O PROGRAMA DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS): DESAFIOS PARA O FORTALECIMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL Christiane Karla Spielmann 1 Geisa Oliveira Corsaletti 2 RESUMO: O trabalho apresentado constitui-se como um relato de experiência advindo da vivencia no desenvolvimento do Programa de Reabilitação Profissional do INSS. Constitui-se como uma revisão bibliográfica sobre o tema e apresenta breves reflexões a cerca do desenvolvimento do Programa. O Programa de Reabilitação Profissional do INSS tem como objetivo (re) qualificar o trabalhador para seu retorno ao mercado de trabalho. Entretanto, muitos desafios são apresentados para sua efetivação, dentre eles podem ser destacados a necessidade da superação da visão reducionista do processo de adoecimento e a integração entre as políticas de Saúde, Trabalho e Previdência Social. PALAVRAS-CHAVE: Seguridade Social; Previdência Social; Programa de Reabilitação Profissional. INTRODUÇÃO Com a aprovação da Constituição Federal em 1988, muitos direitos passam a ser garantidos em lei. A Seguridade Social aparece no artigo 194, da Carta Magna sendo definida como o conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL, Constituição Federal de 1988, Art. 194). Neste relato de experiência trataremos especificamente da previdência social, que tem como objetivo garantir aos seus segurados, os meios indispensáveis para a manutenção de suas necessidades e de seus dependentes, em momentos de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, prisão ou morte. Das políticas que constituem a Proteção Social, a Previdência Social é a única que exige a contribuição direta dos cidadãos, que passam a ser denominados segurados. Além dos benefícios, a Previdência Social é responsável por desenvolver o Programa de Reabilitação Profissional, discutido neste relato de experiência. O artigo apresenta, 1 2 Assistente Social no INSS - Cianorte/PR; Email: as.christiane@hotmail.com Assistente Social no INSS - Campo Mourão/PR. Email: geisa.corsaletti@inss.gov.br 1
brevemente, a trajetória da previdência social brasileira e posteriormente discute o Programa de Reabilitação Profissional, apontando seus principais desafios. OBJETIVOS Relatar, brevemente, a trajetória da Política Previdenciária Brasileira; Descrever o Programa de Reabilitação Profissional do Instituto Nacional do Seguro Social INSS; Refletir sobre os desafios no desenvolvimento do Programa de Reabilitação Profissional, com vista ao fortalecimento da Seguridade Social; PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho constitui-se como um relato de experiência, a partir da realidade vivenciada na execução do Programa de Reabilitação Profissional, na condição de Orientadora Profissional. Apresenta-se neste relato, uma revisão bibliográfica, bem como uma reflexão a cerca dos avanços necessários para o desenvolvimento do Programa de Reabilitação Profissional. RESULTADOS E DISCUSSÕES As primeiras legislações com caráter de seguro surgiram em 1888, como a Lei que Regulamenta o Direito à Aposentadoria para Empregados dos Correios. A Lei Eloy Chaves Decreto nº 4.682/1923 - criou a Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias e constitui-se como um marco da Previdência Social brasileira. Foi a partir dessa lei que surgiram outras caixas de aposentadorias e pensões, sendo os benefícios estendidos a praticamente todas as categorias de trabalhadores urbanos. Na década de 1930, a previdência iniciou uma nova fase com a criação de 6 Institutos de Aposentadorias e Pensões, cada uma operando de forma distinta. Em 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social em 1966, houve a uniformização da legislação previdenciária e a unificação administrativa, sendo criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). (SIMÕES, 2010). 2
O Decreto 99.359 de 27 de Junho de 1990 agrupou o INPS e o IAPAS, criando o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Tal órgão é responsável pelo gerenciamento das contribuições sociais destinadas ao financiamento da Previdência Social, além de assegurar ao trabalhador o direito do recebimento dos benefícios por ele administrados. Além dos benefícios previdenciários 3 o INSS é responsável pelo Programa de Reabilitação Profissional. O Programa de Reabilitação Profissional surge, legalmente, com o Regulamento Geral da Previdência Social (RGPS) em 1960, sendo um dos serviços a ser prestado aos beneficiários. A partir de então foram criados os Centros de Reabilitação Profissional (CRP) localizados em grandes centros e Unidades de Referência de Reabilitação Profissional (URRP) nas Gerências Executivas. Em 2001, houve a proposta do Projeto Reabilita que preconiza a descentralização a do serviço de reabilitação profissional, com a criação das Unidades de Reabilitação Profissional, e desativação dos CRP s. Atualmente o Programa de Reabilitação Profissional está vinculado, a nível de Gerência Executiva, à Sessão de Saúde. O Programa de Reabilitação Profissional tem como objetivo, como o próprio nome sugere, de reabilitar o trabalhador para seu retorno ao mercado de trabalho. Tal programa é desenvolvido por profissionais de nível superior de diferentes áreas, que são denominados Orientadores Profissionais ou Responsáveis pela Orientação Profissional (ROP s). A equipe de Reabilitação Profissional é responsável por realizar a avaliação da realidade apresentada pelo segurado, devendo considerar suas experiências profissionais, grau de escolaridade, limitação de saúde e idade. É necessário destacar que o cumprimento da Reabilitação Profissional é obrigatório, conforme Art. 90 da Lei 8.213/91, aos segurados considerados elegíveis, sendo que o não cumprimento deste pode ocasionar o cessamento do benefício. Durante o período em que o segurado está no Programa de Reabilitação Profissional ele permanece em benefício, sendo sua qualificação profissional custeada pelo INSS 3 Auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria especial, pensão por morte, salário família, salário maternidade, auxílio reclusão e aposentadoria por idade e por tempo de contribuição para deficientes. 3
(treinamentos, cursos, transporte e alimentação). Em casos em que haja necessidade há fornecimento de próstese 4 e órtese 5. Após a conclusão da Reabilitação Profissional a Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as atividades que poderão ser exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra atividade para a qual se capacitar (Art. 92). Os segurados certificados pela previdência social podem ser inseridos nas vagas para cotistas, as quais, empresas com 100 (cem) ou mais empregados devem cumprir 6. O Programa de Reabilitação Profissional ainda tem muitos desafios a serem superados, para garantir os direitos dos trabalhadores. O avanço do neoliberalismo afetou diretamente as políticas sociais brasileiras e, no que se refere à Previdência Social observa-se que entre os anos 1990 e 2000 houve um processo de desmonte, inclusive na Reabilitação Profissional. Segundo Takahashi (et al, 2008) na década de 1980, apesar da expansão em rede nacional da reabilitação profissional, observou-se a falta de investimento do governo em instalações físicas e recursos humanos, comprometendo a qualidade dos serviços prestados. As mudanças ocorridas tanto no mundo do trabalho, como nas demais políticas sociais têm exigido dos profissionais envolvidos no programa de Reabilitação Profissional novas estratégias de enfrentamento as requisições institucionais e às demandas dos usuários. Um dos desafios postos para a efetivação de uma política pública de qualidade é a superação da visão reducionista da doença e a reflexão a cerca dos impactos da restrição física e/ou psíquica para a vida do trabalhador. A visão comumente utilizada para avaliação da incapacidade entende a doença como individual, devendo ser tratada com objetivo de corrigir o problema da pessoa. Entretanto, é necessário compreender a incapacidade como um problema socialmente criado, a partir de condições postas de trabalho. Ou seja, é necessário uma resposta política para a incapacidade (SIMONELLI, et al, 2010). 4 5 6 Próteses são dispositivos aplicados externamente para substituir total ou parcialmente uma parte do corpo ausente ou com alteração da estrutura. Órteses são dispositivos utilizados na área da saúde, com a finalidade de melhorar a capacidade funcional do indivíduo, alinhando, prevenindo e até corrigindo deformidades das partes móveis do corpo. Conforme Art. 93, da Lei 8.213/91. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados - 2%; II - de 201 a 500-3%; III - de 501 a 1.000-4%; IV - de 1.001 em diante - 5%. 4
Conforme a legislação previdenciária, após a conclusão da Reabilitação Profissional não é de responsabilidade da previdência a reinserção do segurado ao mercado de trabalho. Entretanto observa-se a necessidade do fortalecimento da articulação entre Ministério da Previdência Social e do Trabalho para garantir que o segurado reabilitado tenha condições de acessar o mercado de trabalho e permanecer neste, apesar de sua limitação de saúde. É indiscutível, ainda, a necessidade de uma aproximação com a Política de Saúde, como já exposto por Vilela (et al, 2010), principalmente para a construção das concepções de saúde, incapacidade, reabilitação psicossocial e profissional. Para além disso, é necessário que haja o esgotamento das possibilidades de intervenção terapêuticas por parte da saúde e a garantia da cobertura previdenciária durante o período de incapacidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Programa de Reabilitação Profissional tem muitos desafios para serem superados. A aproximação com as demais políticas sociais é essencial, visto que a luta deve ser não apenas por acesso ao mercado de trabalho, mas pela superação do processo que gera o adoecimento. Sendo assim, corroborando com o exposto por Simonelli (2010) entende-se que a eficácia e efetividade da Reabilitação Profissional dependem de políticas econômicas que privilegiam não apenas o crescimento econômico mas a vida e a saúde do trabalhador. Por fim, é necessário buscar por uma Seguridade Social que seja universal, cujo acesso não esteja limitado ao mercado formal de trabalho, como é o caso da previdência social brasileira. REFERÊNCIAS BEHRING, E.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007. (Biblioteca Básica do Serviço Social). BRASIL. Ministério da Previdência Social. Resolução nº 160/PRES/INSS, de 17 de outubro de 2011. Aprova o Manual Técnico dos Procedimentos da Área de Reabilitação Profissional.. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Brasília, agos. 2012. Disponível em < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html> Acesso em: 20 maio 2014 5
OLIVEIRA, L. V. N. A exclusão social brasileira sob os impactos do projeto neoliberal. In: Recortes temáticos: nossas reflexões nos 20 anos do Curso de Serviço Social. Cascavel: Edunioeste, 2007. P 143-162. SIMONELLI, A. P.; CAMAROTO, J. A.; BRAVO, E. S.; VILELA, R. A. G. Proposta de articulação entre abordagens metodológicas para melhoria do processo de reabilitação profissional. In: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 35, n. 121, 2010. SPOSATI, Aldaíza. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho do assistente social. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 116, p. 652-674, out./dez. 2013. TAKAHASHI, M.A.B.C.; IGUTI, A.M. As mudanças nas práticas de reabilitação profissional na Previdência Social no Brasil: modernização ou enfraquecimento da proteção social? Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 11, nov. 2008. VILELA, R. A. G; MAENO, M. Reabilitação profissional do Brasil: elementos para a construção de uma política pública. In: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 35, n. 121, jan/jun. 2010. 6