As Contribuições da Música para o Desenvolvimento Intelectual e Social da Criança



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Transcrição:

As Contribuições da Música para o Desenvolvimento Intelectual e Social da Criança Inaldo Mendes de Mattos Junior Universidade Federal do Maranhão inaldommj@hotmail.com Resumo: Este artigo discorre sobre os efeitos da música no desenvolvimento da criança. Em primeiro plano objetiva-se argumentar as implicações da música em cada etapa da maturação infantil. E de forma secundária, este trabalho trata da criança e a música, especificando como ela reage ao som em cada fase de seu crescimento, entre zero e cinco anos. A elaboração deste trabalho valeu-se de pesquisa bibliográfica e fichamento dos textos escolhidos. Os resultados alcançados por esta pesquisa afirmam a música como um importante estímulo a evolução de fetos, bebês e crianças e ainda sugerem dicas para pais e professores no processo da educação infantil. Palavras chave: música, desenvolvimento infantil, percepção musical Introdução Antes, a música não era considerada um estímulo ao desenvolvimento infantil e era até acusada de atrapalhar o processo (PINTO, 2009). Hoje se sabe que ela concorre para o desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e inteligência de meninos e meninas (TEIXEIRA; BARJA, 2014, p.190). Vários pesquisadores defendem a importância da musicalização infantil para o amadurecimento do indivíduo. Por meia dela, a criança torna-se sensível e receptiva ao material sonoro disposto ao seu redor, tornando-se capaz de produzir respostas de caráter musical bem elaboradas (SUGAHARA, 2005). Assim, este trabalho busca demonstrar como a música contribui para a maturação da criança no aspectos intelectual e social. O itinerário consiste em delimitar termos, discorrer sobre a relação música e criança e descrever o desenvolvimento infantil através da música. O trabalho se encerra com recomendações práticas para pais e professores. Definindo os Termos

De acordo com Rudio (2012), os termos precisam representar bem o que se quer transmitir. E nesse momento é oportuno definir, dentro do universo da musicalização infantil, o que se entende por música, criança e desenvolvimento intelectual e social. Em meio às atividades musicais com crianças, é comum se deparar com fatos sonoros que podem não soar como música aos ouvidos criteriosos. Entretanto Brito (2003, p. 26-27) alerta para que se tenha um novo olhar sobre as produções sonoras das crianças, argumentando que no século passado a música contemporânea ampliou as possibilidades sonoras, incluindo os ruídos como elemento musical. Assim, entende-se por música, todos os sons, não-sons e ruídos que são explorados e operados pelos meninos e meninas a fim de se desenvolverem. Por sua vez, criança é definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1990) como indivíduo de 12 anos incompletos. Já o vocábulo desenvolvimento, é definido na Psicologia como processo de crescimento e mudanças nos aspectos físico, comportamental, cognitivo e emocional do indivíduo (VASCONCELLOS, 2013). Entende-se por intelectual, qualquer processo neurológico e cognitivo. Tenha-se por exemplo o bebê que aprende a diferenciar a voz do pai e da mãe. A palavra social se refere a fenômenos emocionais e afetivos manifestados a outrem, por exemplo: o comportamento do bebê diante das vozes das pessoas do seu convívio. Definidos os termos, prioriza-se a seguir explicar como as crianças percebem e se comportam diante dos sons. A Criança e a Música As crianças envolvem-se com o universo sonoro desde o ventre materno (BRITO, 2013). Por volta da 25ª semana da gestação, os bebês já ouvem sons cardiovasculares, intestinais, placentários e a voz da mãe. Dos últimos três meses, no útero materno, ao 3º mês de vida, eles preferem sons graves, e no sexto mês sons agudos. Também têm afinidade por acordes consonantes e harmonias simples. E em torno do 9º mês já conseguem distinguir entre duas versões de uma mesma música (ILARI, 2002).

Com um ano de idade os nenéns conseguem diferenciar células rítmicas e fórmulas de compassos contrastantes entre si e respondem de maneiras específicas aos estímulos musicais, por exemplo: acompanham o som com os olhos e balançam o corpo ao som de uma música (SOARES, 2008). Crianças, entre 1 e 3 anos, já cantam letras simples de músicas infantis (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, 1998). Entre 3 e 5 anos, as crianças já cantam com mais precisão; conseguem reproduzir ritmos simples dentro de um pulso regular; compõem pequenas canções e discriminam características sonoras como alturas, timbres, intensidades e durações. Os meninos e meninas imitam e reproduzem muito bem as canções de sua cultura, bem como inovam com o canto espontâneo, criado a partir de fragmentos dessas canções (PARIZZI, 2006). Assim, percebe-se detalhadamente que as crianças são ouvintes em potencial desde cedo, com capacidades e percepções surpreendentes, bem como reagem aos estímulos sonoros. Esses estímulos, uma vez percebidos, eliciam reações que propiciam à criança se desenvolver intelectual e socialmente. Mas como se dá esse desenvolvimento? O Desenvolvimento da Criança Quando se discorre sobre desenvolvimento infantil convém evocar Henri Wallon. Ele estabelece períodos para a maturação intelectual infantil, são eles: sensório-motor (0 a 2 anos) e pré-operacional (2 a 7 anos). No primeiro, a maturação ocorre a partir de atitudes involuntárias e no segundo, a partir de atitudes aprendidas que já seguem um pensamento prélógico (VASCONCELLOS, 2013). Maria Vasconcellos (2013) delimita cinco etapas do desenvolvimento emocional da criança: sustentação, incorporação, produção, identificação e formação de caráter. A etapa da sustentação se refere ao período de concepção e formação do feto e está dividida em fase de segmentação, embrionária e fetal. A segunda etapa vai do nascimento ao desmame. A terceira, do desmame ao 3º ano de vida. A penúltima é do 4º ao 5º ano de vida. E a última, do 5º ano ao início da adolescência. Nessas etapas os sons, não-sons e ruídos servem de estímulos potentes para ativação e aperfeiçoamento de circuitos cerebrais, da inteligência e da personalidade da criança (PINTO, 2009).

O Desenvolvimento Intelectual Na fase fetal, que vai do terceiro mês ao nascimento, o neném já é capaz de reagir aos estímulos auditivos. Quando o bebê ouve, ele se desenvolve, porque sentidos ativos provocam aprendizagem (VASCONCELLOS, 2013). Os sons que lhe cercam ofertam dados sonoros, que servem de estímulo ao desenvolvimento do cérebro, já que as estruturas cerebrais responsáveis pelo processamento desses elementos começarão a engrenar e armazenar informações (PEDERIVA; TRISTÃO, 2006). O pré-maturo, quando exposto a timbres diferentes, inclusive desde o ventre, é estimulado a distinguir sons e isso propicia amadurecimento de inteligências. É nesse período que o bebê aprende a distinguir o timbre da mãe. Já na etapa de sustentação (do nascimento até o 9º mês de vida), as canções de ninar, as histórias contadas e a escuta musical, contribuem de maneira intensa para o desenvolvimento intelectual do neném. As canções de ninar estimulam a percepção de contornos melódicos, o que permite perceber e armazenar diferentes alturas, que servirão de base significativa aos bebês para distinguir, por processos neurológicos, os estados emocionais de pessoas e grau de afetividade manifestados. Ao contar histórias aos nenéns, se estimula a compreensão linguística e atitudes expressivas (BRITO, 2003). Ao ouvir histórias, eles são instigados a falar; é quando surgem então os balbucios, grunhidos e as primeiras palavras. Isso porque conexões que acontecem no hemisfério esquerdo do cérebro transformam sons em palavras com sentidos (PINTO, 2009). Na fase de produção (desmame ao 3º ano de vida) a música também contribui substancialmente. Fábio Teixeira e Paulo Barja (2014, p. 190) afirmam que as crianças, quando expostas à música, podem ter a coordenação motora melhorada. Porque no hemisfério direito do cérebro ocorre o aperfeiçoamento da coordenação motora e da percepção do corpo no espaço (PINTO, 2009). As músicas disponíveis à apreciação das crianças servem para desenvolver a capacidade de se concentrar e empenhar esforços neurológicos para a discriminação auditiva, visto a capacidade da música gerar variação no nível de atenção (TEXEIRA; BARJA, 2014, p.190).

O que Dizem as Pesquisas? Resultados de pesquisas indicam que há forte ligação entre instrução musical na infância e crescimento intelectual em atividades não-musicais. Estudos comprovam que a inteligência pode ser desenvolvida pela audição, pois cada código sonoro ativa um espaço no cérebro para reter informações. Crianças instruídas musicalmente são bem mais sucedidas em matemática do que as não-instruídas. Provou-se também a relação de causa-efeito entre educação musical e habilidades espaço temporais (VASCONCELLOS, 2013). Observações científicas confirmam que conexões realizadas no cérebro, por estímulos musicais possibilitam para a criança aquisição de novas habilidades, percepções, movimentos, comportamentos etc. (PINTO, 2009). E nos jogos musicais que envolvem regras, por exemplo, as crianças são estimuladas a compreensão intelectual do que é permitido e do que é proibido. Nas atividades de improvisação musical as crianças são estimuladas a desenvolver a capacidade de criar ou encontrar soluções para os desafios e isso a longo ou médio prazo lhes confere, analogamente, aplicabilidade para resolver problemas do cotidiano, que lhes exigem esforços das estruturas cerebrais, compelindo assim ao desenvolvimento intelectual. O Desenvolvimento Social Por volta do 4º mês o bebê já reconhece as pessoas mais próximas do seu convívio, se relacionando e reagindo de forma diferente à cada uma delas, revelando preferência por rostos e vozes familiares (MUNDO DO ABC, 2013). Por isso o timbre é um elemento musical influente para o estabelecimento de relações e reações sociais dos recém-nascidos às pessoas ao seu redor. No início da vida os bebês estabelecem fortes laços afetivos com sua genitora através das canções de ninar, dos mamanês, brincos e dos contornos melódicos. E esta paisagem sonora define o ambiente familiar dos nenéns, carregando-o de afetos. Assim a música fortalece a relação afetiva e social entre o bebê, a mãe e o ambiente em que ele vive. Isso porque no lado direito do cérebro ocorre a transformação de sons em sensações (PINTO, 2009).

O bebê, entre seis meses e dois anos, está mais sociável procurando interação com quem o rodeia, através das vocalizações. Então começa a imitar os contornos melódicos que o adulto executa. A partir dos 10º mês o bebê começa a interagir de forma mais intensa com outros nenéns (MUNDO DO ABC, 2013). E através das brincadeiras musicais de socialização absorvem noções de compartilhar, de reconhecer o outro e de interagir. Entre dois e três anos, os nenéns já estão prontos para participar de atividades com outros (MUNDO DO ABC, 2013). Em atividades musicais com papéis de interpretação sonora, eles criam sentimento de pertencimento ao grupo e passam a compreender a necessidade de cooperação com as outras. Nos jogos musicais em conjunto, tornam-se mais comunicativos e convivem com regras de socialização, aprendem a cumprir prazos, respeitar a vontade do outro, disciplina, atenção e responsabilidade (PINTO, 2009). Crianças de 3 e 4 anos já distinguem, mesmo que de forma limitada, o certo do errado e as opiniões que os outros têm sobre elas assumem importância dentro do seu íntimo. Tenha-se por exemplo as atividades de sonorização de histórias, onde a criança tem a oportunidade de refletir as atitudes dos personagens atribuindo-lhes juízos e com isso constroem valores sociais. E nos jogos que envolvem regras, ela tenta se enquadrar, para dar boas impressões de si mesmo ao grupo. Meninos e meninas de 5 anos já se mostram seletivos nas amizades e têm preferência pelas semelhanças (sexo, vestimenta, etc.). Elas já demonstram sensibilidade aos sentimentos dos outros e também lutam por efetivar a própria vontade. É predominantemente nessa fase que a criança externa sentimentos de individualidade e as primeiras raízes de seu caráter nascem. Nesse momento a música coopera em identifica-la como participante de um grupo social e também intensifica suas vontades próprias. Assim a música poderá identificar uma criança como cristã, budista, maranhense, pernambucana, paulista, como pertencente a um grupo social que lhe dá uma identidade e lhe forja características. Também pode lhe abrir espaço para o pensamento abstrato nas letras de canções que certamente refinam seu ego, sendo isso bastante decisivo para o desenvolvimento de sua personalidade. Dicas para Pais e Professores

Visto que a mãe é o primeiro contato social do feto, ela tem grande responsabilidade pela sociabilidade de seu filho(a). Por isso desde o terceiro mês de gestação a mãe já pode investir em laços de afetividades com o feto, cantando pra ele e ouvindo música de forma pareada à expressão de carinho pelo bebê. Após o parto, é bom que os pais procurem aconselhamento com profissionais de Musicalização de Bebês para se utilizarem de seus serviços afim de que assegurem as contribuições da música para o desenvolvimento do neném. E é fundamental que os pais acompanhem seus nenéns nos encontros e se envolvam em todas as atividades musicais. É substancial que os pais selecionem com cuidado as músicas que sua criança ouve, procurando refletir do que tratam e dialogando com ela, instigando assim a criticidade musical desde cedo. Isso é fundamental para que os pais possam intermediar a construção de valores, identidade e personalidade de seus filhos. Vale observar que o contato com diferentes estilos musicais é muito enriquecedor para o desenvolvimento social da criança, principalmente para a prevenção de preconceitos musicais. Aos professores cabe a tarefa de manterem-se atualizados. O educador deve buscar atividades musicais significativas para o desenvolvimento social de seus alunos, procurando promover o que a Teca Brito (2003) considera indispensável ao bom trabalho pedagógicomusical, isto é, a criança deve: perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. As aulas de música, principalmente na educação infantil e fundamental, precisam privilegiar o desenvolvimento do aluno, daí a importância dos professores planejarem atividades que propiciem um ambiente alegre e significativo para que as crianças tenham a oportunidade de amadurecer suas potencialidades intelectuais e sociais. O professor pode recorrer à jogos musicais, sonorização de histórias, atividades de criação, improvisação, escuta e reflexão musical, às canções infantis etc. Considerações Finais Haja vista todos esses argumentos, dados experimentais, resultados de pesquisas e citações, infere-se algumas contribuições da música ao desenvolvimento da criança, no aspecto intelectual e social. Uma vez conscientizados dessas contribuições, os professores e pais de crianças devem se esforçar para assegurá-las.

Apesar de tantos paralelos traçados entre música e desenvolvimento é importante ter cautela na aceitação de conclusões que relacionam esses dois pontos. Como nos afirma Beatriz Ilari (2005), estudos sólidos sobre causa e efeito entre música e desenvolvimento são difíceis de ser encontrados e realizados porque envolvem uma série de aspectos (sociais, culturais, econômicos etc.). Então é preciso que cada leitor seja crítico ao se deparar com afirmações que envolvem o assunto. É importante consultar as referências, os métodos de pesquisas, as metodologias e, sobretudo analisar o rigor científico, seriedade e credibilidade de quem fala. Entretanto, entre mitos e equívocos, pode-se deixar algumas recomendações. É importante que os pais promovam vivências e se utilizem de todos os recursos que a música serve ao desenvolvimento da criança durante e depois da gestação. Para isso os pais podem procurar profissionais de musicalização infantil para que lhe orientem de uma forma prática na educação de seus filhos. E os professores devem se esforçar continuamente, com estudos, pesquisas e observação de práticas pedagógicas para que seus alunos possam gozar das contribuições da música. Esse artigo não propõe, de maneira alguma, encerrar o assunto, mas coloca o leitor a par e argumenta sobre as contribuições da música para o desenvolvimento de crianças. Há muitos autores da área de educação musical infantil, que estão munidos de pesquisas e estudos dignos de credibilidade. Aqui se faz oportuno citá-los e indica-los como referências deste artigo e para o aprofundamento do assunto.

Referências BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil. 2.ed. São Paulo: Peirópolis, 2003. ILARI, Beatriz. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 9, 7-16, set. 2003. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil: Conhecimento de Mundo. Volume 3. Brasília: MEC/SEF. 1998. p.47 77. MUNDO DO ABC. Fases do Desenvolvimento Infantil (0 a 6 anos). Disponível em: <http://www.mundodoabc.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=55:fases -do-desenvolvimento-infantil-0-a-6-anos&catid=6:noticias&itemid=23>. Acesso em: 03 nov. 2013. NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Goiás, v. 5, n.2, dez. 2003. Disponível em: <http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/infancia/g_musica.html>. Acesso em: 01 dez. 2013. PARIZZI, Maria Betânia. O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às canções transcendentes. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 15, 39-48, set. 2006. PEDERIVA, P.L.M.; TRISTÃO, R.M. Música e Cognição. Ciência e Cognição, Rio de Janeiro, v. 9, 83 90, nov. 2006. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/601/383>. Acesso em: 03 nov. 2013. PINTO, Rogerio da Silva. A música no processo de desenvolvimento infantil. Rio de Janeiro. 2009. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 03 nov. 2013. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. p. 9 38. SOARES, Cíntia Vieira da Silva. Música na creche: possibilidades de musicalização de bebês. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 20, 79-88, set. 2008. SUGAHARA, Leila. O que é musicalização? Disponível em: <http://www.rededuc.com/page_28.html>. Acesso em: 06 dez. 2013.

TEIXEIRA, Fábio L. Fully; BARJA, Paulo Roxo. Percepção musical: efeitos fisiológicos e psicológicos da música em crianças e pré-adolescentes. World Congress on Communication And Arts, São Paulo, p.190-192, 17 abr. 2011. VASCONCELLOS, Maria de F. B. As Fases do Desenvolvimento da Criança de 0 a 6 anos. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/abaaafwuuaf/as-fasesdesenvolvimento-crianca>. Acesso em: 03 nov. 2013.