Reflexão sobre a gramatização do espanhol no Brasil: os livros didáticos para o mundo do trabalho



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Transcrição:

22 Reflexão sobre a gramatização do espanhol no Brasil: os livros didáticos para o mundo do trabalho Luciana de Carvalho 1 1 Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba - (FATEC ID) Caixa Postal 6045 - CEP 13084-971 - Indaiatuba - SP - Brasil Abstract This paper presents a study of textbook writing for Spanish as a Second Language (ELE, from the Spanish Español Como Lengua Extranjera). We focus on publications focused on the work environment which have been published in Brazil since 1990. We aim to verify the effects of this linguistic tools production on the process of Spanish grammaticalization in Brazilian context from the inscription of this language in a wider enunciation space. For grammaticalization we understand the process which leads to describing and instrumentalizing the language based on two technologies which are currently the building elements of ours metalinguistic knowledge: grammars and dictionaries (Auroux, 1992). Our study points out that, along this period, the Spanish language would go through a new process of grammaticalization characterized by the construction of a metalinguistic knowledge and by an intense production and diversification of textbooks aimed to teach this language in Brazil and in the world Keywords: grammaticalization; linguistic tools; textbook; spanish; work environment. Resumo Este artigo propõe o estudo da produção de livros didáticos (LDs) de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, em circulação no mercado editorial brasileiro, a partir de 1990. Buscamos verificar os efeitos dessa produção de instrumentos linguísticos sobre o processo de gramatização do espanhol, em contexto brasileiro, a partir da inscrição dessa língua em um espaço de enunciação ampliado. Por gramatização compreende-se o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são hoje o pilar de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário (Auroux, 1992). Nosso estudo aponta que, nesse período, o espanhol passaria a vivenciar um novo processo de gramatização, caracterizado pela constituição de um saber metalinguístico, por uma intensa produção e diversificação de materiais didáticos para o ensino dessa língua no Brasil e no mundo. Palavras-chave: gramatização; instrumentos linguísticos; livros didáticos; espanhol; mundo do trabalho. 1.Introdução Neste artigo abordamos a questão da produção de instrumentos linguísticos direcionada ao ensino de espanhol para falantes brasileiros, inseridos no contexto enunciativo das relações comerciais internacionais. Referimo-nos especificamente aos livros didáticos (LDs) de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho 12, em circulação no mercado editorial do Brasil, de 1990 até 2014. 12 Reconhecemos a necessidade de centralizar nossa reflexão no estudo da produção de instrumentos linguísticos direcionada ao ensino de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, pela ausência de pesquisas acadêmicas no Brasil que

Bbuscando verificar os efeitos dessa produção sobre o processo de gramatização dessa língua no Brasil, a partir de sua inscrição em espaços de enunciação ampliados. Por gramatização, segundo Auroux (1992), compreende-se o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são hoje o pilar de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário. Nossa hipótese central é que no período que se inicia a partir dos anos 90, tendo como marco a configuração do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e uma complexa política de línguas articulada, através de um projeto de esfera internacional do governo da Espanha, o espanhol passaria a vivenciar um novo processo de gramatização, caracterizado por uma série de movimentos em direção a uma intensa produção e diversificação de instrumentos linguísticos para o ensino dessa língua no mundo e, sobretudo, no Brasil. 13 Segundo Fernández (2000, p. 64), como reflejo de todo lo anterior, en la década de los noventa es cuando la gran producción didáctica española y brasileña afecta de manera significativa el mercado editorial y la disponibilidad de materiales 14. De igual modo, a autora (ibidem, p. 66) caracteriza essa época como sendo el boom do espanhol no país: la década de los noventa se muestra muy fértil en lo que se refiere a publicaciones para la enseñanza del español. Trabajos importantes, tanto en el area de la lengua española como de las literaturas hispánicas suponen una contribución relevante para profesores, investigadores y estudiantes. Además los materiales que nos llegan fundamentalmente de España y que suman más de cincuenta títulos sólo de libros de texto, lúdicos y gramáticas Brasil pasa a contar, en los últimos años, con una gran producción local destinada al área didáctica: libros, textos, materiales para autoaprendizaje, diccionarios, libros de lectura, materiales de apoyo y complementários y revistas 15. Reconhecemos que embora haja uma série de pesquisas acadêmicas sobre o espanhol publicadas no Brasil, há uma carência de estudos no âmbito do Programa História das Ideias Linguísticas (HIL), cuja temática contemple a produção de instrumentos linguísticos 16 para o ensino dessa língua no âmbito específico do mundo do trabalho e analise as mudanças no processo de gramatização do espanhol pela ampliação de seu espaço de enunciação. Os espaços de enunciação, para Guimarães (2012, p. 18) 23 são espaços de funcionamento da línguas, que se dividem, redividem, se misturam, desfazem, transformam por uma disputa incessante. São espaços constituídos pela equivocidade própria do acontecimento: da deontologia que organiza e distribui papéis, e do conflito, indissociado desta deontologia, que redivide o sensível, os papéis sociais. considerem os efeitos dessa produção sobre o processo de gramatização, sobre os processos simbólicos e imaginários que constituem essa língua como língua estrangeira em sua especificidade. 13 No período em que se inscreve esse estudo, acompanhamos, de igual modo, uma intensa divulgação da língua portuguesa em termos internacionais e uma consequente produtividade de materiais didáticos para atender a uma nova demanda, sustentada por ações e investimentos do estado brasileiro em política de línguas. 14 Como reflexo de todo o anterior, na década de 1990 é quando a grande produção didática espanhola e brasileira afeta de maneira significativa o mercado editorial e a disponibilidade de materiais. [A tradução nossa]. 15 A década de 1990 se mostra muito fértil no que se refere a publicações para o ensino de espanhol. Trabalhos importantes, tanto na área da língua espanhola como das literaturas hispânicas supõem uma contribuição relevante para professores, pesquisadores e estudantes. Além disso, os materiais que nos chegam fundamentalmente da Espanha - e que somam mais de 50 títulos somente de livros de texto, lúdicos e gramáticas - o Brasil passa a contar, nos últimos anos, com uma grande produção local destinada à área didática: livros, textos, materiais para auto-aprendizagem, dicionários, livros de leitura, materiais de apoio e complementos e revistas. [A tradução é nossa]. 16 Como exceção nesse cenário, destacamos a dissertação de mestrado da pesquisadora Laura Sokolowicz intitulada Livros didáticos em revista (1990-2010) sujeito, linguagem, discurso e ideologia no ensino de espanhol como língua estrangeira no Brasil, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana, do Departamento de Letras Modernas, da Universidade de São Paulo USP e defendia no ano de 2014. Nesse trabalho, a pesquisadora focaliza a produção de instrumentos linguísticos para o ensino de espanhol como língua estrangeira (ELE) no Brasil, buscando aproximar as análises e reflexões sobre os livros dentro de processos que instrumentalizam uma língua - daquelas sobre língua e sujeito.

24 Nesse sentido, compreender essa produção a partir da HIL significa conceber o livro didático - objeto de conhecimento determinado sócio-historicamente - como uma das possíveis instâncias do processo de gramatização do espanhol em contexto brasileiro, capaz de produzir sentidos que afetam a relação que os sujeitos estabelecem com as línguas praticadas em um determinado espaço (Diniz, 2010, p. 130). 2.Campo teórico-metodológico Como aporte teórico e metodológico, consideramos os livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, corpus de nosso estudo, a partir do Programa de Pesquisa História das Ideias Linguísticas (HIL), no Brasil. Esse campo de conhecimento fundado na França (Auroux, 1989), durante a década de 1980, sob o nome de História das Ciências da Linguagem, surgiu com o objetivo central de pensar o domínio dos fenômenos da linguagem como um espaço de produção de tecnologias capaz de mudar a relação do homem com os objetos simbólicos e com as formas de relação social. Ele propõe descrever a língua e o saber que se constrói sobre ela, em sua relação com a sociedade e com os sujeitos que nela existem. Na base desse saber está o processo de gramatização que Auroux (1992) define como sendo o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são hoje o pilar de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário. No Brasil, a HIL se constitui adquirindo características próprias e específicas a partir do conhecimento produzido em projetos de pesquisa coordenados pela Profª. Dr.ª Eni Orlandi, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, dentre os quais podemos destacar: (a.) Discurso, Significação, Brasilidade 17 ; (b.) História das Ideias Linguísticas no Brasil: a construção de um saber metalinguístico e a constituição da língua nacional 18 ; (c.) História das Ideias Linguísticas: Ética e Política das Línguas 19 ; (d.) O controle político da representação. História das Ideias 20. Esses projetos desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento do estudo da relação entre a história da construção do saber metalinguístico com a história da constituição língua nacional, da identidade nacional, visando trazer contribuições específicas ao modo de pensar e trabalhar a questão da língua nos países de colonização (Orlandi, 2001, p. 7). Assim, em território brasileiro, o conceito de gramatização é (re) significado e ampliado o espectro de análise dos instrumentos linguísticos, que passa a incluir não somente gramáticas e dicionários, mas também vocabulários, currículos, programas de ensino, acordos ortográficos, nomenclaturas oficiais, textos didáticos, textos científicos, periódicos, entre outros (ibidem). (Diniz, 2010, p. 22). Além disso, os instrumentos linguísticos passam a ser pensados na sua relação com as instituições a partir das quais são produzidos. De acordo com Orlandi (ibidem, p. 9), enquanto objeto histórico, tanto a gramática como o dicionário, ou o ensino e seus programas, assim como as manifestações literárias são uma necessidade que pode e deve ser trabalhada de modo a promover a relação do sujeito com os sentidos, relação que faz história 17 Este projeto coletivo, coordenado por Eni Orlandi, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP), foi desenvolvido no ano de 1987 com o grupo de análise de discurso da Unicamp. 18 Este projeto, coordenado por Eni Orlandi, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP) e por Sylvain Auroux, da École Normale Supérieur (Lyon/França), foi desenvolvido entre os anos de 1993 e 1998. Ele contou com o apoio do acordo CAPES/COFECUB com a Universidade de Paris VII. 19 Este projeto, coordenado por Eni Orlandi, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP) e por Diana Luz Pessoa de Barros, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (USP), no Brasil e por Sylvain Auroux, na França, foi desenvolvido entre os anos de 1998 e 2004. 20 Este projeto, coordenado por Eduardo Guimarães, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP) e por Jean-Claude Zancarini, da École Normale Supérieur (Lyon/França), foi desenvolvido entre os anos de 2005 e 2009, e contou com o apoio do acordo CAPES/COFECUB.

e configura as formas da sociedade. O que nos leva a dizer que, por isso mesmo, eles são um excelente observatório da constituição dos sujeitos, da sociedade e da história. 25 Em nosso estudo, procuramos pensar os livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho enquanto instrumentos linguísticos produzidos a partir da ampliação do espaço de enunciação dessa língua, como resultado de política de línguas que vão se instituindo nesse processo de gramatização, caracterizando-o e produzindo como efeito esse período. 3. Política de línguas De acordo com Sokolowicz (2014, p. 29), o processo de gramatização do espanhol apresentaria diversos períodos na produção e circulação de instrumentos linguísticos para o ensino dessa língua. Um primeiro momento começaria no ano de 1920 e se estenderia até a década de 1980. Neste artigo, conforme salientamos anteriormente, focalizamos o período que se inicia a partir dos anos de 1990, o qual se caracteriza por uma intensa produção e diversificação de materiais didáticos, especialmente pela publicação de livros didáticos para ao mundo do trabalho, como um momento importante da história do espanhol e, principalmente, da constituição de um saber metalinguístico específico sobre esta língua. Esse momento tem como surgimento a configuração do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), a partir da assinatura do Tratado de Assunção, no ano de 1991, e um projeto expansionista do governo da Espanha, em direção à ampliação da língua e da cultura a outros territórios. Uma iniciativa política e estratégica para ganhar novos mercados, que contou com o apoio de instituições 21 vinculadas à língua e com o poder e sustento de grupos empresarias transnacionais desse país, que passaram a dominar setores importantes nessa época, tais como do ramo hoteleiro (Sol Meliá), bancário (Santander), de telefonia (Telefônica), de eletricidade (Endesa; Iberdrola) e editorial (Prisa). De acordo com Valle (2005, p. 204): Uno de los mercados penetrados por la punta de lanza de la lengua española es precisamente Brasil. El interés de las agencias españolas de política linguística por este país se inscribe en el contexto generado por el crecimiento económico de España a partir de finales de los ochenta, la liberalización de las economías latinoamericanas en los noventa y la consequente expansión de empresas españolas (especialmente de los sectores energético, financiero, de telecomunicaciones y editorial) por una Latinoamérica que se abría a las inversiones internacionales. 22 Esse projeto de promoção e consolidação do espanhol, de motivação econômica e de forte característica mercantilista, surge em condições históricas específicas, tendo como cenário o fortalecimento da economia da Espanha e sua entrada na União Europeia (UE). Ele deu origem a uma política de línguas denominada política pan-hispânica, cuja base tem como sustentação a ideologia da hispanofonia. Essa política de planejamento de corpus e de status, estimulada em grande parte pela necessidade de ensino do espanhol como língua estrangeira, tem como objetivos centrais a unidade na diversidade e a promoção internacional do espanhol, através da divulgação de uma imagem pública da língua construída com base em três noções: língua de encontro; língua internacional; língua como recurso econômico. Del Valle (2005, págs. 399-340). 21 Segundo Del Valle e Villa (2010, p. 198), as instituições que lideraram o desenho e a implementação destas políticas linguísticas foram criando durante o processo fóruns congressos e revistas para o exame e discussão de assuntos pertinentes e para a coordenação dos esforços dos distintos agentes envolvidos. 22 Um dos mercados penetrados pela língua espanhola é precisamente o Brasil. O interesse das agências espanholas de política linguística por este país se inscreve no contexto gerado pelo crescimento econômico da Espanha a partir do final de 1980, a liberalização das economias latino americanas em 1990 e a consequente expansão das empresas espanholas (especialmente dos setores energéticos, financeiros, de telecomunicações e editorial) por uma América Latina que se abria aos investimentos internacionais [A tradução é nossa].

Ludmer (2011, p. 16), ao refletir sobre a promoção dessa língua aponta que as mesmas políticas do clássico império espanhol dos séculos XVI e XIX atuam com as mesmas palavras da unidade e laços que nos unem. Se a unidade é a primeira regra da política da língua e primeira regra do império, a diversidade é a primeira regra do mercado. Segundo a autora (ibidem, p. 15) 26 O território da língua está organizado hierarquicamente como um império mais ou menos clássico, com um centro real, a Real Academia Española (RAE, a autoridade lingüística que legisla a língua e a unifica: o poder legislador do território), e uma quantidade de correspondentes : América latina é o lugar das correspondentes. A estrutura do império no território da língua: um acima, a autoridade (e uma nação), e muitos abaixo (uma região). Enquanto instituições importantes na articulação do pan-hispanismo destacamos o protagonismo da Real Academia Española (RAE) e do Instituto Cervantes. A RAE é uma autoridade responsável pela normatização da língua, fundada no século XVIII na Espanha, a partir do modelo da Academia Francesa. O objetivo principal é trabalhar a serviço do espanhol e preservar o uso e a unidade da língua em evolução e expansão 23. O Instituto Cervantes, por sua vez, é uma instituição pública criada em 1991 para a promoção do ensino da língua e da cultura espanhola. Ele está presente em noventa cidades de quarenta e três em cinco continentes 24. 4. A gramatização do espanhol: os livros didáticos para o mundo do trabalho Ao realizar um estudo 25 sobre os materiais didáticos de espanhol disponíveis no mercado brasileiro orientados ao ensino e aprendizagem dessa língua, Fernández (2012, p. 1) afirma: O ensino de espanhol tem sido foco da atenção de legisladores, órgãos públicos, instituições de ensino, editoras, autores, professores, futuros professores e pesquisadores. Embora os interesses de cada um desses setores e profissionais sejam muito diferentes, todos eles, de alguma forma, têm em comum a visão de que o material didático é importante. No Brasil, até o final dos anos 80, a oferta de materiais destinados ao ensino e aprendizagem de espanhol era reduzidíssima e o pouco de que se dispunha provinha, fundamentalmente, de editoras estrangeiras, notadamente espanholas. Entretanto, esse panorama começou a mudar no início dos anos 90, momento em que tanto a produção didática nacional quanto a espanhola incrementaram-se substancialmente (ERES FERNÁNDEZ, 2000, p. 65) e encerrou-se essa década com ao menos 60 títulos publicados por editoras brasileiras, produção essa que abarca livros didáticos, livros de exercícios, material para autoaprendizagem, dicionários, gramáticas, livros de leitura, materiais de apoio para professores, entre outros. A autora (ibidem, p.11) chama a atenção para o fato de que há uma visão equivocada por parte de profissionais e de futuros profissionais com relação à informação de que há um reduzido número de materiais didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) disponíveis no mercado brasileiro. Em outras palavras há um desconhecimento por parte de especialistas da área da variada produção e diversificação de materiais produzidos, assim como uma confusão terminológica entre o significado de material didático e livro didático. Assim, é possível verificar que há profissionais que associam a expressão 23 Disponível em www.cervantes.es. Acesso em 26 de julho de 2015. 24 Disponível em www.rae.es. Acesso em 27 de julho de 2015. 25 Esse estudo foi desenvolvido pelo grupo de Pesquisa Ensino e Aprendizagem de Espanhol (GP), certificado pelo CNPq-USP, pertencente ao CEPEL - Centro de Estudos e Pesquisas em Ensino de Línguas FE-USP e Coordenado pela Profa. Dra. Isabel Gretel Eres Fernández.

material didático apenas a livro didático ou a método, como Fernández López (1993; 2005) ou Sánchez Pérez (1986; 1997), por exemplo. Desse modo, em fins dos anos de 1980 e ao longo da década posterior a oferta editorial 26 brasileira estava organizada, de acordo com Fernández (2000, p. 66), nas seguintes categorias: Libros de profesiones y ofícios Libros de ejercicios Materiales para el autoaprendizaje Diccionarios Libros de lectura Materiales de apoyo gramatical Materiales lúdicos Materiales de orientación y apoyo Cultura y literatura. Materiales de enriquecimento Revistas y publicaciones periódicas 27 Estendendo nosso estudo em direção à produção de livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, enquanto uma das possíveis instâncias do processo de gramatização dessa língua em contexto brasileiro, elaboramos uma síntese dessa instrumentalização a fim de melhor compreendermos como ela está organizada a partir do período proposto. Essa síntese permitiu-nos uma visão geral sobre a orientação dos diferentes títulos, ano de publicação, autoria e grupos editoriais a que pertencem os livros didáticos 27. Inicialmente é importante destacar que a maioria desses livros foi escrita por estrangeiros, especificamente por autores da Espanha, e publicado por editoras desse país. Auroux (2009, p. 76), ao refletir sobre o significado de uma língua gramatizada, afirma: Por definição, o processo de gramatização que nos interessa aqui corresponde pois a uma transferência de tecnologia de uma língua para outras línguas, transferência que não é, claro, nunca totalmente independente de uma transferência cultural mais ampla. Importa levar em conta a situação dos sujeitos que efetuam a transferência, segundo eles sejam ou não locutores nativos da língua para a qual ocorre a transferência. Falaremos respectivamente de endotransferência e de exotransferência. Em outros termos, o autor concebe os conceitos de endogramatização e exogramatização, os quais se propõem a diferenciar, respectivamente, a posição do sujeito nativo e não nativo, na produção de instrumentos linguísticos. Dentro da especificidade da produção de livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, que circula no mercado editorial do Brasil, no período dos anos de 1990 a 2013, podemos afirmar que há um predomínio do processo de endogramatização do espanhol, em contraposição ao processo de exogramatização, pela construção de uma posição de autoria espanhola em relação ao saber metalinguístico e à produção de instrumentos linguísticos. Dessa forma, descrevemos a endogramatização a partir de dois momentos. O primeiro momento marca o início dos anos de 1990 e se estende até 2001, com títulos como: a série didática El Español por 26 Essa oferta editorial compreende diferentes níveis de conhecimento da língua, públicos variados e segmentos. 27 Não consideramos nessa síntese a produção de cadernos de exercícios, CDs, DVDS, entre outros materiais adicionais que de modo geral acompanham os livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) para o mundo do trabalho, por não se constituírem como centro do estudo esses materiais adicionais.

Profesiones, que se divide, por sua vez, em: (a.) Secretariado (Sgel, 1992); (b.) Servicios Financieros - Banca y Bolsa (Sgel, 1992); (c.) Servicios Turísticos (Sgel,1992); (d.) Comercio Exterior; (Sgel, 1996); (e.) Salud (Sgel,1997); (f.) Lenguaje Jurídico (Sgel, 1997). Ou ainda, projetos editoriais tais como: (g.) El español en el hotel (Sgel, 1997); (h.) Hablando de negócios (Edelsa, 1998); (i.) Socios - curso de español orientado al mundo del trabajo (Difusión, 1997); (j.) Técnica de conversación telefónica (Edelsa, 1998); (k.) Técnicas de Correo comercial (Edelsa, 1998). Todos publicados por editoras espanholas. Um segundo momento começaria a partir do ano de 2001, quando surgem novas produções no mercado editorial brasileiro, reimpressões, livros de exercícios complementares, CDS e DVDS que acompanham esses materiais. Além disso, os livros didáticos dessa época aparecem vinculados ao Marco Común de Referencia Europeo (MCRE) 28. Esse documento regulador da língua, proposto a partir de iniciativa do Conselho de Europa, por ocasião da unificação europeia, estabelece um padrão de metodologia de ensino, aprendizagem e avaliação das línguas. Desse momento destacamos alguns títulos como: (l.) En equipo.es. - curso de español de los negócios (Edinumen, 2001); (m.) Trato Hecho - español de los negócios (Sgel, 2001); (n.) Conexión - curso de espãnol para profesionales brasileños (En Clave/ELE, 2005); (o.); Al Día - (Sgel, 2005); (p.) Entorno Empresarial (Edelsa, 2008); (q.) Entorno Laboral (Edelsa, 2013); (r.) Entorno Empresarial - Nueva Edición (Edelsa, 2014), dentre tantos outros. Vale ressaltar que, embora a produção de livros didáticos de espanhol para o mundo do trabalho apresente títulos variados, conforme verificamos anteriormente, de acordo com Nardi (2010, p. 17), ela representava naquele momento [das condições histórias dos anos 90] 3,15% do total de 100% dos livros produzidos pelas 60 editoras catalogadas. Em resumo, podemos afirmar, a partir da síntese apresentada, que como efeito de uma política de línguas, pela mudança e ampliação do espaço de enunciação do espanhol, há um deslocamento na produção de instrumentos linguísticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) no Brasil em direção à publicação de títulos direcionados a diversos segmentos do mundo do trabalho. Considerações A partir do estudo realizado, verificamos que a produção de livros didáticos de espanhol como língua estrangeira (ELE) em sua dimensão para o mundo do trabalho faz parte daquilo que denominamos como sendo o novo período de gramatização que adquire força nos anos de 1990. Esse período apresenta-se divido em dois momentos específicos. Um que tem início em 1990 e se estende até os anos 2005. E um segundo que começa em 2005 e se estenderia até 2014, com produções marcadas, sobretudo, por um processo de endogramatização. A configuração do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), em 1991, foi fundamental para a produção de novos sentidos para a língua espanhola no Brasil. Entretanto reconhecemos o protagonismo do governo da Espanha, em consonância com empresas multinacionais e instituições vinculadas à língua na promoção e divulgação do espanhol em direção a outros territórios em termos mundiais. Referências AUROUX, S. (1992). A Revolução Tecnológica da Gramatização. Campinas: Unicamp. CASSIANO, C.C. de Figueiredo. (2013). O mercado do livro didático no Brasil: a entrada do capital na Educação Nacional. 1º ed. São Paulo: Editora UNESP. CELADA, M. T. (2002). O espanhol para o brasileiro: Uma língua singularmente estrangeira. Campinas: Tese (Doutorado em Linguística). Instituto de Estudos da linguagem, Unicamp. 28 28 Em língua portuguesa é denominado como Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR).

29 DEL VALLE, J; VILLA, I (2005). Lenguas, naciones y multinacionales: las políticas de promoción del español em Brasil. In: Revista da Abralin, vol. 4 n. 1 e 2, 197-230. DINIZ, L. (2011). Mercado de línguas A instrumentalização brasileira do português como língua estrangeira. Campinas, RG, 2010. Cascavel: Assoeste, pág. 65-82. ERES FERNÁNDEZ, I. G. M (2000). La producción de materiales didácticos de español lengua extranjera em Brasil. In: El hispanismo en Brasil. Suplemento ABEH. Embajada de Espãna em Brasil Consejería deeducación y Ciencia. FANJUL, A. P. (2011). Policêntrico e Pan-Hispânico. Deslocamentos na vida política da língua espanhola. In: LAGARES, X. C; BAGNO, M. (orgs). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, p. 299-331. GUIMARÃES, E. J (2005). Semântica do acontecimento: um estudo enunciativo da designação. Campinas, SP: Pontes, 2ª edição. LAGARES, X. C. (2010). A ideologia do panhispanismo e o ensino do espanhol no Brasil. Políticas Linguísticas. Año 2. Volumen 2, octubre, p. 85-106. LUDMER, J. (2011). El império. Da língua ao império. In: Abeache, São Paulo, ano 1, n. 1, p.13-29. ORLANDI, E. P. (2001). História das Ideias Linguísticas: Construção do Saber Metalinguístico e Constituição da Língua Nacional. Campinas/Cáceres: Pontes/Unemat. PAYER, M. O. (2005). Linguagem e sociedade contemporânea. Sujeito, Mídia, Mercado. Rua, Campinas, n. 11, p. 9-25. SOKOLOWICZ, L. (2014). Livros didáticos em revista (1990-2010): Sujeito, linguagem, discurso e ideologia no ensino de espanhol como língua estrangeira no Brasil. Dissertação de mestrado. USP: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. ZOPPI-FONTANA, M. (org.) (2009). O Português do Brasil como língua transnacional. Campinas, Editora RG.. (2010). Ser brasileiro no mundo globalizado. Alargando as fronteiras da língua nacional. In: DI REZO, A. M (orgs.) In: Linguagem e História: Múltiplos territórios teóricos. Cáceres: Unemat, Campinas: Editora RG.