Agenda para saúde brasileira e sua Relação com o contexto internacional

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Transcrição:

Agenda para saúde brasileira e sua Relação com o contexto internacional Isabela Soares Santos Pesquisadora DAPS/Ensp/FIOCRUZ Vice-Presidente CEBES SUS: presente! Dilemas na gestão do sistema de saúde brasileiro IX Seminário de pesquisa do IMS Rio de Janeiro, novembro de 2014

Por que sistema público de saúde? projeto para sociedade de desenvolvimento de bem estar social democrático: VALORES DE SOLIDARIEDADE e IGUALDADE (Marshall e Bobbio) DIREITO À SAÚDE COMO DIREITO SOCIAL, DE CIDADANIA: direito de os cidadãos terem acesso a um conjunto de políticas e serviços saúde, educação, aposentadoria que lhes possa assegurar um mínimo de bem estar e dignidade na vida. Pressupõe o reconhecimento, pelo Estado, de que para haver maior igualdade social é preciso que uma série de necessidades básicas dos cidadãos seja atendida mediante políticas públicas os direitos sociais,... expressam o amadurecimento de novas exigências (...) valores, como os de bem-estar e da igualdade não apenas formal, e que poderíamos chamar de liberdade através ou por meio do Estado. (Bobbio, 1992) Para viabilizar a organização e gestão do sistema Para ter escala econômica Para garantir uma população saudável e com qualidade de vida o que também tem consequências do ponto de vista econômico (complexo industrial) Para ter e poder estabelecer regras mínimas de segurança e qualidade dos serviços realizados e dos recursos físicos e humanos que oferecem os serviços, etc.

Imbricamento entre o Público e o Privado (plano ideológico) THE WILL OF ALL Soma ou resultado dos objetivos de todos os indivíduos da sociedade OU THE GENERAL WILL O objetivo coletivo de uma sociedade (que tipo de sociedade queremos) (Rousseau, apud Evans 2006. PHI: the myth and the monster. Congresso Abres-AES, 2006) LIBERTARIANS Direito ao livre arbítrio Valores do individualismo, maximização do benefício individual, valorização dos interesses de mercado e do setor privado como possibilidade de maior ganho de eficiência EGALITARIANS Igualdade de direitos Valores coletivos e de solidariedade Mercado Estado Estado Mercado (Williams, 2005; Maynard, 2005) Na maioria dos países há uma combinação de ações públicas e privadas (...) esta combinação varia entre os países e no tempo (Saltman 1994) Este debate deve contemplar o contramovimento (Polanyi 2000)

Desenvolvimento das sociedades capitalistas: Liberalismo Econômico e Proteção Social Contramovimento: mobilização da sociedade em defesa da produção e da coesão social (características de reações espontâneas) Os próprios liberais extremados apelaram para intervenções múltiplas do Estado a fim de garantir precondições de funcionamento (Polany 2000) LIBERALISMO e PROTECAO SOCIAL: oposição absoluta Lógica Dialética são os princípios organizadores do desenvolvimento das sociedades capitalistas

Cobertura Universal de Saúde (Universal Health Coverage): O que é e em quê nos afeta

COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE (CUS ou UHC) Definição oficial A situação em que todas pessoas tem acesso equitativo a serviços de saúde e não sofrem dificuldade financeira pagando pelos mesmos Tradução livre. (Tangcharoensathien V, Evans D, Marten R. Universal Health Coverage: Setting Global and national Agendas. Global Health Governance, v1 n2, 2013)

OMS/WHO: CUS (2005...) 2005 Assembleia Mundial de Saúde 58.33: Sustenable health financing, UC and Social Health Insurance 2010 - Relatório Mundial da Saúde: Health Systems Financing the path for UC 2013 - Relatório Mundial da Saúde: Research for UHC Fundação Rockefeller: 2012 - Future Health Markets: a meeting statement from Bellagio : grande proporção da população disposta a pagar por serviços de saúde do setor privado ( large proportion of population willing to pay for private sector services ) fortes agentes de mercado estão dispostos a pressionar pelo aumento de financiamento público e privado, especialmente nos países de média e baixa renda, para adotar políticas para financiar o seguro de saúde como um meio para a CUS ( Strong Market players... Are likely to increase preassure to attract public and private financing, particularly as LMICs adopt policies to finance health insurance as a means UHC ) ONU (2012, 67ª Assembleia geral): Resolução para a CUS OMS e OPS (2014, 154ª sessão Comitê Executivo): Resolve Adoptar la Estrategia para la cobertura universal de salud

Esses documentos apontam para: Necessidade de prover melhor acesso ao cuidado de saúde Cuidado primário de saúde para os pobres (APS seletiva) Seguro Privado de Saúde para quem pode pagar É necessário proteger a saúde contra os riscos financeiros dos sistemas públicos Esses riscos justificam a CUS CUS: análise (1) Risco e proteção são ideias centrais do seguro privado e do mercado financeiro Esses documentos propõem o seguro privado para defender os sistemas públicos, mas... é contraditório defender a solidariedade usando a lógica do seguro privado CUS é um risco ao Direito Universal à Saúde (...)

O Marketing da CUS (2014...) OMS e Banco Mundial (maio), Documento Monitoreo del progresso hacia la CUS a nivel nacional y global: marco de trabajo, medidas y metas Meta: En 2030, todas las poblaciones, independientemente de sus ingresos domésticos, del nivel de gastos o riqueza, del lugar de residencia o del género, disponen de una cobertura mínima del 80% de los servicios esenciales de salud Consulta pública OPS (agosto). Relatório já disponível CUS significa que todas as pessoas têm acesso equitativo a ações e serviços de saúde integrais e de qualidade, de acordo com as suas necessidades ao longo da vida... reforça a necessidade... políticas e intervenções intersetoriais, com o objetivo de atuar sobre os fatores determinantes sociais da saúde e fomentar o compromisso da sociedade, como um todo, na promoção da saúde e do bem-estar, com ênfase na equidade direito à saúde é o valor central da cobertura universal de saúde e deve ser protegido e garantido sem qualquer distinção...

CUS: análise (2) CUS para quem? (...) CUS parece uma contraproposta ao Direito Universal à Saúde

% população coberta pela principal forma de cobertura de saúde ( basic primary health coverage ). Países OCDE, 2011 Country Cobertura automática Seguro Seguro Compulsório (financiado por tributos) voluntário Outra Sem seguro Australia 100 Austria 99,5 0,5 Belgium 99 1 Canada 100 Chile (a) 22,5 72,2 1,9 3,5 Czech Republic 99 1 Denmark 100 Estonia n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. Finland 100 France 100 Germany 100 Greece n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. Hungary 100.0 Iceland 100 Ireland 100 Israel 100.0 Italy 100 Japan 98,5 1,5 Korea 3,4 96,6 Luxembourg (b) 97,6 2,4 Mexico (c) 45,5 47,4 7,1 Netherlands 100 New Zealand 100 Norway 100 Poland 97,7 Portugal 100 Slovak Republic 100.0 Slovenia 100 Spain 99,3 0,4 0,3 Sweden 100 Switzerland 100 Turkey 99,8 0.2 United Kingdom 100 United States(a, d) 32,2 63,9 15,7 Fontes: OECD Health system characteristics Survey 2012 and Secretariat s estimates. Information as of April 2014. Informações referentes a abril de 2014. Notas: (a) Coverage by government program is not always automatic, people have to enrol. (b) A very small proportion of the population is covered on a voluntary basis, but they are included column 2, as the exact percentage is not known. (c) A proportion of citizens are covered both by insurance related to their employment, and by the Seguro Popular, a voluntary public health insurance scheme open to all citizens. The main source of coverage is through Seguro Popular, which is voluntary (although state run) - this may mean it doesn't fall under the 'Compulsory coverage' bracket. (d) The sum of percentages is higher than 100% because some people have both public and private coverage.

Dia da CUS O marketing da CUS (2014...) UHC day: 12/12/2014 União de + de 80 parceiros incluindo Fundação Rockfeller, OMS e Banco Mundial, Save the Children, entre outras http://www.universalhealthcoverageday.org/en/

... e o setor de saúde no Brasil?

Saúde no Brasil: Direito Social x Negócio No Brasil temos forte competição entre SUS e setor privado de saúde: Em desvantagem para o SUS SUS financia menos que previsto (esfera federal de governo) Estado brasileiro provê proteção social, mas... Financia importante parte do setor privado diferente tipos de incentivos, por exemplo: Subsídios fiscais (desde anos 1960) Trabalhadores do setor público com seguro privado 71% dos provedores privados contratados pelo MS Unidades com lucro: 14% de todas unidades em 1960 => 45% de todas/1975 92% das unidades de SADT são privadas lucrativas Seguro privado => um dos maiores mercado do mundo - 26% da população com cobertura duplicada (Pública+Privada) ANS/MS, Março 2014 4º maior mercado de medicamentos (INTERFARMA, 2013, apud SILVA, 2014, p. 56)... e o SUS é um importante comprador

Financiamento: uso privado (não contabilizado) - BRASIL Recursos para assistência à saúde do funcionalismo público LDO para 2008: quase R$ 2 Bi para funcionários federais (5% orçamento MS) (inclui: Executivo, Legislativo, Judiciário e administração indireta e Forças Armadas). Falta consolidar a destinação de recursos para funcionalismo estadual e municipal PAC Saúde para investimento no segmento suplementar (portabilidade, fundo garantidor, etc.) Evolução das Desonerações Fiscais no setor de saúde Brasil, 2003-2011. 2003 2007 2011 Gasto Tributário (IRPF + IRPJ + Ent. Sem fins lucrativos + Indústria Farmacêutica e de produtos químicos e farmacêuticos) 7.172 12.185 15.807 Gasto Tributário com plano de saúde 3.102 5.688 7.767 Participação dos planos privados 43,25% 46,68% 49,14% Fonte: Santos et al no prelo. Notas: Elaborado a partir de Ocké-Reis 2013 com informações do Ministério da Fazenda, Secretaria da Receita Federal (Brasil/MF/SRF)..

Número de estabelecimentos de saúde segundo tipo e grandes regiões. Brasil, 2013 92% Privados c/ fins lucr. 80% Públicos 62% SUS (Públ. + Priv. s/ fins lucr.) 83% Privados c/ fins lucr. 97% Públicos Fonte: Santos et ali (no prelo) Nota: Elaborado a partir do CNES.

Oferta de Serviços - BRASIL Evolução da relação de equipamentos Exclusividade Privado/ Disponibilidade SUS. Brasil, 2005 e 2009 Equipamento 2005 2009 Mamógrafo 4,9 6,8 Litotripsor 4,0 6,3 Ultrassom 5,2 8,4 Radioterapia 1,6 2,9 Raio X p/ Hemodinâmica 2,8 4,9 Tomógrafo Computadorizado 4,1 7,4 Ressonância Magnética 6,7 10,4 Hemodiálise 0,3 0,9 Fonte: Santos et al, 2014. Elaboração própria a partir de AMS/IBGE-2005 disponibilizado em Santos et al (2008) e AMS/IBGE-2009. Notas: Para cálculo da disponibilidade SUS: População brasileira estimada pelo IBGE para 2005 (183.798.218) e Censo Demográfico 2010 (190.755.799). Para cálculo da disponibilidade para segurados: beneficiários com planos médico-hospitalares, SIB/ANS/MS (35.151.348 em dez 2005 e 41.923.639 em dez 2010)

População atendida e População internada, e o financiamento da utilização. Brasil, 1998-2008 Qtde % da população brasileira % da população brasileira com seguro privado Atendimento 1998 2003 2008 1998 2003 2008 1998 2003 2008 Total de pessoas atendidas 20.129.225 25.143.708 26.866.869 12,7 14,3 14,1 Pessoas que foram atendidas financiadas pelo SUS 9.825.712 14.270.984 14.952.129 6,2 8,1 7,9 n/a Pessoas com seguro privado de saúde que foram atendidas 7.190.871 8.517.408 9.318.225 18,6 19,8 18,9 Pessoas com seguro privado que foram atendidas financiadas pelo SUS 652.496 1.004.759 1.216.499 1,7 2,3 2,5 Internações Total de pessoas internadas 10.981.824 12.332.901 13.513.509 6,9 7,0 7,1 Pessoas internadas n/a financiadas pelo SUS 6.838.218 8.287.552 9.142.712 4,3 4,7 4,8 Pessoas com seguro privado de saúde internadas 3.110.581 3.572.886 4.018.489 8,0 8,3 8,2 Pessoas com seguro n/a privado internadas financiadas pelo SUS 389.158 553.036 670.400 1,0 1,3 1,4 n/a Fonte: Porto et al 2011

Distribuições das internações por decil de renda, segundo sistema de financiamento. Brasil, 2008. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% Gasto Privado Direto Seguro Privado 30% 20% SUS 10% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Fonte: Porto et al 2011 Decil Ano SUS 10 Seguro Privado Gasto Privado Direto Total 1998 19,8% 68,2% 12,0% 100,0% 2003 19,0% 71,6% 9,4% 100,0% 2008 23,4% 67,8% 8,8% 100,0%

Iniquidades relacionadas a Cobertura Duplicada no Brasil: Concentração da renda e da população duplamente coberta % Acumulado de Renda familiar p/c Distribuição da pop. segundo posse de seguro privado de saúde e a renda familiar per capita. Brasil, 2003 Distribuição da pop. segundo renda familiar per capita. Brasil, 2003 % 100 100 100,00 90 90 86,86 80 70 60 50 não tem plano plano privado 80 70 60 50 80,10 75,09 70,87 67,23 63,99 61,12 58,52 56,10 53,90 40 30 20 plano público 40 30 20 19,54 27,12 37,56 10-1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 - Taxa de cobertura: 24% (25,9% em 2008) População ordenada pelo decil de renda familiar per capita 13,74 10 9,21 5,65 2,91-0 1,00 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % Acumulado da População (ordenada pela Renda familiar p/c) - desses, 90% com cobertura para: consultas méd., exames complementares e internações Fonte: Albuquerque et al 2008 Notas: - Elaboração própria a partir dos microdados PNAD/IBGE-2003. - Para o cálculo da renda familiar não foram considerados os agregados Fonte: Ugá e Santos 2006 Nota: elaboração própria a partir dos microdados POF/IBGE-2003.

Mudanças nas últimas décadas e a agenda social no Brasil Políticas sociais: na década de 1980 o Brasil implementou os direitos inspirados na social democracia num contexto nacional e internacional adverso, de fortalecimento das ideias neoliberais: Universalidade X Focalização/fragmentação/segmentação Dicotomia: Neoliberalismo com Estado mínimo e Tripé econômico (taxa juros com superavit + meta de inflação + câmbio flutuante => política econômica sadia e sustentável ) X Projeto de desenvolvimento para sociedade de bem estar social com base na democracia e nos direitos sociais de cidadania (modelo social democrata desenvolvido na Europa que inspirou SUS) Acumulação de capital internacional: privatizações e mais recentemente a área social passa a ser atenção de acumulação financeira (saúde, educação, transporte público, etc.) =>... CUS... Conceitos de Público e Privado vem se tornando mais difusos e Arranjos público-privados cada vez mais complexos: Fenômeno não estático, resultante do embate político-econômico e dos valores da sociedade de proteção social que interferem na relação Estado/mercado

POTENCIAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Os movimentos sociais são os principais atores que podem influenciar os governos do hemisfério norte e do hemisfério sul a incorporarem as necessidades dos países do hemisfério sul na Agenda pós 2015 da ONU As entidades que representam movimentos progressivos devem defender o direito universal à saúde e combater a CUS como o principal indicador na Agenda pós 2015 O Brasil avançou muito desde década de 1980, sobretudo depois de 2006 (PAC, bancos públicos com crédito, criação de empregos, aumento SM, melhoria dos indicadores sociais) Nas eleições presidenciais de out-nov/2014 tivemos, aparentemente, 2 caminhos 10% para saúde aparece mas não está no centro das agendas dos candidatos um aparentemente mais equitativo com proposta de políticas sociais inclusivas e outro comprometido com os preceitos do neoliberalismo. Experiência de governo no contexto nacional e internacional adverso mas com política de inclusão pelo consumo, que foi importante, mas agora podemos pressionar por mais inclusão pelo direito. Outro que não está comprometido com as políticas sociais, inclusive atacou o Programa mais Médicos e propôs fim do limite para dedução de gasto privado com educação no IRPF

Agenda da saúde no Brasil na véspera do 2º turno Artigo Elio Gaspari (O Globo 08/10/2014), comparando propostas Dilma e Aécio: seus capítulos para a educação e a saúde não enchem um pires em qualquer país que tenha um sistema universal de saúde com uma clientela de 180 milhões de pessoas, suas deficiências seriam discutidas o assunto ficou fora dos debates aconteceu a mesma coisa com os planos privados, que coletam recursos de 48 milhões de fregueses e financiam seus candidatos Coluna Ancelmo Gois (O Globo 08/10/2014): conclui que o recurso que deveria ser gasto com saneamento é gasto com PSF em determinada região para tratar doenças decorrentes da falta de tratamento : ESTRATÉGIA DE PÔR EM DISPUTA AS POLÍTICAS SOCIAIS INCLUSIVAS (P ex. entre Saúde e Saneamento, entre Saúde e Programa Bolsa Família) E A DRU? (FSE desde 1994, depois a DRU, prorrogada até dez/2015)

Agenda da saúde no Brasil e o Contexto Internacional Necessidade de retomada e ampliação das bases sociais num contexto de cada vez maior individualismo e lutas por demandas específicas Soma dos Objetivos de cada um OBJETIVOS GERAIS E COLETIVOS Redes e regionalização (diferente de programas verticais!!!) com base nas necessidades da população Cuidado integral, continuado e paciente centrado APS prá valer: universal; com profissionais concursados, em tempo integral e com DE; e com resolutividade de 80% das necessidades de saúde Mix público-privado que favorece o interesse público em que seguro privado não seja substitutivo aos serviços do SUS Que seguro privado deixe de beber da fonte do SUS: Findar com subsídios públicos para sustentabilidade e lucratividade do setor privado Financiamento para um SUS sustentável Para incrementar os recursos físicos e humanos de forma sistemicamente imbricado à lógica do interesse público/coletivo/universal/equanime Inclusive para permitir aumentar quadro de concursados sem ferir LRF

SBH diferenciação que as pessoas com seguro privado têm em relação àquelas usuárias exclusivas do SUS e, sobretudo, que tal status se constitui em privilégio (Gershman): mais um elemento que explica a cobertura suplementar em relação à peculiaridade da cultura brasileira, da identidade nacional, das formas de sociabilidade e do grau de solidariedade. (i) distinção social e (ii) jeitinho de nossa identidade (Sérgio Buarque de Holanda): estariam nas raízes do Brasil a constituição da figura do fidalgo que é o filho d algo, isto é, filho de alguém que possibilita acesso a alguma coisa, cuja ética leva ao estabelecimento de relações de intimidade entre os diferentes pólos das classes sociais, caracterizando a burguesia brasileira e as classes mais pobres pelas relações de simpatia e de cordialidade. Tais relações, junto à super oferta de terra no período da colonização, teriam proporcionado facilidade na ascensão social, e influenciado negativamente a organização do que é da ordem do coletivo no período da colonização, pois o personalismo, segundo Holanda, atravanca a organização política da sociedade. Para o autor, esses aspectos da cultura e da formação social brasileira teriam influenciado as relações, mesmo após o advento da cidade e do modo de produção industrial. Assim, quando as relações tenderiam a se tornar mais impessoais, continuaram com características personalistas e clientelistas características da sociedade rural, influenciada pela colonização portuguesa, e que ainda permeiam a sociedade urbana. Nesse sentido, retomando a questão da solidariedade, é possível que um dos problemas do SUS, tal qual os princípios de um sistema nacional de saúde, esteja relacionado a valores da sociedade brasileira, possivelmente não solidários o suficiente para sustentar um senso comum de que um mesmo sistema para todos pode valer mais que um sistema que seja distinto para alguns, mesmo que baseado no poder de compra.