) e de 3 a 4 meses (5 casos), o que tende a deslocar a média para um número próximo a três meses. No que diz respeito aos embargos de declaração, há uma concentração nos tempos de duração que vão de 0 a 30 dias (18 casos) e de 30 a 60 dias (11 casos). Quanto ao tempo de duração das Apelações Cíveis, observamos que a grande maioria dos casos (19) tem decisões entre 1 e 2 anos. c) Tempo total: Em matéria societária, o tempo total (primeira e segunda instância) o tempo mínimo é de 233 dias e o máximo é de 3993 dias. A média de tempo total de decisão dos processos da sua entrada em 1 a instância até a decisão de segunda instância (decisão do último recurso no TJSP) foi de 1536,80 dias. Este resultado representa uma média de, aproximadamente, 4 anos e meio. Acontece que esta média reflete, em verdade, recursos (por nós coletados através da busca de acórdãos acima descrita) com anos de entrada variados. Das 28 apelações já julgadas a que tivemos acesso (não descontados os que originaram Embargos de Declaração), 19 entraram no TJSP entre 1996 e 1998. Nestes, a média de duração do recurso é de 574,95 dias e a duração total é, em média, de 1713 dias. Outras 7 apelações entraram no período entre 1999 e 2001 e tiveram tempo médio de estadia no Tribunal de 438,29 dias e tempo total de duração de 663,50 dias. Quanto ao período entre 2002 a 2005, apenas 2 apelações julgadas foram localizadas, com médias de tempo no Tribunal de 73 dias e total de 191 dias. Com estes dados, de uma forma apresada, poderíamos concluir que o tempo da decisão está diminuindo. Esta conclusão, todavia, parece-nos falsa em razão do número de processos que forma a amostra em cada período. No período de entrada de 1996 a 1998, há 19 CADERNOS DIREITO GV 16

decisões, enquanto de 1999 a 2005 (dobro de anos), encontramos apenas 9 decisões. Nada leva a crer que o número de processos entrados tenha diminuído ou que os recursos de apelação tenham tido abrupta queda 13. Isto tem influência na média encontrada para o tempo total da decisão. Possivelmente as decisões referentes ao período de entrada de 1999 a 2005 tiveram tempo inferior à média real. Como a pesquisa engloba acórdãos proferidos até o mês de setembro de 2005, decisões após 4 ou 5 anos (aproximadamente 1800 dias) não seriam obtidas, por não existirem. d) Acordo: Consideramos a possibilidade de haver acordo entre as partes. Ocorre que, na nossa amostra, apareceram apenas 2 casos de acordo homologados pelo Tribunal. C. Partes Tabela 3. Autor do Caso Autor Freqüência Percentual Investidor Institucional 9 18,0 Pessoa jurídica 7 14,0 Pessoa Física 33 66,0 Ministério Público 1 2,0 Total 50 100,0 Tabela 4. Réu do Caso Autor Freqüência Percentual Companhia/pessoa jurídica 44 88,0 Controlador 5 10,0 Administrador 1 2,0 Total 50 100,0 13 Conforme informações disponíveis em http://www.stf.gov.br/bndpj/justicacomum/jcomum7d.asp, em 1996 o Tribunal de Justiça de São Paulo recebeu 97837 recursos. Já em 2003 (último ano disponível) o Tribunal recebeu 169.303 recursos, um aumento de, aproximadamente, 73%. Não há, portanto, evidência de queda no fluxo processual a justificar a diferença no número de apelações julgadas localizadas. CADERNOS DIREITO GV 17

D. Matéria litigiosa D.1. Classificação mais abrangente Incorporação Debêntures Telefonia 24% 8% 4% 12% Bonus de Subscrição Aumento do CS 6% 6% 18% 2% 4% 16% Fechamento de Capital Direito Não Patrimonial de informação Direito Não Patrimonial de participação Direito Patrimonial Coletivo Direito Patrimonial Individual CADERNOS DIREITO GV 18

D.2. Classificação mais detalhada Matéria Detalhada Incorporação Debêntures Telefonia 14% 4% 4% 4% 18% 2% 6% 8% 4% 12% 4% 4% 12% 2% 2% Bônus de Subscrição Procedimentos no Aumento de Capitais Diluição de Capital Social Fechamento de Capital Conselho Fiscal Responsabilidade do Administrador Valor do V.M. Dividendos Direito de Recesso Exibição de Documentos Prestação de Contas Direito a Voto E. Tutela antecipada/medidas cautelares E.1. Concessão da tutela antecipada ou medidas cautelares: 1 a e 2 a instâncias Houve o pedido de antecipação de tutela ou de medidas cautelares em 19 casos. Isto é, em 38% da nossa amostra buscou-se este instrumento processual. CADERNOS DIREITO GV 19

Deste total, em 1ª instância, 11 (57,9%) foram deferidos e, em 8 (42,1%), o pedido foi negado. Das 19 decisões do Tribunal apenas 3 (15,78%) deferiram o pedido de antecipação, enquanto 16 (84,22%) foram indeferidos. Observamos que em 11 casos, o TJSP confirmou a decisão de 1ª instância, sendo que apenas em 3 destes 11 (27,3%), a concessão de 1ª instância foi reiterada pelo TJSP. Os 8 restantes (72,7%) referem-se a confirmação de denegações de 1ª instância. Por outro lado, o tribunal reformou 8 das 19 decisões de 1 a instância. A taxa de modificação é de, aproximadamente, 42,1%. Em todos os casos houve reforma da concessão de tutela antecipada ou de medida cautelas pelo juiz de 1ª instância. Não houve decisão de 2º grau que reformou a decisão de não concessão da tutela antecipada em 1º grau. E.2 Relação entre pedido de tutela antecipada/medidas cautelares e matéria litigiosa Tabela 5. Matérias conforme sua classificação no pedido de antecipação de tutela/medida cautelar Matéria Freqüência Percentual Dir. Patrimonial Individual 5 26.3 Dir. Não Patrimonial a Informação 4 21.1 Dir. Não Patrimonial de Participação 1 5.3 Fechamento de Capital Social 1 5.3 Aumento de Capital Social 4 21.1 Bônus de Subscrição 2 10.5 Incorporação 2 10.5 Total 19 100.0 CADERNOS DIREITO GV 20

Tabela 6. Matéria detalhada do pedido de antecipação de tutela/medida cautelas Matéria Discutida Freqüência Percentual Valor do valor mobiliário 1 5.3 Dividendo 3 15.8 Exibição de Documentos 4 21.1 Direito a Voto 1 5.3 Conselho Fiscal 1 5.3 Fechamento de Capital Social 1 5.3 Diluição do capital social 2 10.5 Aspectos procedimentais do Aumento de Capital 2 10.5 Bônus de Subscrição 2 10.5 Incorporação 2 10.5 Total 19 100.0 E.3. Relação entre matéria litigiosa e deferimento em 1 a e 2 a instância Tabela 7. Matéria litigiosa quando a tutela antecipada/medida cautelas é deferida em 1 a instância. Matéria Discutida Freqüência Percentual Dividendo 2 18.2 Exibição de Documentos 3 27.3 Direito a Voto 1 9.1 Conselho Fiscal 1 9.1 Diluição do CS 1 9.1 Bônus de Subscrição 2 18.2 Incorporação 1 9.1 Total 11 100.0 Em segunda instância, houve apenas 3 concessões de tutela antecipada, que envolviam as seguintes matérias: dividendo, exibição de documentos e conselho fiscal. CADERNOS DIREITO GV 21

F. Decisão F.1. Relação entre decisão e outras informações F.1.1. Relação entre parte e resultado do recurso 14 Tabela 8. Parte e resultado do recurso Freqüência Percentual Percentual Válido Em favor do réu da ação 47 52.8 56.0 Validos Em favor do autor da ação 37 41.6 44.0 Total 84 94.4 100.0 Faltantes System 5 5.6 Total 89 100.0 IV.3. MERCADO DE CAPITAIS 1. Metodologia para a leitura do banco de dados sobre mercado de capitais Como já mencionado acima para a metodologia utilizada na pesquisa sobre direito societário, foi preciso agrupar os recursos encontrados em, o que denominamos nesta pesquisa, casos. Um caso representa um litígio que pode ter dado origem a mais de um recurso. 15 O banco de dados utilizado para a elaboração da parte do relatório em matéria de mercado de capitais é formado por uma amostra de 53 casos, que envolvem 86 recursos. Criamos as classificações abaixo apontadas, para que, em tabela de Microsoft Excel, fosse possível analisar os dados mediante variáveis binárias (do tipo 0 = não e 1 = sim). Para tanto, elaboramos uma nova tabela, com as seguintes variáveis: 14 Ressalta-se que não é decisão do caso, mas dos recursos, pois muitos casos ainda estão pendentes de decisão do STJ e na primeira instância. 15 Ver página 8 CADERNOS DIREITO GV 22

a) Caso Os casos foram identificados apenas por letras em ordem alfabética, sem referência às partes ou ao número dos autos (a, b, c,..., aa, ab, ac,..., etc.). b) Tipo do recurso Os recursos foram divididos em: Agravo de Instrumento, Apelação Cível, Apelação Criminal Embargos de Declaração, e Outros: Agravo Regimental, Embargos Infringentes, Ações Rescisórias, etc. c) Tutela antecipada/medida cautelar Levando em conta os recursos cadastrados em nossa base de dados, fizemos uma busca dos casos nos quais houve pedido de tutela antecipada ou que se tratavam de medidas cautelares. O objetivo é saber se tal pedido foi deferido ou não em primeira instância e se a decisão monocrática foi reformada ou confirmada pelo TJSP. Assim, as variáveis binárias foram três: Existência de pedido Deferimento em 1 a instância Deferimento em 2 a instância. Neste item, o ponto de partida da nossa análise foram os recursos existentes no TJSP (nossa fonte de pesquisa). Em virtude disto, não é possível afirmar que a nossa amostra representa a totalidade dos pedidos de tutela antecipada que envolvem matérias de mercado de capitais, uma vez que não foi feita a pesquisa a partir dos pedidos de primeira instância. Ocorre que nosso banco de dados revelou apenas 3 casos de pedido de tutela antecipada, sendo que apenas 2 foram deferidos em primeira instância e em 1 a concessão foi confirmada em segunda instância. A pequena quantidade de dados nos impede de realizar uma análise da variável tutela antecipada. CADERNOS DIREITO GV 23

d) Tempo da decisão A classificação do tempo da decisão foi dividida em 3 grandes grupos: Período 1, que representa o período entre a data de ajuizamento da ação em primeira instância e a data da sentença; Período 2, que representa o período entre a data de entrada do recurso no TJSP até a data do acórdão; e Tempo total, referente ao tempo que o caso levou para ser decidido em primeira e segunda instâncias. Considerou-se também a possibilidade de acordo entre as partes. Sobre este tópico, é preciso fazer dois apontamentos: 1) Embora classificado como tempo total, o número obtido como tempo de duração do processo até decisão em segunda instância não pode ser confundido como tempo total do processo, vez que, em muitos casos, ainda há Recurso Especial pendente de decisão pelo Superior Tribunal de Justiça. Esse terceiro período (STJ) está apontado no terceiro relatório deste trabalho; e 2) Não foi possível a obtenção da completude dos dados referentes a datas de entrada e saída, em ambas as instâncias, de todos os processos. Em alguns casos, a falta de dados impossibilitou a obtenção da variável tempo total. Em outros ainda não havia a sentença de primeira ou o acórdão na apelação de segunda instância. Desse modo, só foram utilizados, para a obtenção da média, casos nos quais já havia acórdão da apelação e dos quais obtivemos, via busca no website do TJSP e visitas ao prédio do mesmo e às varas da 1 a instância, todas as datas necessárias. e) Partes As partes foram classificadas tendo em vista as posições em relação à ação e não ao recurso, isto é, à qualidade de autor ou réu. Em ambos os pólos da relação jurídica processual, foi feita a seguinte divisão: CADERNOS DIREITO GV 24

Investidor Institucional 16 Ministério Público Corretora Pessoa Física Bolsa de Valores ou de Mercadorias e Futuros; e Pessoa jurídica. f) Natureza da Controvérsia Com vistas a conhecer quais as matérias são levadas à apreciação do Poder Judiciário, os litígios foram classificados, em até três níveis, seguindo o seguinte critério: Falência Restituição ou Habilitação de Crédito; Responsabilidade do Administrador; Fraudes no Mercado Arresto de Bens; Responsabilidade Civil Indenização; Negociação de Títulos em bolsa (utilização do fundo de Bolsa ou liquidação de operações); Licitação e anulação de contratos; Prestação de Contas e/ou exibição de documentos; 16 Nesta categoria, foram considerados os bancos de investimentos, instituições de seguridade e fundos. CADERNOS DIREITO GV 25

Penal; e Outros (Danos Morais, etc). 2. Resultados Obtida tabela com as variáveis binárias das informações acima enumeradas, passamos ao estudo dos dados numéricos obtidos, através de sistemas de análise estatística, utilizando o programa SPSS. Foram observadas as freqüências, porcentagens, médias e inter-relações existentes ou não entre as variáveis criadas, bem como o cruzamento das mesmas, permitenos apontar os resultados abaixo descritos. A. Tipos de recursos Tabela 9. Divisão dos recursos Tipo de Recurso Freqüência Percentual Agravo de Instrumento 22 25,6 Apelação Cível 24 27,9 Apelação Criminal 4 4,7 Embargos de Declaração 27 31,4 Outros 9 10,5 Total 86 100,0 A.1 Divisão de recursos Apelação Cível Apelação Criminal Embargos de Declaração Outros CADERNOS DIREITO GV 26

B. Tempo da decisão Quanto ao tempo de duração dos processos é possível afirmar que há sensíveis diferenças de caso para caso. Na primeira instância, a média de duração é de, aproximadamente, 1.814 dias (ou seja, quase 5 anos), com mínimo de 270 dias e máximo de 4.678 dias. Em termos de averiguação da moda estatística 17 dos tempos de duração analisados, para o tempo em 1.ª instância, observamos uma maior concentração nos períodos de 0 a 2 anos (6 casos), e período de 2 a 4 anos (5 casos). Porém, como há 4 casos com elevada duração temporal (mais de 10 anos) a média acaba se deslocando para um valor mais alto do que o padrão. Na segunda instância, o tempo de duração dos recursos também é bastante variável, mesmo se respeitada a diferente natureza de cada um deles. Tabela 10. Tempo dos recursos no TJSP Tipo de Recurso Tempo no Tribunal (em dias) Máximo Mínimo Std. Error 18 Agravo de Instrumento 206,95 733 37 36,36 Apelação Cível 810,92 2099 159 104,92 Apelação Criminal 569,75 897 237 137,05 Embargos de Declaração 158,50 1363 6 51,73 Outros 250,44 457 23 57,64 Nos recursos de Agravo de Instrumento, a moda indica uma concentração no tempo de julgamento de 4 a 5 meses (5 casos) e no de mais de 6 meses (6 casos). Quanto às Apelações Cíveis, seus tempos de julgamento concentram-se entre 1 e 2 anos (11 casos) e de 3 a 4 anos (10 casos). 17 Ferramenta estatística que permite averiguar o valor que tem maior verificação em um determinado intervalo. 18 Vide nota 11. CADERNOS DIREITO GV 27

Quanto aos Embargos de Declaração, há uma distribuição quase que total nos períodos que vão de 1 a 4 meses de duração temporal. No que diz respeito ao tempo de duração das Apelações Criminais, seu pequeno número de ocorrências impede-nos de tecer considerações sobre a moda estatística. Com relação ao tempo total de duração do processo em primeira e segunda instâncias, obtivemos dados suficientes em 22 casos. Há, também, grande variação, com um mínimo de 888 dias e um máximo de 5.049 dias, compondo uma média de 2.618 dias. Dos casos analisados, 12 se concentram num período de duração de 4 a 8 anos. Porém há, também, uma grande concentração de casos (7) em um período de duração entre 8 e 12 anos, possivelmente influenciando a média total para valores mais altos. Averiguamos, também, a eventual existência de acordo que tivesse alguma influência no tempo de duração do processo. Porém, como em apenas um dos casos o acordo foi identificado, essa análise restou prejudicada. C. Partes C.1. Autores São autores nos litígios: Tabela 11. Autor do Caso Parte Freqüência Percentual Pessoa Física 30 56,1 Investidor Institucional 1 1,2 Corretora 4 8,5 Pessoa jurídica 6 12,2 Ministério Público 11 19,5 Bolsa 1 2,4 Total 53 100,0 CADERNOS DIREITO GV 28

C.2. Réus São réus nos litígios de Mercado de Capitais: Tabela 12. Réu do Caso Parte Freqüência Percentual Pessoa Física 10 17,1 Investidor Institucional 1 2,4 Corretora 32 59,8 Pessoa jurídica 1 2,4 Pessoa Física e Corretora 3 6,1 Bolsa 6 12,2 Total 53 100,0 D. Matéria litigiosa D.1. Classificação mais abrangente Tabela 13. Matéria discutida na classificação mais abrangente Matéria Discutida Freqüência Percentual Falência 6 12,1 Fraude no mercado 7 13,8 Responsabilidade Civil 12 20,7 Negociação de Títulos em bolsa 7 13,8 Penal 3 5,2 Licitação e anulação de contratos 4 6,9 Prestação de contas e exib. de docs 7 13,8 Outros 7 13,8 Total 53 100,0 Falência Fraude no mercado Responsabilidade Civil Negociação de Títulos em bolsa Penal Licitação e anulação de contratos Prestação de contas e exib. de docs Outros CADERNOS DIREITO GV 29

D.2. Classificação detalhada Tabela 14. Matéria Discutida na classificação detalhada Matéria Discutida Freqüência Percentual Restituição em Falência 5 8,6 Responsabilidade de Adm em Falência 2 3,4 Fraude em mercado 7 13,8 Indenização 3 6,9 Arresto de bens de Administrador 7 12,1 Indenização e Arresto de Bens de Administrador 1 1,7 Questões de Fundo de Bolsa 7 13,8 Penal 3 5,2 Licitação e anulação de contratos 4 6,9 Prestação de Contas e Exibição e docs 7 13,8 Outros 7 13,8 Total 53 100,0 Restituição em Falência Responsabilidade de Adm em Falência Fraude em mercado Indenização Arresto de bens de Administrador Indenização e Arresto de Bens de Administrador Questões de Fundo de Bolsa Penal Licitação e anulação de contratos Prestação de Contas e Exibição e docs Outros CADERNOS DIREITO GV 30

E. Relação autor e matéria em litígio Tabela 15 19. Relações entre autor e matéria discutida no litígio Parte Matéria Pessoa Física Corretora Empresa Ministério Público Restituição em Falência 3,45% 5,17% Responsabilidade de Adm em Falência Fraude em mercado 8,62% 3,45% 1,72% Indenização por Responsabilidade de Administrador Arresto de bens de Administrador Indenização e Arresto de Bens de Administrador 3,45% 1,72% 5,17% 3,45% 3,45% 5,17% 1,72% Bolsa Questões de Fundo de Bolsa 10,34% 3,45% Penal 5,17% Licitação e anulação de contratos 3,45% 3,45% Prestação de Contas e Exibição e docs 5,17% 8,62% Outros 13,79% 19 Investidor Institucional como autor não aparece nesta tabela por dois motivos: (i) em muitos dos casos em que Investidor Institucional aparece como autor foi impossível verificar o assunto em questão; e (ii) os casos que possibilitam a análise ficam abaixo de 0,5%. CADERNOS DIREITO GV 31

IV.4. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 1. Metodologia para leitura do banco de dados das questões societárias e de mercado de capitais no STJ O banco de dados referente ao STJ foi obtido a partir da utilização dos números das apelações já decididas no TJSP. Os recursos encontrados foram divididos em casos, conforme remontem a determinada apelação da segunda instância. Assim, por exemplo, a Apelação X poderia contar com o Agravo de Instrumento F, o Recurso Especial G, e assim por diante. 2. Os Recursos e suas decisões Dos casos analisados nos dois bancos de dados sobre mercado de capitais e direito societário, em 61 havia apelações decididas pelo TJSP. Desse total, em 25 casos (40,1%) foram encontrados recursos 20 ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Estes 25 casos, por sua vez, desdobraram-se em 34 recursos ao STJ, sendo: - 18 Agravos de Instrumento, e - 14 Recursos Especiais. Dos 18 Agravos de Instrumento, apenas 2 não tinham sido decididos até a elaboração deste relatório. Nos demais, o objetivo era reverter decisão proferida no TJSP que indeferia o processamento do Recurso Especial e, por conseqüência, a sua subida ao STJ. Do total, 11 foram julgados improcedentes. Destes, em 10, a fundamentação da decisão foi no sentido de que o Recurso Especial pretendia modificar a decisão do TJSP através do reexame de provas e de fatos, o que seria defeso ao STJ. Na única decisão que fugiu a este padrão, o fundamento estava em não existir jurisprudência pacífica no STJ quanto à matéria em questão, não havendo necessidade de utilização do Recurso Especial. 20 Há, entre os recursos, Embargos de Declaração e, também, Agravos Regimentais, mas estes não compõem autos à parte, estando inseridos, temporalmente, na contagem de tempo dos recursos em que aparecem. Não são, porém, analisados em separado. CADERNOS DIREITO GV 32

Os 5 Agravos de Instrumento restantes foram julgados procedentes, sendo que 3 deles com o fundamento na necessidade de melhor analise da questão. Nos outro 2, não se constata uma fundamentação mais apurada. Dos 14 Recursos Especiais encontrados, 7 ainda não haviam sido decididos. Dos demais retiramos as seguintes informações: - em 3 foi negado o seguimento, por pretender o reexame de fatos e provas ou por ausência dos pré-questionamentos alegados; - em 2 o Recurso Especial, apesar de conhecido, foi negado provimento; e - nos outros 2 restantes, foi dado provimento ao Recurso Especial. Encontramos ainda, 2 Medidas Cautelares, que pretendiam antecipar os efeitos pretendidos com a eventual interposição de Recursos Especiais. Ambas restaram não providas. 3. As matérias analisadas Para a análise das matérias abordadas nos recursos ao STJ, mais uma vez utilizaremos o sistema de caso, que dessa vez é representado por cada uma das apelações do TJSP que originaram um ou mais casos de recursos. Assim, tanto a Apelação que originou 1 recurso quanto a que originou 3 são igualmente consideradas como um caso. Apenas são levados em consideração os casos que já obtiveram, em algum de seus recursos, decisão final seja ela monocrática ou colegiada. Desse modo, falamos de um universo amostral de casos, dos quais: - 9 abordam a questões relativas a direitos patrimoniais individuais, como direito de recesso (2) e valor dos dividendos (7); - 3 abordam questões relativas ao direito à informação, principalmente o acesso aos livros de registro de ações e a sindicâncias internas da BOVESPA; - 3 têm como objeto a análise de matérias relacionadas à falência, como a conversão e créditos existentes contra corretoras em restituição ou mesmo habilitação de créditos oriundos de compras de ações; e CADERNOS DIREITO GV 33

- 4 têm objetos diversos, como danos morais, discussões sobre validade de assembléia de debenturistas, prestação de contas, participação no conselho fiscal e liquidação de operações. 16% 21% 16% 47% dir. patrimoniais individuais dir. informação Falência outros 4. Tempo da decisão 4.1. Tempo no STJ Quanto aos Recursos Especiais, a média observada foi de 801 dias, com um erro padrão de 238,7 dias. O máximo e mínimo observados são, respectivamente, 1.718 dias e 258 dias. Porém, os Recursos Especiais encontrados são poucos (7) e ainda há 7 pendentes de decisão. No que diz respeito aos 16 casos de Agravos de Instrumento com decisão, a média observada foi de, aproximadamente, 414 dias, com um erro padrão de 96,3 dias. O máximo encontrado foi de 1.203 dias e o mínimo de 21 dias. Quanto às Medidas Cautelares, apenas 2 casos foram observados, sendo que o de maior tempo de demora observou 833 dias e o de menor 47 dias. Apenas três casos apresentaram mais de um recurso já decidido no STJ, são eles as Apelações Cíveis 067.716-4, 034.619-4 e 61.675-4. Tiveram como tempo de duração no Superior, respectivamente, 1.800 dias, 892 dias e 868 dias. Este tempo é o tempo total, CADERNOS DIREITO GV 34

contando da entrada do primeiro recurso (o Agravo) até o final do último (Recurso Especial ou Medida Cautelar). A média obtida foi de 1.186 dias, com erro padrão de 306,7 dias. Mais uma vez, podemos observar que não há padrão nos tempos de duração dos recursos, vez que os resultados obtidos apresentam grande variância. 4.2. Tempo total Aqui se pretende analisar o tempo total de duração do processo, da entrada em primeira instância à decisão final do Recurso Especial e Agravo providos ou não no STJ. Por certo os casos em que essa decisão final foi observada e, também, as datas de entrada em primeira instância foram encontradas, não são maioria, mas, a amostra total de 18 casos nos permite ter uma idéia do tempo total de espera para a obtenção de uma decisão final no Brasil. A média de duração observada ficou em torno de 2.730 dias, aproximadamente 7 anos e meio. CADERNOS DIREITO GV 35

V. CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Os objetivos desta pesquisa foram a construção do banco de dados em matéria societária e de mercado de capitais e a retirada de informações a partir de análises estatísticas. Da análise dos dados obtidos no TJSP, chamamos a atenção para os seguintes resultados: a) Partes: Em matéria de direito societário, as pessoas físicas representam a maioria dos autores, enquanto as próprias companhias, e não seus controladores e administradores, aparecem como rés. Sobre mercado de capitais, as pessoas físicas também figuram como a maioria dos autores e, como rés, as corretoras são as mais acionadas. Em alguns casos, o Ministério Público apareceu como autor da ação. b) Tempo da decisão: Quanto ao tempo da decisão, constatou-se uma grande variação de caso para caso e dependendo do tipo do recurso. Em matéria societária, o tempo total (primeira e segunda instância) mínimo é de 233 dias e o máximo é de 3.993 dias. Sobre o mercado de capitais, o tempo total mínimo é de 888 dias e o máximo de 5.049 dias, compondo uma média de 2.618 dias. c) Tutela antecipada: Em matéria de direito societário, constata-se que, considerando a atuação em primeira e segunda instâncias, a nossa amostra revela que são poucos os casos nos quais são concedidos os pedidos de tutela antecipada ou medidas cautelares. d) Natureza da controvérsia: Em matéria societária, observamos que os acionistas recorrem ao Poder Judiciário para pleitear a satisfação de seus direitos individuais (que discute valor do valor mobiliário, dividendo, direito de recesso, direito à informação, exibição de documentos, prestação de contas e direito a voto). Por outro lado, ações para a responsabilidade do controlador e dos administradores não foram tão freqüentes na nossa amostra. CADERNOS DIREITO GV 36

Sobre mercado de capitais, foram correntes os casos nos quais se discutiam matérias correlatas à falência de corretoras (pedido de restituição, habilitação de crédito e responsabilidade). Constatamos também a discussão de irregularidades e fraudes na atuação dos agentes do mercado, suas responsabilidade, civis e penais. Quanto ao STJ, pudemos observar uma prevalência de recursos de agravo de instrumento contra decisões que indeferiram a subida de Recurso Especial. Chama atenção, também, que muitos desses foram não providos, da mesma forma como à grande parte dos recursos especiais foi negado seguimento, todos pela mesma razão: pretender a revisão da decisão à partir da rediscussão de fatos e provas. No que diz respeito às matérias abordadas no STJ, chama especial atenção a prevalência de assuntos ligados a direitos patrimoniais individuais, retomando a prevalência do assunto nos recursos encontrados sobre matéria societária no TJSP. O tempo de duração dos recursos apresentou, também no STJ, grande variação, oscilando muito entre valores de máximo e mínimo extremamente distantes. O valor médio encontrado, para os recursos especiais foi de 801 dias, aproximadamente, ou seja, acima de dois anos de espera. Se relacionados os tempos de duração de primeira e segunda instância e do STJ, pudemos obter uma média que represente o tempo médio de duração de processos sobre mercado de capitais e direito societário no valor de 2.730 dias (mais de sete anos). Por certo que não se quer generalizar ou expandir os resultados da presente pesquisa além de seus limites. Apenas busca-se realizar uma leitura do Poder Judiciário, na intenção de entender seu funcionamento, as demandas a ele encaminhadas e o produto de sua atuação. Nesse sentido, os resultados servem como indícios, a serem analisados de maneira mais aprofundada por estudos posteriores. Como considerações finais desta pesquisa, é relevante ainda fazer um apontamento que resulta da experiência deste quase um ano de pesquisa exploratória de jurisprudência sobre direito societário e mercado de capitais. CADERNOS DIREITO GV 37

Em um ambiente no qual não há dados e informações sistematizadas e nem com leituras estatísticas, é preciso começar de algum ponto em um universo de pesquisa bastante amplo. Sabemos que objeto desta pesquisa é limitado à análise de jurisprudência de determinada matéria (mercado de capitais e direito societário) em apenas uma instituição (TJSP) no período dos últimos sete anos e meio. Considerando este limite intransponível, um dos principais escopos deste trabalho foi apontar uma metodologia de análise de jurisprudência, na esperança que outros trabalhos surjam e, ao poucos, seja possível saber mais sobre a atuação dos nossos tribunais e sair dos lugares comuns sempre lembrados por aqueles que trabalham com o tema como se fossem verdades intocáveis, considerando somente experiências profissionais individuais e isoladas. CADERNOS DIREITO GV 38

ANEXO 1 CADERNOS DIREITO GV 39

Número do Acórdão Autor Réu Assunto Decisão AI 318.964-4/7-00 Jaime Michaan Chalan (agravado) Usina Costa Pinto S/A Açúcar (agravante) Ação para a supensão de efeitos de AGE da sociedade que determinou alteração no status dos preferencialistas, que passam a ter, como vantagem, receber 10% a mais que os lucros distribuídos aos ordinários. Argumenta-se que a alteração não garante dividendo obrigatório para preferncialistas. Agravo contra antecipação de tutela. Decisão pela inexistência dos requisitos da tutela antecipada, decisão de primeira instância anulada. ED 295.350-4/1-01 Herta TH Carola Stinglwagner e outros (agravado) Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) Embargos de declaração pela não análise, no acórdão, das alegações de descumprimento da boa-fé contratual. Inexistência das omissões apontadas. AI 295.350-4/0-00 AI 295.349-4/5-00 Herta TH Carola Stinglwagner e outros (agravado) Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston S.A (agravado) Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) Ambev (Agravante) A Ambev emitiu bônus de subscrição com cláusula de ajuste na qual se previa a equiparação de preço ao praticado em futuros aumentos de capital por subscrição pública ou privada de ações. Houve aumento de capital com preço inferior ao previsto para exercício dos bônus. Requerem os autores que sejam emitidas ações em nome deles por preço pretendido, tendo em vista a recusa da Ambev em aceitar os bônus. A Ambev emitiu bônus de subscrição com cláusula de ajuste na qual se previa a equiparação de preço ao praticado em futuros aumentos de capital por subscrição pública ou privada de ações. Houve aumento de capital com preço inferior ao previsto para exercício dos bônus. Requerem os autores que sejam emitidas ações em nome deles por preço pretendido, tendo em vista a recusa da Ambev em aceitar os bônus. Tutela antecipada deferida, agravo contra esta decisão. Decisão pelo provimento do recurso e pela desnecessidade da tutela antecipada, tendo em vista, sobretudo, a necessidade de realização de prova pericial para a resolução da questão. Tutela antecipada deferida, agravo contra esta decisão. Decisão pelo provimento do recurso e pela desnecessidade da tutela antecipada, tendo em vista, sobretudo, a necessidade de realização de prova pericial para a resolução da questão. CADERNOS DIREITO GV 40

Número do Acórdão Autor Réu Assunto Decisão AI 295.534-4/0-00 Economus Instituto de Seguridade Social (agravado) Ambev (Agravante) A Ambev emitiu bônus de subscrição com cláusula de ajuste na qual se previa a equiparação de preço ao praticado em futuros aumentos de capital por subscrição pública ou privada de ações. Houve aumento de capital com preço inferior ao previsto para exercício dos bônus. Requerem os autores que sejam emitidas ações em nome deles por preço pretendido, tendo em vista a recusa da Ambev em aceitar os bônus. Tutela antecipada deferida, agravo contra esta decisão. Decisão pelo provimento do recurso e pela desnecessidade da tutela antecipada, tendo em vista, sobretudo, a necessidade de realização de prova pericial para a resolução da questão. AC 142.134.4/2-00 Elza Barros de Sousa (apelada) Telecomunicações de São Paulo S/A (apelante) Ação ajuizada por assinante de linha telefônica e proprietária de ações ordinárias da Telebrás (oriundas do plano de expansão), em custódia da Telesp, alegando terem as mesmas sido vendidas sem sua autorização, mediante falsa procuração, com assinatura, inclusive, reconhecida em cartório. Ação julgada procedente em primeira instância. Apelação provida para reformar a decisão, vez que a autora não trouxe provas aos autos capaz de "quebrar" a prerrogativa de autenticidade dada à procuração por reconhecimento em cartório. AC 77.494.4/6 Benvinda Cardoso Pereira (apelada) Telecomunicações Brasileiras S/A - Telebrás (apelante) Ação de anulação de transferência de ações. A autora adquiriu linha telefônica, através do plano de expansão, e a Telebrás se comprometeu a emitir ações em nome dela. Referidas ações foram indevidamente aliendas a outro, através de utilização de procuração falsa. Ação julgada procedente em primeira instância. Como não houve autorização para a transferência das ações, considerase sem nenhuma validade a transferência dos títulos, negando provimento à apelação. CADERNOS DIREITO GV 41