PRÁTICAS EDUCATIVAS: UMA ORIENTAÇÃO PARA PAIS (2012) 1



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Transcrição:

PRÁTICAS EDUCATIVAS: UMA ORIENTAÇÃO PARA PAIS (2012) 1 DE DEUS, Meiridiane Domingues 2, JAGER, Márcia Elisa, DIAS 3, Ana Cristina Garcia 4 1 Trabalho de extensão- UFSM; 2 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, Brasil; 3 Psicóloga e Mestranda do Curso de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil; 4 Psicóloga, Doutora e Docente do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: meiridomingues@hotmail.com;marciajager@yahoo.com.br;anacristinagarciadias@gmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de uma palestra sobre limites e disciplina, realizada para 27 pais de alunos matriculados em uma escola do município do interior do RS. Esta atividade faz parte do projeto de extensão Escola, Saúde e Desenvolvimento Humano da UFSM. Através dos questionamentos e comentários realizados pelos pais pode-se perceber dificuldades no relacionamento destes com os filhos menores de 10 anos, principalmente. Os pais demonstram preocupação em como lidar com os problemas de comportamentos dos filhos como diferentes dúvidas sobre o momento certo para colocar limites e a maneira de fazê-lo de forma adequada. A literatura indica que é necessária a mudança de crenças relativas a maneira de colocar limites e desenvolver a disciplina nos filhos. Essas transformações são possível através da conscientização dos pais sobre os prejuízos decorrentes da utilização do estilo parental autoritário no desenvolvimento psicossocial dos filhos. tanto Palavras- chave: Limites; Disciplina; Práticas educativas parentais. 1. INTRODUÇÃO A família é o primeiro grupo de mediação do sujeito com a sociedade, é nele que as crianças aprendem valores e encontram referências primarias sobre como um adulto deve comportar-se, como é ser homem e ser mulher e o que é certo e errado. Esta transmissão de valores e referências comportamentais são transmitidas, principalmente, através das práticas educativas utilizadas pelos pais para educar seus filhos. Na família são reproduzidas práticas culturais, que serão internalizadas pela criança e influenciarão seus comportamentos (BOCK,2002). Neste contexto, práticas educativas permeadas por 1

violência e hostilidade podem influenciar o desenvolvimento infantil. Assim, é de fundamental importância que os pais adquiram a consciência de que as práticas educativas que utilizam para educar seus filhos são os principais reforçadores de comportamentos, supridores de afeto e modelos que influenciaram no processo de aprendizagem da criança (MONDIN, 2008). As práticas educativas parentais caracterizam-se pelo modo como os pais monitoram e controlam os comportamentos dos filhos e socializam as crianças em um contexto de coletividade, no qual os limites e a disciplina se constituem em importantes valores a serem aprendidos (SAMPAIO, 2007, ALVARENGA;PICCININI, 2001). A partir do reconhecimento da importância do limite e da disciplina para o desenvolvimento infantil, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de uma palestra sobre o tema, ministrada para pais de alunos matriculados em uma escola do interior do Rio Grande do Sul. Serão apresentados os questionamentos e comentários realizados pelos pais sobre a temática e a literatura referente ao tema. 2. DESENVOLVIMENTO A família constitui-se como a base para o desenvolvimento psicológico e social da criança, influenciando seus comportamentos e crenças frente às situações sociais. É no contato com os pais que a criança aprende diversas habilidades sociais que, ao longo do seu desenvolvimento, passam por transformações. Estas decorrem das novas experiências que lhes são apresentadas na medida em que se inserem em novos grupos sociais, como o grupo de amigos e a escola, por exemplo (CASTRO; MELO; SILVARES, 2003). Os pais são a primeira referência e funcionam como base para o comportamento social, moral e ético das crianças. Assim, é necessário uma relação saudável entre pais e filhos para que a criança consiga reconhecer as necessidades dos outros, respeitá-las e se inserir em contexto social com normas e regras (MARIN; PICCININI; GONÇALVES; TUDGE, 2012). Um relacionamento saudável entre pais e filhos é permeado por habilidades sociais tais como: observação, escuta e leitura de comportamentos emitidos pelo outro; diálogo aberto; incentivo a comportamentos adequados; expressão de bons sentimentos; respeito às opniões, entre outras (SILVA; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2000). Na busca por este tipo de relacionamento os pais buscam a utilização de um conjunto de estratégias denominadas práticas educativas parentais, principalmente no que se refere ao incentivo de comportamentos considerados adequados. Essas práticas auxiliam no monitoramento e controle de comportamentos que contribuem para a socialização das crianças (SAMPAIO,2007). As práticas educativas são diferenciadas através dos comportamentos parentais desempenhados e dos efeitos que produzem na criação dos filhos 2

(MONTANDON,2005). Por exemplo, práticas educativas coercitivas, que se caracterizam pelo uso da punição fisica e verbal para mudar comportamentos indesejáveis nos filhos, podem causar efeitos como: raiva, medo, repúdio frente aquele que pune, insegurança, baixa autoestima, entre outros (WEBER, VIEZZER, BRANDENBURG, 2004). Já práticas educativas educativas permissivas, que consistem em pouco controle parental, não utilizam punições verbais e físicas diante de comportamento inadequados da criança. Fazem uso de elogios, tolerãncia e aceitação às ações da criança. As consequências disto na criação dos filhos é a excessiva aceitação dos comportamentos mesmo inadequados emitidos pelos filhos e baixos níveis de supervisão (SOARES; ALMEIDA, 2011). Diversos são os fatores que influenciam na escolha dos pais pelas práticas educativas utilizadas para educar seus filhos. É comum que os pais, influenciados pela criação que tiveram de seus genitores, repitam o modelo de prática educativa que vivenciaram na sua infância (VASCONCELOS; SOUZA, 2006). Por exemplo, aqueles que apanharam e tiveram a punição corporal como estratégia utilizada na sua criação (prática educativa coercitiva) farão uso frequentemente dessa mesma prática para educar seus filhos. Muitos pais consideram a punição corporal um meio eficaz de resolver problemas e mudar comportamentos indesejáveis dos filhos (ALVARENGA; PICCININI, 2001). A utilização da punição corporal como forma de impor limites e disciplina é bastante comum na educação dos filhos, sendo perpertuada ao longo de diferentes gerações familiares. Entretanto, apesar desse tipo de prática ser capaz de produzir efeitos imediatos na mudança de comportamento filho, ela também acarreta diferentes prejuízos para a criança, na medida em que causa prejuízos ao desenvolvimento psíquico e social (WEBER; VIEZZER; BRANDENBURG,2004). É necessário que os pais (re)conheçam outras práticas educativas capazes de proporcionar mudanças de comportamentos. Esse conhecimento pode lhes auxilar a desenvolver novas e adequadas habilidades sociais para lidar com os filhos, como por exemplo, ensiná-los a como se comportar, respeitando as regras sociais na interação com outras pessoas (MONTANDON, 2005). Os pais devem estabelecer limites, proporcionar modelos positivos e incentivar o fortalecimento da autonomia na criança através de práticas educativas não punitivas. Neste contexto, o diálogo claro e consistente entre pais e filhos vem sendo apontado como uma boa estratégia para mostrar às crianças os efeitos do comportamento que emitiu e suas consequencias. Com ele a mudança de comportamento pode ser alcançada sem prejuízos ao desenvolvimento psicossocial da criança (CALDANA,1998; VASCONCELOS; SOUZA, 2006). 3 METODOLOGIA 3

O projeto de extensão Escola, Saúde e Desenvolvimento humano surgiu da iniciativa do grupo de pesquisa Avaliação em Intervenção no Desenvolvimento Humano, da Universidade Federal de Santa Maria. Suas atividades iniciarem no ano de 2008 com o objetivo de promover saúde no contexto escolar. Atualmente, o projeto conta com uma equipe de palestrantes composta por: mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, psicólogas e acadêmicos de Psicologia da mesma insitutição. A definição dos temas das palestras a serem realizadas nas escolas são definidas previamente, através de um levantamento sobre os interesses de cada instituição escolar. No ano de 2011, foram trabalhados os seguintes temas: relacionamento professor-aluno, práticas educativas parentais, sexualidade, relacionamento interpessoal, drogadição, bullying, orientação profissional e falhas de comunicação na escola. Este trabalho traz a experiência da palestra sobre práticas educativas parentais realizada para um grupo de 27 pais de alunos matriculados em uma escola estadual, de um município do interior do Rio Grande do Sul. A palestra foi ministrada pela segunda autora deste trabalho, de forma expositivo-dialogada e contou com o auxílio de recurso multimídia. Na palestra, buscou-se a exposição de informações referentes ao tema, bem como de trechos de histórias que retrassem as influências das práticas educativas no comportamento das crianças. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A palestra sobre limites e disciplina inicou com o questionamento: o que são limites?. Este teve por objetivo conhecer o que os pais sabiam sobre o assunto, a importância dos limites na educação dos filhos e as práticas utilizadas por eles para mudar os comportamentos indesejávies nas crianças. Durante a palestra os pais demonstraram grande interesse pelo tema exposto, levantando algumas questões, entre elas: dificuldades em se relacionar com os filhos, especialmente como as crianças menores de 10 anos; ausência de orientações eficazes, por parte da escola, sobre maneiras de lidar com os problemas de comportamentos dos filhos e dúvidas sobre o momento certo de colocar limites e como fazê-lo. Percebeu-se que a grande maioria dos pais utilizam práticas educativas coercitivas para demonstrarem autoridade e atingir as mudanças esperadas no comportamentos dos filhos. Os participantes demonstraram resistência à presença de comportamento parental permissivo, argumentando que as crianças não respeitam os pais que não se impõem de forma autoritária. Assim, a punição física apareceu como principal forma de punir os filhos por comportamentos indesejáveis, sendo comum no grupo de pais a seguinte expressão: (...) meus pais batiam em mim e eu aprendia as coisas, e não morri por causa disso. Claro, não pode espancar, mas uma surra de vez em quando faz bem (...). Neste momento 4

refletiu-se com o grupo sobre as consequências negativas da punição física para o desenvolvimento psíquico e social das crianças: aumento da agressividade, relações sociais prejudicadas, baixa auto estima, queda no rendimento escolar, retraimento social, entre outros. Os pais concordam que esta talvez não seja a melhor maneira de educar e colocar limites nos filhos, mas questionam a falta de orientação sobre práticas educativas parentais eficientes no controle do comportamento das crianças. Ressaltam que é frequente se ouvir falar nos prejuízos da punição física e orientações sobre não bater nos filhos, mas dificilmente lhes é orientado sobre o que fazer em substituição desta estratégia de educação. Algumas reflexões foram feitas pela psicóloga, tais como: pratique o diálogo com o seu filho, não resolva problemas quando está com raiva, explique os motivos de suas decisões, seja coerente e consistente no que diz e seja claro quando conversar com seu filho. Estas orientações auxiliam as crianças a compreenderem o comportamento dos pais e a tomada de decisões frente à comportamentos indesejáveis, além de diminuirem a probabilidade de reincidência do mesmo. Alguns autores como Cia, Pamplin e Del Prette (2006) frisam a importância das práticas educativas utilizadas pelos pais para o desenvolvimento infantil. Os pais devem priorizar um relacionamento positivo com seus filhos, que ensine comportamentos socialmente aceitáveis, discriminando efetivamente os comportamentos positivos dos negativos e evidenciando as consequências dos mesmos. Devem colocar limites e estabelecer a disciplina nas crianças, visto que é sua responsabilidade o desenvolvimento moral e ético dos filhos. Mas isto deve ocorrer através de comportamentos e exemplos parentais coerentes e consistentes, normas e regras bem definidas e transmitidas no diálogo claro entre pais e filhos. Práticas alicerçadas na violência e hostilidade não propiciam a internalização de normas e valores, tampouco referenciam comportamentos socialmente desejáveis. Pelo contrário, crianças punidas de forma violenta tendem a repetir o que sofrem em casa em seus contextos sociais mais amplos, como na escola e no grupo de amigos, por exemplo. Além disso, tendem a acreditar que, para mudar um comportamento indesejável do outro, podem utilizar-se de violência. Isto, de fato, contribui para a perpetuação do comportamento violento ente gerações familiares (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002, WEBER; VIEZZER; BRANDENBURG,2004). A preocupação em como se relacionar com filhos pequenos, a hora certa de colocar limites e como fazê-lo foi bastante frequente entre os participantes. O desconhecimento dos pais sobre aspectos do desenvolvimento emocional infantil faz com que tenham dificuldades em se relacionar com os filhos, especialmente crianças em idades mais precoces. Educar um filho repercute nos pais uma série de dúvidas e angústias, fazendo com que se sintam inseguros quanto ao real papel que devem desempenhar e ao modo correto de educar seus 5

filhos. As dúvidas dos pais circundam entre a discriminação entre o que é certo ou errado, de proibir ou ser mais permissivo, como impor limites e das consequências do seu papel no desenvolvimento dos filhos (OLIVEIRA ;CALDANA, 2004). Foi visível a reinvindicação dos pais sobre maior participação da escola em orientações sobre como lidar com problemas de comportamento dos filhos. De fato, tanto a família como a escola possui responsabilidades na educação das crianças. Na escola o foco recai na educação formal e na família, na educação informal. Mas a criança, através de seus comportamentos, traz para a escola o que aprendeu em casa e leva pra casa o que aprendeu na escola. Assim, influencia e é influenciada pelas práticas educativas vividas nestes contextos. Isto retrata a responsabilidade conjunta desta duas instituições (família e escola) na educação das crianças (PATIAS et al, 2002). As escolas devem inserir no seu projeto pedagógico um espaço que valorize, reconheça e trabalhe as práticas educativas familiares. Isto porque conhecer a forma como os valores morais, éticos, familiares e culturais são transmitidos à criança pode facilitar o reconhecimento do contexto no qual o processo de ensino-aprendizagem se desenvolve. Além disso, deixa mais próximo dos professores a cultura familiar de seus alunos, possibilitando que intervenções / encaminhamentos sejam sugeridos na medida em que algum risco à criança seja percebido (DESSEN; POLONIA, 2002). 5. CONCLUSÃO O estudo mostrou que é bastante comum os pais utilizarem-se de práticas educativas parentais coercitivas, o que pode trazer prejuízos ao desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes. Este comportamento parental vem sendo perpetuando ao logo de gerações familiares como uma boa forma de mudar comportamentos indesejáveis, impor limites, disciplina e autoridade frente aos filhos. Salienta-se a necessidade de quebrar os ciclos de reprodução dos modelos parentais onde a agressão e o tratamento hostil são vistos como estratégias e forma de educar os filhos. Enfatiza-se a importância do diálogo aberto, coerente e consistente como estratégia para maior proximidade entre pais e filhos, com também manutenção de boas relações familiares. É necessário a mudança de crenças sobre a maneira de colocar limites e desenvolver a disciplina nos filhos através de práticas educativas coercitivas. Isto é possível através de intervenções como a apresentada neste trabalho, que possibilita a conscientização dos pais sobre os prejuízos que um estilo parental autoritário pode trazer para o desenvolvimento humano saudável. 6

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