Reclamante: Thiago Ivo Pereira Reclamado: 1) Probank S.A (Em recuperação judicial). 2) Caixa Econômica Federal Aos 19 dias do mês setembro de 2011, na sala de audiências da 1.ª Vara do Trabalho de Joinville, sob a Presidência do Juiz do Trabalho Sergio Massaroni, foram apregoados os litigantes. Ausentes as partes. Cumpridas as formalidades legais e submetido o processo a julgamento foi proferida a seguinte. S E N T E N Ç A 1. RELATÓRIO Thiago Ivo Pereira, devidamente qualificada à fl. 03, propõe Reclamação Trabalhista em face de Probank Serviços Terceirizados Ltda. e Caixa Econômica Federal, alegando que foi contratada pela Primeira para trabalhar para a Segunda, formulando os pleitos constantes das alíneas a a g (fls. 04-04v.º), pelos fatos e fundamentos jurídicos expostos na petição inicial. Junta procuração e documentos. Atribui à causa o valor de R$21.000,00. Rejeitada a primeira proposta conciliatória. Após a dispensa da leitura da inicial, a Segunda Reclamada argúi a preliminar de incompetência absoluta e a prejudicial de prescrição. A Primeira pugna pela suspensão do feito e argúi as preliminares de coisa julgada e inépcia da petição inicial. No mérito, impugnam os pedidos formulados Encerrada a instrução processual. Razões finais remissivas. Proposta final de conciliação inexitosa. É o relatório. 1
D E C I D E - S E 2. FUNDAMENTAÇÃO 2.1. SUSPENSÃO DO FEITO Em primeiro lugar, determino a retificação da autuação, para fazer constar do polo passivo a empresa PROBANK S.A. (em recuperação judicial), comprovado pela decisão juntada às fls. 168-169. Indefiro o pedido de suspensão do feito, já que esgotado o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, tomando como base o mês de dezembro de 2010, constante da decisão transcrita em defesa. 2.2. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA Argúi a Segunda Reclamada a incompetência absoluta rationae materiae. Alega que para imposição de qualquer responsabilidade, objetiva ou subjetiva, torna inevitável a discussão de matérias estranhas a esta Especializada, como regularidade do processo licitatório, responsabilidade da administração com relação a encargos contratuais e legais e causas excludentes da responsabilidade. O contrato firmado entre a Administração Pública e o prestador de serviços reveste-se de natureza administrativa, sendo que eventuais ofensas não podem ser objeto de discussão perante a Justiça do Trabalho. Não prospera a arguição. Não se está, no presente caso, apreciando-se a relação jurídica da Segunda com a Primeira Reclamada, prestadora de serviços, mas os pleitos decorrentes da relação de trabalho firmado entre esta e o Autor, cuja competência é da Justiça do Trabalho, a teor do inc. I do art. 114 da Constituição da República, com redação dada pela Emenda Constitucional n.º 45/2004. Esta competência abrange também a responsabilidade da Tomadora de Serviços, mesmo que necessário apreciar-se, de forma incidental, as questões levantadas. Rejeito a preliminar. 2.3. COISA JULGADA Argúi a Primeira Reclamada a preliminar de coisa julgada, com relação à projeção do aviso prévio indenizado, inclusive baixa na CTPS com data de 2
04.12.2008, eis que já foi objeto de ação anteriormente ajuizada (2272-2009-004-12-00-0). Assiste-lhe razão no que diz respeito à projeção do aviso prévio para que seja anotada a baixa na CTPS com data de 04.12.2008. Já foi ele objeto de ação anteriormente proposta (pedido de alínea b fl. 128). Indefiro com relação á projeção do aviso prévio para os demais fins, já que se referem exclusivamente às demais verbas de caráter pecuniário, formulado na presente ação. Acolho em parte. 2.4. INÉPCIA DE PETIÇÃO INICIAL Rejeito a preliminar de inépcia da petição inicial, também suscitada pela Primeira Reclamada, na medida em que a apreciação da norma coletiva a ser aplicada é questão a ser analisada com o mérito. 2.5. PRESCRIÇÃO TOTAL Argúi a Segunda Reclamada a prejudicial de prescrição total. Alega que o Autor foi desligado em 04.11.2008 e ajuizou a presente ação somente em 06.12.2010, tendo transcorrido mais de dois anos, portanto. Entretanto, não há possibilidade de declarar-se a prescrição. Registrando-se que o aviso prévio indenizado projeta-se para todos os efeitos legais, temos que o termo final do prazo bienal estabelecido no inc. XXIX do art. 7.º da Constituição da República seria 04.12.2008 (sábado), quando não houve expediente forense que viabilizasse a protocolização da ação, o que fez com que o Autor somente pudesse efetivá-la no primeiro dia útil subsequente 06.12.2010 (segunda-feira). Rejeito a arguição. 2.6. DIFERENÇAS SALARIAIS Alega o Reclamante que, durante a contratualidade do trabalho mantido com a Reclamada, de 17.07.2007 a 04.11.2008, recebeu salário mensal de R$215,00 a R$219,76, por mês, mas que, de acordo com a cláusula 4.º da CCT referentes aos períodos de 2007/2008 e 2008/2009, os pisos salariais era muito superiores, sendo de R$380,00 (CCT 2007-2008) e R$415,00 (CCT 2008/2009). Formula o pleito das diferenças correspondentes. 3
A Primeira Reclamada contesta o pedido. Renova, inicialmente, a impugnação às Convenções Coletivas que pretende o Autor aplicar, pois a categoria, qual seja, a dos técnicos em telecomunicação, é representada pela Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (FENADADOS), com quem firmou acordo. Complementa, alegando que o Reclamante sempre recebeu seus salários de acordo com a carga horário realizada, proporcional a uma jornada de 110 horas semanais, conforme documentos da contratualidade. Em primeiro lugar, temos que, no ordenamento jurídico brasileiro, o enquadramento sindical é dado pela atividade preponderante da empresa, salvo quando se tratar de categoria diferenciada que, nos termos do 3.º do art. 511 da CLT, é a que se forma de empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força do estatuto profissional especial ou em conseqüência de condições de vida especiais. Conjugando-se o objeto social da empresa Reclamada (fl. 139-140), com as atividades desenvolvidas pelo Reclamante como técnico em telecomunicações, não há como aplicar-se os instrumentos normativos trazidos junto com a petição inicial, cujas cópias são juntadas às fls. 14-44. Por outro lado, quanto à jornada trabalhada pelo Reclamante, apesar das alegações trazidas em defesa, certo é que o documento da fl. 171 comprova a contratação em jornada de 220 horas mensais. Além do mais, o preposto da Primeira Reclamada, cujo depoimento lhe obriga, não soube informar qual a jornada em que foi contratado o Reclamante, impondo-se reconhecer que o foi para jornada de 220 horas semanais, não obstante a sentença proferida nos autos da ação 2272-2009-004-12-00-0 (fls. 10-13), não lhe tenha sido deferidas as horas extraordinárias. Partindo dessa premissa, tem-se que não foi observado, por parte da Primeira Reclamada, o piso mínimo estabelecido no Termo do Aditivo ao acordo coletivo cuja cópia encontra-se à fl. 152, ou seja, de R$430,87. Assim, deve ser acolhido em parte o pedido formulado, para condenar a Reclamada ao pagamento das diferenças salariais entre o piso anteriormente reconhecido de R$430,87 e os salários efetivamente pagos, conforme recibos de pagamento, com reflexos em 13.º salário, férias acrescidas de um terço e FGTS com indenização de 40%. Não há falar em reflexos sobre DSR, já que o valor é apurado a partir do salário fixado mensalmente. 4
2.7. HORAS EXTRAORDINÁRIAS Considerando que, nos autos do processo 2272-2009-004-12-00-0, foi indeferido o pedido de horas extraordinárias (fls. 10-13), decisão já transitada em julgado (fl. 135), não há falar em reflexos das diferenças ora deferidas em mencionada verba. 2.8. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA Defiro ao Reclamante os benefícios da justiça gratuita nos termos do 3.º do art. 790 da CLT. 2.9. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Os honorários advocatícios na Justiça do Trabalho, nas lides decorrentes da relação de emprego, somente são cabíveis quando atendidos os requisitos da Lei n.º 5.584/70, em especial a assistência sindical, que não se encontra presente nos autos. Entendimento conforme súmulas 219 e 329 e, mais recentemente, art. 5.º da Instrução Normativa n.º 27 do Tribunal Superior do Trabalho, este última com a seguinte redação: Improcede o pleito. Art. 5º Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência. 2.10. RESPONSABILIDADE DA SEGUNDA RECLAMADA Fruto de construção jurisprudencial, o estudo sobre responsabilização no direito do trabalho alcançou patamar que, além daquelas expressamente em lei, confere ao tomador de serviço a obrigação de responder pelo simples inadimplemento das verbas trabalhistas por parte da empresa prestadora. Observe-se que, no caso dos autos, embora o Segundo Reclamado não tenha contratado diretamente o Reclamante, ele é beneficiário último do trabalho prestado, tendo o preposto demonstrado desconhecimento sobre os locais em que houve prestava serviços. Quanto à impossibilidade de responsabilização por conta do disposto na Lei n.º 8.666/93, esta pressupõe o regular cumprimento do contrato firmado pela empresa contratada, não vigorando quanto há inadimplência por parte desta das 5
obrigações trabalhistas devidas a seus empregados, o que impõe a conclusão de culpa in vigilando no presente caso, cujo ônus de desoneração é desta. Pelo exposto, deve o Segundo Réu responder subsidiariamente pelas verbas ora deferidas. 3. DISPOSITIVO Ante o exposto, rejeito as preliminar de incompetência absoluta e inépcia da petição inicial; acolho em parte a preliminar de coisa julgada, para extinguir, sem resolução do mérito, o pleito de anotação da baixa na CTPS com data de 04.12.2008; e julgo PROCEDENTES EM PARTE os pleitos formulados pelo Reclamante, Thiago Ivo Pereira, para condenar as Reclamadas, Probank S.A (em recuperação judicial) e Caixa Econômica Federal, esta de forma subsidiária, nos termos da fundamentação, que integra o presente dispositivo, a pagar-lhe as diferenças salariais entre o piso reconhecido de R$430,87 e os salários efetivamente pagos, conforme recibos, com reflexos em 13.º salário, férias acrescidas de um terço e FGTS com indenização de 40%. Sobre o valor devido incidirá juros (Lei n. 8.177/91), desde o ajuizamento da ação, e correção monetária, desde o momento da exigibilidade do adimplemento da obrigação, no caso, a data da dispensa. Os descontos previdenciários incidirão sobre as verbas deferidas, e reflexos em 13.º salário e férias usufruídas, observado o limite máximo do salário de contribuição, conforme Decreto n.º 3.048/99 e Lei n.º 8.212/91. Fica expressamente determinada a incidência de descontos fiscais, se houver, nos termos do art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa RFB 1.127/11, de 07.02.2011. Defiro ao Autor os benefícios da justiça gratuita. Custas pelas Reclamadas no valor de R$100,00, calculadas sobre R$5.000,00, valor arbitrado à condenação. Intimem-se as partes. Nada mais. SERGIO MASSARONI Juiz do Trabalho 6