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1 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE SÃO MIGUEL DOS CAMPOS (AL) SENTENÇA DE CONHECIMENTO - PROCESSO N RELATÓRIO. MANOEL BENEDITO FERREIRA DA SILVA, devidamente qualificado na petição inicial, ajuizou ação trabalhista em face de DISBEC - DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS CLEMENTE LTDA, pleiteando os pedidos constantes da inicial. Devidamente notificado, fls. 13/14, a reclamada não compareceu à audiência designada, ata as fls. 15/16. O juiz colheu o depoimento do reclamante, determinando a juntada de documentos. Documentos juntados, fls. 18/20. Na assentada seguinte, presente o reclamante. A Instrução foi encerrada, em razão da desnecessidade de outras provas. As razões finais foram reiterativas pelo autor, prejudicadas as razões finais da reclamada, bem como a conciliação. Autos conclusos para julgamento. É o relatório. FUNDAMENTOS 1. DA REVELIA. A reclamada foi regularmente citada, consoante AR e certidão de fls. 13/14. Nada obstante, não compareceu à audiência designada. A ausência injustificada da reclamada importa revelia e confissão quanto à matéria de fato, nos termos do "caput" do art. 844 da CLT. Vale dizer, prevalecem as alegações de fato contidas na petição inicial. O Juiz apreciará os pedidos, observando essa diretriz, e ainda, as informações colhidas do depoimento do autor em juízo e os documentos pela parte presente apresentados. 2. DA PRESCRIÇÃO DE OFÍCIO. No campo das relações de trabalho, a prescrição, antes tratada apenas na CLT, foi erigida a norma constitucional, conforme disposto no art. 7º, XXIX da Constituição Federal, que dispõe: "Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros direitos que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho". Analisando o texto e buscando a interpretação balizada dentro das regras interpretativas das normas constitucionais, notadamente da máxima efetividade, a partir da premissa de que todas as normas constitucionais desempenham função útil no ordenamento, sendo-lhe vedada a interpretação que lhe suprima ou diminua a finalidade, sempre no fito de se obter o verdadeiro significado do preceito, parece-nos que o dispositivo apenas assegura aos trabalhadores o direito de ação em relação aos créditos não alcançados pela prescrição, 07/10/ :23:26 Sistema de Acompanhamento de Processos em 1ª Instância pág. 1 / 5

2 cujo prazo estabelece. Assegura-se o direito de ação, com prazo prescricional definido. Trata-se de opção do legislador constituinte originário que, ao erigir a prescrição ao patamar constitucional, caracterizou-a como instituto de ordem pública, considerando, ainda, o escopo de trazer para o seio social a estabilidade e segurança das relações jurídicas. Adira-se, como argumento, que os dispositivos que previam a necessidade de argüição, pela parte interessada, da prescrição dos direitos patrimoniais, em sede civil e processual civil (art. 194, do CC e 219, 5º, do CPC), foram alterados por força da lei nº /06, com a revogação do artigo do código civil e alteração do artigo do código de processo civil, para permitir a declaração de ofício da prescrição. Os dispositivos revogado e alterado eram pacificamente aplicados ao processo do trabalho, não havendo razão técnica para, após a alteração legislativa não mais aplica-los. A compatibilidade, no caso, avulta-se em razão do texto constitucional. Em linhas de conclusão, entendo aplicável ao processo do trabalho a possibilidade de pronunciamento de ofício pelo juiz em relação à prescrição, com fundamento no art. 7º, XXIX, da CF/88 e art. 219, 5º, do CPC. Com o ajuizamento da ação em 25 de agosto de 2010, pronuncio, de ofício, a prescrição dos créditos trabalhistas prescritíveis e exigíveis por via acionária do período anterior aos cinco anos que antecederam o ajuizamento da presente ação, ou seja, 25 de agosto de Decreto, assim, a extinção do processo com julgamento de mérito de parte da postulação alcançada pela prescrição declarada. 3. DO CONTRATO DE TRABALHO. PERÍODOS ANOTADOS E CLANDESTINOS. CONTRATO ÚNICO. RETIFICAÇÃO DA CTPS. RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS. PROCEDÊNCIA. Aduz o autor na petição inicial que começou a trabalhar em 01 de maio de 1997, com a CTPS devidamente anotada. A reclamada anotou a saída em 18 de junho de 2003, mas que permaneceu trabalhando. Em 01 de janeiro de 2004 a CTPS foi novamente anotada, com baixa em 20 de julho de 2007, e, igualmente, continuou a prestar serviços em solução de continuidade até 30 de junho de 2010, quando foi definitivamente afastado. Esclareceu que recebia R$ 920,00 por mês trabalhando na função de assistente de vendas. Pois bem. A confissão ficta que suporta a reclamada conduz o juízo a acolher as alegações de fato narradas na petição inicial como verdadeiras. Convenço-me, formalmente, que o reclamante trabalhou, de forma contínua, no período de 01 de maio de 1997 até 30 de junho de 2010, quando dispensado sem justa causa. Defiro o pedido e condeno a reclamada a retificar a CTPS do reclamante para constar um único contrato de trabalho no período de 01 de maio de 1997 até 30 de junho de 2010, na função de assistente de vendas, com remuneração equivalente a R$ 920,00 por mês, no prazo de cinco dias contados da ciência de intimação para cumprimento da obrigação de fazer, após o trânsito em julgado desta decisão, sob pena da Secretaria do Juízo faze-lo, nos termos do art. 39, 1º, da CLT. Deve, ainda, a reclamada, nos termos 07/10/ :23:26 Sistema de Acompanhamento de Processos em 1ª Instância pág. 2 / 5

3 do art. 43, da lei nº /91, proceder aos recolhimentos previdenciários dos períodos não anotados e reconhecidos nesta decisão. 4. DAS VERBAS RESCISÓRIAS. FÉRIAS. 13º SALÁRIOS. PROCEDÊNCIA EM PARTE. Alega o reclamante que foi dispensado sem justa causa e nada recebeu a título de verbas rescisórias. Aduziu que jamais gozou férias ou recebeu o 13º salário. Em seu depoimento confessou ter recebido valores rescisórios, sacado FGTS e percebido parcelas do seguro desemprego. O Juízo determinou que o reclamante apresentasse os documentos rescisórios e recibos de pagamento, tendo o autor apresentado os documentos de fls. 18/20. Referidos documentos indicam tratar-se da rescisão ocorrida em julho de 2007, fraudulenta, considerando a alegação de que continuou prestando serviços. Os recibos salariais confirmam que em 2010 o reclamante prestou serviços à reclamada e o salário apontado. Para se evitar o recebimento de valores sem o devido embasamento jurídico e legal, os valores rescisórios devem ser deduzidos. Portanto, reconheço, formalmente, a dispensa sem justa causa em 30 de junho de 2010 e a mora da reclamada quanto ao pagamento das verbas resilitórias. Defiro os pedidos de aviso prévio, férias de todo o período imprescrito, vencidas e proporcionais, em dobro e simples, acrescidas de um terço, 13º salário de todo o período imprescrito, FGTS acrescido da multa de 40% e multa do art. 477 da CLT. Devem ser deduzidos os valores a idêntico título constantes do TRCT às fls. 18. Deduza-se, ainda, o valor de R$ 1.200,00 da parcela de FGTS, confessadamente sacado pelo autor (ata de fls. 16). Não há informação na petição inicial de saldo de salário em aberto. Indefiro o pedido item "f". O reclamante confessou que recebeu quatro parcelas do seguro desemprego, quando não deveria tê-lo recebido, posto que permaneceu trabalhando, em que pese de forma clandestina. Penso que a melhor solução é considerar compensadas as parcelas que o reclamante teria direito pela dispensa sem justa causa, por ter recebido, digamos, antecipadamente. Indefiro o pedido de indenização do seguro desemprego, item "i". 5. DA JORNADA DE TRABALHO. SERVIÇO EXTERNO. EXCEÇÃO À REGRA DE DURAÇÃO DO TRABALHO. IMPROCEDÊNCIA. Apesar da confissão ficta que suporta a reclamada, confessa o autor em seu depoimento em juízo que trabalhava externamente, na função de vendas. Que comparecia à reclamada por volta das 06h30min e de lá saía em moto de sua propriedade para visitação dos locais de vendas, retornando para prestação de contas ao final da jornada. Ou seja, passava a maior parte do tempo externamente. Nos termos do art. 62, I, da CLT, não estão abrangidos pelo regime de duração do trabalho os empregados que exerçam atividade externa incompatível com a fixação de horário. A atividade externa, para fins do dispositivo consolidado, caracteriza-se pela circunstância de estar o empregado fora da permanente fiscalização e controle do empregador, de forma que não é possível aferir-se o tempo realmente dedicado com exclusividade ao empreendimento. 07/10/ :23:26 Sistema de Acompanhamento de Processos em 1ª Instância pág. 3 / 5

4 Parece ser a hipótese dos autos. Indefiro, assim, os pedidos de horas extras e repercussões. 6. JUSTIÇA GRATUITA. Defiro ao autor os benefícios da justiça gratuita. 7. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Não presentes os requisitos legais, indefiro o pedido de honorários advocatícios. DISPOSITIVO. Ante o exposto e considerando o mais que dos autos consta, pronuncio de ofício a prescrição qüinqüenal incidente sobre os contratos de trabalho no período anterior a 25 de agosto de 2005, para decretar a extinção do processo com julgamento de mérito de parte da postulação alcançada pela prescrição declarada e julgo PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados por MANOEL BENEDITO FERREIRA DA SILVA em face de DISBEC - DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS CLEMENTE LTDA, para condenar a reclamada a pagar ao reclamante com juros e correção monetária na forma da Súmula 200 do TST, a importância de R$ ,26 (vinte e quatro mil, seiscentos e noventa e sete reais e vinte e seis centavos), correspondente aos pedidos deferidos de: a) aviso prévio; b) férias de todo o período imprescrito, vencidas e proporcionais, em dobro e simples, acrescidas de um terço; c) 13º salário de todo o período imprescrito; d) FGTS acrescido da multa de 40%; e) multa do art. 477 da CLT. Devem ser deduzidos os valores a idêntico título constantes do TRCT às fls. 18. Deduzase, ainda, o valor de R$ 1.200,00 da parcela de FGTS, confessadamente sacado pelo autor. Deve a reclamada retificar a CTPS do reclamante para constar um único contrato de trabalho no período de 01 de maio de 1997 até 30 de junho de 2010, na função de assistente de vendas, com remuneração equivalente a R$ 920,00 por mês, no prazo de cinco dias contados da ciência de intimação para cumprimento da obrigação de fazer, após o trânsito em julgado desta decisão, sob pena da Secretaria do Juízo faze-lo, nos termos do art. 39, 1º, da CLT. Deve, ainda, a reclamada, nos termos do art. 43, da lei nº /91, proceder aos recolhimentos previdenciários dos períodos não anotados e reconhecidos nesta decisão. Tudo nos termos da fundamentação que passa a integrar o presente dispositivo como se aqui estivesse fielmente transcrito. Sentença líquida nos termos da planilha em anexo que passa a integrar o presente dispositivo como se ora estivesse transcrita. 07/10/ :23:26 Sistema de Acompanhamento de Processos em 1ª Instância pág. 4 / 5

5 Custas pela reclamada no valor de R$ 493,95 (quatrocentos e noventa e três reais e noventa e cinco centavos), calculado sobre o valor de R$ ,26 (vinte e quatro mil, seiscentos e noventa e sete reais e vinte e seis centavos). Em cumprimento ao disposto no artigo 832, 3º da CLT, declara-se que possui natureza jurídica salarial e integra o salário de contribuição para efeitos de incidências previdenciárias, as verbas de: aviso prévio e 13º salário. Contribuições previdenciárias incidentes de responsabilidade de ambas as partes, sendo quanto ao reclamante o valor de R$ 388,11 (trezentos e oitenta e oito reais e onze centavos), e quanto à reclamada o valor de R$ 1.397,21 (um mil, trezentos e noventa e sete reais e vinte e um centavos), conforme planilha de cálculos em anexo, e quanto às respectivas deduções tributárias, observar o contido na Súmula no. 368 do Colendo TST. Reclamante ciente desta decisão, na forma do Enunciado 197 do TST. NOTIFIQUE-SE A RECLAMADA. São Miguel dos Campos (AL), 08 de outubro de E para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada na forma da lei. VALTER SOUZA PUGLIESI - Juiz(a) do Trabalho SÉRGIO LUÍS LISBOA CALHEIROS- Diretor(a) de Secretaria 07/10/ :23:26 Sistema de Acompanhamento de Processos em 1ª Instância pág. 5 / 5